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307 titles
- DirectorWilliam FriedkinStarsNick NolteMary McDonnellJ.T. WalshA college basketball coach is forced to break the rules in order to get the players he needs to stay competitive.Já que se reclama tanto da ausência de filmes de futebol no Brasil, vejamos o que fazem os norte-americanos com "Blue Chips". Não qualquer americano, mas William Friedkin, diretor de primeira linha. Tendo a seu lado não qualquer um, mas Nick Nolte, como técnico de basquete universitário que precisa pagar a seus atletas (o que é proibido) ser quiser ter talentos capazes de ganhar um campeonato. Haverá outras presenças bem mais ilustres nas quadras (Saquille O`Neal, Anfemee Hardaway) do que nas telas. Mas a questão não é essa, e sim uma certa trivialidade de comportamento que se alterna com momentos interessantes de desenvolvimento seja do drama, seja da personalidade do técnico. (* Inácio Araujo *)
''Talvez seja preciso gostar um pouco de basquete para gostar de "Blue Chips", pois é necessário compreender a lógica do esporte.
Ali, Nick Nolte é um técnico de time universitário (portanto amador) às voltas com um problema: todo mundo está pagando aos melhores jogadores, e seu time está ficando para trás. Há que tomar uma providência. Essa providência necessariamente o coloca diante de um previsível conflito moral. A partir daí já não é nem preciso gostar de basquete ou de qualquer esporte. Nick Nolte faz admiravelmente o homem angustiado diante da dúvida entre sobrevivência profissional e moral. E a direção de William Friedkin extrai desse conflito emoção verdadeira e complexa. Como o final de uma bela partida." (** Inácio Araujo **) - DirectorNanni MorettiStarsNanni MorettiRenato CarpentieriAntonio NeiwillerDirector Nanni Moretti takes a mordant look at Italian life through three disparate journeys, presented as the chapters of an open diary.De vez em quando é bom dar uma espiada em " Caro Diário", até pouco tempo, o filme de Nanni Moretti conservava o vigor e também o frescor de quando foi feito (1993). São três episódios. No primeiro, Moretti passeia de Vespa por Roma no verão: ócio, olhos atentos, encontros inesperados e, claro, observações agudas e cheias de humor. No segundo, passeia por ilhas do sul da Itália com um amigo: ocasião de checar o estado da civilização. No último, o cineasta remonta a história do câncer que o vitimou a partir de sua relação com incontáveis médicos que o trataram. Aqui existe o mistério (do organismo), a vaidade (dos médicos), a ironia (da vida). Mesmo ali, Moretti não perde o humor. (* Inácio Araujo *)
- DirectorJohn CarpenterStarsChristopher ReeveKirstie AlleyLinda KozlowskiA small town's women give birth to unfriendly alien children posing as humans.Talvez John Carpenter tenha feto "A Cidade dos Amaldçoados" apenas para ver os olhos assustadoramente brilhantes daquelas crianças-alien fecundadas durante um blecaute. Ou para ver seus cabelos platinados - todos iguas, como robôs - e chocá-los com o verde da natureza exuberante da cidadezinha em que vivem. Ou anda para mostra uma praça deserta e no meio dela uma igreja. O fato é que esses personagens são pouco mas que delineados. Eles não interessam a Carpenter enquanto tal, mas talvez por nos projetar no puro medo de um universo dominado por robós iguais a nós, ou quase, numa paissagem quase trivial. Essa passagem sutil do natural ao sobrenatural, do sadio ao doente - isso sim inspira Carpenter. (* Ináco Araujo *) "Hawks, Ford e Cronenberg. Carpenter utiliza referencias diversas para tramar este carnal estudo da imagem travestido de western paranormal. É também aula de mise-en-scene celebrada pela perfeita composição de quadro em que mostra toda habilidade com scope" (Daniel Dalpzzolo) "O filme original inglês é bem melhor, mas esse tem um belo uso do scope." (Vlademir LIazo) "Surtado e um tanto mal compreendido."
- DirectorPeter UstinovStarsRobert RyanPeter UstinovMelvyn DouglasWhen a kind-hearted sailor is made to join an English vessel at war in 1797, he finds himself caught between devotion to his crewmates and obedience to their hated, cruel master-at-arms."Billy Budd" (1962), baseado em romance de Herman Melville (1819-1891), mostra oficiais e tripulantes de um navio inglês que trafega por águas francesas durante as guerra napoleônicas. Seus marujos têm mais medo do terrível oficial de disciplina (Robert Ryan) que do combate. Por isso, o capitão da marinha inglesa (Peter Ustinov) tem dois ploblemas pela frente: enfrentar os franceses e lidar com esse oficial, cuja alma está a serviço do mal. A certa altura, o capitão discute com tal oficial sobre a dureza de uma punição e o porque de suas intenções tão cruéis. O diálogo representa tudo que esta em jogo no filme: poder, sadismo, ingenuidade e a obediência irrestrita às leis. È justamente por causa dessa obediência que os oficiais passarão por sérias crises de consciência. O jovem Billy Budd, representado pelo ator estreante Terence Stamp, é o personagem desencadeador dos principais conflitos do navio. Mas o melhor do filme é mesmo o duelo de interpretações - e de olhares - entre Ustinov e Ryan. (Sérgio Alpendre) 34*1963 Oscar
- DirectorKar-Wai WongStarsTony Leung Chiu-waiMaggie CheungSiu Ping-LamTwo neighbors form a strong bond after both suspect extramarital activities of their spouses. However, they agree to keep their bond platonic so as not to commit similar wrongs.Não é sempre que o amor dilacera dois corpos. A separação já vem pré-anunciada em apenas fracssos individuais. No cinema de Wong Kar Wai, o amor é uma pida ambígua do destino; os relacionamentos, uma maneira de dividir com alguém a responsabilidade por uma vida solitária pontuada pelo mal- estar. Mas nem tudo são lágrimas. Enquanto não encontram as pessoas certas, as erradas servem como diversão irresponsável. Os conhecidos personagens pop-ocidentalizados de Kar-Wai são conduzidos em "Amor a Flor da Pele" ao pesadelo do adultério. Traição é, antes de mais nada, um ato silencioso, um jogo de esconder. E idealizações. Os dilacerados, aqui, recolhem suas opiniões, não declaram suas paixões. E encontram o amor. Ambíguo? (Bruno Yutaka Saito) 2000 Cannes / 2001 César
- DirectorSidney LumetStarsSharon StoneJean-Luke FigueroaJeremy NorthamAfter serving three years in prison covering for her gangster boyfriend, Kevin, Gloria returns to New York City for the money she was promised. Inside Kevin's base of operations, she finds 7-year-old Nicky, whose family has been killed." Gloria, a Mulher" tem a ambição de recriar Gloria, o notável filme de John Cassavetes sobre a mulher de gângster que decide proteger os filhos de uma família massacrada pelos mafiosos. É claro que daí por diante Gloria é que passa a ser seu alvo. Duas decisões sensatas: Sharon Stone para o papel que no original (de1980, o remake é de 1999) foi de Gena Rowlands. São duas atrizes enérgicas e Sharon não é sopa: tem de fazer esquecer o quanto é bonita. Consegue. A segunda foi entregar a direção a Sidney Lumet, que não é bobo e não teve a pretensão de melhorar o que já era ótimo: não quis bater o original, apenas fazer um trabalho limpo. não é pouco no mundo mafioso do cinema. (* Inácio Araujo *)
- DirectorAlfred HitchcockStarsJoel McCreaLaraine DayHerbert MarshallOn the eve of World War II, a young American reporter tries to expose enemy agents in London.Não há, habitualmente, seres mais sedutores que os espiões de Hitchcock. Seja por charme ou modéstia, eles são tão mais ameaçadores quanto mais inofensiva sua aparência. Em "Correspondente Estranheiro", na história do jornalista americano que, na Europa, vê-se as voltas com conspiradores nazistas. Isso aumenta o interesse do espectador, normalmente, tanto mais que as coisas são muito dinâmicas no filme. Tão dinãmicas quanto as asas de um moinho, por exemplo, podem ser. E é num moinho que se passa uma das principais cenas desse belo filme (a outra é a cena flnal). (* Inácio Araujo *) 13*1941 Oscar
- DirectorMervyn LeRoyAlbert LewinStarsGreer GarsonWalter PidgeonHenry TraversDespite himself, accomplished physicist and avowed bachelor Pierre Curie falls for brilliant student Marie, and together they embark on the discovery of radium.Não há nada mais perigoso para a posteridade do que o filme tema,do qual hoje temos um belo exemplo em "Madame Curie". Concorreu a sete Oscar em 1944 (referentes a 1943), inclusive os de melhor filme, atriz (Greer Garson) e ator (Walter Pidgeon). Toda essa notoriedade não torna menos enfadonha essa biografia da cientista, duplicada pela história de amor (sem isso nada feito, por mais gloriosa que ela seja) entre a estudante Marie e o já célebre professor Pierre. Juntos, formariam o casal Curie. O filme poderia ser hoje um precursor da emancipação feminina. Nada disso. O que conta é a glória:as descobertas científicas, o Prêmio Nobel, o drama pessoal de Marie. Tema de prestígio, enfim, resultado bom para pegar no sono. (* Inácio Araujo *)
"No final do século 19, a parisiense de origem polonesa Maria Sklodowska já se destacava como caso raro de mulher estudante na Sorbonne, se formando em física e matemática. Anos depois, adotando o nome de Marie Curie, ela ganhariaduas vezes o Prêmio Nobel, em física e química. Madame Currie, filme de Mervyn LeRoy de 1943, conta a história da personagem, sua luta para ser reconnhecida no mundo masculino da ciência e seu romance com o marido, o físico Pierre Currie. O filme estrelado pela ótima Greer Garson estáno volume 25 da Folha. A atriz foi indicada ao Oscar pelo papel."(Thales de Menezes)
16*1944 Oscar - DirectorRichard PearceStarsJessica LangeSam ShepardWilford BrimleyGilbert Ivy and his wife Jewell are farmers. They seem to be working against the odds, producing no financial surplus. Gilbert has lost hope of ever becoming prosperous, but his wife decides to fight for her family.Em um nível,"Minha Terra, Minha Vida é uma visita a América profunda, a seus fazendeiros, a dura vida no campo, a família e as dívidas. Não se pode esquecer o desânimo, o sentimento de que, por melhor que se faça, as coisas sairão erradas. Não é uma história de winners, afinal. E é com imensa ternura que Richard Piacer segue as atribulações da família de Jessica Lange e Sam Shepard. (* Inácio Araujo *) 57*1985 Oscar / 42*1985 Globo
- DirectorClint EastwoodStarsRyan PhillippeBarry PepperJoseph CrossThe life stories of the six men who raised the flag at the Battle of Iwo Jima, a turning point in World War II."Nos filmes de Clint Eastwood, até se consegue consertar algo, mas a ferida jamais fechará de todo. É assim em "A Conquista da Honra". Os norte americanos vencerão os japoneses na Segunda Guerra Mundial, mas o preço foi alto. E o trauma jamais abandonará os heróis. (Paulo Santos Lima) < > "Iwo Jima, uma ilha do Pacífico, foi o local de uma das mais sangrentas batalhas no front oriental da Segunda Guerra. Tratava-se, para os japoneses, de evitar a entrada dos americanos na ilha a qualquer custo. E, para os americanos, de conquistar uma posição estratégica, já em território japonês. Após duros combates, os americanos conseguiram tomar uma parte do território e ali erguer sua bandeira. Clint Eastwood utiliza o episódio em dois filmes, A Conquista da Honra e "Cartas de Iwo Jima". O diretor trata, em A Conquista..., não bem da guerra, nem da batalha. É a bandeira que importa. Ou melhor: a foto da bandeira sendo fincada em terra estrangeira e a repercussão que teve internamente. É claro, Clint pensa em guerras mais atuais. Mas a Segunda Guerra é o palco ideal para colocar sua indagação: O que é um herói? A pergunta é, de certo modo, clássica. E, como está longe de ser um tolo, Clint aproveitará fontes centrais do cinema americano em busca de uma resposta contemporânea. Convivem neste filme três tons distintos e complementares: o amargor do John Ford de O Homem que Matou o Facínora, a crispação de Samuel Fuller (da escola de Fritz Lang) em Agonia e Glória, a frieza e a ironia de Howard Hawks em Sargento York. É perfeitamente possível gostar do filme sem nunca ter ouvido falar dos ilustres nomes acima. Clint sabe nos deixar completamente envolvidos na narrativa em torno do grupo de soldados que aparece na foto. A conquista é ainda mais relevante do ponto de vista simbólico do que do militar, pois a foto daquele feito, publicada em todos os jornais, mudará o ânimo dos americanos sobre os rumos da Segunda Guerra Mundial. Ciente disso, o governo tratará de repatriar seus heróis para que se tornem garotos-propaganda da venda de bônus de guerra. Aí, porém, começam os problemas. Heróis quem? Heróis como? Aquilo que a opinião pública reconhece como heróis não são senão os rapazes que ergueram a bandeira na hora da foto. Que heroísmo pode existir nisso? Clint começa por aí a esquadrinhar a questão proposta. É fascinante. Tão fascinante quanto a operação que desenvolve em relação ao cinema americano. Como falar de heroísmo sem lembrar, com Fuller, que na guerra, o único heroísmo é sobreviver? E como falar de verdade sem lembrar o enunciado de O Homem que Matou o Facínora (quando a lenda é mais forte que a verdade, imprime-se a lenda)? E Ford, que cultivou mais do que ninguém os mitos da América, imprimia a lenda, mas mostrava a verdade que desmentia o fato. Por fim, como omitir Sargento York, em que a fabricação do herói e do heroísmo é como que colocada num microscópio por Hawks? Não se trata de homenagear esses cineastas clássicos, nem de evocar o fantasma desse belo passado do cinema, e sim de saber que o presente do cinema se faz com seu passado. É como se, a cada cena, Clint quisesse voltar nesse admirável filme a um passado yorkiano, no qual o herói, feliz e sem ambigüidade, caía nos braços do povo. Mas, a cada vez, é como se esse movimento fosse interrompido pelas sombras da história, pelas mentiras que ficamos conhecendo, por tudo aquilo que se omitiu para que a vitória se tornasse possível." (* Inácio Araujo *)
"Em outro registro, também é de heróis trágicos que se trata em "A Conquista da Honra". Tudo gira em torno de uma foto (ou duas, veremos no filme) em que soldados erguem a bandeira americana, simbolizando a árdua conquista da ilha de Iwo Jima, na 2ª Guerra. Importante mesmo é a questão do heroísmo: a necessidade de representar em uma pessoa o valor de uma conquista. Segue-se a questão: qual o destino dos heróis? E até o do heroísmo? Eis o que Clint Eastwood questiona em seu belo filme." (** Inácio Araujo **)
79*2007 Oscar / 64*2007 Globo - DirectorZhangke JiaStarsTao ZhaoZhou LanSanming HanA town in Fengjie county is gradually being demolished and flooded to make way for the Three Gorges Dam. A man and woman visit the town to locate their estranged spouses, and become witness to the societal changes.A expressão Still Life, no título original (ou seria quase original, quer dizer, titulo internacional?) de "Em busca da Vida", designa natureza-morta, esse gênero de pintura que consiste em agrupar objetos inanimados (não necessariamente naturais). O certo é que a expressão nos fala de um deslocamento: uma arbitrariedade do artista ao agrupar objetos. Não é muito diferente o que se passa no filme. Para construir uma enorme represa, o governo chinês deslocou a população de um vilarejo. O que vemos é basicamente, o retorno de alguns personagens, certos reencontros. A buca do que é vivo, sim, de resíduos do passado. Filme bem ambíguo (como a China, como a vida, talvez). (* Inácio Araujo *) 2006 Lion Veneza
- DirectorLuc MoulletStarsPatrick BouchiteyIliana LolicSabine HaudepinAfter a race car driver becomes stranded in a village of the French Alps, his partner goes to find help, in this typically quirky comedy from New Wave maverick Moullet.NÁUFRAGOS DA D17 - Vez por outra é obrigatório recomendar um filme que nunca se viu. É o caso de "Náufragos da D17", de Luc Moullet. Para começar, os filmes de Luc Moullet nunca passam no Brasil, de maneira que não só o filme, mas todo trabalho de seu realizador é uma raridade. Depois, segundo a sinopse, estamos em uma guerra no Golfo (o filme é de 2002), numa região desértica da França, onde dois amigos ficam com o carro encalhado. A partir dai se dá uma série de encontros com personagens não inusitados em si, mas cuja convivência num mesmo filme se torna especialmente interessante e raro: um astrofísico, uma equipe de cinema (rodando um faroeste), militares, geólogos etc. Do que podemos esperar um show de anarquismo cinematográfico, já que Moullet, desde seus tempos de crítico do Cahiers du Cinema, nos anos 60, viu o cinema como exercício de extrema liberdade. Foi isso que praticou em um de seus primeiros filmes, Les Contrebandieres (As Contrabandistas), embora a bagunça vencesse o cinema claramente. Nos anos 80, chegaram até nós alguns documentários seus, entre eles o excepcional Barres (Barras, 1984), sobre as pessoas que pulam as catacras do metró de Paris e os diversos métodos que criam para bular a ficalização. É algo desse estofo que se pode esperar de "Os Náufragos da D17, pois é improvável que Moullet tenha abandonado nos últimos anos seu espírito de inssureicão contra as instituições em geral e as cinematográfias em particular. O que esperar? O melhor ou um filme deficiente? De moullet pode vir tudo. Mas o cinema é também essa expectativa (será bom ou não?), e não para quem prefere a segurança do fast food. (* Inácio Araujo *)
- DirectorJacques DemyStarsCatherine DeneuveGeorge ChakirisFrançoise DorléacTwo sisters leave their small seaside town of Rochefort in search of romance. Hired as carnival singers, one falls for an American musician, while the other must search for her ideal partner.Há uma boa pida no fim do filme de Woody Allen. O diretor de cinema recebe uma proposta para trabalhar em Paris,e o seu agente comenta: É ótimo, Paris. Lá eles falam francês, como em Nova York. É um pouco assim em "Duas Garotas Românticas", de Jacques Dmy. Tudo nesse musical parece querer nos fazer lembrar dos musicais de Hollywood dos anos 50. Até Gene Kelly está lámm. Ao mesmo tempo, tudo é irremediavelmente françês. É um musical Nouvelle Vague: as ruas se tornam cenários, como se existissem apenas para que ali se cante e se dance. E há as irmãs Catherine Deneuve e Françoise Dorlac, também francesas e encantadoras. (* Inácio Araujo *) "Um musical absolutamente encantador, que nada deve aos melhores exemplares da Metro, podendo se converter num favorito do gênero junto com qualquer outro filme que Jacques Demy tenha realizado com Deneuve na época." (Vlademir Lazo) 41*1969 Oscar
- DirectorBradford MayStarsMichael BiehnAnnabella SciorraZach CharlesWith the discovery of an incoming asteroid, the government of America formulate a plan to destroy it. When the plan fails, all the world can do is wait. The main impact zone is revealed to be Dallas, Texas. Generally, the plot follows the lives and reactions of several characters: an astronomer, her father, her son, two firefighters from Kansas City, two young doctors in Dallas and the heads of the government agency in charge of the situation."Asteróide" é um filme para TV com uma atriz interessante, Annabella Sciora. Mas não é Annabella que nos interessa aqui, e sim a obsessão hollywoodana com detritos de bing bang dispostos a cair em Nova York, ou, por extensão, em São Palulo, Bombaim etc. A possibilidade de isso acontecer sendo equivalente a zero, é evidente que essa variação de ataque alienígena corresponde ao temor de um ataque externo inesperado e vindo de forças incontroláveis. O tempo mostrou que Hollywood tinha razão: a América está ameaçada. Pode-se argumentar que boa parte dessa ameça vem de sua atitude belicosa. Como não cabe ao cinema advinhar razões, admitamos que a fantasia de destruição é, pelo menos, pertinente. (* Inácio Araujo *)
- DirectorHerbert J. BibermanStarsJuan ChacónRosaura RevueltasWill GeerMexican workers at a zinc mine call a general strike. It is only through the solidarity of the workers, and importantly the indomitable resolve of their wives, mothers, and daughters, that they eventually triumph.O principal desafio de Herbert J. Biberman em "O Sal da Terra" é o mesmo encontrado por Erwin Piscator, Bertolt Brecht, Vsevolod Pudovkin e outros tantos dramaturgos e cineastas que se aventuraram na ficção de conteúdo político: aliar dramaturgia e crítica social sem sacrificar nem a qualidade estética do espetáculo nem a seriedade da mensagem. Biberman encara o desafio e se sai bem na maior parte do tempo, abordando, já em 1953, o problema do preconceito contra os trabalhadores latinos na América. Mesclando atores profissionais com elenco amador, ele mostra uma turbulenta greve de mineiros na cidade de Zinctown, Novo México. Quando as autoridades - que saem em defesa dos interesses dos empresários, e não dos trabalhadores - ameaçam prender os grevistas, as esposas dos mineiros se reúnem e decidem que continuaram a greve por eles.É ai que surge outro tipo de conflito:muitos trabalhadores, ainda apegados a valores ultrapassados, são contra as mulheres tomarem a frente de uma manifestação política. Da relação patrão/empregado, o jogo de forças se transfere para relação marido/mulher. "O Sal da Terra", no fundo, é um filme menos sobre a luta sindical do que sobre a emancipação feminina. (Luiz Carlos Oliveira Jr)
- DirectorAbdellatif KechicheStarsHabib BoufaresHafsia HerziFarida BenkhetacheIn southern France, a Franco-Arabic shipyard worker along with his partner's daughter pursues his dream of opening a restaurant."O Segredo do Grão" é um filme que, embora trate de uma situação específica - a abertura de um restaurante na França por pessoas da colônia árabe -, interessará a qualquer imigrante. Eles não são poucos no Brasil: além das colônias tradicionais, com mais prestígio, hoje vêm a nós bolivianos, paraguaios, peruanos. Mão de obra barata, não raro fora da lei,m sujeita a expulsão. Estes entenderão o sonho da família do filme, como as dificuldades por quem passam os personagens: dos choques culturais as dificuldades para obter crédito, passando por detestáveis preconceitos. Mas nem só a imigrantes interessará o filme: a quem se sentir concernido pela humanidade também. (* Inácio Araujo *) 2008 César / 2007 Lion Veneza
- DirectorJ.S. CardoneStarsJohn BeckKatharine RossSteven BauerShortly before a rodeo festival week in Yuma County a body is found in the desert. It seems that it's Ria Paris, who was assumed to be killed by her husband before he took his own life already 16 years ago - however the cadaver's not that old. Together with his new ambitious colleague Paul McCraw Sheriff Kyle starts to investigate in the old case again, trying to avoid shaking up the community of the small town during the celebrations.Não há nada como uma sociedade soterrada em etiqueta, como a inglesa, para gerar assassinos especialmente cruéis. Quanto mais cruel o criminoso, mais ele deve desenvolver uma capa de polidez, que é sua melhor defesa: ela o torna invísivel. Assim se passam as coisas com John Haigh. Após descobrir que não existe assassinato se não há corpo, ele passa a destruir suas vítimas com ácido. Assim são as coisas em "Crimes Quase Perfeitos": Haigh é tão envolvente, no mais, que o humor vem primeiro, enquanto o horror só se revela aos poucos. É como se a rigor não acreditássemos que aquele rapaz tão gentil fosse capaz de crimes hediondos. E, verdade seja dita, nem ele: como se monstro fosse outro se não Haigh. (* Inácio Araujo *)
- DirectorRichard FleischerStarsStephen BoydRaquel WelchEdmond O'BrienWhen a blood clot renders a scientist comatose, a submarine and its crew are shrunk and injected into his bloodstream in order to save him."Viagem Fantástica de Richard Fleischer (diretor cuja a grandesa o tempo consagra). Aqui, um submarino minúsculo é lançado na corrente sanguínea de um paciente, enquanto cientistas (também miniaturizados) tentam salvar sua vida. Aqui, a aventura dá o tom (a tarefa será árdua) , vale a pena ver. (* Inácio Araujo *)
"E já que estamos nesse registro, o da ficção científica, vale a pena recuar um pouco no tempo, a 1966, para acompanhar os tripulantes da "Viagem Fantástica" que Richard Fleischer propõe. Cinema é um ótimo meio de transporte. (* Inácio Araujo *)
"Apesar de alguns estarem datados, os efeitos visuais são a grande atração. É tempo de Guerra Fria, e tanto os Estados Unidos como a União Soviética (apesar de os russos não serem citados diretamente) possuem programas de miniaturização com propósitos militares; entretanto, cientistas de ambos países apenas conseguem manter as coisas miniaturizadas por um determinado tempo, exatos 60 minutos. É nesse cenário que o pequisador Jan Benes, detentor do conhecimento de estender o tempo de miniaturização e que pretende vender a tecnologia para os americanos, sofre um atentado; o qual lhe causa um coágulo no cérebro inoperável. Então, para poder salvar o cientista e recuperar as importantes informações, uma equipe composta por um agente da CIA (Stephen Boyd), um navegador (William Redfield) e três neurocirurgiões (Raquel Welch, Donald Pleasence e Arthur Kennedy) embarca num submarino miniaturizado para, partindo da corrente sanguínea de Benes, destruir o coágulo. Obviamente, eles tem apenas uma hora para completar a missão. É um caso típico de filme produzido especialmente para a exploração ao máximo dos efeitos visuais que podiam ser alcançados na época, e por que não, também aproveitar a beleza de Raquel Welch, sempre vestindo apertados trajes de mergulho. Os personagens são superficiais, e o filme acaba se tornando um passatempo simples, sem grandes pretensões além de mostrar cenas do interior do corpo humano, algumas bem realizadas, outras nem tanto; e oferecer alguns momentos didáticos, no estilo aula de ciências. Alguns observadores mais atentos identificarão alguns furos de roteiro vergonhosos, mas que não causam grandes estragos num filme que nada mais é do que uma diversão modesta. Porém, é justamente o roteiro que causa uma situação confusa para cinéfilos do mundo inteiro. É o seguinte, muitos acreditam que "Viagem Fantástica" é uma adaptação para o cinema do famoso livro homônimo de Isaac Asimov; e causa estranheza quando o nome desse gênio da ficção científica não aparece nos créditos do filme. O que ocorreu na verdade é que Asimov foi contratado pela Batam Books para novelizar o roteiro de Harry Kleiner e Jerome Bixby; e acabou que livro foi lançado seis meses antes do filme, daí o embaraço. É meus caros, nem todas as grandes ideias em termos de sci-fi partiram do homem dos robôs; porém, entendidos afirmam que o livro é bem superior ao filme.Por sinal, o tema em questão é uma das poucas correntes da ficção que não me agradam; como dito no começo, pensar que alguém reduzido a tamanho microscópico está dentro de um outro ser vivo me causa bastante desconforto, e um pouco de náuseas também! Mesmo assim, o mote de Viagem Fantástica foi copiado à exaustão por diversos desenhos animados, e pelo menos um filme-paródia fez sucesso: Viagem Insólita, de 1987, com Martin Short, Dennis Quaid, Meg Ryan e dirigido pelo ótimo Joe Dante. O título em inglês, Innerspace, é um termo bastante repetido pelos personagens do filme de 1966. Para os nostálgicos de plantão, uma notícia ruim: está prevista para 2010 uma refilmagem de Viagem Fantástica, hoje tido como um filme clássico. O fato é que alguém que entende de cinema, James Cameron, está na condução do projeto como produtor, e é bem provável que os efeitos visuais atualizados tragam uma nova perspectiva e uma aventura mais dinâmica. Afinal, estamos falando de alguém que nos brindou com alguns dos melhores filmes de ação das últimas duas décadas. Um diretor versado em filmes de fantasia já estava escalado, Roland Emmerich, e era um sonho antigo seu poder realizar este remake em particular; entretanto, divergências com Cameron quanto a utilização ou não do roteiro original de Kleiner e Bixby fizeram com que Emmerich desistisse do projeto para se dedicar à adaptação de uma outra conhecida obra de Asimov, Fundação." (Fabio Nazare)
"Primeira semana de aulas, e a matéria mais legal que existe, ciências, é ridiculamente exilada nos confins da sexta-feira de manhã... Nesse ano, aprenderemos coisas sobre o corpo-humano, e nada mais lógico que começar o ano com pé direito, com direito a até filminho(é por isso que adoro a professora...). E eu te pergunto: TEM FILME SOBRE O CORPO HUMANO MELHOR QUE "VIAGEM FANTÁSTICA?!" O filme é mesmo fantástico, por sinal.m Sabe como é, numa sala onde, para as pessoas, filme bom é aquele cheio de tiros, explosões, 37 *beep* por minuto (vide Christian Bale, que compartilha dessa opinião) e mulheres peladas, portanto eu ouvi muitos Esse filme é uma droga! e Nossa, é tão parado! Cadê a ação?. É... No segundo caso, tem certa razão... O ritmo do filme não é um dos melhores, e parece se perder no meio. Mas isso é simplesmente explicado: Na época do filme, os efeitos especiais(que continuam ótimos e ganharam o Oscar de Efeitos Visuais) eram visionários, incríveis mesmo... Então, naquela época, era muito legal uma câmera ficar parada por uns três minutos para vermos glóbulos vermelhos e coisa e tal. Pena que isso não funciona nos dias de hoje mais... A história do filme fala sobre cinco cientistas que se miniaturizam e entram, a bordo de uma nave, na corrente sanguínea de um cientista que tem um coágulo no cérebro. A missão dos aventureiros é atravessar todo o corpo do cara até chegar à cabeça. No caminho, eles terão de enfrentar uma série de perigos, entre anticorpos, ácidos gástricos, válvulas cardíacas... Tá, agora me diz, tem coisa mais legal que isso? Não, sério? O elenco, como a maioria dos filmes antigos, está ótimo, todo ele. Temos o cientista, o capitão, o gaanhão, o espião que quer sabotar a operação e, é claro, a gostosona... Todos muito bens em seus papéis, até a gostosona sabe se meter em encrenca com classe. As cenas dentro do corpo humano são fantásticas, muito bem feitas para a época. Bem, pra falar a verdade, acho que eu vi o filme remasterizado, porque os efeitos estavam muito bem feitos... Suspeirto, mas conta! As cenas criadas para explorar o corpo são das mais criativas, como, na corrente saguínea, eles teria que ir para o cérebro, mas acontece uma zebra que eles passam por uma fenda e vão em direção ao coração. O que eles fazem? Param o coração da pessoa para passar livremente. Temos também a cena antológica onde o ar do submarino usado na expedição coemça a perder ar, então eles vão para o pulmão pega o ar inalado pela pessoa. Tipo, coisa de gênio, sabe? AH! Também quando a gostosona fica presa em fio de fibra no ouvido, então ela é atacada por aanticorpos. A cena é ótima e cria uma tensão de perder as unhas graças a música. Também temos a genial cena onde, quando eles estão no ouvido, uma enfermeira(no lado de fora do corpo) deixa uma tesoura cair. Nesse momento, o barulho produzido é equivalente a,s ei lá, 50 aviões decolando no seu ouvido... Muito boa a cena. O filme é antigo, ou seja, divide opiniões, e tem lá seus errinhos, como o ritmo lento em algumas partes, como ja disse, e quando os cientistas do lado de fora descobrem, assim, do nada, como os tripulantes sairão do corpo antes de 'desencolherem'. Mas, no todo, o filme é bem legal." (Renato Tavares Mayr)
69*1967 Oscar - DirectorMike LeighStarsTimothy SpallLesley ManvilleRuth SheenIn a poor working class London home, Penny's love for her partner, taxi driver Phil, has run dry. When an unexpected tragedy occurs, they and their local community are brought back together.O proletariado nunca foi uma classe desprivilegiada pela cinematografia inglesa. Há no cinema britânico uma tradiçao proletária, vertente realista que vai da escola documentarista capitaneada, nos anos 30, por John Grierson, ao free cinema dos jovens irados dos anos 50/60 (os primeiros filmes do trio Karel Reisz, Tony Richardson e Lindsay Anderson). Se Leigh somou alguma coisa a essa tradição, sua maior contribuição encontra-se, posivelmente, em seu método na direção com atores.O que se sabe é que o diretor trabalha cada ator em separado, construindo a condição emocional e psíquica do personagem a partir dos dados pessoais dos atores. Vem daí talvez a tendência depressiva de seus filmes. Tendência que, em "Agora ou Nunca", chega ao paroxismo. Timothy Spall (Segredos e Mentiras), de rosto incrivelmente abatido e castigado, faz Phil, um taciturno taxista que já não é o arrimo da familia. Sua depressão reflete-se em seus familiares no rosto igualmente abatido da mulher, na timidez soturna da filha e no tédio agressivo do filho. A familía, de baixa classe média, mora em um conjunto habitacional suburbano povoado por tipos vulgares e mal-humorados, surtados ou a caminho de (mais) um surto. É nessa prisão domiciliar que Leigh nos instala. Não há nenhuma saida - os proletários do free cinema ainda tinham alguma poesia. Leigh retrata seus personagens como vítimas do meio em que vivem talvez para nos fazer expermentar um pouco dessa condição. O problema de seu naturalismo é que não combina com seu método. A verdade dos atores transcende o papel social em que são encerrados os personagens. Mas talvez os fins justifiquem os meios: é possível que Leigh só promova a humilhação social dos personagens com o intento de precipitá-los em crise, momento em que as limitações são superadas. Nas cenas de crise, o método de Leigh revela a sua eficácia - Segredos e Mentiras já o provava. Não são apenas os personagens que ganham novas dimensões, tomando movimento. É o próprio autor que na crise se revela, ao conseguir finalmente casar a verdade dos personagens com a verdade dos atores. (Tiago Mata Machado) 2002 Palma de Cannes
- DirectorMathieu AmalricStarsMiranda ColclasureSuzanne RamseyDirty MartiniWith a group of American strip-tease performers, the veteran impresario Joachim attempts to make his comeback touring a Burlesque show around France. But once on tour, Joachim has to keep his wits if he wants to be paid.Ator talentoso, Mathieu Amalric não esconde o gosto pelo cinema poético - narrativas longe da grandiloquência e das convenções - quando passa para trás das câmeras. Seu quarto longa como diretor é um road movie claustrofóbico, que revela um profundo mal-estar dos personagens sobre um verniz de irreverência. Joachin (Amairic) é produtor de uma trupe de strippers americanas em excursão pela França.Extrovertidas, elas divertem as plateias de pequenos teatros do interior com musicais de exuberância felliniana. Entre um show e outro, emergem a miséria existencial delas e os demônios de Joachim: ele é tratado a pontapés por ex-amigos e execrado por ex-mulheres. Quando o teatro parisience cancela o espetáculo final da turnê, seu equilíbrio se rompe e ele anda a esmo, cada vez mais perdido e sem ajuda. A narrativa também flutua, pois nunca encontra o ritmo adequado. Os personagens ganham densidade no fim, mas isso não torna convincente a simbólica redenção de Joachim. Irregular, o filme nunca mostra as coisas de frente, contentando-se em tangenciá-las, como faz com os números das strippers, sempre vistos dos bastidores, sonegando ao espectador o essencial. (Alexandre Agabiti Fernandez) 2010 Palma de Cannes
- DirectorMel BrooksStarsZero MostelGene WilderDick ShawnA stage-play producer devises a plan to make money by producing a sure-fire flop.Uma coisa que não falta são comédias a ser relançadas, em particular dos anos 60/70. Poderia ser A Pantera Cor-de-Rosa (toda a série), os primeiros Woody Allen, os últimos Jerry Lewes. Seria possível vir da França o raro Pierre Etaix. E na Itália há tanta coisa que convém nem começar a listagem. De tudo,o destino nos optou por nos trazer "Primavera Para Hitler, portanto um filme do começo da carreira de Mel Brooks. Brooks participou durante um certo tempo de uma segunda linha bem-sucedida da comédia americana, dedicada essencialmente a paródia. A eficácia do seu humor murchou em pouco tempo - o que é caracteristico do paródico. "Primavera Para Hitler" é de um momento anterior e parte de uma trama muito inventiva 9Com roteiri de Brooks): Zero Mostel é produtor teatral falido que se associa a um conmtador até então honesto (Gene Wilder), quando ambos descobrem que um fracasso pode crender muito mais aos produtores que o sucesso. O segredo é vender, digamos, 1000% da produção a cotistas. Com o fracasso, não haverá dividendos a pagar, Os primeiros 1000% destinam-se a pagar a produção. Os restantes900% vão para o bolso do produtorres. Obviamente, algo acontece que emperra o engenhoso tranbique. Para ver o filme convém lembrar que ele é de 1968, portanto havia embutido aí a ideia de certa contestação, ou pelo menos de descompromisso com a visão oficial, careta, do mundo. Trambicar não era bem um crime, mas um ato anti-social, que desafiava uma ordem tida por obsoleta, ou reacionária, ou ambas as coisas. Dai se pode entender, também, a evolução de Mel Brooks para o himor paródico (gozação com Hollywood, com o sistema - mas também um recuo considerável em relação a esse primeiro e insubordinado sucesso). Se a idéia de "Primavera Para Hitler" até hoje parece original, a direção de Brooks continua não entusiasmando muito. Aquilo que poderia ser, no papel, sugestão delicada (caso das velinhas que sustentam o produtor), torna-se na tela um tanto escabroso - de tão pesada que é a mão de Mel Brooks. A comédia nem sempre vem do exagero, e com frequência vem da contenção. Brooks acredita no exagero burlesco, mesmo quando ele é francamente desaconselhável. Isso enfraquece consideravelmente a comédia, que temem Zero Mostel o ponto forte. (* Inácio Araujo *) 41*1969 Oscar / 41*1969 Globo
- DirectorEttore ScolaStarsJean-Louis BarraultMarcello MastroianniHanna SchygullaDuring the French Revolution, a surprising company shares a coach, trying to catch up something - the time itself, perhaps.O filme "Casanova e a Revolução" se passa nos tempos da Revolução Francessa (1789). Narra a fuga de um grupo de nobres, é dirigido por Ettore Scola e é muito digno. Mas não é isso que importa por hoje, e sim o fato de poder compará-lo ao mais recente A Inglesa e ao Duque´de Eric Rohmer. Scola faz uma reconstituição histórica tradicional, buscando encontrar paissagens que se aproximem das do final do século 18. Rohner trabalha uma solução radical: manda pintar essas paissagens e as utiliza como cenário (como trabalha com efeitos digitais, pode-se se dizer que usa quadros animados, dentro dos quais os atores representam). Ao contrario do que se possa imaginar, a eventual antipatia de A Duquesa e o Duquepelo terror não tem muita importáncia. E, se Scola se pretende a esquerda, contra a aristocacia, é preciso admitir que, cinematograficamente, ele é que está a direita. Pois, ao imitar fielmente (servilmente?) um tempo passado, ele de fato o reconstituiu. Já Rohner procura não reconstituí-lo, mas restituí-lo a si mesmo em toda a sua ambiguidade. Também a ambiguidade em Casanova, mas, para se manifestar, ela necessita da inteligência dos personagens. A Inglesa, ao contrário, não depende dos pensamentos dos personagens (necessariamente parciais); a época os faz pensar assim, não o brilho de seu raciocínio. Por fim, Casanova é um filme sobre a história, enquanto A Inglesa traz em si a história: ao utilizar os efeitos digitais, remete ao século 21, ao que há de mais moderno, mas ao mesmo tempo evoca os telões pintados do fim do século 19, como a nos lembrar de cada época tem seus critérios de verossimilhança. Ela muda. Já a verdade não muda: deixa-se reencontrar. (* Inácio Araujo *) 1982 Pala de Cannes
- DirectorBobby FarrellyPeter FarrellyStarsJim CarreyRenée ZellwegerAnthony AndersonA nice-guy cop with Dissociative Identity Disorder must protect a woman on the run from a corrupt ex-boyfriend and his associates.Em cinema, o bom gosto é quase sempre um atraso de vida. Ele impediu muita gente de ver os encantos do cinema no passado, assim como hoje não permite notar, por vezes, quanta besteira as imagens podem conter. Uma parte da simpatia dos irmãos Farrelly consiste justamente em evitar ciosamente o bom gosto. em combatê-lo, mesmo, como em certos momentos do filme "Eu, Eu Mesmo e Irene", em que Jum Carrey faz um policial rodoviário. Ele sofre de traumas, de distúrbios da personalidade - enfim, essas coisas que fizeram a glória de Jerry Lewis em outros tempos: glória do imbecil, do incapaz. Pois, mais do que nunca, os tempos pedem a nós eficiência e sucesso - e seu pendant artístico, claro, o bom gosto. (* Inácio Araujo *)
"Nomes fundamentais na renovação da comédia americana nos últimos 20 anos, o astro Jim Carrey (O Máskara) e os irmãos diretores Bob e Peter Farrelly (de Quem Vai Ficar com Mary?) têm o ponto mais baixo de bilheteria em suas carreiras justamente quando resolveram se juntar. "Eu, Eu Mesmo e Irene" quase nunca é lembrado por fãs que enaltecem as filmografias de Carrey e dos Farrelly. Mas uma revisão hoje à noite pode recolocar o filme no seu devido lugar. A história de um policial que cria dupla personalidade e por isso tem óbvios problemas de relacionamento com a namorada é exagerada nas tintas, sim, mas ousa ao inserir momentos de pura crueldade em uma comédia. Longe de ser uma diversão fácil, cutucando feridas em piadas agressivas, é um bom exercício de cinema." (** Inácio Araujo **)
''Nomes fundamentais na renovação da comédia americana nos últimos 20 anos, o astro Jim Carrey (O Máskara) e os irmãos diretores Bob e Peter Farrelly (de Quem Vai Ficar com Mary?) têm o ponto mais baixo de bilheteria em suas carreiras justamente quando resolveram se juntar. "Eu, Eu Mesmo e Irene" quase nunca é lembrado por fãs que enaltecem as filmografias de Carrey e dos Farrelly. Mas uma revisão hoje à noite pode recolocar o filme no seu devido lugar. A história de um policial que cria dupla personalidade e por isso tem óbvios problemas de relacionamento com a namorada é exagerada nas tintas, sim, mas ousa ao inserir momentos de pura crueldade em uma comédia. Longe de ser uma diversão fácil, cutucando feridas em piadas agressivas, é um bom exercício de cinema." (Thales de Menezes) - DirectorJoseph L. MankiewiczStarsEdward G. RobinsonSusan HaywardRichard ConteAfter years in prison, Max promises revenge on his brothers for their betrayal. His lover Irene and memories of his past yield him a broader perspective.No filme em que narra sua biografia, Robert Ewans explica, a horas tantas, que os filmes de máfia sempre fracassavam porque eram feitos por judeus da Califórnia. "Sangue do Meu Sague"não trata de máfia, mas é quase como se fosse, pois Edward G. Robinson faz o barbeiro italiano que enriquece com agiotagem, cria um banco e domina com mão de ferro seus quatro filhos. Filhos que ou o odeiam (três deles), ou odeiam-se entre si. Dinheiro não traz felicidade. O filme de joseph L. Mankiewics, de 1949, mostra bem como mudaram as temáticas do pós-guerra (tornaram-se graves, sérias, complexas). Mas ainda carregavam, não raro, aspectos convencionais, como Robinson na pele do velho Gino Monetti. (* Inácio Araujo *) 1949 Palma de Cannes
- DirectorPeter JacksonStarsElijah WoodIan McKellenOrlando BloomA meek Hobbit from the Shire and eight companions set out on a journey to destroy the powerful One Ring and save Middle-earth from the Dark Lord Sauron.''O filme "O Senhor dos Anéis - mA Sociedade do Anel" é um deses fenômenos avassaladores do cinema recente. Retoma-se ali a saga J. J. R. Tolkien, sobre um jovem ouro, encarregado de carregar um anel capaz de dar poderes incalculáveis a seu possuidor, para que seja devidamente destruido. O anel é, evidentemente, cobiçadíssimo, e esse é o pnto principal da saga: o poder e seu decorrente poder de destruição. Tolkien escreveu depois da Segunda Guerra, cujo os piores pesadelos parecem freguentar sua fantasia. O certo é que coisas como armas nucleares, destruição, ruinas etc. São parte essencial dessa ficção, embora não nomeados. O filme de Peter Jackson tem o inconveniente de criar uma atmosfera pesadamente expressionista para a saga (no segundo exemplar exemplar isso seria melhorado), operando uma separação radical entre o bem e o mal, claro e escuro, luz e sombra. Uma separação simplória - sempre existe a tentação de dizer assim. Ainda que seja, convém lembrar que essa duas questões - a distição entre o bem e mal e o poder e seus usos - são mais do que presentes: a primeira move Bush e Bin Laden, Sharon e o Hamas, entre outros personagens ilustres; a segunda aborda a tendência do poder evoluir ao descontrole e em seguida, não raro, a catástrofe. O que há de mais terrível no anel de Tolkien é sua capacidade de seduzir mesmo os mais justos." (* Inácio Araujo *)
"Sua beleza é inversamente proporcional ao seu ritmo. Um filme pra assistir com o coração, pois é uma representação maravilhosa de uma ode à imaginação humana." (Alexandre Kobal)
"Além da produção nota 10, o que sobra? Um interminável aborrecimento..." (Josiane K)
"Obra-prima cinematógrafica. Combina magistralmente a direção, o elenco e a parte técnica numa aventura memorável, além de representar uma clara evolução nos efeitos visuais." (Welinton Vicente)
"Só consigo conceber SDA como uma grande incógnita." (David Campos)
"Em oposição aos que ressaltam sua morosidade, me incluo no grupo que, fascinado pela maravilhosa transcrição de Peter Jackson do universo fantasioso criado por Tolkien, correu às livrarias a devorar a saga do Anel. Adaptação referencial." (Rodrigo Torres de Souza)
''Há mitologias e mitologias. Comparar a saga do rei Arthur tal como contada por Robert Bresson em "Lancelot du Lac" a "O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel", em termos de bilheteria, seria o mesmo que comparar um Van Gogh com um artista modesto do Embu. Mas a verdade é que esses filmes têm objetivos diferentes, e seria injusto aproximá-los pelo critério comercial, meramente. "O Senhor dos Anéis" é feito para nos subjugar, à maneira das superproduções -de quase todas, em todo caso-, e para isso não faz economia de música e palavras grandiloquentes. No Lancelot de Bresson, ao contrário, pouco se fala, e o que pode nos atrair é justamente o despojamento. Pode-se ter visto tudo nos filmes da Távola Redonda, mas nunca em outra parte me lembro de ter ouvido aquele ruído das armaduras. De repente, toda a aura de valentia e heroísmo daqueles cavaleiros sofreu uma fratura. Era como se todo o cinema de aventuras medievais até ali tivesse sido feito para ocultar o prosaico do ruído da lata batendo no cavalo em movimento. Ao mesmo tempo, um ruído lindo, porque verdadeiro. Já O Senhor dos Anéis investe em sentimentos mais tradicionais. O heroísmo dos guerreiros e dos homens comuns é um deles. Até a sonoridade dos nomes Mordor, Saruman etc. é dotada de uma grandiloquência que empresta gravidade a cada gesto: tudo parece decisivo -e, se não parece, uma música também grandiosa resolve o problema. Cada filme tem sua função -embora pessoalmente "O Senhor dos Anéis" me pareça terrivelmente inflado mesmo dentro da sua função- e isso todo espectador deve levar em conta -ninguém é melhor ou pior por discordar discordar de outro." (** Inácio Araujo **)
74*2002 Oscar / 59*2002 Globo / Top 250#17 - DirectorMartha CoolidgeStarsHalle BerryBrent SpinerKlaus Maria BrandauerDorothy Dandridge's way to fame and fortune as a dancer, singer and actress.Ninguém mais sabe quem foi Dorothy Dandridge, a não ser os espectadores de Carmen Jones, de Otto Preminger, que passa regularmente na TV paga. No mais, "Dorothy Dandridge - O Brilho de uma Estrela" não ser´a nunca um filme importante. Mas suas circunstância é fascinante: como se vira uma mulher, uma atriz negra lançada ao estrelato em um só filme, numm meio fortemente racista? Ela sofre, embora o essencial de sua dor não venha do rascismo, mas do romance com Otto Preminger, seu Pigmalião e seu Drácula ao mesmo tempo. Ah, sim,quem faz o papel de Dorothy, primeira negra indicada para o Oscar de atriz, é Halle Berry, primeira atriz negra a ganhar o prêmio. Klaus Maria Brandauer é Preminger. Portanto, bom almoço. (* Inácio Araujo *) 72*2000 Oscar
- DirectorOtto PremingerStarsHarry BelafonteDorothy DandridgePearl BaileyContemporary version of the Bizet opera, with new lyrics and an African-American cast."Carmen Jones" é uma versão entre negros da história de Carmen, e talvez seja preciso não ter enjoado dela, depois de suas 300 versões em romance, disco, ópera etc. Mas Dorothy dadrigde é um ponto de apoio que mais que vale a pena. (* Iácio Araujo *) "Como a maioria dos musicais de Oscar Hammerstein, 'Carmen Jones' parece pesadão e emperrado. Ainda assim, há momentos inspirados. O diretor Preminger faz o possível para extrair o máximo do formato Cinemascope. E Dorothy Dandridge rouba o filme." (Régis Trigo) 1955 Oscar / 12* Globo
- DirectorClaude ChabrolStarsBenoît MagimelLaura SmetAurore ClémentA hard-working young man meets and falls in love with his sister's bridesmaid. He soon finds out how disturbed she really is.A DAMA DE HONRA - Em "A Dama de Honra", Chabrol adapta um romance da inglesa Ruth Rendell para o innterior da França, onde um jovem se apaixona no casamento de uma de suas irmãs. (* Inácio Araujo *)
- DirectorRupert JulianLon ChaneyErnst LaemmleStarsLon ChaneyMary PhilbinNorman KerryA mad, disfigured composer seeks love with a lovely young opera singer.Ser homem pode ser indizivelmente triste. Bem mais quando se é desfigurado. E quando se tem uma paixão. Eis o problema de Lon Chaney, cuja única compensação é conhecer os subterrâneos da Ópera de Paris. Em o "Em o Fantasma da Ópera", ele forçará o teatro a optar pro sua amada para interpretar a Marguerite do Fausto. Compensações como esta, porém, não superam a maldição que pesa sobre o homem: o mais intenso amor não o torna menos monstruoso. Talvez graças a Chanmey e a notável maquiagem experimental tão intensamente a dor desse homem. E a partilhamos. Pois todo amante se crê, de certa forma, um monstro. (* Inácio Araujo *)
- DirectorClint EastwoodStarsClint EastwoodJeff FaheyCharlotte CornwellA thinly fictionalized account of a legendary movie director, whose desire to hunt down an animal turns into a grim situation with his movie crew in Africa."Coração de Caçador" dá sequência as homenagens pelo 105* aniversário do diretor John Huston. Mas aqui ele é o personagem: o diretor de cinema de quem se espera que se ocupe do roteiro e preparação do próximo filme. No entanto, John Wilson (nome do personagem inspirado em Huston) desde que chega a África só cuida da obsessão de caçar um elefanmte. Filme sobre um homem, mas também sobre o cinema, Coração foi o primeiro a chamar atenção do público mais culto para Clint Eastwood. Com o tempo, ficaria claro que, mesmo antes desse, já era o grande cineasta que hoje todos reconhecem. (* Inácio Araujo *)
"É estranho o caso de "Coração de Caçador". Com Bird, foi o filme que lançou o ator Clint Eastwood num circuito de prestígio. Evocava-se, afinal, a figura de um John Huston preparando-se para filmar Uma Aventura na África. Ou antes, onde produtores esperavam preparações, eis Huston fascinado pela possibilidade de caçar um elefante. Logo o filme passaria a sombra, ocultado por Os Imperdoáveis e seus Orcars. No entanto, é inegável não só as forças das imagens do filme como o sentido que se desprende delas. Essa obsessão pelo elefante, a luta que implica, não é tão diferente, afinal, daquela que um diretor precisa travar (com os produtores, mas não só) para chegar a seu filme." (** Inácio Araujo **)
1990 Palma de cannes - DirectorJohn FordStarsJohn WayneJoanne DruJohn AgarCaptain Nathan Brittles, on the eve of retirement, takes out a last patrol to stop an impending massive Indian attack. Encumbered by women who must be evacuated, Brittles finds his mission imperiled.John Ford tem sempre algo de cerimonial. Mais ainda se, como "LEgião Invencível", giram em torno do Crepúsculo. OU, melhor, quando se trata da aposentadoria de um veterano coronel. Tudo se torna nostálgico: de John Wayne com cabelos brancos ao eterno Victor McClaglen. Aos bailes onde todos se reagrupam numa solidariedade que iguala a solidão dos personagens. E há, também, os índios. Um último encontro do coronel com um cacique: a tentativa de dois velhos chefes de entedimemnto num mundo que se desenha insano. Ford cria um oeste a um tempo amargo e paradisíaco. (* Inácio Araujo *) 22*1950 Oscar
- DirectorTom ShadyacStarsRobin WilliamsDaniel LondonMonica PotterThe true story of a heroic man, Hunter "Patch" Adams, determined to become a medical doctor because he enjoys helping people. He ventured where no doctor had ventured before, using humour and pathos.Se existe uma coisa irritante em Robbin Williams é perceber quanto talento é desperdiçado por causa da imagem piegas criada por ele. Em "Patch Adams - O Amor é Contagioso, por exemplo, ele faz o médico em confronto com a comunidade em função de seus métodos poucos ortodoxo - uma mistura de humor e amor. É, creia, o melado do século. Do século 20, já que é de 1998. É por conta de filmes como esse muita gente acredita que ele não tem talento. Por conta deles quase esquecemos o memorável Popaye que criou com Robert Altman, em 1980, ou a composição feminina impecável de Uma Babá Quase Perfeita (19930). Mas, que fazer, a indústria prefere acreditar no amor lucrativo. (* Inácio Araujo *)
- DirectorWilliam FriedkinStarsTommy Lee JonesBenicio Del ToroConnie NielsenAn FBI deep-woods tracker attempts to capture a trained assassin who has made a sport of hunting humans."Caçado é considerado um trabalho menor de William Friedkin, é seu filme mais político. Benicio Del Toro faz um assassino treinado pelo governo americano que acaba perdendo o controle, devido a pressão. Enguiçado, o destino dele será de ser no lixo, e ele se torna o tal caçado do título. (* Inácio Araujo *)
- DirectorHenry HathawayStarsJohn WayneStewart GrangerErnie KovacsDuring the Alaska gold rush, prospector George sends partner Sam to Seattle to bring his fiancée but when it turns out that she married another man, Sam returns with a pretty substitute, the hostess of the Henhouse dance hall.Havendo ouro, há maldição. E toda corrida do ouro que se preze é um teste infernal para o caráter dos homens. Não será diferente em "Fúria no Alasca", onde os amigos John Wayne e Sterwart Grange dão sorte e encontram seu filão. Por falar em caráter, o filme é dirigido por Henry Hathaway. Hathaway é o qe se pode charmar de honesto artesão. Passa com desenvoltura por um Torrentes de Paixão a Principe Valente. É um execultor de nivel, mas não mais do que isso. No entanto,em alguns filmes, ou alguns momentos de filme, conflitos, ódios, amores de repente tornam-se fulgurantes. "Fúria no Alasca" está nessa categoria. (* Inácio Araujo *)
- DirectorOtto PremingerStarsPaul NewmanEva Marie SaintRalph RichardsonThe State of Israel is created in 1948, resulting in war with its Arab neighbors.Se há uma verdade no Oriente Médio, é que quase tudo ali é propaganda, isto é, aparência enganosa. Como Hollywood sempre defendeu a causa judaica, com "Exodus", sabemos estar diante de um ponto específico. Formidável vantagem que nos permite acompanhar as aventuras de um grupo de combatentes para chegar a Palestina (pois os ingleses impediram a chegada de seu navio, o Exodus). E depois, só luta para, conquistado o direito para um estado, preserva-lo da destruição. Ou seja, este belo e longo filme de Otto Preminger de certa forma nos coloca não diante das questões subsequentes a partilha da Palestina pela ONU, mas na sua origem: no direito dos judeus a terra. Eis ai um filme talentosamente parcial, mas não desonesto. (* Inácio Araujo *) 33*1961 Oscar / 18*1961 Globo
- DirectorAnthony MannStarsJames StewartJanet LeighRobert RyanA bounty hunter trying to bring a murderer to justice is forced to accept the help of two less-than-trustworthy strangers.Em James Srewart, especialmente o dos faroestes, o caráter conta mais que o físico. Ele é um sujeito magro, alto, quase desajeitado, que precisa se valer de um brio excepcional para chegar ao fim dos filmes vivo, como herói. Tomemos "O Preço de um Homem", onde ele faz um caçador de recompensas que contrata dois ajudantes para trazer o preso Robert Ryan. Mas, ninguém se engane, esses homens estarão prontos para trair sua confiança e fazê-lo por momentos terríveis. Também despertarão nele um outro, um tipo com um amargor e ódio. Não é de memor importância o fato de o filme ser dirigido por Anthony Mann, um autor que faz c do faroeste seu território magistral. (* Inácio Araujo *)
- DirectorSpike LeeStarsDamon WayansSavion GloverJada Pinkett SmithA frustrated African-American TV writer proposes a blackface minstrel show in protest, but to his chagrin, it becomes a hit.A HORA DO SHOW - "Diversão de peso é "A Hora do Show", em que Spike Lee aproxima a saga dos comediantes que, no passado, se fantasiavam de negros, com a dos negros que, hoje, se fantasiam de comediantes. Lee parece ver o preconceito não se extinguir, mas se internalizar, tomar o próprio negro, obcecado por aquilo que a igualdade pode lhe oferecer: sucesso individual." (* Inácio Araujo *) < > "Com Spike Lee não existe negociação: "A Hora do Show" vem como vem, às vezes torto, às vezes excessivo, quase histérico. Mas essa é também a medida de sua integridade. Em nenhum momento se abre mão de idéias em favor do brilhareco. E as idéias de Spike, sabe-se, giram em torno da difícil integração dos negros na sociedade norte-americana. No início, existe Delacroix, um produtor de TV negro, formado em Harvard (ou outra faculdade dessa estirpe), bem-sucedido. Um gênio criativo, como diz o diretor da estação. Mas esse diretor -na aparência, e só, um não racista- pede a Delacroix um programa em que os negros apareçam de outro modo que não na forma de pessoas de classe média, bem-sucedidas etc., enfim a idéia difundida nestes tempos de correção política. Em protesto contra isso, Delacroix bola um show de blackfaces (atores que pintavam o rosto de negro, mesmo quando eram negros) representando dois idiotas de uma plantação do sul dos EUA. Ele acredita que será um fracasso e a comunidade negra protestará contra aquilo. Não é bem o que acontece. O show será ao mesmo tempo o momento de glória e derrota de Delacroix, o negro integrado. Para isso contribui a natureza da TV, sempre apta a receber o que existe de mais torpe. Mas essa natureza não nasce do nada. Ela tem como cúmplices os espectadores, brancos e negros. Em certo sentido, estamos dentro de um discurso tradicional sobre a televisão e sua capacidade de produzir aberrações. Ao mesmo tempo, Spike nos conduz ao inferno racial americano (mas limitá-lo aos EUA seria injusto) com a mesma agressividade de seus primeiros filmes. Como em Febre na Selva ou Faça a Coisa Certa, os negros ora assumem a atitude do branco, ora mostram-se impermeáveis a ela. Em ambos os casos, a integração é um beco sem saída. Por outro lado, os brancos só aparentemente se libertam do racismo. Mais do que em seus primeiros filmes, Spike Lee leva as contradições da formação americana ao paroxismo. Não há mais lugar para sutilezas: trata-se de designar, com clareza, o estado de guerra que vigora entre brancos e negros. Se hoje o tratamento dado aos negros é cheio de dedos, o filme nos remete à imagética tradicional do homem branco a respeito do negro, como a perguntar: será possível que toda essa violência (de que o blackface é um aspecto importante, mas o filme nos revela outros) perdeu-se, anulou-se, em vista de um novo entendimento das coisas criado a partir dos anos 60? A resposta de Spike é clara: não, uma mentalidade secular não muda assim tão fácil. O que se cria, na verdade, são imagens confortáveis, dentro das quais o branco pode purgar sua possível culpa. O mundo continua igual. Discurso radical - em que um dos pontos de apoio é a internalização pelo negro dessa imagética criada pelos brancos -, irado, impermeável. E portanto longe do frufru habitual do cinema dito independente. Spike é um cineasta de idéias, realmente. E "A Hora do Show", um filme fundamental." (** Inácio Araujo **) 2001 Urso de Ouro
- DirectorFritz LangStarsDebra PagetPaul HubschmidWalther ReyerIn Eschnapur, a local Maharajah and a German architect fall in-love with the same temple dancer.Tudo é muito estranho em "O Tgre de Bengala" e o "Sepulcro Indiano", esses dois quase cantos de cisne de Fritz Lang. Depois ele so dirigiria Os Mil Olhos do Dr. Marbuse, ainda uma raridade. Nos filmes indianos, um arquiteto alemão vai a Índia, e todos falam alemão. Não estranhamos que as pessoas falam inglês em todo o lugar do mundo. Mas alemão... E há uma história estranha, com o arquiteto se apaixonando por uma bela bailarina e convencendom-a de que é uma ocidental. Mas não é na intriga que eatá o encantos desse filmes. É quando o marajá, enfurecido, joga o arquiteto num limbo e cerca de 200 hansenianos avançam na direção dele. Aí sente-se, muito nítida, a mão de Lang. (* Inácio Araujo *) < > "Louis Skorecki, grande crítico francês, notou que a distância entre Lang e Alfred Hitchcock é que, para o inglês, o homem é sempre inocente, enquanto para Lang ele existe sempre em estado de danação. Na mesma linha, pode-se dizer que Hitchcock tinha em mente, sempre, Deus e a alma, enquanto Lang descreve, um mundo tomado de religiosidade para melhor afirmar não a supremacia ocidental, e sim o lado laico do mundo." (** Inácio Araujo **) < > "Se no preto e branco Fritz Lang já demonstrava grande domínio na composição de suas imagens, em O Tigre de Bengala o cineasta apresenta seu talento no uso de cores vibrantes que casam perfeitamente com os temas exóticos do filme. Uma linda aventura." (Heitor Romero)
- DirectorFritz LangStarsDebra PagetPaul HubschmidWalther ReyerA German architect runs away with the maharajah of Eschnapur's fiancee but is caught and thrown in the dungeon, while his relatives arrive from Europe looking for him and the maharajah's brother is scheming to usurp the throne.O SEPULCRO INDIANO - Tudo é muito estranho em "O Tgre de Bengala" e o "Sepulcro Indiano", esses dois quase cantos de cisne de Fritz Lang. Depois ele so dirigiria Os Mil Olhos do Dr. Marbuse, ainda uma raridade. Nos filmes indianos, um arquiteto alemão vai a Índia, e todos falam alemão. Não estranhamos que as pessoas falam inglês em todo o lugar do mundo. Mas alemão... E há uma história estranha, com o arquiteto se apaixonando por uma bela bailarina e convencendom-a de que é uma ocidental. Mas não é na intriga que eatá o encantos desse filmes. É quando o marajá, enfurecido, joga o arquiteto num limbo e cerca de 200 hansenianos avançam na direção dele. Aí sente-se, muito nítida, a mão de Lang. (* Inácio Araujo *)
- DirectorTinto BrassStarsAnna GalienaGabriel GarkoFranco BranciaroliTrapped in an unhappy marriage, the wife of a high ranking Fascist official starts a dangerous, self-destructive relationship with a duplicitous S.S. Officer.Agora que o cinema virou uma atividade respeitável no Brasil, que tal subvertê-la um pouco, encostar por duas horas essa arte do bom-mocismo e dar uma chance a "Luxúria"? Estamos na Itália, em 1945, com aocupação alemã nos estertores. O marido de Anna Galiena é um potentado facista, responsável pela... indústria cinematográfica. O marido é horrível quanto é sedutor o oficial nazista que se ocupa da mesma indústria. Corrigindo: ele mal se ocupa da indústria. Ocupa-se de mulheres. E as mulheres ocupan-no em tempo inmtegral. Ele é o defeito do filme, por sinal: não é um tipo de beleza masculina qualquer, parece mais um rufião. O essecial é que a mulher se apaixona loucamente por ele, como Alida Valli se apaixonara no "Senso" (Sedução da Carne) de Visconti. Com Visconti os sentimentos eram mais elevados. Aqui, tudo o que importa é a carne, tão mais provocante quando lembramos que Anna galiena tem lá seus 50 anos, quando faz o filme, mais ou menos o dobro da idade do tenente. Tem a idade certa para se apaixonar por um canalha. Tinto Bras, diretor deste filme, é um gênio do erotismo. Gosta de filmar cenas de sexo e sabe como trazer a tona a beleza atráves do prazer. Aqui, filma sexo até um pouco demais, mas esse problema é insuficiente para enconbrir as virtudes do um filme que restitui ao cinema um pouco de outro tipo de prazer, o da transgressão. Em "Luxúria", Brass parece misturar com total consciência a gravidade de Visconti, o desespero de Pasolini e o espírito moleque de Bunuel. (* Inácio araujo *)
''Não háno cinema contemporâneo nenhum diretor mais trangressor do que o italiano Tinto Brrass. Por transgressor pode-ae entender alguém que, tratando de sexualidade, não permite que ela se banalize. E, que fique bem claro, isso não significa que brass ponhapanos quentes (ou usa bionbos, ou filtros estetizantes, ou filtros ocultantes): ele manda bala, e quem gostar gostou. Em ''Luxúria", uma bela mulher italiana apaixona-se por um tenente alemão no final dasegunda Guerra Mundial. Aironia é aberta e o tenente tem cara de miché. Não importa: apaixão leva a mulher a trair o marido (o que não é difícil), o país, tudo. E que bom: um cineasta que não se quer artista é sempre coisa animadora.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorVittorio De SicaStarsCarlo BattistiMaria Pia CasilioLina GennariAn elderly man and his dog struggle to survive on his government pension in Rome.''Vittorio de Sica (1902-1974) é um dos nomes mais conhecidos do neorrealismo italiano, embora não tenha a estatura artística de Roberto Rossellini (1906-1977) e Luchino Visconti (196-1976). "Ladrões de Bicicleta", seu filme mais famoso, é sentimental demais em algumas passagens. Já "Umberto D." se equilibra melhor em seus altos e baixos dramáticos. Acompanhamos Umberto, senhor que vive num pequeno quarto de pensão com seu melhor amigo, o cachorro Flike. Alguns acontecimentos transformam sua vida num dramalhão de arrancar lágrimas, mas com direito à redenção. O roteiro de Cesare Zavattini (de "Roma, Cidade Aberta" e "Milagre em Milão") mais uma vez pega pesado na tentativa de comover o espectador. Felizmente, o ator principal, Carlo Battisti, na verdade um professor da Universidade de Florença que fez este único filme, e o "ator" canino incrivelmente fotogênico garantem que a dose de sentimentalismo não ultrapasse o limite do tolerável.'' (Sergio Alpendre) 29*1953 Oscar / 1952 Palma de Cannes
- DirectorJohn FordLeslie GoodwinsStarsKatharine HepburnFredric MarchFlorence EldridgeThe recently widowed Mary Stuart returns to Scotland to reclaim her throne but is opposed by her half-brother and her own Scottish lords.Nos anos 30, John Ford fez um milagre após outro. Um deles é "Maria Stuart", filme que narra a história da jovem rainha escocesa (Katherine Hepburn), que enfrenta um ambiente hostil em seus próprios domínios e é vista como uma ameaça pela rainha da Inglaterra (Elizabeth Taylor). Basta um pequeno instante para a comprovação do milagre: Maria Stuart é abandonada pelo homem que ama porque resolveu se casar com outro para garantir sua posição. Em um único plano, ela se afasta da câmera em direção a uma porta, e seu tamanho no quadro diminui drasticamente, simbolizando sua pequenez emocional. É um momento como esse que a mágica do cinema se comprova: a possibilidade de se contar muito mais que uma história, mas todo um mundo de insegurança e inquietude, apenas com a força de apenas uma única imagem. Por ter conhecido o segredo que dava origem a essa força, John Ford sempre foi considerado o diretor dos diretores. (Sergio Alprende)
- DirectorDagur KáriStarsPaul DanoBrian CoxBill BuellA cantankerous but ailing bartender takes a kindly young homeless man in under his wing.O islandês Dagur Kári ficou conhecido por O Albino Nói (2003), premiado em festivais de todo o mundo. Em sua estreia americana, o diretor filma em Nova York, mas é como se ainda estivesse na Islândia. A história de Jacques (Brian Cox), o grosseiro dono de um bar que decide dar abrigo e trabalho a Lucas, um morador de rua sensível, generoso e introspectivo (o ótimo Paul Dano,o pastor de Sangue Negro), é imensa numa atmosfera sombria, melancólica e seca, sem traços de melodrama. Dessa história de amizade em tons de cinzas, inspirada no universo de Bukowski, Kári extrai um filme sóbrio e embebido num humanismo comovente, que o final trágico só ajuda a reforçar. Sua sensibilidade refinada, menos acessível que a média do cinema americano independente, fez do filme um fracasso de bilheteria nos EUA. (Thiago Stivaletti)
- DirectorRachid BoucharebStarsBrenda BlethynSotigui KouyatéSami BouajilaTwo strangers come to discover the fate of their respective children in the 2005 terrorist attacks on London.O diretor francês de origem árabe Rachid Bouchareb apropria-se com habilidade da série de atentados a transportes públicos que aconteceu em Londres, em 2005, para produzir um drama de vocação humanista. A formidável Brenda Blethym faz a mãe atônita em busca da filha que desapareceu no dia dos ataques. Vindo da África, o senhor Ousmane (desempenhado com intensidade por Sotigui Kouyaté, premiado no festival de Berlim de 2009 pela atuação), chega a Londres a procura do filho que não vê desde pequeno e que também sumiu. Como anuncia o título, os destinos desses dois pais se cruzam, se repelem, depois se aproximam. O filme projeta uma vibração ultrarrealista típica do cinema britânico, com muitas cenas nas ruas e nos espaços exíguos de apartamento e quarto de hotel. Ao final, a mensagem de tolerância, objeto central de Boucharemb, equilibra-se com os desdobramentos do drama, satisfazendo o público que preferir valores prontos a questionamentos. (Cassio Starling Carlos) 2009 Urso de Ouro
- DirectorClaude ChabrolStarsStéphane AudranJean-Pierre CasselMichel BouquetA father injures his son. He moves in with parents who blame the child's mother. They hire someone to find info about her for an upcoming custody hearing. He and girlfriend secretly lodge at her boarding home to undermine her life.TRÁGICA SEPARAÇÃO - A crônica da vida provinciana e a crítica ácida dos valores burgueses são aspectos centrais da filmografia de Claude Chabrol. "Trágica Separação" reúne os dois no percurso de Hélène, vítima da violência doméstica à qual sucedem outras tantas agressões, mais ou menos veladas. Chabrol explora os recursos do gênero policial para reduzir à caricatura os tipos e situações mais mesquinhos valorizados pela "gente do bem". O filme, realizado em 1970, faz parte de um ciclo protagonizado por Stéphane Audran, bela e talentosa atriz estão casada com o diretor. Apesar de menos vigoroso que outros títulos da mesma fase, como "A Mulher Infiel" e "O Açougueiro", o longa demonstra as habilidades de um cineasta que dispensou formalismos e preferiu comunicar sua visão de mundo travestida de entretenimento venenoso e divertido. (CÁSSIO STARLING CARLOS)
- DirectorAmos GitaiStarsJuliette BinocheLiron LevoJeanne MoreauA political drama centered around Israel's pullout from the occupied Gaza strip, in which a French woman of Israeli origin comes to the Gaza Strip to find her long ago abandoned daughter.Após a morte do pai, Ana (Juliette Binoche), francesa de orgiem judia, vai à Faixa de Gaza ao encontro da filha que abandonou sem nunca conhecer. Uli, seu irmão adotivo, faz o mesmo trajeto, mas sua missão é outra: soldado a serviço de Israel, ele terá de participar do desassentamento dos colonos judeus que ocupavam a faixa de Gaza, fato verídico ocorrido em 2005. O filme praticamente se divide em duas partes. Na primeira, Ana e Uli se encontram para o enterro do pai. O registro, nessa primeira parte, é mais intimista, com uma pitada de estranheza por conta da relação ambígua de Ana com Uli. Na segunda parte, passamos a uma espécie de reportagem realista da retirada dos judeus de Gaza. O uso sistemático do plano-sequência, principal marca estilística de Gitai, faz-se presente no clímax do filme, que envolve dezenas de figurantes e uma infinidade de ações simultâneas. A mensagem é aquela de sempre: numa era de deslocamentos constantes e de identidades transnacionais, ainda se travam lutas por territórios e ainda se esquece que o homem deve estar acima de sua origem étnica e geográfica. Para quem só espera de Gitai o que ele já demonstrou que pode dar, "Aproximação" é um prato cheio. Para quem espera algo mais, restam bons momentos em meio a muita repetição. (LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR.)
- DirectorJean NegulescoStarsMarilyn MonroeBetty GrableLauren BacallThree women set out to find eligible millionaires to marry, but find true love in the process.A comédia "Como Agarrar um Milionário" , de Jean Negulesco, é bem inferior as outras. Monótona, a intriga está contida no próprio titulo. Lauren Bacall, Betty Grable e Marilym Monroe são três amigas que alugam um apartamento de luxo em Nova York para fisgar maridos ricos. Os quiproquós que se sucedem são previsíveis, Bacall nunca está a vontade no registro da comédia despretensiosa e o personagem de Marilyn - outra vez na pele de uma moça não tão ingênua assim - naufraga com as onipresentes gags relacionadas a sua miopia. Das três, apenas Grable se salva, graças ao talento histriônico. (Cassio Starling Carlos) 26*1954 Oscar
- DirectorNagisa ÔshimaStarsTakeshi KitanoRyûhei MatsudaShinji TakedaThe new member of a samurai militia unit causes disruption as several of his colleagues fall in love with him, threatening to disturb the rigid code of their squad.Houve um tempo em que os títulos dos filmes faziam-se respeitar. Quando a ideia era muito próxima, o distribuidor acrescentava ou suprimia um artigo: um "o" ou "uma", a mais ou a menos, serviam para fazer a diferença. Quando, alguns anos atrás, alguém poderia pensar em profanar o título "Tabu", uma vez usado por F W Murnau? Ok, Nagisa Oshima ousou, embora se possa dizer que no inglês o título de seu filme de 1999 era Taboo. Mas isso é quase indiferente, pois de outra natureza é o insignificante "Tabu" de 2007, em que uma garota molestada pelo padrasto se refugia com o pai. Pouco importa: o único significado é o aberto esforço da indústria para impor o nulo ao mesmo tempo em que profana o grande cinema. (* Inácio Araujo *) 1999 Palma de Cannes
- DirectorMarcel BlistèneStarsÉdith PiafMarcel HerrandJules BerryAn actress is afraid for her career when her agent decides to hire a young provincial with a fabulous voice.ESTRELA SEM LUZ - Se Piaf, biografia bem pífia (mas com uma atriz bem marcante, Marion Cotillard) da cantora francesa Edith Piaf, teve o sucesso que teve. por que não arriscar vê-la como atriz, no papel principal de "Estrela sem Luz"? No filme de 1946, estreia do obscuro realizador Marcel Blistene, retorna-se ao momento da passagem do cinema mudo ao sonoro. Piaf faz Madeleine, uma jovem com bela voz, que faz a dublagem de uma estrela com voz ruim (como havia as pilhas no tempo do mudo). A outra fica com as glórias, claro, mas Madeleine não pretende que as coisas fiquem assim, nessa história com mais de uma semelhança com o musical Cantando na Chuva. (* Inácio Araujo *)
- DirectorJohn FordStarsClark GableGrace KellyAva GardnerOn a Kenyan safari, white hunter Victor Marswell has a love triangle with seductive American socialite Eloise Kelly and anthropologist Donald Nordley's cheating wife Linda.Pode-se descrever "Moganbo" como uma história de amor na selva. Estamos no Quênia, o homem é caçador (Clark Gable) e a selva transmite, de imediato, a ideia de natureza. Essa história de amor logo pode ser vista como de amores. Pois Gable no começo logo se interessa pela intrépida Ava Gardner, para depois lançar-se sobre a refinada Grace Kelly, mulher casada. As tensões são várias, Embora pareçam sempre embutidas. Deixa-se ver melhor a rivalidade entre as mulheres, entre outras coisas, porque aqui John Ford faz, também, um estudo sobre dois modos de ser feminino, opondo o erotismo ostensivo de Ava ao outro, discreto e não menos fatal, de Grace. (* Inácio Araujo *)
"Mogambo" leva ao Quênia, na África, duas belas mulheres: Ava Gardner e Grace Kelly. Ambas têm a idéia de se apaixonar por Clark Gable, caçador especializado em fornecer animais para zoológicos de todo o mundo. Ambas se apaixonam por Clark. E Clark, que não é bobo nem cego, se interessa por ambas. Escolher, porém, não será fácil. Num primeiro momento, ele não está nada a fim a levar em consideração o fato de Grace Kelly ser casada. Aliás, ela já chegou ali disposta a separar-se do marido. Se Linda é a mulher culta e fina, Ava Gardner compõe o tipo oposto: ex-corista, com um passado duvidoso nas costas e com um quê vulgar. Dá para passar por cima desses detalhes diante de tamanha beleza. Mas Grace também é belíssima. Até aí, empate. O que John Ford colocará ao longo do filme é a descoberta de si mesmo por um homem. Quem eu sou? é a questão que o homem se proporá, saiba ou não que a está colocando. O problema será mais sutil do que em outras vezes que foi colocada pelo diretor. Não existe uma questão radical de caráter, que permite à mulher do povo, desprezada pela leis sociais, revelar seu valor às custas das demonstrações de fraqueza da gente fina. Era o que acontecia, por exemplo, em No Tempo das Diligências (1939). Esse xadrez desenvolvido ao longo de caçadas confere ao filme uma sutileza rara, que talvez o tenha levado a ser subestimado. Descobrir quem é a mulher de sua vida equivale a descobrir, para Clark Gable, o que é sua vida: a beleza de "Mogambo" passa, em grande parte, por aí." (** Inácio Araujo **)
"Mogambo" é um exemplar dos filmes de aventuras para homens maduros, um gênero do cinema dos anos 1940 e 1950 que teve seus grandes expoentes nos diretores John Ford e Howard Hawks. Ford dirigiu "Mogambo" em 1953 em ritmo de piquenique na África, talvez se divertindo mais do que as plateias dessa mistura de ação e romance. Clark Gable interpreta um caçador que captura animais para circos e zoológicos. Tem a vida que pediu a Deus. Entre uma luta com gorilas e uma perseguição a zebras, ele se envolve com uma bela morena, papel de Ava Gardner. Para melhorar, uma bela loira também quer o galã. E é Grace Kelly (1929-1982), aos 24 anos, no papel que daria a ela o Globo de Ouro de atriz coadjuvante. Sem dúvida, um belo filme." (Thales de Menezes
26*1954 Oscar / 11*1954 Globo - DirectorDouglas SirkStarsVan HeflinPatricia NealGigi PerreauSingle parents Jean Bowen and Brad Stubbs meet at the train station when they send their kids (his two girls, her two boys) off to camp. Love inevitably blooms. But there are complications: Brad's other flame, TV star Phyllis, thinks he plans to marry her, while Jean has caught the eye of beefcake camp counselor Don Adams. A hectic weekend at camp (with Phyllis an uninvited guest) brings the expected lovers' tiff. Who will straighten out Jean and Brad's lives?FEITIÇO DE AMOR - Uma leitora reclama do tratamento duro dado por esta coluna ao ator Van Heflin. Tem certa razão. Heflin é o anticarismático. Mas é, em compesação, um ator sólido, capaz como poucos de encarnar virtudes como retidão e integridade, especialmente a de homens um tanto monótonos, para quem a medianidade é um horizonte. Ele é tudo isso em "Feitiço do Amor", onde faz um viúvo que encontra na também viúva Patricia Neal a parceira ideal. Mas ele tem duas filhas, a mulher tem dois filhos. E vem a clássica história: aceitarão um intruso (ou intrusa) em seus mundos? Esta comédia de 1951 está abaixo do que Douglas Sirk faria a seguir na Universal, mas tem momentos notáveis. E quem mais brilha não é Heflin, é Patricia. (* Inácio Araujo *)
- DirectorStephen GaghanStarsGeorge ClooneyMatt DamonAmanda PeetA politically charged epic about the state of the oil industry in the hands of those personally involved in and affected by it.O momento é oportuno para dar uma olhada em "Syriana- A Indústria do Petróleo". Nada que vá mudar o mundo; CIA, Irã etc. é que entram questão: a luta feia entre as petrolíferas do mundo se desenvolve a mil por hora. O que poderia trazer alguma revelação sobre o uso das corporações chega envolto em tantos nós de intriga vulgar que há pouco a aprender a respeito. Podemos, porém, aprender um pouco sobre a indústria do entretenimento, já que o filme tem pouco mais de duas horas, mas o seguinte da TNT só entra as 22h, quase três horas depois. (* Inácio Araujo *) 78*2006 Oscar / 63*2006 Globo
- DirectorClint EastwoodStarsClint EastwoodSondra LockeGeoffrey LewisAn idealistic, modern-day cowboy struggles to keep his Wild West show afloat in the face of hard luck and waning interest."Bronco Bylly" fica numa estranha zona morta da obra de Clint Eastwood: não é o caubói intrépido nem o justiceiro urbano. É coubói que não foi, o atrasado que, tendo chegado ao mundo após o Wild West terminar, nada mais tinha a fazer do que rodar por cidadezinhas. Falso caubói, falso Oeste, é verdade. Mas os sentimentos, não:esses são verdadeiros. As aspirações a liberdade continua intacta. Mais do que isso, om personagem preserva um intenso diálogo com o valores do antepassados, pioneiros. Há que rever, sem falta, a cena antológica do assalto ao trem, a reação do menino que vê caubóis e índios - e só ele entende que aquilo é real. Porque o sonho é real. (* Inácio Araujo *)
- DirectorJohn CarpenterStarsRoddy PiperKeith DavidMeg FosterThey influence our decisions without us knowing it. They numb our senses without us feeling it. They control our lives without us realizing it. They live."É um engano supor que os filmes B sejam filmes ruins. Eles eram os filmes baratos que compunham o programa duplo dos cinemas, desde que a Depressão dos anos 30 obrigou os donos de salas a oferecer dois filmes pelo preço de um para atrair público. Eles podiam ser insuportáveis, também podiam ser muito bons. Não é isso que os torna tão particulares, e sim o fato de terem criado um modo de produção absolutamente original, em que se aproveitavam roupas, cenários e até cenas de outros filmes. O B era rodado sempre em poucos dias. Por isso, os diretores davam tratos à bola para filmar de maneira econômica. Daí o B ser o domínio por excelência dos planos sequência (toda a cena rodada sem cortes, ou quase). Os modernos fizeram o mesmo. Rossellini e Orson Welles foram mestres do plano sequência. Nesse sentido, o B de certo modo já contém o cinema moderno. Mas, lembra Alcino Leite Neto, não só: o "B" também é herdeiro dessa sofisticação única no uso da câmera que é o grande segredo do cinema mudo: falava-se com a câmera.Nessa hipótese, o B ao mesmo tempo detém o passado e o futuro. Mas não é isso o essencial, e sim que: antes do sonoro, o cinema era mais livre (não sofria dos constrangimentos industriais impostos pelo som), e o moderno começa quando o cinema se liberta dessa camisa-de-força. Ou seja, o essencial do B é a liberdade (que hoje, pós-modernamente, está novamente em xeque). Essa liberdade que seus herdeiros, como John Carpenter, sabem cultivar. E talvez nenhum filme de Carpenter seja melhor exemplo disso do que "Eles Vivem". É uma ficção científica (ou terror, ou ambos) feita com migalhas, em que aliens se misturam aos terráqueos de tal modo que ao final não sabemos quem é quem. Carpenter substitui a grande produção por invenção. Faz do precário uma virtude. Tira ouro de pedra. Que mais pedir? (* Inácio Araujo *)
"A obviedade do argumento não atrapalha as resoluções interessantes e o visual divertidíssimo dos alienígenas. Vale certamente como entretenimento burro mas de qualidade, algo típico dos anos 1980." (Alexandre Koball)
"A fluidez com que tudo acontece é ótima, dando-nos tempo para pensar nos acontecimentos e aceitá-los de forma mais natural, sem pressa. Assim como Janela Indiscreta, um dos melhores filmes que representa o cinema em sua essência." (Rodrigo Cunha)
"John Nada, o herói do povo." (David Campos)
"A obra-prima do filme B, do cinema autoral e da ficção política de Carpenter, com um mundo sendo erigido e em seguida desconstruído em tela enquanto nosso heroi decide solucionar o problema da forma mais radical possível: saíndo pelas ruas chutar bundas." (Daniel Dalpizzolo)
"Tem aquele ar de fime B do início ao fim, divertindo pela canastrice: a fala do chiclete é genial de tão nonsense. Além do mais, Carpenter propõe até uma crítica social, antes de se perder no fraco ato final, quando tudo vira um tiroteio sem graça." (Silvio Pilau)
"Carpenter critica religião, propõe discussão sobre o papel da mídia na sociedade, até insere uma cena digna de WWE em prol de inspirada reflexão sobre o capitalismo contemporâneo. Um representante sofisticado de filmes essencialmente B." (Rodrigo Torres de Souza) - DirectorJean-Claude BrisseauStarsVanessa ParadisBruno CremerLudmila MikaëlFrancois, 49, is a happily married teacher. Concerned that rebellious student Mathilde is going to be expelled he sets out to help her but is soon drawn into a passionate relationship with her which has devastating consequences.''O grave problema do cinema francês atual, todo mundo sabe, é a falta de assunto combinada com excesso de filosofia. Um mal de que não sofre "Boda Branca", realizado por Jean Claude Brisseau em 1989, embora seu protagonista seja precisamente um professor de filosofia que se apaixona por uma jovem aluna, Vanessa Paradis. Nem sempre Vanessa será para ele o paraíso. Ou antes, poderá ser um paraíso infernal, nesse filme que evoca o universo do italiano Valerio Zurlini. "Boda Branca" tem essa vitalidade que faz falta com tanta frequência aos filmes europeus, que não raro trocam as coisas da existência pela abstração, que raramente emplaca no cinema. E isso a nouvelle vague ensinou bem ensinado.'' (* Inácio Araujo *)
''Muita gente reclama que o cinema francês "é chato". Às vezes se diz isso por quem não compreende o que está na tela. A maior parte das vezes, no entanto, é mesmo verdade. A Europa é uma cultura antiga, em parte desgastada. E, nesse desgaste, a França optou por uma cerebralidade que por vezes é vizinha da insânia. Mas veja "Boda Branca". É pelo menos uma notável exceção, e não só pela presença da bela Vanessa Paradis. Este filme de 1889, de Jean-Claude Brisseau, está ancorado na vida, mais do que nas idéias. Ou, antes, estas decorrem daquela na história (em si banal) do professor que se apaixona por uma aluna.'' (** Inácio Araujo **)
A história de "Boda Branca" faz lembrar O Anjo Azul, de Josef von Sternberg, mas é bem outro o andamento no filme de Jean-Claude Brisseau. Em comum, duas personagens femininas que dão tom à trama: a Marlene Dietrich do Anjo e a Vanessa Paradis do Boda. Também há dois professores. No caso aqui, o ótimo Bruno Cremer é um professor de filosofia com um casamento estável até se apaixonar por Vanessa. Daí por diante, cátedra e casamento estarão bem a perigo. À parte marcar a estreia no cinema da bela cantora (na época Vanessa tinha menos de 18 anos), o filme impressiona pelo realismo que Brisseau imprime à direção. É o oposto do barroco de O Anjo Azul, mas não menos interessante.'' (*** Inácio Araujo ***)
1989 César - DirectorManoel de OliveiraStarsLeonor SilveiraRicardo TrêpaLuís Miguel CintraLuciano, fresh out of jail, was taken by his brother, Flórido, to serve in the home of wealthy Alfreda. He was surprised when she told him that her greatest desire was to see the Virgin Mary. Now comes this rich land owner with her sublime pretensions. Isn't it enough for her to have an Aston Martin and a Jaguar in the garage and ten different dresses per season? It was all professor Heschel's fault. Or someone else's. Anyway, to go beyond the promise is heresy. Alfreda said that she wouldn't rest until she saw the Virgin and made her some questions. Filipe Quinta, the Forger, says he has a solution. Meanwhile, Bahia, her husband, listens do music.Em seus filmes, Manoel de Oliveira já fez drama e comédia, já viajou no tempo, percorreu a história do Ocidente e deixou-se levar pela melancolia portuguesa, enveredou pelo teatro e pela poesia. A cada novo filme não sabemos o que esperar. E ele sempre termina por surpreender. No caso de "Espelho Mágico" as surpresas se acumulam ao longo da trama. Tudo começa em tom grave no interior de um presídio onde, basicamente, se discute filosofia. O diretor, que cultiva cactos, gosta de palestrar com o suave presidiário Luciano (Ricardo Trepa). Este, por sua vez, aprecia as conversas com o vingativo Américo. Parece que vamos assistir algo à maneira de Robert Bresson. Subitamente, porém, o curso é desviado: Luciano sai da cadeia e é levado pelo irmão a trabalhar na casa de Alfreda (Leonor Silveira), uma milionária que dedica o essencial de seu tempo à fé e a receber conselhos de teólogos como o professor Heschel (Michel Piccoli) e o padre Clodel (Lima Duarte). É do primeiro que vem a teoria de que Nossa Senhora poderia muito bem ser uma mulher rica como Alfredo. Tal idéia embala o sonho maior da carola: receber uma aparição da Virgem Maria. Boa teoria: se ela apareceu até para uns pastorzinhos em Fátima antes, por que não para ela? Aos poucos, enquanto cresce a obsessão de Alfreda, muda o registro do filme. E Oliveira parece contemplar sorrindo este mundo meio fora do tempo, onde a riqueza é só um atalho para o reino de Deus. Um mundo fútil, a rigor, e vaidoso, mas antes de tudo mimado: Alfreda quer ver a Virgem Maria assim como uma criança quer o brinquedo da vitrine ou seu marido quer financiar futuros músicos. É então que aparece em cena Filipe Quinta (Luís Miguel Cintra), o falsário, velho conhecido da cadeia, a quem Luciano conta sobre as manias da patroa. Cínico, Filipe trata de transformar a obsessão em realidade e sai à cata de uma Virgem Maria, que encontra na pessoa de Vicenta (Leonor Baldaque). O filme divide-se em três partes. A primeira, dedicada à cadeia; a segunda, à casa de Alfreda; a terceira, a Filipe Quinta. Nenhum desses três momentos narrativos se completa. Da primeira parte, restará Luciano, mas o diretor e Américo desaparecerão sem deixar rastro. Da segunda, restam Alfreda e o marido, mas desaparecem os padres, tão marcantes no início. Por fim, a própria Virgem de Filipe Quinta, se não desaparece, passa por uma espécie de desvio de função. Se ri da fé vaidosa de sua rica carola -e, por extensão, da importância que certas pessoas dão a si mesmas-, Oliveira também ri da ortodoxia narrativa: ao truncar a história, ao abandonar certos fios, ele se desfaz das regras que oprimem o cinema tanto quanto podem oprimir os homens. Em troca, postula a liberdade, o prazer, o gosto pela amizade, pelos personagens que ali estão apenas porque os ama (ou aos seus atores, o que dá quase no mesmo). Não é só porque se passa de clichês que um homem é "sério". Aos 97 anos, Manoel de Oliveira parece cada vez mais inventivo e moleque. (* Inácio Araujo *) 2005 Lion Veneza
- DirectorHoward HawksStarsCary GrantRosalind RussellRalph BellamyA newspaper editor uses every trick in the book to keep his ace reporter ex-wife from remarrying.Diz Louis Skorecki, seguido por Godard, que, para Howard Hawks, não existia a oposição entre homem e mulher. Deve ser. Tanto que, em "Jejum de Amor", ele inverte uma situação da peça original ("A Primeira Página") e, onde havia um editor-chefe e um repórter, passamos a ter um editor-chefe e uma repórter. E mais: editor e repórter são recém-separados. Ela busca vida mais tranqüila ao lado de outro homem. Ele a chama para uma última cobertura: a de um homem que vai ser executado. Ela se joga apaixonadamente na história. Convenhamos, isso não é "coisa de mulher", ao menos não das de 1940. Hoje, seria bem diferente. O que faz olhar a coisa de outro modo: Hawks, anunciador da mulher moderna. (* Inácio Araujo *) < > "Alguns dos melhores diálogos escritos em Hollywood estão nesse filme." (Bernardo D I Brum) < > "Ah, esse timing incomparável de Howard Hawks... 70 anos, e Jejum de Amor continua sendo, de longe, a comédia mais alucinante de todos os tempos." (Luis Henrique Boaventura)
- DirectorMonte HellmanStarsMillie PerkinsJack NicholsonWill HutchinsA mysterious woman persuades two cowboys to help her in a revenge scheme.O que se espera de um faroeste não é bem o que "O Tiro Certo" nos dá. Talvez seja melhor, porque é mais surpreendente. Lá está, de início, um caçador de recompensas, Warren Oates, atualmente com a cabeça a prêmio. Em sua vida aparecerá, portanto, outro caçador de recompensas, mais jovem, Jack Nicholson, e disposto a capturá-lo. Tudo o que o filme é hoje se deve certamente a Jack Nicholson, então um jovem ator, vindo da escola Roger Corman de cinema econômico. Também de lá havia saído Monte Hellman, o diretor. Eles fizeram dois faroestes ao mesmo tempo, este e "A Vingança de um Pistoleiro", um pouco menos interessante. De um faroeste espera-se, habitualmente, ação. De "O Tiro Certo" o que se obtém, a maior parte do tempo, é reflexão: dois homens silenciosos (aos quais virá se juntar Millie Perkins) percorrendo um caminho e traçando sua estratégia de combate. Dessa substituição da ação pela reflexão, da conseqüente inflexão do tempo em detrimento da trajetória (ou antes, o tempo e a trajetória têm idêntica importância), não decorre uma perda de tensão pelo filme, mas o acréscimo de uma tensão que vem do filme, isto é, não do roteiro, mas da matéria do filme que se desenrola diante de nós (e cuja importância ficará mais clara no final da projeção). O gosto de Monte Hellman por personagens silenciosos, ensimesmados, que não escondem nada, mas simplesmente são assim, ficou conhecido por nós em "Corrida sem Fim", que o próprio Telecine passou há alguns anos, onde dois amigos vivem de tirar rachas de estrada. Como lá, em "O Tiro Certo" também chegamos ao fim da projeção nos perguntando o que aconteceu e por quê, mas com a certeza de termos passado por uma aventura em que a reflexão, os sentidos, a emoção deixam-se levar -quando se deixam- pelo pensamento extremamente original de Monte Hellman, um dos raros vanguardistas do cinema americano. (* Inácio Araujo *)
- DirectorSamuel FullerStarsPreston FosterBarbara BrittonJohn IrelandBob Ford murders his best friend Jesse James in order to obtain a pardon that will free him to marry his girlfriend but is plagued by guilt and self-disgust."Dizer que "Matei Jesse James" é o primeiro filme de Samuel Fuller não é dizer muito: todos começam de algum lugar. Mas o que surpreende é a firmeza com que, desde os letreiros, formula um programa que desenvolverá com coerência pela vida. Comecemos pelo protagonista: não Jesse James, o famoso bandido, mas Bob Ford, o amigo que atirou nele pelas costas. Aí está Fuller abrindo caminho com o que se tornaria um hábito: entrar pela porta dos fundos, apanhando seu assunto pelos fundilhos, mostrando suas entranhas. Ford é um personagem trágico, na visão de Fuller, porque trai Jesse visando a recompensa prometida e ainda uma sonhada anistia. Com as duas, poderá casar. Desde então, o assassinato parece legitimar-se aos olhos de Bob. O objetivo parece perdoá-lo. O futuro dirá que as coisas não são tão simples. O cinema de Fuller tem como apoio o de Fritz Lang. Para começar, não se toma em momento nenhum por "divertissement". Não visa seres com vida sossegada: interessam-lhe as situações limite, os pontos de tensão altos. Fuller ainda não concebe seus filmes em planos longos e arrojados. Em compensação, tira todo proveito do "close up". Por vezes irregular, "Matei..." não é impecável. É, ainda assim, imperdível." (* Inácio Araujo *)
- DirectorJean-Luc GodardStarsIsabelle HuppertJacques DutroncNathalie BayeAn examination of sexual relationships, in which three protagonists interact in different combinations.SALVE-SE QUEM PUDER (A VIDA) - "Quem diria que Jean-Luc Godard seria, ainda, um autor oportuno? Não é que todo mundo o detesta? Que ninguém o entende? Bem, talvez os acontecimentos mais recentes em São Paulo dêem novo sentido a "Salve-se Quem Puder: A Vida". O filme que marcou a volta de Godard ao cinema "comercial" em 1980 não trata de crime organizado, e sim de TV, do fazer cinema, das relações interpessoais em vários níveis. Seria ocioso atribuir-lhe um sentido. Godard vai tecendo e buscando, neste filme em que cada cena parece mais interessante do que o conjunto. Talvez isso aconteça porque Godard não se interessa pela ficção, embora aqui a pratique. Seu porto seguro será sempre a imagem e a movimentação em cena: deslumbrantes." (* Inácio Araujo *) 1980 Palma de Cannes / 1981 César
- DirectorEdgar G. UlmerStarsTom NealAnn SavageClaudia DrakeThe life of Al Roberts, a pianist in a New York nightclub, turns into a nightmare when he decides to hitchhike to Los Angeles to visit his girlfriend."Curva do Destino" é filme-mito por excelência. O filme feito em seis dias, o série "Z" que se tornou clássico. Mas também o filme a que ninguém mais há muito tempo assistia. Sua produtora é a PRC. Os poucos que já ouviram falar dela sabem que ficava do lado pobre de "Poverty Row" nos anos dourados de Hollywood. Seu diretor, Edgar G. Ulmer, estava destinado, no entanto, ao lado rico da cidade. Foi o assistente que F.W. Murnau trouxe da Alemanha, o roteirista de Tabu (1931). Começou uma carreira promissora de diretor na Universal, fez um terror originalíssimo chamado O Gato Preto (1934). Mas foi pego na curva do destino: tirou a mulher de um parente de Carl Laemmle, o dono da Universal. Laemmle era conhecido pelo nepotismo e pelas vinganças. O empresário jurou que Ulmer nunca mais botaria os pés em Hollywood. E foi mais ou menos isso que aconteceu. Talvez Ulmer tivesse terminado seus dias dirigindo filmes iídiches em Nova York. Mas o destino fez nova curva: Laemmle foi à falência. Não que isso tenha beneficiado Ulmer tanto assim. Mas pelo menos pôde voltar a dirigir alguns filmes de verdade, inclusive a obra-prima "Madrugada da Traição", um dos melhores faroestes já realizados. Em "Curva do Destino" (1945), Al, um sujeito duro consegue carona com um tipo estranho e parecido com ele. Quer ir até Los Angeles encontrar a noiva, que tenta a sorte no cinema. Misteriosamente, o sujeito que lhe deu carona morre. Por cálculo, toma o seu lugar e o seu dinheiro. Por azar, topa com uma chantagista que conhecia o finado. É o "détour". A prova de que Pascal tinha razão: de que entre um ponto e outro existem infinitos pontos e que, portanto, não chegamos nunca a lugar nenhum. Essa a verdadeira história do filme: a do labirinto em que se mete Al, que só parecia ser uma linha reta. A travessia, no entanto, é um tormento. Esse tormento é que faz a grandeza deste filme de menos de 70 minutos: o sentimento que temos de estar numa roda sem fim e sem princípio, perdidos num espaço a cada minuto mais complexo. O sentimento trágico que perpassa o filme é a sua riqueza. Talvez nunca fique claro porque a chantagista chantageia aquele sujeito. Mas isso não perde importância, diante da maneira encarniçada como Ann Savage dilacera sua presa. Talvez tudo isso não fosse tão perceptível caso Ulmer não usasse a câmera com tanta maestria, usando os deslocamentos constantes (e muito apropriados) para evitar cortes, ganhar tempo (ou seja: economizar) e impor essa atmosfera pesada que caracteriza o seu filme. "Curva do Destino" é uma constante luta contra a adversidade. Nisso, aliás, o personagem e o autor se igualam. Talvez venha daí o sentimento de estarmos contemplando uma dessas obras raras, em que cada fotograma parece carregar o combate de seu diretor para se exprimir. Uma obra não perfeita, mas na qual até as imperfeições conspiram para torná-la imperdível." (* Inácio Araujo *) < > "Pode ser visto como um conto fatalista, em que o protagonista já está condenado a um destino trágico, ou simplesmente a narrativa de um louco. De todo o modo, um filme forte, enxuto, e que adquiriu - talvez com certo exagero - o status de clássico." (Regis Trigo)
- DirectorHoward HawksStarsKirk DouglasDewey MartinElizabeth ThreattThe success of the journey focuses on keeping the Indian girl alive as well as themselves to complete trade with the Blackfeet.O RIO VIOLENTO
"O horário não é favorável. Mas parece que sempre existe algo no caminho de "O Rio Violento", o belo faroeste de Howard Hawks. A começar por John Wayne, que recusou o papel por julgar ridícula a cena em que o personagem tem o dedo decepado. Com Kirk Douglas o problema foi superado (a cena é humorística, na verdade). Estamos num faroeste no início da saga, em que dois aventureiros devem subir o rio Mississipi a serviço de franceses, numa tarefa em que o contato com índios hostis não será o único problema. Um filme de aventuras que para alguns fãs, por sua complexidade, deve ser considerado um momento alto da arte de Hawks e do cinema. Um exagero? A ver ou rever." (* Inácio Araujo *)
''Dos cinco faroestes que Howard Hawks dirigiu, "O Rio da Aventura"(1952) é único em que John Wayne, símbolo do gênero, não atuou. A ausência prejudicou o filme. Kirk Douglas, protagonista da história, é um bom ator, mas não tem o carisma e a força que Wayne imprimou aos melhores faroestes de Hawks. Já seu parceiro em cena, Dewey Martin, está um tanto apagado. De qualquer forma, Hawks, mesmo em momentos menos inspirados, tem sempre lampejos fabulosos. Aqui ele narra a saga de dois amigos (Douglas e Martin) que tomam parte em uma expedição para desbravar um rio. Na viagem, ficam atraídos por uma índia, o que pode por em risco a relação deles. O longa pode não ser o tratamento definitivo do tema-síntese de Hawks, a amizade entre dois homens, mas traz um dos finais mais ambíguos da carreira do diretor.'' (Marco Rodrigo Almeida)
24*1953 Oscar - DirectorBrian De PalmaStarsJosh HartnettAaron EckhartScarlett JohanssonTwo policemen see their personal and professional lives fall apart in the wake of the "Black Dahlia" Elizabeth Short murder investigation."Filme desprezado. O público acha que o roteiro é confuso. Isso porque as pessoas não viram "The Big Sleep". Há quem ache a Scarlett Johansson um maneirismo só. Isso porque não conheceram Lana Turner, que é o modelo dela no filme. E há quem não veja encanto em certas cenas. A mim, ao contrário, aquela grua que passa sobre o prédio para encontrar um cadáver no fundo é espetacular (e não um preciosismo à toa). A cena da morte no alto da escada, é soberba. Me parece que Brian de Palma trabalha muito bem essa passagem de um cinema verdadeiro, crível (o clássico), ao cinema contemporâneo. Tem de buscar a verdade na insânia, não mais no código. Beleza." (* Inácio Araujo *) < > "Que vivemos em um mundo de aparências, sabe-se. Que o cinema toma parte ativa nesse mundo, também. Mas o que são precisamente aparências? E o que então é real ou verdadeiro? Essas são indagações lançadas pelos filmes de Brian De Palma, e é em função delas que suas referências ao cinema clássico não se confundem com a atividade leviana do plagiário. Trata-se, sim, de observar nos clássicos -em especial Hitchcock- a maneira calma como a imagem e a verdade se entrelaçavam para formar uma só coisa. A isso, De Palma contrapõe o tumulto do moderno, a dificuldade de, entre coisa representada e representação, achar-se uma adequação, algo que se chame de verdade. Em "Dália Negra", isso afeta a protagonista, Kay (Scarlett Johansson), criada à semelhança da Lana Turner de O Destino Bate à Sua Porta. Portanto, De Palma não somente nos remete ao filme noir dos anos 40, como o evoca diretamente, o traz para o interior do novo filme. Com isso, criam-se dois significados. O primeiro, afirmativo, põe a semelhança entre as atrizes como caução de verdade: se acreditávamos em Lana, devemos acreditar na réplica. O segundo é dubitativo: por que deveríamos crer nessa réplica? Essa semelhança não serviria apenas para manifestar a distância entre "aquele mundo" e o presente? As questões que De Palma lança são centrais no cinema contemporâneo, assim como seus filmes." (** Inácio Araujo **) < > "Trecho de um texto de Vladimir Safatle. Me parece que o que diz a respeito de Lynch se aplica, em outra escala, a “Dália Negra”: dos clichês, da gramática vazia, buscar extrair instabilidades, a possibilidade de novos significados, novas formas. O trabalho do De Palma sempre foi nessa direção: reescrever o escrito, redizer o dito, encontrar novos sentidos. Desta vez, em Dália Negra, o mundo parece apenas mais vazio, mais desprovido de verdades que, no passado, nos satisfaziam, mas que hoje se mostram descarnadas, sem verdade à força de serem usadas e reusadas." (*** Inácio Araujo ***) < > "Por trás de uma execução problemática, existia uma trama de imenso potencial." (Junior Souza) < > "Ainda que seja uma obra problemática, vai lá - que é De Palma; portanto, há uma porção de coisa boa para sacar." (David Campos) < > "São poucos os criadores que sobrevivem atualmente nesse moedor de carne que é a indústria do cinema americano sem abrir concessões. Há George Romero, John Carpenter, Clint Eastwood. E mais uns poucos. Nenhum talvez seja tão radical quanto Brian de Palma. Tomemos "Dália Negra". É um filme de moleque. De Palma é capaz de criar um "travelling" alucinante (quando, por exemplo, atravessa toda uma rua em busca da imagem da mulher morta) para contar uma história praticamente incompreensível como esta. Que importa? Se a vida e a morte (ao menos a desses personagens) são incompreensíveis, por que deveria o filme ser diferente? Afinal, sempre haverá os Christopher Nolan para fazer o cinema mastigadinho com cara de coisa profunda. Enquanto existirem os De Palma, os Cronenberg -esses malucos que não passam nem na porta do Oscar, o cinema estará garantido. Será criação de fato, não enfeite." (*** Inácio Araujo ***) 79*2007 Oscar / 2006 Lion veneza
- DirectorMark RobsonStarsDana AndrewsSusan HaywardKent SmithAfter being visited by an old friend, a woman recalls her true love, the man she met and lost years ago.MEU MAIOR AMOR - "Peguei no meio "Meu Maior Amor", do Mark Robson. Aí há uma cena em que está uma funcionária sentada, datilografando. Ao fundo, entra a Susan Hayward e fala com ela. A funcionária encaminha Susan a falar com a superiora, dirigindo-se à esquerda do quadro. Susan vai atrás dela e a câmera a acompanha em panorâmica, ela se aproxima, o quadro se fecha até o PP dela. Ela passa e o quadro se abre novamente. Vemos então uma ampla sala. No fundo, à esquerda, uma senhora (a quem Susan procura), no centro, Susan, de costas. À dir., bem no canto, a funcionária que a levou até lá. O Mark Robson não é nenhum gênio, mas o filme tem momentos como esse, de muita fluência. A questão é que, quando você vê uma coisa assim, depois não tem como defender Ó Pai, Ó, por exemplo. Porque não é um tecnicismo. Assim como o fraseado do Machado de Assis não é um tecnicismo: é o que ele é. Cinema não é tão diferente. Cinema, no fundo, são aproximações e distanciamentos. Isso vale para qualquer parte do mundo. Não adianta querer inventar a roda." (* Inácio Araujo *) 22*1950 Oscar
- DirectorPaul LeducStarsOfelia MedinaJuan José GurrolaMax KerlowThe most prominent female painter of Latin America, Frida Kahlo, is agonizing in her Coyoacán home. She evokes memories of her childhood, of the streetcar accident that caused her terrible pain and affliction, her friendship with Trotsky and painter Alfaro Siqueiros, her marriage to Diego Rivera, her miscarriage, her political commitment, her love affairs and the anticipated exhibition of her works.FRIDA, NATUREZA VIVA - "A rigor, Frida Kahlo nem precisaria pintar para se tornar uma personagem central da história da arte e da politica do México: sua personalidade bastaria. Ela fica em relevo em "Frida, Natureza Viva". O filme de Paul Leduc, realizador também mexicano e engajado,, de 1986, vai buscar Frida em agonia para retornar seus passos, os doloridos (como a poliomelite e o acidente que lhe causou dores por toda a vida). Comunista, casada com Diego Rivera, se afirma pela personalidade intrépida, o que inclui amizades e amores tão arrojados como a que teve com Trotsky. De resto, teve seus quadros admirados por Nndré Breton em pessoa. è de tudo isso que o filme busca dar conta. (* Inácio Araujo *)
- DirectorValerio ZurliniStarsClaudia CardinaleJacques PerrinLuciana AngiolilloA girl pursues a guy who fooled her, but fascinates his younger brother instead."Mal dá para acreditar, hoje, que Claudia Cardinale tenha sido uma das mulheres mais admiradas do mundo por sua beleza. Quem a vir em "A Moça com a Valise" pode se surpreender com essas formas arredondadas que poderiam passar, hoje, por pecado capital. Claudia foi uma das últimas estrelas cheinhas com direito a virar "sex symbol". Logo depois entrariam em cena as Veruschkas e outras modelos, colocando suas ossadas em evidência. Jean Renoir é um que havia de odiar a era das modelos. Ele achava mulher magra uma coisa triste. Fim da digressão: não estamos com Renoir, e sim com Zurlini. São sensibilidades diferentes. Renoir era capaz de extrair alegria de qualquer coisa. Sabia localizar a vitalidade até na mais soturna tragédia. Zurlini, ao contrário, parecia perseguir a tristeza. E "A Moça com a Valise" (1961) é um filme sobre pessoas tristes. Existe, é claro, Aida (Claudia), a moça da maleta, de quem o rico Marcello pretende se aproveitar. E existe Lorenzo (Jacques Perrin), o irmão adolescente, belo e triste, encarregado de livrar-se de Aida, quando ela se torna um aborrecimento para Marcello. Ocorre que as sensibilidades de Aida e Lorenzo sintonizam, os dois começam a desenvolver um diálogo. Algo de humano se manifesta. Então ocorre o que há de mais fantástico no filme. Se alguém quiser contestar o arredondado de Claudia, que o faça. Sua beleza continuará inegável. O mesmo se pode dizer de Jacques Perrin. Mas a beleza desses dois seres, nas mãos de Zurlini, e à medida que o filme se desenvolve, se espiritualiza. Pensamos: foram feitos um para o outro. Um pode tirar o outro da situação de tristeza em que se encontra, a tal ponto suas almas parecem sintonizadas. Eles são dois vencidos. Eis aí outra coisa que nosso tempo abomina. Queremos apenas vencedores. Mas Zurlini sabe que a poesia pode estar na derrota, assim como nas formas arredondadas." (* Inácio Araujo *) 1961 Palma de Cannes
- DirectorKen RussellStarsRichard ChamberlainGlenda JacksonMax AdrianPiano teacher Peter Ilych Tchaikovsky struggles against his homosexuality by marrying, but unfortunately he chooses a nymphomaniac whom he cannot satisfy."A vida do compositor russo Tchaikovski parecia perfeita para o estilo alucinado do cineasta inglês Ken Russell, morto no último dia 27, aos 84 anos. Homossexual, histriônico, o músico aceita um casamento de conveniência para escapar ao linchamento moral numa Rússia czarista onde as aparências contavam - e muito, em especial para a protetora do músico, a baronesa Nadyezhda von Meck, que nutre por ele uma paixão platônica. Russell já começou "Delírio de Amor" com Tchaikovski (Richard Chamberlain) num tobogã, rolando na neve com seu parceiro, o conde Anton Chiluvsky (Christopher Gable), o que seria impensável. O cineasta também toma liberdades com a mulher do compositor, Antonina Miliukova (Glenda Jackson), aluna do Conservatório de Moscou que ele transforma numa ninfomaníaca, pronta para o manicômio (que, de fato, a acolhe). Russell era um homem de extremos. Transformou a vida de Liszt num show de rock (Lizstomania), filmou a possessão demoníaca de uma freira como um espetáculo de terror (Os Demônios) e carregou no homoerotismo ao filmar o romance de D H Lawrence (Mulheres Apaixonadas). Destemperado, ainda promoveu um grand-guignol coreográfico com a cabeça de João Batista em Salomé. Em Delírio de Amor (ou Tchaikovski), o overracting dos intérpretes chega a ser engraçado se o espectador ignorar o lado patético da vida do biografado." (Antonio Gonçalves Filho)
- DirectorWerner HerzogStarsKlaus KinskiClaudia CardinaleJosé LewgoyThe story of Brian Sweeney Fitzgerald, an extremely determined man who intends to build an opera house in the middle of a jungle."Não há movimento mais estranho do que o chamado novo cinema alemão, que se manifestou nos anos 60 e recolocou a Alemanha no mapa cinematográfico mundial, de onde fora banida desde 1933, isto é, desde Hitler. E talvez não haja destino mais singular, entre essas estrelas, do que o de Werner Herzog - já que R.W. Fassbinder morreu prematuramente, embora deixando uma vasta obra, e Wim Wenders nunca se recobrou inteiramente de suas decepções com os EUA. Herzog foi o que se destacou de forma mais incisiva, no início, e Aguirre, a Cólera dos Deuses o revelou mundialmente (embora Sinais de Vida, de 68, já tivesse ganhado um Urso de Prata em Berlim). Não só a ele, é verdade. Junto veio Klaus Kinski, até ali um coadjuvante de faroestes espaguete com fama de atrabiliário. Kinski revelou-se o perfeito herói herzoguiano, romanticamente alemão no gosto pela aventura e pela exploração da natureza, mas, sobretudo, pela capacidade com que transitava da obsessão à insânia. Verdade, tudo isso acontecia com Aguirre, o explorador espanhol. Mas Kinski parecia acreditar piamente, mais do que Aguirre, em sua busca pelo Eldorado. Existe um quê melancólico em "Fitzcarraldo", retorno à Amazônia de Herzog e Kinski, acompanhados de Claudia Cardinale, para falar de aventureiro que planeja construir um teatro na selva. Fitzcarraldo flerta com o impossível, vira desejo em destino e recebe os contragolpes da matéria por tê-la agredido rudemente com a idéia. O combate entre idéia e matéria está no centro da obra de Herzog e, se não faltam virtudes a "Fitzcarraldo", já lhe falta um tanto do vigor tão impressionante na obra inicial de Herzog, da qual constitui possivelmente o epílogo. Talvez por isso a cena mais marcante continue sendo a do transporte de um navio - missão de que Fitzcarraldo encarrega um alentado grupo de índios, mas na qual se empenha com toda a paixão, resumindo o personagem. Isso é o que não se consegue encontrar em Aguirre. Existe ali uma progressão tão metódica quanto maníaca em direção ao interior da Amazônia. Olhamos o rosto de Kinski e percebemos: esse homem, capaz de controlar o menor movimento de seus homens, é simplesmente cego ao mundo exterior. Da paixão à deriva e da crença ao caos, Herzog controla a evolução do filme com sofrimento visível - mas controla, está claro -, enquanto Aguirre se perde no próprio sonho. Embora Aguirre me pareça superior a "Fitzcarraldo", é inegável que ambos compõem um belo conjunto sobre a obsessão amazônica de Herzog, que ele renovaria mais tarde ao filmar o documentário sobre o magnífico maluco que foi Klaus Kinski, seu inimigo íntimo e alma destes filmes." (* Inácio Araujo *)
''Assistir a bons filmes antigos novamente numa tela grande costuma ser um programa agradável. Mas, no caso de "Fitzcarraldo", de volta aos cinemas nesta quinta, passa a ser obrigatório. Além de suas evidentes qualidades artísticas, o filme que deu um justo prêmio de melhor direção a Werner Herzog no Festival de Cannes em 1982 é, como poucos, um espetáculo que não cabe na sala se estar das pessoas. Para mostrar o delírio de um personagem real, Brian Sweeney Fitzgerald, o cineasta espalha imagens tão belas quanto inesperadas. Sem efeitos gráficos, Herzog faz com que um barco a vapor pareça flutuar sobre as nuvens. O resultado vem de três loucuras. Primeiro, a de Fitzgerald, ou Fitzcarraldo, a maneira como foi chamado pelos índios da Amazônia quando se aventurou pela floresta. Fã de ópera, faz da missão de sua vida construir um teatro na selva para seu ídolo, o tenor italiano Enrico Caruso. Para isso, contrata índios para tarefas hercúleas e insanas. A segunda loucura é, claro, a do próprio Herzog. Revelação do cinema alemão dos anos 1970, ao lado de Fassbinder e Wim Wenders, ele vinha da consagração internacional com o terror "Nosferatu" (1979) e teve gente disposta a colocar dinheiro numa produção que se previa turbulenta. E foi realmente turbulenta. Acidentes mataram membros da equipe, índios insatisfeitos sabotaram os trabalhos e Herzog propôs coisas que se mostraram impossíveis. Para impregnar a tela de devaneio, entra o terceiro louco, o ator Klaus Kinsk. Ele empresta o rosto crispado e os olhos saltados a Fitzcarraldo, num equíbrio constante entre agonia e êxtase. O líder perfeito para a epopeia maluca. É impossível assistir ao filme sem associá-lo às dificuldades extremas de sua realização. Fica mais fácil entender as declarações de Herzog e Kinski nos anos seguintes, quando ambos afirmaram ter cogitado largar o projeto ou até cometer suicídio na selva. Para temperar um pouco mais a experiência extraordinária de "Fitzcarraldo", aparecem rostos brasileiros na tela, como José Lewgoy e o cantor Milton Nascimento, numa ponta de luxo. E também a beleza da italiana Claudia Cardinale, linda aos 42 anos. É mais do que um longa. É a prova do embate de um homem com os limites da arte." (Thales de Menezes)
"Como todos deveriam viver: ousando e indo atrás dos seus sonhos, independentemente das outras pessoas e dos desafios impostos. Herzog maravilhoso!" (Alexandre Koball)
"Uma espécie de Apocalypse Now de Herzog, aqui a força do enredo reside na megalômana ambição de um homem (vivido brilhantemente por Klaus Kinski), encontrando paralelo com a ousadia do cineasta dessa grandiosa obra." (Rodrigo Torres de Souza)
"Para poder contar a história de um homem inescrupuloso e seu projeto faraônico de construir um teatro de luxo em plena selva amazônica, Herzog teve de assumir uma responsabilidade parecida e realizou um filme igualmente megalomaníaco. Trabalho de mestre." (Heitor Romero)
Fitzcarraldo comprova sua poética narrativa tanto com imagens filmadas com maestria quanto pela belíssima mensagem."
“Nós somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos”.
''Começo este artigo sobre Fitzcarraldo citando um dos mais famosos pensamentos do dramaturgo inglês William Shakespeare, autor de inúmeros clássicos da literatura mundial. Mas, afinal, o que teria Shakespeare a ver com Werner Herzog, diretor da obra em questão? Nada e tudo, repartindo o mesmo embrulho de significância. O excêntrico cineasta alemão jamais utiliza qualquer pensamento shakespeariano ao longo desta grandiosa e megalômana produção (aliás, a sentença acima é referenciada na obra-prima inigualável O Demônio das Onze Horas, de Jean-Luc Godard, em meio a outras tantas referências artísticas e filosóficas que emolduram um dos maiores feitos da humanidade – e não apenas artisticamente falando), mas, parece que evoca e reflete a supracitada frase do finado pensador a cada segundo deste impressionante, poético e reflexivo épico sobre o combustível que move a existência humana: os sonhos. Afinal, de nada mais trata ''Fitzcarraldo'' se não de sonhos, não importando a origem, a imensurabilidade, a significância, a plausibilidade ou nenhum outro fator externo que possa interferir, tanto para auxiliar quanto para dificultar sua realização. E é de sonhos que se constitui a essência de Brian Sweeney Fitzgerald, ou, como o próprio prefere se chamar, Fitzcarraldo (nome cuja origem se dá na linguagem nativa da região em que é ambientada a obra), protagonista deste filme. Irreverente, endiabrado e com constantes delírios de grandeza, Fitzcarraldo, após desistir da construção de uma linha férrea em meio à floresta, parte para um novo desafio: agora, quer, a todo o custo, construir o maior teatro de ópera que a selva amazônica já vira em todos os tempos, em um lugar completamente isolado do mundo, no meio da mata nativa. Para tanto, não mede esforços nem muito menos dimensões, tentando fazer do impossível seu mais fiel aliado e, ademais, o que é pior, o verdadeiro e único objetivo a ser alcançado. Interpretado com maestria e muita, mas muita intensidade por Klaus Klinski (que já havia trabalhado com Herzog em outras produções, tais como a obra-prima do diretor, Aguirre, a Cólera dos Deuses, e o interessante Nosferatu – O Vampiro da Noite), Fitzcarraldo é a caricatura artística de certa parte obscura da personalidade humana: aquela que, acima de tudo, trabalha com a necessária alimentação dos sonhos e, principalmente, com a ânsia de realizá-los. Ao longo de toda a narrativa, vemos o protagonista xingar, chiar, bufar, berrar, mover montanhas (acho que, neste caso, literalmente mesmo) e qualquer outro elemento - natural ou não - que venha a obstruir seu preestabelecido destino, desenvolvendo uma efusiva obsessão com traços fortes e realistas de um fato que podemos constatar diariamente, a cada minuto de nossas vidas: não somos nada sem nossos sonhos, desde a vontade de ir até a cozinha pegar uma xícara de café até o desejo de ser o mais famoso cineasta de Hollywood. No caso de ''Fitzcarraldo'', o filme, desejo, sonho e realização se fundem em um delicioso processo de intersecção entre obra e criador. Ao mesmo passo que restava grandiloqüente a meta do protagonista, quando desenvolvido o argumento, apresentava-se praticamente irrealizável o processo de filmagem planejado por Herzog, irrevogavelmente um dos cineastas mais ambiciosos e doidivanos da história. A idéia, a princípio, é realmente ousada, caso seja analisada a situação com olhos frios e clínicos de um cirurgião, mas ainda concebível: emaranhar uma grande equipe de produção, junto de um bando de nativos, no coração da parte peruana da floresta amazônica, para registrar a odisséia de um homem em busca da realização de seu sonho impossível (o que, na verdade, conhecendo Herzog, não parece nada improvável, visto que, para uma de suas primeiras produções, Aguirre, já havia feito a mesma coisa, após furtar uma câmera da escola de cinema em que estudava, na Alemanha). A maneira com a qual o cineasta se armara para realizá-la, porém, torna a concepção desta saga algo particularmente limítrofe, no que concerne à capacidade humana. À época da produção, Herzog, em um ato não muito surpreendente ao ser levado em conta seu protagonista, rasgara o contrato feito com os estúdios Fox para a produção do longa, devido a um conflito de ideologias referente a certa seqüência da obra: enquanto os executivos que financiariam a produção queriam que fosse reproduzida em estúdio cenográfico, o alemão ressaltava que deveria ser feita exclusivamente em locação real. Qual é a cena em questão? “Muito simples”, deve ter afirmado Herzog ao engravatado com a caneta em punhos: um bando de nativos, munidos com algumas cordas e roldanas, elevando até o topo de uma montanha um navio com cerca de cento e trinta metros de comprimento, cento e sessenta toneladas de madeira e ferro do mais resistente. Ao largar a parceria com o estúdio e acertar com seu próprio irmão para tocar em frente a produção, Werner Herzog se dirigiu para o centro da floresta amazônica a fim de rodar a tão sonhada seqüência. E assim o fez. O resultado dessa empreitada praticamente inconcebível, no momento, o grande sonho do cineasta (e é aqui que se encontra o núcleo do processo de intersecção entre obra e realizador, referido parágrafos acima), pode ser vislumbrado em uma magnífica e impressionante seqüência, marcada por alguns percalços e muitos acertos, mas, acima de tudo, transpirando um ar que jamais seria inalável caso tivesse optado pela maneira mais fácil de se fazer. Podemos sentir o odor das folhas molhadas da selva úmida, o peso leve do ar puro e oxigenado pelas plantas inúmeras que rondam a ação. Transformamo-nos em mais um dos diversos homens presos ao sonho de Fitzcarraldo. E passamos a admirá-lo. Tanto a cria, quanto seu criador. É um momento sublime, impecável, que poderia ser transposto à tela apenas por alguém como Herzog. Mas, não é somente neste espaço de tempo fílmico que brilha a estrela excêntrica de Herzog. Ao longo dos mais de cento e cinqüenta minutos de projeção, é impossível não entrar em estado de completa admiração com a impressionante perícia técnica apresentada, com a manipulação da natureza realizada pelo diretor. Às vezes, as imagens parecem denunciar uma relação de cumplicidade, uma parceria sobre-humana que entorna a câmera que capta a ação. Cada plano constitui um conjunto de imagens belíssimas, realizadas em tom praticamente documental, que apresentam ao mundo a vasta verdidão das folhas das árvores, a aglomeração cristalina das águas dos rios, o respirar pesado dos animais da selva – tudo isso, ainda, embalado por uma trilha sonora belíssima, com óperas européias que rompem os sons da natureza de forma admirável. É como se estivéssemos vendo uma inusitada mistura de filme delinqüente, existencialismo humano, drama de personagem, retrato histórico e documentário do Discovery Channel. A mistura, embora completamente inusitada, define bem a indefinição genérica desta obra de arte. Tudo é muito grandioso para que fiquemos presos a conceitos predefinidos. Werner Herzog, em seu projeto mais ambicioso e pretensioso, realiza um trabalho de exatidão, um exímio reflexo e, porque não, estudo da importância dos sonhos na vida de todos nós. Contando ainda com um elenco de qualidade, do qual fazem parte a bela Claudia Cardinale (Era Uma Vez no Oeste) e um vasto grupo de figurantes sul-americanos (alguns, inclusive, brasileiros), ''Fitzcarraldo'' comprova sua narrativa poética tanto pelas imagens filmadas com maestria operística quanto pela belíssima mensagem que nos deixa após um final de impressionante sensibilidade, no qual a simplicidade de um único momento contrasta com a megalomania que rege todo o desenrolar da aventura, mostrando que a conquista de um sonho pode ocorrer da forma mais singela e natural possível: pela emotividade de um sorriso." (Daniel Dalpizzolo)
''A falta de distinção entre o que é ficção e o que é documentário é uma constante em Herzog. Parece não ter havido, como ocorre eventualmente a todo cineasta, a esquize que permite ao olho separar a encenação do que apenas está em cena. Como resultado, esta falha congênita sempre fará de seus filmes peças rudes, impuras, onde o documentário é contaminado pela orientação do documentarista (muito além do que é inerente ao gênero) e a ficção é atravessada pelo extradiegético, onde a frieza de um Stroszek afilia-se muito mais a componentes do mundo físico do que Wheel of Time ou O Diamante Branco, arquivos de uma realidade mística e carregada de ideologia. Não ser capaz de enxergar esta linha pode afastar alguns, mas é exatamente o que faz de Herzog não apenas um artista único mas, acima de tudo, um documentarista fidelíssimo do seu tempo (afinal não é a própria realidade fantástica em seus preceitos?). Fitzcarraldo, o filme em que essa acepção é mais evidente, acaba sempre e de muitos modos narrando sua própria história porque o objeto de sua narrativa é ele mesmo. O discurso em si e a produção deste discurso, em dependência do ponto de vista, são um o fantasma da imagem do outro. A todo o momento a ficção (história da saga do Fitzcarraldo-personagem) parece espelhada por um segundo filme (referente à feitura do próprio Fitzcarraldo); ambos vigiam a mesma ação, dividem atores e cenário, documentam a loucura e a obsessão humanas até que o segundo, no ponto de convergência entre ambos (o arraste do navio morro acima), ergue-se e devora seu duplo diegético. Se Herzog, um fetichista da realidade, um dedicado inventariante dos objetos da natureza, deu de frente com a Paramount para efetivamente realizar a travessia pela montanha (opondo-se a o que lhe propuseram: uma ordinária mentira de estúdio), foi porque sabia que a mise-en-scène de Fitzcarraldo seria cosida antes pelos objetos, corpos e espaços achados em cena (porque assim está inscrito no espírito do desbravador -documentarista), depois na montagem, panorama em que a posição e comportamento da câmera se veem — se não diminuídos — subordinados a uma organização outra (um organismo), porque também ela é feita refém do que encontrar, privada do controle absoluto que os cânones prescrevem à figura do diretor. Irmana-se do real e seus dejetos, suas reentrâncias, suas barreiras, a substância do imaginário. Herzog e Fitzcarraldo (o homem), doppelgängers em seus respectivos mundos, contrabandeiam a dureza da ficção para a realidade e da realidade para a ficção num circuito que é franco e translúcido. A marcha do cineasta, tal qual a marcha do personagem, trata de reaproximar universos que em verdade nunca estiveram separados apesar da aplicada disciplina legada do cinema clássico em disfarçar o mundo externo, presumido em cada imediação dos quadros num intercâmbio há muito reprimido. Em Fitzcarraldo, pelo contrário, há esta licença sem expiração que só Herzog parece possuir e que lhe concede trânsito irrestrito entre filme e sua produção, um contexto inédito em que o extracampo é livre para arriscar voos para o que está em cena e o que está em cena para empreender fugas para detrás da câmera, permitindo a um que redefina o outro. Concebido assim, como documentação da própria insanidade (da impossibilidade aparente de realizar um épico total), Fitzcarraldo dribla prescrições que fundam na ilusão (na encenação) as bases do que define o cinema enquanto arte, expulsando-o para outro rol, não nomeado ainda, dos filmes que se alimentam de si mesmos, que fazem do próprio tour de force o objeto central de sua narração. Fitzcarraldo é o uróboro em método e argumento." (Luis Henrique Boaventura)
''Nos filmes alemães de Werner Herzog, em sua primeira fase, nunca é fácil distinguir o visionário do maluco. "Fitzcarraldo" é um dos últimos e mais eloquentes exemplos dessa tendência. Para começar, o ator que interpreta o aventureiro é Klaus Kinski - meio caminho andado para a insânia. A outra metade corre por conta do aventureiro, disposto, entre outras, a levar a ópera para o meio da selva. E uma parte deve-se ao próprio Herzog, que encena proezas como transportar um navio por terra! Nenhum problema: a insânia e a poesia não raro se encontram. Herzog, cineasta dos excessos românticos, sabe como ninguém tirar partido da Amazônia para se afirmar, afinal, um artista bem germânico." (** Inácio Araujo **)
40*1983 Globo / 1982 Palma de Cannes - DirectorBobby FarrellyPeter FarrellyStarsCameron DiazMatt DillonBen StillerA man gets a chance to meet up with his dream girl from high school, even though his date with her back then was a complete disaster."O cinema gosta de duplas: Gordo e Magro, Marlene e Von Sternberg, Dean Martin e Jerry Lewis, Coppola e Mario Puzo etc. Cinema é um ato de amor, coisa que se faz a dois. Ou a três em certos casos, já que os irmãos Farrelly são dois (Peter e Bob) para começar. Talvez os dois Farrelly formem um termo, o segundo então seria Jim Carrey. "Quem Vai Ficar com Mary?" ilustra bem o que ocorre com os Farrelly à distância de Jim. Eles usam bons atores (Cameron Diaz, Matt Dillon, Ben Stiller), mas as coisas parecem sair dos eixos - talvez por serem atores, não comediantes." (* Inácio Araujo *) 56*1999 Globo
- DirectorBobby FarrellyPeter FarrellyStarsMatt DamonGreg KinnearEva MendesConjoined twins from Martha's Vineyard move to Los Angeles so that one of them can pursue an acting career."Há o olhar e a cena. No livro de Ismail Xavier, O Olhar e a Cena, há uma figura para a qual chama a atenção, que é a ironia. Apanágio hitchcockiano, maneira de estar dentro e fora do sistema (industrial, clássico). Pensemos, hoje, nos irmãos Farrelly, diretores de "Ligado em Você". No filme eles tratam dos gêmeos siameses Bob e Walt. Tudo começa, portanto, de acordo com o figurino "farrellysta", cuja farra consiste em misturar o plausível e o impossível, alternar mau gosto e inventividade. Mas gêmeos siameses não seriam monstros - os "freaks" que um dia o filme de Todd Browning evocou? Não estes dois. Eles vivem como heróis esportivos em sua pequena cidade, trabalham com hambúrgueres, empregam um retardado mental etc. Há algo de doentiamente positivo nesse mundo de correção política impecável. Nele tudo é hollywoodiano demais. Em "Ligado em Você" há um descompasso entre o olhar e a cena: a cena de horror (os freaks siameses) como que se derrete para se converter em cena cômica. Mas o olhar retém algo do horror enunciado originalmente. Não nos acomodamos à comédia; o próprio filme nos impede de fazê-lo. O mal-estar que provoca está entre a comédia e o drama (ou horror). Ou: a comédia dos Farrelly é, de certo modo, o drama (ou horror) mais a ironia. Os Farrelly estão em Hollywood e não o negam, mas também não se rendem a Hollywood, a seus clichês, a sua hipocrisia "bom-moço". Por isso constituem hoje, por excelência, a vanguarda de Hollywood." (* Inácio Araujo *)
- DirectorNicholas RayStarsAnthony QuinnYôko TaniPeter O'TooleAn Eskimo who has had little contact with white men goes to a trading post where he accidentally kills a missionary and finds himself being pursued by the police.SANGUE SOBRE A NEVE - "Se o ciclo do CCBB dedicado a Nicholas Ray ajudou a situá-lo como um dos nomes centrais do moderno cinema dos EUA, serviu ainda para situar "Sangue Sobre a Neve" entre seus grandes filmes. E como um dos mais atuais. Se a belíssima abertura nos traz um animal alvejado pela lança de um esquimó, como anúncio da necessidade do homem de se opor a natureza para sobreviver, o que veremos será o encontro da cultura do arco e flecha com a da bomba atômica. Como pode ser a convivência entre culturas tão diferentes? Eis aí colocada uma questão que,hoje, nos assombra dia e noite, em imagens de indizível beleza, que se perderão em boa parte se não for observado o scope original." (* Inácio Araujo *) < > "A obra-prima do diretor Ray com Anthony Quin sensacional na pele do esquimo Inuk. Grande filme: o fato de ter sido filmado todo em estudio com cenarios que soam falsos nem chega a atrapalhar." (Demetrius Caesar) 1960 Palma de Cannes
- DirectorClaude SautetStarsYves MontandMichel PiccoliSerge ReggianiThree friends face mid-life crises. Paul is a writer who's blocked. François has lost his ideals and practices medicine for the money. The charming Vincent faces bankruptcy and his wife, from whom he's separated, wants a divorce.VINCENT, FRANÇOIS, PAUL e os OUTROS - "A TV5 Monde, que está dedicando um ciclo a Yves Montand, hoje promove um encontro de atores de peso. Além de Montand, há Michel Piccoli, Serge Reggiani e Gerard Depardieu. Eles constituem o grupo de amigos de "Vincent, François, Paul e os Outros", que Claude Sautet dirigiu em 1974. Os atores são especiais, mas deve-se levar em conta Sautet, que começa por ser um ótimo diretor de atores (a revista Présence du Cinéma saudou seu começo de carreira). O que parece marcá-lo é a preocupação com a humanidade dos personagens. Aqui não estamos naquele registro esfuziante de certas comédias italianas. Mas a observação do sentido da amizade é o que mais se destaca. (* Inácio Araujo *)
- DirectorJean-Luc GodardStarsMadeleine AssasGhalya LacroixBérangère AllauxJean-Luc Godard's densely packed rumination on the need to create order and beauty in a world ruled by chaos is divided into four distinct but tangentially related stories, including the attempts by a young group of idealists to stage a play in war-torn Sarajevo and an elderly director's efforts to complete his film.PARA SEMPRE MOZART
Godard não ajeita o filme a nossos desejos. Na tela, o mundo não apresenta a coerência sequencial, essa espécie de conforto que a linearidade propicia: um ator representa um personagem, uma ação leva a uma reação etc. Nada disso. Em "Para Sempre Mozart", estamos ora numa agência de empregos, ora numa guerra (na Bósnia), ora numa livraria ou num set de filmagem. Por onde quer que acompanhemos, o mundo nos escapa, não se deixa apreender apenas pelo fato de ser exibido. Mas é, ao mesmo tempo, um mundo admiravelmente concreto e atual. Nesse sentido, Godard é o cineasta europeu mais próximo dos americanos: procura captar o instante, a coisa viva, imediata. É claro que a proximidade com os americanos fica por aí. Godard trabalha por associação de imagens e de sons. A Europa de hoje evoca a dos anos 30. E outras. As guerras civis contemporâneas remetem à Revolução Francesa e a seu historiador, Michelet. E tudo remete ao cinema, naturalmente. De permeio, o espectador topará com algumas formulações bem francesas. O que é a filosofia?, pergunta um. A filosofia é alguma coisa entre o quase nada e um não sei quê, responde outro. Não é muito esclarecedor. Mas nunca ninguém disse que Godard estava aí para esclarecer. Em seus filmes as questões ricocheteiam e voltam como batata quente para as mãos e mentes do espectador. E assim, o cineasta continua a praticar seu cinema da dúvida sistemática, onde perguntar é sempre mais importante do que responder. O filme vai colando uns aos outros elementos distantes: Mozart, um artigo no Monde, Fernando Pessoa. Estamos num campo de filmagem que de repente se transforma em campo de batalha. Ou vice-versa. Etc. Nesse sentido, o primeiro comentário a fazer é sobre o último Godard. Desde os anos 80, seus trabalhos mais marcantes são aqueles em que postulou com mais clareza a derrota pessoal. O outrora cineasta bem-amado dos anos 60, que se mostra como o cineasta-decadência de Carmen, ou como o amargo solitário de JLG por JLG, é, atualmente, seu melhor personagem. Até porque o autor/ator instaurava ali uma unidade de discurso de que talvez se ressintam outros filmes, como "Para Sempre Mozart". No geral, é como se o tempo de Godard tivesse passado e ele soubesse disso. Nem por isso ele dá o braço a torcer. Se o homem contemporâneo não tem paciência, nem tempo para se aproximar das coisas (ou do cinema), Godard faz do tempo o tema privilegiado de "Para Sempre Mozart": o ritmo de vida de hoje lhe desagrada francamente, e ele não faz qualquer segredo a esse respeito. Pior: os referenciais básicos da civilização também tendem a ser perdidos. Danton a gente ainda sabe quem é (um restaurante em São Paulo, em todo caso). Mas Musset, Michelet, Marivaux, Fernando Pessoa, nem isso.
Também nesse capítulo Godard não faz nenhuma concessão: joga nomes e pensamentos, discute-os, como se fossem matéria corrente nas rodas de pagode. É verdade que, em troca, o que ele tem recebido é, não raro, a indiferença do público. Todos que, nos anos 60, discutiam à exaustão o significado de seus filmes parecem ter perdido a paciência (e o tempo) para isso. Os mais jovens olham-no como a um dinossauro. Talvez seja absurdo dizer isso, mas a diferença entre o Godard dos 60 e o dos 90 - além do tempo - poderia bem ser Anna Karina, sua ex-atriz, ex-musa e ex-mulher. No fundo, pouca coisa mudou em Godard de lá para cá, a não ser a disposição. Se antes se abria para as coisas com humor e satisfação, hoje parece um tanto gélido (assim como suas paisagens). Mas, nessa geleira, não há espectador que não seja capaz de notar, por exemplo, o plano em que junta interior e exterior; no interior, o que se vê são pessoas de costas, sombras, quase borrões na tela; no exterior, ao contrário, há luz, vida, cor, contraste. Uma beleza ao mesmo tempo física e sobre-humana, como certa vez notou o poeta Louis Aragon sobre Pierrot Le Fou. Nesses momentos reencontra-se Godard. E esses momentos bastam. (* Inácio Araujo *)
"Embora traga uma história interessante, a condução é muito lenta e se perde em reflexões vazias. Sonífero eficiente." (Heitor Rmoreo)
1996 Lion Veneza - DirectorJerry LewisStarsJerry LewisMilton BerleSammy Davis Jr.Suicidal nerd seeks help from psychiatrist, runs into various nutty characters."Não existe comediante mais subestimado na história do cinema do que Jerry Lewis. Por algum motivo, temos vergonha do riso, ou, pelo menos, de desfrutar de um riso que não tenha motivo profundo (ao menos aparente). Entre seus filmes não existe nenhum mais subestimado do que "As Loucuras de Jerry Lewis". O título brasileiro, vazio, indica que os distribuidores não sabiam o que fazer com o filme, nem com o título original ("Smorgasbord"). Na verdade não há mesmo muito a fazer: o nonsense nega-se, por definição, a dar sentido às coisas. Nesse caso, mais vale relaxar e deixar-se levar por essas gags onde desfila um mundo insano." (* Inácio Araujo *)
- DirectorPaul VerhoevenStarsElizabeth BerkleyKyle MacLachlanGina GershonA mysterious young drifter who calls herself Nomi Malone hitches a ride to Las Vegas, Nevada, and begins working as a strip club dancer, and sets about clawing her way to the top of the Vegas showgirls."Poucos filmes no mundo foram tão malfalados quanto "Showgirls". Até hoje, 13 anos depois de ter sido feito, tem tão pouco cartaz que vai passar no Telecine Action, habitualmente um depósito de nulidades. O filme é uma espécie de refilmagem de A Malvada, de Mankiewicz, só que de topless. Mas não é essa a questão, e sim: o que nos autoriza a crer que Paul Verhoeven, o autor deste filme, tido até então por um homem inteligente, fosse visto como um idiota? É estranho, porque, se o sujeito faz Robocop, aceita-se. Mas um filme entre garotas pouco vestidas de Las Vegas pega mal. Da atriz principal, Elizabeth Berkley, diz-se então que é uma incompetente etc. E por que o filme é tão ruim? Dizem que, tratando de garotas eróticas, não tem erotismo. Bem, eu achei Berkley ótima justamente por isso: vive nua, mas não transmite sensualidade. Seu corpo é como uma armadura. Ela é um robocop. Um robô erótico. Isso é o que filme tem de original, de notável." (* Inácio Araujo *) < > "Verhoeven comete o máximo de vulgaridade e atenta contra o bom gosto institucionalizado de nossos tempos politicamente corretos, numa sátira implacável contra Hollywood e o showbusiness. No fundo, uma versão erótica e ainda mais perversa de All About Eve." (Vlademir Lazo)
- DirectorClaude ChabrolStarsStéphane AudranJean YanneAntonio PassaliaAn unlikely friendship between a dour, working class butcher and a repressed schoolteacher coincides with a grisly series of Ripper-type murders in a provincial French town.O AÇOUGUEIRO - "É estranha, às vezes, a sorte dos diretores da nouvelle vague. Como críticos, preconizaram - ao mesmo tempo - um cinema pessoal e de entretenimento. A maior parte deles, quando passou à direção, colocou o caráter pessoal da obra à frente do entretenimento. Mesmo um entertainer autêntico, como François Truffaut, acabou vendo criada toda uma mitologia em torno de si. Sobrou na história Claude Chabrol, fiel ao filme de gênero, ao suspense - enfim, a uma concepção de cinema abandonada, justamente, em favor do fetiche do autor. No suspense perfeito que é "O Açougueiro", há o interior da França, a sexualidade tormentosa. Imagens recorrentes na obra de Chabrol, autor - sim, autor- tremendamente crítico da França e seus costumes." (* Inácio Araujo *) < > "A câmera de Chabrol é tão precisa e objetiva que se este filme fosse mudo e sem intertítulos a compreensão do espectador não seria nem um pouco prejudicada." (Daniel Dalpizzolo) < > "Para quem está interessado em descobrir as influências de Alfred Hitchcock no cinema de Claude Chabrol, "O Açougueiro", um de seus melhores trabalhos, é o filme a ser visto e estudado." (Regis Trigo)
- DirectorClaude ChabrolStarsJacques CharrierStéphane AudranWalther ReyerAndré Mercier, a journalist known as Albin Mercier, is a failed, embittered writer. Sent to cover an event in Germany, he gets to know Andreas Hartmann, another writer who, for his part, has not... failed. The successful Andreas is married to Hélène, a beautiful Frenchwoman. Both attracted to her and jealous of the couple's happiness, Mercier decides to shatter it. Taking advantage of the absence of Andreas, off on a business trip, he tries to seduce Hélène and to become her lover. But things do not go according to plan...O OLHO DO MAL - "Claude Chabrol, o cineasta sem mito. Todos na nouvelle vague têm seu mito. Salvo Chabrol. Por que não os de Chabrol? Porque ele filma muito, talvez. Porque ele evita idéias, só tem imagens, talvez. Porque sua obra é irregular - quem sabe? Talvez, ainda, porque o mal, sua diversidade e ambigüidade sejam temas assustadores demais. Hoje, na TV5, a televisão francesa, passa "A Olho do Mal", dedicado especificamente a essa questão que tanto fascina Chabrol. Aqui, a trama se passa durante uma eleição municipal, em que um crime será cometido. A partir daí surge a questão: quem é o culpado? A vítima ou o suspeito? E qual a culpa? Um mistério, já se vê." (* Inácio Araujo *)
- DirectorNicholas RayStarsRobert TaylorCyd CharisseLee J. CobbLawyer Tommy Farrell is a defender of crooks. Vicki Gaye encourages him to go straight, but mob king Rico Angelo insists otherwise."Talvez o que haja de mais encantador em "A Bela do Bas-Fond" sejam as evidências físicas que nos fornece Nicholas Ray, diretor deste filme de 1958. Robert Taylor é um advogado de gângsteres. Está afundado até o pescoço nas sujeiras dos patrões. Ele se apaixona por uma "party girl", na pessoa de Cyd Charisse. O que tem de mais nisso? É que Taylor é manco (no filme), enquanto Cyd tinha as mais belas pernas do mundo (no filme ou em qualquer outro lugar). O defeito físico de Taylor é o lado visível de sua fraqueza moral. Daí que, em contato com as pernas de Cyd Charisse, que é uma mulher com posição infinitamente mais frágil (party girl é garota de programa, no fundo), Taylor descobre na força moral da mulher a força para se opor a seus patrões e tentar mudar de vida. O melhor cinema é assim: sempre arruma um jeito de trazer as coisas mais profundas para a superfície, o território das evidências, mas também o do acontecer." (* Inácio Araujo *) < > "Pode ser coincidência, pode ser uma homenagem do canal TCM a Cyd Charisse, que morreu há poucos dias. O fato é que hoje o canal exibe "A Bela do Bas-Fond" (classificação indicativa não informada), possivelmente o papel dramático mais interessante da célebre bailarina da Metro. Aqui ela faz uma fabulosa garota de programa que, entre outras coisas, atende a um grupo de gângsteres. Entre eles está Robert Taylor, talentoso advogado do bando. Nicholas Ray, o diretor do filme, faz a figura deste advogado coxo contrastar com as pernas perfeitas de Cyd Charisse. Em suma, tudo é uma questão de pernas. Taylor não dança e mal caminha por si próprio. Quem caminha por ele, quem o puxa pela mão é Lee J. Cobb, o líder da gangue. É a cabeça, portanto, que a mulher deve tocar para que ele possa firmar-se nas próprias pernas. Este belo filme foi filmado em cinemascope. A chance de a TV exibi-lo no formato que lhe é próprio, é mínima. A TV também é manca." (** Inácio Araujo **)
- DirectorPaul VerhoevenStarsCarice van HoutenSebastian KochThom HoffmanIn the Nazi-occupied Netherlands during World War II, a Jewish singer infiltrates the regional Gestapo headquarters for the Dutch resistance."Se existe uma lição a tirar de "A Espiã" é que numa guerra nunca se sabe quem é quem. É possível levar a lógica um pouco mais além: a guerra traz à tona o que existe de mais profundo nas pessoas, da generosidade à ganância, do altruísmo ao egoísmo mais profundo, da fidelidade à traição. Para generalizar a lição, é possível concluir, de modo muito pessimista, que, a rigor, nunca conhecemos ninguém. Digamos que o filme de Paul Verhoeven fica, nesse nível, por aí. Mas há razões para crer que não seja esse o aspecto principal das reflexões do autor de "Robocop" de volta à Holanda. Senão, vejamos: não será pelo menos estranho constatar que esse cineasta experiente realiza um filme em que se abre tão gentilmente aos cada vez mais numerosos caçadores de incongruências e implausibilidades? E elas pululam ao longo deste "thriller" admirável. Para citar apenas uma, logo no início do filme: não soa meio falso que uma moça judia de família rica, como Rachel/Ellis, vire cantora profissional nos anos 30? Questões desse tipo podem ser suscitadas ao longo de toda a trama, que se organiza na Holanda, no final da guerra. Devido ao assédio dos nazistas, Rachel e família tentam fugir para a Bélgica. A balsa em que viajam é metralhada pelos alemães. Única sobrevivente, Rachel (Carice van Houten) engaja-se em um núcleo da Resistência e passa a se chamar Ellis de Vries. É feita espiã e torna-se amante do chefe do serviço secreto da SS, Ludwig Müntze (Sebastian Koch). Toda história de espionagem - ainda mais se duplicada pela resistência - carrega um tanto de inverossímil, como Htichcock sabia muito bem. Mas a época de Hitchcock era de crença. Hoje, é de descrença. A ficção é objeto de desconfiança, como se a vida vivida fosse de verdade e a imaginada fosse uma mentira. Não é por acaso que tantos filmes (inclusive este) usam a caução: baseado em fatos reais. É esse núcleo da arte contemporânea que Verhoeven trabalhará de maneira específica aqui. As reviravoltas são tão rocambolescas que é quase impossível ao espectador não se perguntar se aquilo é possível. Ao mesmo tempo, as cenas são tão bem construídas que logo esquecemos nossa inquietação e deixamo-nos levar por um "e por que não?". Sim, por um lado a guerra torna tudo possível. Mas não é sobre isso que se apóia "A Espiã", e sim sobre a contemporânea descrença na narrativa. É como se Verhoeven jogasse o espectador contra o seu próprio ceticismo: é justamente por resistir à narrativa que ele se deixará levar pelas imagens. E, quando está embalado por elas, Verhoeven providencia uma nova reviravolta, uma nova ambigüidade no rosto dos personagens, um novo mal-estar que o retire de seu conforto (exemplos de momentos de mal-estar: quando fustiga o protestantismo holandês; quando observa o anti-semitismo infiltrado na Resistência). É por desafiar de forma tão aberta as convenções cinematográficas que Paul Verhoeven tem sido vítima de uma verdadeira campanha de difamação a cada filme que faz, de Showgirls a Tropas Estelares. "A Espiã" chega ao Brasil vítima de um título nulo (O Livro Negro - com mais de um sentido - seria mais fiel ao original e mais interessante). Talvez ele ajude, em sua platitude, a exorcizar alguns dos mal-entendidos que rondam a carreira desse notável autor." (* Inácio Araujo *) < > "Na visão Hollywoodiana de Paul Verhoeven, tudo é apropriado demais, estereotipado demais, cinematográfico demais. E, principalmente, óbvio demais." (Alexandre Koball) 2006 Lion Veneza
- DirectorMichelangelo AntonioniStarsTomas MilianDaniela SilverioChristine BoissonA director's wife leaves him. He pursues another woman who also departs. This inspires a movie idea about women's relationships. He searches for an actress to star in the film and his life.IDENTIFICAÇÂO DE UMA MULHER - "Michelangelo Antonioni é de Ferrara, na Itália. E, em Ferrara, a neblina é uma presença constante. Mais até que uma presença, um conceito. Não por acaso, é lá que se dá uma cena-chave deste filme. Niccolo, diretor de cinema, se impacienta com a neblina e acelera o carro, para desespero da namorada, Mavi. Depois, ele pára. Mavi deixa o carro e some. Niccolo vai atrás. Um some para o outro. Por fim eles se encontram, mas o tom está dado. É preciso dizer que em Antonioni não há tédio. Ao contrário, tudo aqui é mistério. Antes mesmo que vejamos o início do namoro de Mavi e Niccolo, um homem vem e ameaça Niccolo. Quem é ele? A mando de quem ameaça? Eis o primeiro mistério. O segundo diz respeito a Mavi: a garota rica que se envolve com o cineasta e some. Enquanto nos perguntamos sobre ela, acompanhamos sua relação erótica com Niccolo. Sim, porque este é, ainda, um filme de sexo, às claras, sem pudor. As brumas da estrada como que encerram um filme para iniciar outro. E, neste, Niccolo se relaciona com uma atriz de teatro, Ida. Para que se relacionem é preciso, na verdade, que Ida o ajude na busca de Mavi. Sim, quem disser que isso lembra Hitchcock está certo. Tão certo que, a horas tantas, "Identificação de uma Mulher" nos contemplará com uma escadaria linda, como a de Um Corpo que Cai. Se as relações de Ida e Niccolo serão também balizadas por acasos que parecem irrisórios, mas se mostram absolutos, há um outro e não desprezível aspecto: Niccolo é um diretor em busca de uma história. Para tanto, precisa de um rosto. E por isso empenha-se em desvendar o enigma que cerca suas relações com Mavi: é como buscar a solução para um roteiro. Não importa se, com Ida, novos enigmas apareçam, novos temores. Ou, por outra, importa: enquanto vemos este lindo filme, Antonioni nos mostra ao mesmo tempo o processo de sua criação. Porque para ele o enigma da vida e o enigma da arte são, a rigor, um só." (* Inácio Araujo *)
''A busca é uma situação recorrente na obra de Michelangelo Antonioni, recurso narrativo que lhe permitiu representar o esvaziamento dos sentimentos e a perda do sentido pelo homem moderno. Em seu penúltimo longa, de 1982, o mestre italiano põe em cena um cineasta obcecado por encontrar a mulher para um duplo papel: atriz para o filme que ele prepara e amante. Primeiro ele é tragado pela imagem de Mavi, bela bissexual aristocrata e narcisista que o lança num redemoinho de aparências antes de desaparecer. Em seguida aparece Ida, figura acolhedora e sincera, mas que desperta nele um ciúme intolerável. Antonioni atualiza para os anos 1980 sua descrença na solidez das relações amorosas num mundo regido pela vontade de posse e de consumo. O estilo labiríntico e nada transparente do filme ainda mistura referências de A Fugitiva, de Proust, e de Um Corpo que Cai, de Hitchcock, o que torna o resultado um bocado difícil, mas fascinante." (Cassio Starling Carlos)
1983 Palma de Cannes - DirectorSamuel FullerStarsLee MarvinMark HamillRobert CarradineA hardened sergeant and the four core members of his infantry unit try to survive World War II as they move from battle to battle throughout Europe."Agonia e Glória", de Samuel Fuller, é tudo que o recente O Resgate do Soldado Ryan promete ser e não é: um filme verdadeiro sobre a guerra. Isso vem menos do fato de Fuller ter sido soldado na Segunda Guerra Mundial do que às variações de tom dos dois filmes. Em Soldado Ryan, Spielberg jogou tudo na sequência inicial, da invasão da Normandia, e consequente carnificina. Com o tempo, a força diminui (até porque os personagens se mostram pouco sólidos). Em "Agonia e Glória", ao contrário, o início é quase uma festa para o grupo de recrutas. É com o duro andamento das batalhas que, pouco a pouco, o mundo heróico dissipa-se e torna-se, a cada sequência, mais terrível." (* Inácio Araujo *)
"Agonia e Glória" é um filme da Segunda Guerra Mundia feito por quem esteve lá.Não é por isso que é um grande filme. Afinal, Audie Murohy foi um herói de guerra e fez uma pilha de abacaxis. Para Samuel Fuller, autor deste filme, o único heroísmo da guerra é sobreviver. Ele é uma espécie de Céline da imagem: bárbaro, sofisticado, estilista - tudo de uma vez. Aliás, ele é o soldado com o incontornável charuto na boca. Todo o tempo. Esta no pelotão liderado pelo sargento Lee Marvin. Um grupo que, começando pela África, invade a Europa e termina na Tchecoslováquia: viagem ao fim da noite das trevas, como se verá. Fuller encanta pela forçs de suas imagens. E nos desconcerta por sua verdade. " (** Inácio Araujo **)
"A verdadeira glória da guerra, Samuel Fuller disse, é sobreviver a ela. Como um condecorado combatente acompanhando a famosa Primeira Infantaria americana durante a Segunda Guerra Mundial, Fuller sobreviveu ao conflito. Este filme, uma versão de 1980 sobre suas experiências na guerra, não sobreviveu... Até agora. Trabalhando com 70 mil pés de materiais inéditos, o crítico/cineasta Richard Schickel chefiou uma reconstrução que adicionou mais de 40 minutos ao filme original, transformando um filme de guerra truncado, porém admirado, em um épico memorável. Lee Marvin, em uma rica interpretação, uma das melhores de sua carreira, estrela o filme como um sargento que conduz seu pelotão lutando desde o Norte da África até a Normandia, cruzando toda a Europa. O filme funciona como o diário de combate do esquadrão, mostrando como se lutou, como se suou e sangrou na guerra e, talvez, como foi possível sobreviver a ela." (2001 Video)
''Quando se vê um filme de guerra de Samuel Fuller pela primeira vez fica a impressão de que esse gênero até então não existia. Que o que vimos sob o rótulo era abstração. Quando se vê "Agonia e Glória", essa impressão se renova. Fuller vê a guerra de dentro, não como cineasta, mas como soldado: a chegada à África, a invasão da Itália, o Dia D, até o terrível final, balizado pela célebre frase de Fuller: Na guerra o único heroísmo é sobreviver.Mas se a guerra é um inferno, ali é um inferno não desprovido de humor. Ver também faz pensar em como seria Fuller adaptando Céline, o genial "Norte", quem sabe, onde nos leva a um inferno que faz rir, criado pelo talvez maior canalha da história literária." (** Inácio Araujo **)
1980 Palma de Cannes - DirectorAnthony MannStarsJames StewartRock HudsonArthur KennedyWhen a town boss confiscates homesteaders' supplies after gold is discovered nearby, a tough cowboy risks his life to try and get it to them."O que dá aos filmes de Anthony Mann essa dramaticidade profunda, poucas vezes alcançada pelo cinema? É, em boa parte, a maneira como estão fincados na história da América e do próprio faroeste. Se John Ford constitui o mito da nação fundada sobre a comunidade de homens comuns, Mann acrescenta a esse olhar um problema. Ao lado da comunidade há um feroz individualismo. Em "E o Sangue Semeou a Terra", há a caravana disposta a construir um mundo novo e puro no Oeste. Mas há também a tentação individualista, de se sobrepor ao conjunto. No caso, ela existe em dois estágios: um bandido que busca a regeneração (James Stewart) e outro que nem tanto (Arthur Kennedy). O conflito será sublime." (* Inácio Araujo *)
''Já se falou bastante sobre o discurso de posse de Barack Obama. Não vi em nenhum lugar que a ênfase dada aos valores remetia em linha reta ao faroeste. Uma linha reta, sem dúvida, mas não pacífica. Também o Velho Oeste viveu (no cinema) a tensão entre o individualismo e a inserção social (simplificando: republicanos e democratas). "E o Sangue Semeou a Terra" é um dos pontos altos dessa discussão (e, por extensão, da obra de Anthony Mann). Existe ali uma caravana que precisa receber víveres para poder se instalar e trabalhar. Ocorre, no meio disso, uma corrida do ouro, que faz os víveres se valorizarem absurdamente.A opção se coloca para o caubói James Stewart: ficar ao lado do trabalho produtivo da comunidade ou do enriquecimento predatório? Essa questão não esgota este filme genial, é claro, mas está lá. E a crise de agora, em que a ganância joga um papel relevante, torna-a mais atual do que nunca." (** Inácio Araujo **)
''Com Anthony Mann a história do Velho Oeste passa por transformações tão radicais quanto discretas. Como se pode ver em, por exemplo, "E o Sangue Semeou a Terra", o lugar já não se divide entre heróis impolutos e facínoras de nascimento. O bandido de hoje pode se tornar o bom homem de amanhã, e vice-versa. Porque em Mann tudo gira em torno da comunidade. Ser herói é, na verdade, integrar-se à comunidade e saber servi-la. Não porque ela seja perfeita, mas porque ela reproduz, em ponto pequeno, a ordem universal. Ela é parte de um todo e é preciso que a parte seja harmônica em relação ao todo, ao universo, à natureza, para se sustentar. Inútil insistir sobre a atualidade dessas ideias.'' (*** Inácio Araujo ***)
"Com "E o Sangue Semeou a Terra" sempre dá para lembrar das lições de cinema da velha "Sessão da Tarde" da Globo. É um desses faroestes imortais de Anthony Mann, em que o sentido do épico (a travessia da América por um grupo de colonos em busca de terras virgens) não omite a grandeza dos gestos nem a tensão entre o individualismo e a coletividade." (**** Inácio Araujo ****) - DirectorOrson WellesStarsFrancisco ReigueraAkim TamiroffPepe MediavillaThe story of a Spanish gentlemen gone mad and his dim-witted squire Sancho Panza, who set forth on a journey to right wrongs and accomplish good deeds in the name of chivalry.DOM QUIXOTE DE ORSON WELLES - "Não existe uma versão cinematográfica do Quixote que beire a celebridade do romance de Cervantes. E não faltam versões cinematográficas, com Ferdinand Zecca como o primeiro cineasta famoso mencionado por adaptar um Quixote, em 1903. A versão realizada por Pabst na Alemanha, em 1933, é dificilmente abordável. A de Grigori Kozintsev (ex-URSS, 1957) não parece ultrapassar os limites do academismo na era pós-stalinista. Na Espanha foram feitas várias versões, sem repercussão. Também a TV produziu seus "Quixotes". Ao todo, são registradas cerca de 30 versões. Mais famosos ficaram os projetos de dois cineastas americanos. Howard Hawks comentou durante ao menos duas décadas sua intenção de juntar Cary Grant e Cantinflas em sua versão. Hawks tinha no mínimo duas características capazes de levá-lo a conceber um bom "Quixote": o senso de humor e o estilo livre de afetação -características que o aproximam de Cervantes. O fato é que de seu plano nada surgiu. Orson Welles, ao contrário, trabalhou pelo menos 20 anos num projeto iniciado em 1955 e que foi um de seus grandes investimentos. O filme começou como uma encomenda para a televisão CBS, mas a versão de meia hora apresentada por Welles foi rejeitada por excessivamente anticonvencional para os padrões da época (e a TV na época tinha muito menos convenções do que hoje). Daí por diante, a empreitada tornou-se uma obsessão pessoal de Welles. Sempre que lhe sobrava algum dinheiro (o que ganhava como ator costumava investir em suas produções), Welles reunia o elenco e a equipe e filmava um novo fragmento do Quixote. Até quatro meses antes de sua morte, em 1985, Welles fazia planos de concluir o trabalho. O certo é que, ao menos no que diz respeito à filmagem, nessa altura o projeto já estava irremediavelmente comprometido, com as mortes de Francisco Regueira (o Quixote), em 1969, e Akim Tamiroff (o Sancho Pança), em 1972. A exemplo de É Tudo Verdade, o filme latino-americano de Welles, Dom Quixote se transformara em mito. O diretor cogitava, seriamente, segundo seu biógrafo Frank Brady, dar-lhe o título de Quando Você Vai Terminar Dom Quixote? - de tanto que lhe faziam a pergunta. A história que se segue à morte de Orson Welles é de difícil compreensão. Primeiro, Costa-Gavras montou uma versão de 40 minutos do material, patrocinado pela Cinemateca Francesa. Mais tarde, o produtor Patxi Irigoyen comprou da atriz Oja Kodar - herdeira dos direitos dos filmes incompletos do cineasta - mais 30 mil metros de negativos que estavam fora da montagem de Costa-Gavras e 10 mil metros que nem tinham sido revelados, além de algumas cenas que haviam ficado com amigos de Welles nos EUA. Ainda assim, Irigoyen acha que faltou uma cena capital, quando Quixote investe contra uma tela de cinema. Depois de restaurado, o negativo foi entregue a Jess (ou Jesus) Franco, diretor espanhol de muitos filmes. A versão, apresentada em 1992 com o título de "Dom Quixote de Orson Welles", foi dinamitada pela crítica e acusada de traição a Welles. É possível, mas seria insuportável que se tivessem perdido definitivamente, embrulhadas numa querela sobre autenticidade sem nenhuma perspectiva de solução, coisas como as interpretações de Regueira e Tamiroff, entre outras. Regueira era o Quixote em pessoa, com seu tipo muito magro, a expressão ao mesmo tempo obcecada e sonhadora. Welles devia ter uma opinião parecida, já que optou por Regueira mesmo sabendo que ele, exilado por conta do franquismo, não podia voltar à Espanha para filmar. O diretor concebeu seu Quixote na atualidade, o que é uma maravilhosa insânia. Welles criou cenas memoráveis, como o espantoso encontro entre Quixote e uma garota de lambreta. Ele dizia que sua intenção era marcar o caráter atemporal do personagem. Ao mesmo tempo, rompia com a subserviência do filme em relação ao texto original, que no caso de livros demasiadamente célebres quase sempre leva à catástrofe. Por fim, o aspecto de obra que comenta a obra, já presente no livro, se reafirmava de maneira original. No mais, Jess Franco acrescentou, entre as cenas, material em que o próprio Welles aparece, o que reforça o caráter de obra recuperada (a versão em DVD que existe no Brasil é de qualidade precária, o que é uma pena). Para voltar ao início, dos dois grandes cineastas americanos que cultivaram o projeto de um Quixote, apenas Welles levou-o adiante, e de maneira tenaz. Não que Hawks não fosse tenaz. É que, talvez, fosse necessário algo mais para fazer um Quixote de peso. Welles quis compor a imagem de um fabuloso sonhador, capaz de olhar para moinhos de vento, enxergar gigantes e, contra toda evidência, colocar sua visão poética do mundo à frente da trivial realidade. Essa luta, de certa forma, resume Orson Welles, que foi um Cervantes, pela grandeza, e também um Quixote do cinema." (* Inácio Araujo *)
- DirectorKing VidorStarsGary CooperPatricia NealRaymond MasseyAn uncompromising, visionary architect struggles to maintain his integrity and individualism despite personal, professional and economic pressures to conform to popular standards."Vontade Indômita", com seu título de filme de aventura, é um insólito trabalho sobre a criatividade de um arquiteto e sua batalha para preservá-la de alterações. Segundo consta, o modelo do arquiteto representado por Gary Cooper foi Frank Lloyd Wright, mas o filme dirigido por King Vidor em 1949, como bom veículo hollywoodiano, terá conflitos amorosos em seu centro, processos, interferência da imprensa. Tudo isso existe, essencialmente, para salvar o lado comercial da empreitada. Na real, o que importa é a luta do arquiteto, levada às últimas conseqüências para que seu trabalho não perdesse a integridade. Disso entende quem trabalha no cinema (arte, como a arquitetura, sujeita aos caprichos do mercado) e, sobretudo, em Hollywood. Daí talvez venha a convicção que faz de Vontade um filme em muitos aspectos memoráveis - embora seja tido em geral como um Vidor menor." (* Inácio Araujo *)
- DirectorKing VidorStarsKirk DouglasJeanne CrainClaire TrevorSharpshooting drifter Dempsey Rae comes back to Wyoming to work for beautiful rancher Reed Bowman. But Reed's plan to fence in her land's wide open spaces angers other ranchers and soon embroils Dempsey in a bloody range war."Em uma das cenas de Homem Sem Rumo, Kirk Douglas faz uma demonstração de malabarismo com o revólver para seu jovem escudeiro, Texas Kid. O Kid assiste a tudo aquilo admirado, enquanto o espectador vê com desconfiança o exibicionismo vulgar de Kirk. Por alguns segundos, porém: em um instante, ele interrompe o gesto, quebra o encantamento em que está mergulhado o garoto e arremata com uma frase definitiva: Rodar a arma não vai salvar a sua vida. Só atirar. A seqüência – bela porque trabalhada em um limite extremamente perigoso – é ao mesmo tempo uma postulação estética: não é o efeito que vale, mas a objetividade; não é a grandiloqüência, mas o vigor. Elementos que se encontram com vigor na obra de King Vidor e que poderemos rever ainda uma vez neste que é um dos melhores westerns dos anos 50 (um período de fausto do gênero). Mas, como toda posição estética, também esta implica uma renúncia: chegar ao ponto, contar sua história, significa igualmente abrir mão da arte, da profundidade, o que Vidor faz sem hesitação. Nas mãos de um cineasta menos seguro,o roteiro de Borden Chase e D. D. Beauchamp poderia sem dificuldade tornar-se o estudo do caráter de um homem que, embora apto a enfrentar as áridas condições de vida do Oeste, prefere deslocar-se, evitar as barreiras que surgem à sua frente; poderia até se converter em uma ingênua parábola pacifista. Nada disso com "Homem Sem Rumo": ao contar a história do homem errante que encontra o jovem Texas Kid num trem e o inicia na vida, King Vidor opta por uma perfeita sujeição do significado à história. Talvez por isso seja possível discernir tantos sentidos possíveis no filme. Mesmo se sabemos de Vidor – por todo seu passado – que é antes de mais nada um individualista, essa posição não se mostra genericamente, mas de forma pontual: há que ver como Dempsey Rae (Kirk Douglas) saca a arma rápido como um relâmpago contra seu próprio amigo ou como – de modo igualmente fulminante – abre sua camisa para mostrar as chagas causadas pelo arame farpado. Há que ver cada imagem, seguir cada passo do homem sem rumo para entender-lhe o passado e justificar o presente: desmontar um destino e remontá-lo diante de nossos olhos. Em outras palavras, a estética que prega King Vidor sustenta-se da capacidade de criar vida através do acúmulo de um sem-número de pequenos detalhes que isolam o personagem da multidão (da Turba, título de seu clássico filme mudo) e fazem desta vida – ao inicio como ao final – um perfeito mistério. Porque entre tantas coisas que nos diz esse filme, onde a beleza não raro deriva em perversão (como no caso da proprietária de gado) e a violência sem poesia, podemos isolar em Homem Sem Rumo a idéia de um perfeito mistério do destino humano: absolutamente pessoal, ele é, por paradoxo, comum a todos os seres. Tangível, na medida em que o visualizamos, ele permanece no entanto insondável: para além da Justiça e da Injustiça, da Felicidade ou da Infelicidade, a vida é a um só tempo tautologia (que se afirma sendo) e labirinto (perda, ausência de rumo). Um grande filme, clássico pelo desenvolvimento da intriga, moderno pela seca elegância, eterno pela magistral alternância de tempos fortes e fracos, pela orquestração de elementos que vão desde a excepcional presença de Kirk Douglas até a secura de uma decoração onde não se vê traço de azul (e portanto de tranqüilidade). Cada plano tem uma idéia, mas ele não se impõe como tal, não faz questão de ser percebida como raciocínio, mas como vida. A arte de King Vidor talvez seja um pouco como o corpo de Dempsey Rae (Kirk Douglas): algo que esconde com cuidado e que, se mostra, o faz apenas por completa necessidade. O filme que passará hoje à noite na TVS é um desses que se pode ver, rever, rever de novo e, se possível, gravar: não é todos os dias que se assiste a uma aula de cinema." (* Inácio Araujo *) < > "Homem sem Rumo" é, basicamente, a história de um cowboy que foge do arame farpado. Todos sabemos que os cowboys fogem da civilização, rumo a uma vida mais livre. É uma das convenções centrais do faroeste. Mas Kirk Douglas (ou Dempsey Rae), aqui, é um pouco mais radical: é do arame farpado que ele foge. E não pode haver sinal mais agressivo da chegada da civilização que o arame farpado, que designa o direito de propriedade. Quem transgredir, avançando sobre domínios do outro, vai se ferir seriamente. Isso posto, a tendência de Dempsey é se retirar. Não fugir, pois é um exímio atirador. É também um bon vivant, aprecia música e mulheres. A diferença entre fugir e retirar-se, no entanto, pode ser diminuta. Existe uma facilidade em sua atitude básica -botar sua sela num trem e partir tão logo o arame farpado aparece. Por isso ele é o "homem sem estrela" do título original: não tem estrela a seguir, não tem rumo. Ora, o rumo parece se mostrar na pessoa de Reed Bowman (Jeanne Crain), uma proprietária de gado que chega do Leste trazendo o espírito predatório: seu negócio é usar as terras do governo como pasto, devastá-las em poucos anos, constituir um rebanho enorme, enriquecer e retirar-se. Ora, sabemos, não é para isso que o Oeste foi criado. E sim para que a terra fosse produtiva, gerasse trabalho e riqueza, geração após geração. O capitalismo predatório não é coisa que um americano aceite facilmente. Menos ainda um americano liberal, como King Vidor. É em torno disso - como da atitude que Dempsey Rae terá quanto ao arame farpado - que gira a última obra-prima de King Vidor. Filme modesto, em termos de produção, que precede as superproduções (Guerra e Paz e Salomão e a Rainha do Sabá) com que encerraria a carreira, mas às quais é superior em vigor e invenção. "Homem sem Rumo" é um dos grandes faroestes da história." (** Inácio Araujo **)
- DirectorBobby FarrellyPeter FarrellyStarsJack BlackGwyneth PaltrowJason AlexanderA shallow man falls in love with a 300-pound woman because of her inner beauty."Sem a boçalidade não existiria o cinema dos irmãos Farrelly. Ela é seu fundamento. Por isso, certa dificuldade em compreender suas comédias arrasadoras: todos nós somos, em algum ponto, um tanto boçais, de maneira que esses filmes surpreendem justamente porque parecem contrariar nossa inteligência, mas é a nossa boçalidade que atacam impiedosamente. Vejamos se descrevendo a situação de "O Amor É Cego" as coisas parecem mais claras. Hal cresceu acreditando que só deve transar com mulheres perfeitas. Ele é chato, gordo e razoavelmente feio. Está fora dos padrões, em suma. Só se dá mal. Um dia, ele passa a sair com uma garota gordíssima e feíssima, mas a vê como um esplendor de beleza e tudo mais. À ordem idiota de só se contentar com "o melhor" (feminino) responde outra, o ditado segundo o qual quem ama o feio bonito lhe parece. Os Farrelly botam as duas besteiras para se chocar, e do choque nasce a comédia - e a luz." (* Inácio Araujo *)
- DirectorSteven SpielbergStarsChristian BaleJohn MalkovichMiranda RichardsonA young English boy struggles to survive under Japanese occupation of China during World War II."O que me impressiona em "O Império do Sol" é menos o filme do que o fato de a história ser real. Ou seja, o autor do livro, J.G. Ballard, é aquele garotinho que se perde dos pais nos momentos confusos em que tropas japonesas invadem Xangai, no comecinho da Segunda Guerra. Estávamos em 1987, e existe ali um esforço evidente de Spielberg para apagar a imagem do menino, que não conseguia crescer, fazendo filmes sérios. E não estranha que Ballard, tendo passado por tais experiências, tenha vindo a se tornar o escritor de esquisitices tipo Crash (esquisito, mas muito interessante). Com efeito, perdido dos pais, ele permanece anos na China, sobrevivendo praticamente sozinho num país de hábitos estranhos. O que importa, aqui, é essa frase colocada no início dos filmes, que se tornou quase obrigatória: baseado em um fato real. Em si, seu significado é mínimo: a mais tresloucada ficção sempre tem por base algum fato real. E por ser real um fato não determina que um filme seja um bom filme. E, por fim, todos sabemos o quanto de ficção há nos fatos reais. Mas isso é o que o público exige hoje. Ou você lhe dá um blockbuster daqueles, ou "fato real", algo que cheire a verdade. Que diferença faz se o pai Goriot de Balzac é real ou fictício? Não é a ficção que, no caso, esteia a realidade? O problema é outro: é que o espectador já não reconhece nos filmes uma verdade intrínseca. A imagem já não é sintoma de verdade. Ela precisa, portanto, para se afirmar, dessa muleta que é a realidade, pois, sabendo que o personagem sofreu de verdade, podemos nos comover com aquilo. Se for mera ficção, para que perder tempo? Isso é um sinal, ao mesmo tempo, de certa deficiência dos filmes. A ela será preciso voltar." (* Inácio Araujo *)
''Império do Sol'' é o filme certo para passar onde vai passar. Pois é de sua família que o jovem James se perderá na confusão de uma Segunda Guerra que começa na China e que ele passará, inteira, à deriva. Império é desse momento incômodo em que Steven Spielberg buscava prestígio e Oscar. Sem perder audiência, porém. De maneira que o resultado é bem misto: a fabulosa aventura escrita (e vivida, o que é mais espantoso) por J.G. Ballard (o mesmo do Crash de Cronenberg) encontra uma realização meio pasteurizante, como a indicar a indecisão de Spielberg sobre o caminho a tomar.'' (** Inácio Araujo **)
60*1988 Oscar / 45*1988 Globo - DirectorNikolai MüllerschönStarsMatthias SchweighöferLena HeadeyTil SchweigerGerman biopic loosely based on the World War I fighter ace Manfred Von Richthofen, nicknamed the Red Baron by friend and foe alike.O BARÃO VERMELHO - "Aviões na tela, espetáculo na certa. é o caso de "O Barão Vermelho", mas o filme não honra bem o cinema e menos ainda seu biografado, o aviador alemão Manfred von Richthofen. O filme é dessas cinebiografias que aproveitam a condesação da linguagem cinematográfica para limar complexidades e fazer de uma vida inteira um enredo barato. (* Inácio Araujo *)
- DirectorÉric RohmerStarsEmmanuelle ChauletSophie RenoirAnne-Laure MeuryIn Paris outskirts Blanche, a young clerk, befriends Lea, a girl livelier than she is. Lea is going steady with Fabien who is a friend to Alexandre who is going steady with Adrienne but is however loved by Blanche. Somehow a way has to be found to get out of this emotional chaos!"Tudo em "O Amigo da Minha Amiga" é questão de arquitetura. Arquitetura amorosa, primeiro, pois para as amigas Blanche e Lea trata-se de descobrir o que é verdadeiramente o amor e como distinguir o homem certo do errado. Arquitetura narrativa, em seguida, pois vemos aqui uma dessas histórias com final previsível, onde o que nos dá prazer, no entanto, não é a revelação do que vai acontecer com os personagens, mas de como isso se dará. Arquitetura propriamente dita, por fim, pois estamos em Cergy-Pontoise, subúrbio pós-moderno parisiense, cidade planejada, com espaços ao mesmo tempo generosos e restritos, pois ali todos parecem se cruzar o tempo todo. Cergy é um local que rompe com os preceitos utilitários da modernidade para afirmar certa vacância do espírito (e da estética). É, portanto, nesse lugar em princípio meio rebarbativo que Eric Rohmer encontra refúgio para as buscas amorosas. Por uma vez em seus filmes não se discute filosofia, fé, música ou pintura. Os personagens tratam de natação e windsurfe, de férias e namoro. Há dois anos sem namorar, Blanche suspira pelo bonitão Alexandre, por quem todas as garotas parecem se apaixonar. Lea chegou a um estágio meio crítico em seu namoro com Fabien: não sabe mais se está apaixonada por ele ou não, se o ama ou se aborrece com ele. Saber qual será seu futuro com Fabien implica descobrir quem ela própria é. O que torna este sexto filme das Comédias e Provérbios tão atípico é que, pela primeira vez nesta série o problema se coloca de saída. Habitualmente, os personagens rohmerianos sabem quem são. Ou melhor, pensam que sabem. Acreditam ter domínio sobre seu destino, graças a um exercício mais ou menos permanente de intelectualização dos sentimentos. Tudo passa pela razão. Aqui, nada disso: assim como a nova cidade se impõe a eles (todos estão lá por necessidade profissional), também os sentimentos impõem-se à razão e, não raro, a superam. Ninguém pensa demais, nem obsessivamente. A preocupação principal de cada um é não machucar quem está por perto, de um modo ou de outro. Mas isso já implica imaginar. Assim como Blanche não está apaixonada por Alexandre, mas por uma imagem - o que logo adivinhamos -, todos imaginam algo a respeito dos demais, o que traz como decorrência a intriga que se desenha diante de nós. Uma intriga entre pessoas menos intelectualizadas do que nos acostumamos em Rohmer, embora nem por isso seja possível dizer que o filme é menos intelectual. Uma intriga mais clássica do que aquelas a que nos acostumou Rohmer, porque segue certas regras estritamente (o happy end, por exemplo) e não evita mesmo o final um tanto clichê. Isso, a rigor, não conta: o que nos dá prazer em "O Amigo da Minha Amiga" não é propriamente aonde os personagens chegam, e sim os caminhos que percorrem para chegar a um determinado ponto. Nesse sentido, o filme tem o brilho de um grande Rohmer e nos ajuda a esperar que um distribuidor iluminado nos traga seu Agente Triplo." (* Inácio Araujo *)
''Os amigos dos meus amigos são meus amigos. O dito colocado na abertura de "O Amigo da Minha Amiga" fornece uma verdade sobre a resistência moral da amizade que o diretor Éric Rohmer testa, desconfia e confirma. Realizado em 1987, o filme encerra o ciclo das Comédias e Provérbios, série a qual o diretor francês se dedicou ao longo dos anos 1980, depois de concluir os Contos Morais e antes de iniciar os Contos das Quatro Estações. A reunião dos filmes em ciclos dá a impressão de que Rihmer conta sempre as mesmas histórias com pequenas variações. Aqui, ele acompanha as ocilações sentimentais do quarteto Blanche, Léa, Alexandre e Fabiaen, no qual ela fica a fim dele, fica com o outro, que namora a amiga, que por fim troca de namorado e tudo acaba bem. A primeira impressão é de uma comédia romântica bobinha. Rohmer gostava de filmar como seus idolatrados precursores escreviam livros, de modo romanesco. Assim, demonstra que, quando se trata de amor, continuamos a agir como crianças.'' (Cassio Starling Carlos)
1988 César - DirectorGeorge A. RomeroStarsDuane JonesJudith O'DeaKarl HardmanA ragtag group of Pennsylvanians barricade themselves in an old farmhouse to remain safe from a horde of flesh-eating ghouls that are ravaging the Northeast of the United States."Não faltam motivos para que "A Noite dos Mortos-Vivos" (versão original, de 1968) tenha se tornado um marco na história do filme de terror. O primeiro deles é a sua originalidade. Em várias frentes. Em primeiro lugar, o realismo cru da direção de George Romero introduz um novo parâmetro no gênero, normalmente dominado seja pelo gótico, seja pelo barroco. O que há de mais terrível em "A Noite dos Mortos-Vivos" é que os personagens nos sejam tão familiares: um rapaz e uma moça vão colocar flores no túmulo do pai, quando são atacados por um morto-vivo. Ele morre. Ela consegue chegar a uma casa que será refúgio de vários vivos, ao longo de uma noite interminável. Em segundo lugar, esses mortos-vivos estão longe de ser emanações infernais: é a radiação (um terror bem humano) que os tira dos túmulos e os transforma em monstros mutantes. É, portanto, o homem que gera, com sua ação, seu próprio terror. Nem por isso ele é menor: cada minuto é de tensão, em que o melhor do gênero vem à tona, isto é: essa capacidade que só o fantástico tem de despertar nossos fantasmas mais profundos - o medo da morte, da mutação. Em nenhum momento Romero cede à facilidade do cinema-susto, tão frequente no horror mais recente. Não há necessidade de aparições rocambolescas para gelar nosso sangue. É a atmosfera realista (parece um filme de John Cassavetes, nesse sentido) que nos conduz ao sobrenatural e o torna mais crível e aterrorizante. Por fim, o fato de trabalhar com atores desconhecidos introduz um elemento a mais de horror. Um ator famoso nos tranquiliza e dá a certeza de que o herói sobreviverá para contar a história, o que não acontece aqui. O filme dispõe de uma produção modesta, mas não se ressente desse fato. Pelo contrário, tira partido dela. É indispensável para os fãs do gênero e também para os que não são tão fãs assim." (* Inácio Araujo *) < > "Filme indispensável cujos maiores valores estão na concentração dramática e na limitação espacial que ajudam construir um tipo de cinema em que os grandes impactos se dão nas resoluções abertas e infelizes." (David Campos)
- DirectorLeo McCareyStarsGroucho MarxHarpo MarxChico MarxRufus T. Firefly is named the dictator of bankrupt Freedonia and declares war on neighboring Sylvania over the love of his wealthy backer Mrs. Teasdale, contending with two inept spies who can't seem to keep straight which side they're on.O DIABO A QUATRO - "Durante o Maio de 68 em Paris, alguém escreveu numa parede: Sou marxista, tendência Grouxo. Então estava tudo claro: havia os stalinistas, os maoístas e os grouxistas. Os dois primeiros grupos disputavam o poder. O último lutava para desarmá-lo. Não para derrotá-lo, porque é impossível, mas para deixá-lo desconcertado. Assim era com os irmãos Marx, sobretudo seu trio central, Grouxo, Harpo e Chico. Em cada movimento, em cada frase, eles tocam um lado inesperado das coisas, desafiam a rotina dos sentidos e do raciocínio. Em "O Diabo a Quatro", Rufus T. Firefly (Grouxo) se torna alto mandatário da Freedonia, um paiseco, graças à sua benfeitora, Margaret Dumont.A ela, aliás, dedicará uma das réplicas antológicas do filme ("Vamos defender a honra desta mulher. Já que ela mesmo não o faz"). O resto, nesta comédia de Leo McCarey (um baita reaça, aliás), é completa anarquia." (* Inácio Araujo *)
"Hoje seria possível corrigir o título do livro de Zuenir Ventura: agora o ano de 1968 terminou, não há dúvida. O que sobrou do utópico maio parisiense e de suas filiais pelo mundo? Bem pouco. Mas o que não pode ser esquecido é frase numa parede: Eu sou marxista, linha Groucho. Sim, com Groucho e seus irmãos Harpo e Chico estávamos num tipo de marxismo surpreendente. O humor deles vinha do inesperado das réplicas, das atitudes, da maneira particular de estar no mundo daqueles personagens. A linha Groucho não cria metas, nem manda ninguém para o Gulag. É esse tipo de anarquismo que "O Diabo a Quatro" defende e propaga. A liberdade ali não é uma reivindicação vazia: em sua recusa de aceitar o mundo dado, a ideia que se desenvolve é a de libertação." (* Inácio Araujo *) - DirectorJacques RivetteStarsMichel PiccoliJane BirkinEmmanuelle BéartThe former famous painter Frenhofer revisits an abandoned project using the girlfriend of a young visiting artist. Questions about truth, life, and artistic limits are explored."A Bela Intrigante" é um filme difícil de recomendar: dura quatro horas e poucas coisas acontecem. E o que acontece não é, em princípio, tão emocionante: um pintor pinta seu modelo. Mas seria delicado não recomendar esse filme sobre a arte e sua dificuldade. É a obra-prima de Jacques Rivette, um cineasta difícil que parece ter construído sua obra para chegar aí. Se não basta, a musa e modelo é musa de qualquer homem sensato, Emmanuelle Béart. O primeiro argumento pode não colar. O segundo, é irrespondível." (* Inácio Araujo *) 1991 Palma de Cannes / 1992 César
- DirectorDenys ArcandStarsMarc LabrècheDiane KrugerSylvie LéonardJean-Marc Leblanc (Labrèche), a desperate civil servant, escapes reality as we know it by imagining himself as the hero in imaginary adventures."Passados os momentos mais explosivos de A Queda do Império Americano e As Invasões Bárbaras, eis que Denys Arcand se encontra num momento de maior introspecção: o Jean-Marc de "A Era da Inocência" é um homem diante de seu vazio. Uma pequena digressão sobre o título: não existe um motivo, nem mesmo remoto, para que o filme tenha ganho o esdrúxulo nome de "A Era da Inocência", quando o original, com toda clareza, proclama-se a era das trevas - no que ao menos tem maior coerência com o trabalho do diretor canadense. O certo é que Jean-Marc está diante de seu vazio. Ele trabalha longe de casa numa agência governamental que no papel existe para ajudar as pessoas e na prática não faz nada por elas. A casa ele partilha com uma mulher chatíssima e duas filhas que não lhe dão a menor bola. Para compensar a vida sem graça, Jean-Marc tem fantasias com mulheres (incluindo a bela Diane Kruger). No começo elas lhe propiciam o amor e a conversa que não tem em casa. Com o tempo, até as fantasias se dão conta de que Jean-Marc não é o homem reduzido pela vida a experiências limitadas e desanimadoras. Ele é, antes de tudo, um chato de galocha. No momento de mostrar o vazio de um homem, e não seres que se pavoneiam todo o tempo por serem quem são, Arcand produz um efeito curioso, embora não animador: a coincidência perfeita entre o vazio de seu personagem e o vazio do seu filme." (* Inácio Araujo *)
- DirectorLance W. DreesenClint HutchisonStarsJohn RitterDavid DeLuiseAllison SmithA real estate agent terrifies a couple with the grim fates of the previous owners of a house they're looking at."Arrepios e risadas para uma sessão noturna. O verdadeiro cinema B - real baixo orçamento, nomes pouco consagrados, interpretações pífias, e tudo o mais." (Alexandre Koball)
- DirectorBrian De PalmaStarsMichael J. FoxSean PennDon HarveyDuring the Vietnam War, a soldier finds himself the outsider of his own squad when they unnecessarily kidnap a female villager."Se o realizador de Procedimento Operacional Padrão (que passa na Mostra de São Paulo deste ano) tivesse visto - ou levado a sério - "Pecados de Guerra" perceberia que o crime de tortura, cometido na Guerra do Iraque e em que se detém, não é o verdadeiro crime. O crime é a guerra em si. De certa forma, o documentário recente quer até desenvolver esse ponto de vista: acima dos envolvidos na tortura está o Estado Maior e acima dele, ainda, a Casa Branca e a guerra com sua insânia. O curioso é que tudo isso está em "Pecados de Guerra", que tem no centro um soldado que se recusa a violentar e matar uma jovem vietnamita, ao contrário de seus outros quatro companheiros. Pode parecer que Pecados individualiza a questão. Não é bem assim: ele apenas faz o caminho inverso, da guerra e da Casa Branca até chegar aos soldados criminosos. A questão não é apagar os pecados, é dar-lhes a dimensão devida." (* Inácio Araujo *) 47*1990 Globo
- DirectorStephen HerekStarsRichard DreyfussGlenne HeadlyJay ThomasA frustrated composer finds fulfillment as a high school music teacher."Normalmente, os heróis do cinema americano são os vencedores, winners, dizem eles. A derrota não é vista como uma hipótese, mas como uma fraqueza imperdoável. O derrotado deve ser resgatado numa oportunidade, second chance de que falam os filmes. Pois bem nada disso acontece em "Mr. Holland - O Adorável Professor", um nada sutil elogio a mediocridade. Mr. Holland é um compositor que adia indefinidamente o trabalho criativo com que um dia sonhou para dar aulas de música a secundaristas. Ao se aposentar, recebe todas homenagens provicianas imagináveis: como se a derrota pudesse se mostrar, enfim, honrosa. Claro que o filme é nada, como Holland. (* Inácio Araujo *) 68*1996 Oscar / 53*1996 Globo
- DirectorSpike LeeStarsEdward NortonBarry PepperPhilip Seymour HoffmanCornered by the DEA, convicted New York drug dealer Montgomery Brogan reevaluates his life in the 24 remaining hours before facing a seven-year jail term."Tudo em "A Última Noite" diz respeito ao 11 de setembro, embora sejam bem poucas as menções ao atentado - e nenhuma explícita. O filme começa com Montgomery Monty Brogan (Edward Norton) salvando a vida de um cachorro. É a única coisa certa que fez na vida, pensará depois. Esse cachorro o acompanhará ao longo de todo o filme como a lembrar da importância de cada momento, ou de momentos específicos, dentro da vida de um homem. Mais tarde veremos Monty ser preso, com toneladas de drogas escondidas no estofamento do sofá de sua casa. Ele pretendia deixar o negócio, mas a ganância o levou a transgredir ainda uma vez. Essa vez mudou seu destino e o levou a ser condenado a sete anos de prisão. Todo o filme de Spike Lee gira em torno de sua última noite de liberdade e da atitude que terá de tomar ao amanhecer: entrega-se à prisão, mata-se ou foge? Isto é, ainda uma vez, nessa última noite, tudo será questão de optar, de tomar uma decisão que afetará sua vida. Qualquer dessas possibilidades o levarão a se afastar das pessoas que fazem parte de sua existência: Naturelle, sua mulher, e os dois amigos de infância, Jakob e Frank. Com exceção de Naturelle, convém enfatizar, nenhum desses personagens é negro. E mesmo ela é uma mulata porto-riquenha. As contradições sociais e raciais, de que Nova York é tão pródiga, são decididamente colocadas em surdina, com exceção de uma sequência (talvez a mais forte do filme, em compensação), em que Monty deblatera contra mais ou menos todas as etnias que fazem parte do dia-a-dia da cidade. E exceto, ainda, pela presença de mafiosos russos. De todo modo, o essencial não são as contradições, mas os encontros e reencontros. Em seu drama, Monty Brogan se descobre e redescobre os amigos. Pois o seu trauma é correlato ao 11 de setembro, em que um acontecimento leva as pessoas a encarar de outro modo aos outros, a si mesmas, à vida em geral. E Nova York, claro. É possível dizer que "A Última Noite" sofre, em determinados momentos, de excesso de literatura. Que lhe falta o impacto daqueles trabalhos em que observa a violência das relações brancos/ negros (como o recente A Hora do Show). Aqui quase tudo parece refletido e pesado, como se o golpe simbólico representado pela destruição das torres gêmeas levasse Spike Lee a um exercício de introspecção. Ou, de certa forma, de amadurecimento." (* Inácio Araujo *)
"A Última Noite" é uma mudança e tanto na carreira e, talvez, na vida do ator e diretor nova-iorquino Spike Lee, também conhecido como um militante de questões da negritude. Aqui ele trabalha com um elenco de brancos, puxado por Edward Norton, um traficante que vive suas últimas horas em liberdade. Talvez o que explique esse filme, mais do que tudo, seja sua data: 2002. Ou seja, o impacto do 11 de Setembro leva Lee a pensar a América (e Nova York) menos pelo prisma da opressão sobre os chamados afro-americanos do que pela comunhão que o evento propicia entre todos os americanos. Afinal, esses momentos servem também para isso: para tornar secundárias certas feridas e para que todos se sintam, enfim, partes de uma nação." (** Inácio Araujo **)
60*2003 Globo / 2003 Urso de Ouro - DirectorRichard FleischerStarsTony CurtisHenry FondaGeorge KennedyA series of brutal murders in Boston sparks a seemingly endless and increasingly complex manhunt."No momento em que uma retrospectiva na Cinemateca Francesa está levando a uma reavaliação da obra de Richard Fleischer, o lançamento, no Brasil, de "O Homem que Odiava as Mulheres" certamente nos ajudará a melhor situar o cineasta, morto em março deste ano. O filme gira em torno de um assassino de mulheres que desconcerta a polícia de Boston - até é criado um birô do estrangulador. Mas as mulheres continuam a morrer. Quem são elas? Aí está o problema: não há uma característica principal. O roteiro de Edward Anhalt segue as pegadas do clássico M, o Vampiro de Dusseldorf, de Fritz Lang. Inicialmente, os crimes (os primeiros). Depois, a ação da polícia, tentando descobrir, em cada tarado, o responsável. O mistério engrossa. Aí tomamos contato - nós, a polícia só bem depois- com o estrangulador, Tony Curtis. A mise-en-scène de Fleischer se faz marcar pelo perfeito controle da narrativa e, sobretudo, pelo uso originalíssimo da técnica do split-screen, que divide a tela em pelo menos duas ações simultâneas. Como o filme é rodado em tela larga, a simultaneidade das ações cria momentos interessantes. Mas o melhor é o uso da dupla dimensão, isto é: vemos ao mesmo tempo uma imagem aberta e outra fechada do mesmo acontecimento: um plano geral e um primeiro plano. Quase sempre o primeiro plano é lançado, primeiro, sobre um objeto sem interesse (digamos, uma cadeira). Em seguida, o personagem senta-se nessa cadeira, e o que era desinteressante ganha vida. O procedimento tem duas conseqüências. Uma, da ordem da linguagem. É como se Fleischer abrisse a linguagem diante de nós e a expusesse. Um pouco como se o filme fosse uma mesa de operação lingüística. Outra, de ordem narrativa, pois com isso a tensão e o mistério que cercam os personagens e sua evolução no filme transferem-se para a tela e nos atingem diretamente -não mais como história, mas como imagem. É preciso admitir que esse procedimento - a divisão de telas - torna um tanto áspera a visão do filme numa TV comum, pois além da tela larga (com a qual se perdem as faixas acima e abaixo do quadro de TV) a divisão da tela diminui aquilo que vemos. Mas esse problema não diminui as virtudes deste filme belíssimo - antes pelo contrário, é prova de suas virtudes." (* Inácio Araujo *) < > "Só engrena de vez na segunda hora, quando Tony Curtis surge em cena. Apesar de visualmente criativo, a mão pesada de Fleischer deixa o filme com o ritmo um tanto truncado, costurando uma história que demora para mostrar a que veio." (Bernardo D I Brum) 29*1969 Globo
- DirectorÉric RohmerStarsLucy RussellJean-Claude DreyfusAlain LiboltDuring the French Revolution, a Scottish aristocrat and her former lover, the Duke of Orleans, find themselves on opposite sides of the conflict."Dos cinco jovens turcos da revista Cahiers du Cinéma que revolucionaram o entendimento do cinema nos anos 50 do século passado, Eric Rohmer era o mais velho. Foi também o último a se tornar conhecido -pois não seria justo dizer que foi o último a fazer sucesso. Sua personalidade é mais ou menos o oposto daquilo que, cada vez mais, pede a indústria cinematográfica: presença em festivais, fotos nas revistas, declarações para a imprensa. Presença mundana e profissional, enfim. Raramente dava entrevistas. Não se deixava fotografar para evitar que, tornando-se conhecido, já não pudesse circular livremente por Paris. Recusava-se a frequentar festivais de cinema. Sua obra é, de certa forma, um espelho fiel da personalidade. Rohmer nunca fez concessões à indústria, evidentemente. Não fez concessões nem a seus amigos da Cahiers: quando se tornou redator-chefe, continuou a dar mais atenção aos clássicos do que aos modernos (inclusive aos filmes da nouvelle vague), de tal modo que precisou ser, a horas tantas, substituído por Jacques Rivette (operação traumática, que resultou em anos de afastamento da revista dele e dos redatores mais próximos a ele). Esse momento marcou também o fim da fase amarela da revista francesa. Sua obra compõe-se, basicamente, de três séries previamente planejadas: Contos Morais, Comédias e Provérbios e Contos das Quatro Estações. A eles acrescentou trabalhos de maior produção, para os quais era em geral contratado, como A Marquesa d'O, Perceval le Galois, nos anos 70, ou, mais recentemente, "A Inglesa e o Duque". São os pequenos filmes, no entanto, que marcam seu modo de produzir cinema: filmagem com pouquíssimos técnicos (em geral não mais de três), atores jovens colaborando em atividades desde cenografia e escolha de figurinos até empurrar o carrinho de "travelling" quando isso se impunha. Com isso, Rohmer conseguia a independência total, isto é, não dependia de concursos ou subvenções estatais para fazer seus filmes. O espectador normal (não afeito ao acompanhamento do cinema em geral) viu Rohmer, por muito tempo, como um temperamento literário perdido no cinema, já que seus filmes eram excessivamente falados. Ele desdenhava desse tipo de comentário: entendia que suas histórias só tinham sentido no cinema. Os cinéfilos, a parte mais paciente deles, em todo caso, percebiam que seus filmes eram um estranho e atraente tipo de monólito. Não se preocupavam nunca em nos seduzir. Nem em nos encantar. Dizia que, se poesia havia num filme, ela devia vir das coisas filmadas, nunca da maneira de filmar. Seu enquadramento nunca procura se notabilizar diante de uma paisagem ou fazer bonito. Suas histórias recusavam qualquer tipo de simbolismo ou profundidade. Entendia que o cinema não é feito para pensar nem para "dizer", e sim para mostrar. Esse seu fundamento, naturalmente, redunda num realismo radical e em histórias quase banais, vividas por pessoas comuns, em que escolhas pessoais, amores, acasos entravam no jogo. Nunca a psicologia. Fala-se muito, de fato (como os franceses, mestres da verbalização). Mas, com um pouco de persistência, o espectador perceberá um dos pontos-chave da obra de Rohmer: uma sutil distinção entre aquilo que os personagens entendem que seja a realidade e os fatos propriamente ditos. O reconhecimento veio aos poucos para esse autor (que detestava ser chamado de realizador). Fora dos círculos especializados, partiu, curiosamente, dos EUA, onde seus filmes tinham larga audiência e onde sua descrição da vida dos franceses era muito mais apreciada do que na própria França. Ao contrário de cineastas que por vezes encantam no momento e logo são esquecidos, a obra que deixa, vasta, cultíssima, enigmática, certamente sobreviverá a ele por muito tempo e será difícil não reconhecê-la como um dos grandes momentos do cinema francês na segunda metade do século 20 e neste início de 21." (* Inácio Araujo *) 2002 César
- DirectorJohn WooStarsChow Yun-FatDanny LeeSally YehA disillusioned assassin accepts one last hit in hopes of using his earnings to restore vision to a singer he accidentally blinded."The Killer" é o filme mais cerebral de John Woo até hoje. Não só porque a maior parte dos tiros fatais é desferida na cabeça dos inimigos. Mas também no sentido em que esta é a trama mais complexa desenvolvida até aqui pelo cineasta de Hong Kong. Por uma vez, ele recua de seu habitual gosto coreográfico em favor de uma intriga mais interiorizada, embora sem renunciar aos balés de violência que caracterizam seu estilo. A história trata de um matador, Jeff (Chow Yun Fat), que, durante um tiroteio, cega por acidente a cantora Jenny. Culpado e apaixonado, Jeff aproxima-se dela. Erro fatal para um matador. A moça torna-se a isca de que o investigador Lee (Danny Lee) precisa para chegar a Jeff. Lee é policial cujo método de prender criminosos supõe um conhecimento íntimo do inimigo, que o faça capaz de, por exemplo, adivinhar seus movimentos. Daí por diante, o que se verá surgir é uma complexa trama de solidariedades que se armam e desarmam. Assim, Jeff topa fazer um último trabalho apenas para pagar a operação que restituirá a visão de Jenny. Com Lee, seu entendimento será mais doloroso. Entre os dois homens obstinados com a idéia de cumprir o dever que se atribuem surge uma amizade ambígua: eles passam todo o tempo se admirando e se enfrentando. Ao longo da trama - que vai engrossando cada vez mais-, ambos percebem que o mundo se divide entre a ética e a ausência de ética. E que, mesmo estando em campos opostos, pode-se partilhar certos princípios. Essa constatação é como um novo ponto de partida. Na verdade, o filme corria o risco de se tornar um imenso contra-senso. Jeff é um matador profissional. Que relação existe entre a mais sórdida das profissões e a ética? Nenhuma, em princípio. Mas, em "The Killer" - como em outros filmes de Woo -, os personagens só encontram sua identidade fora de si mesmos. Um homem só passa a ser sujeito de seus atos a partir do momento em que um fator externo leva à descoberta da subjetividade. No caso de Jeff, esse fator é Jenny: a mulher surge em sua vida como hipótese de redenção de todos os males que o vitimaram e que ele transformou em agressividade. Jenny é a chance que ele vislumbra de assumir o próprio destino. Mas é essa chance mesmo que levará Jeff à tragédia de viver o próprio presente com olhos no futuro e, ao mesmo tempo, tentar se desembaraçar de um passado que se nega a ser apagado facilmente. A maquinação notável com que Woo articula termos como amor, violência, amizade, traição, transitando da mais completa sordidez à poesia mais sublime, faz de "The Killer" um acontecimento invulgar. É um grande filme popular." (* Inácio Araujo *)