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25 titles
- DirectorRené ClémentStarsGeorges PoujoulyBrigitte FosseyAmédéeA young French girl orphaned in a German air attack is befriended by the son of a poor farmer, and together they try to come to terms with the realities of death.É sempre um ardiloso truque mostrar uma realidade terrível por olhos infantis. Há na atmosfera aquela tristeza peculiar de se estar observando o sombrio por trás do véu de quem não processa direito o que está acontecendo. René Clément promove essa sensação da forma mais direta possível. Adapta o livro de François Boyer para contar como, em meio à Segunda Guerra na França rural, a pequena Paulette e o garoto Michel ressignificam a confusão da perda e a ceifada da morte numa lúdica negação. Só a primeira sequência do filme é emocionalmente devastadora e nos cola de imediato na inacreditável atuação de Brigitte Fossey, então com apenas seis anos de idade. Daí até a última cena, igualmente comovente, teremos o símbolo cristão da cruz usado nesse jogo que intenta acomodar com certo descompromisso pueril sentimentos pesados. Os interditos brotam nas fontes mais inocentes. Leão de Ouro no Festival de Veneza e Oscar honorário de filme estrangeiro.
* * * * Monteiro Júnior
01.04.19 - Mubi - DirectorBarry JenkinsStarsKiKi LayneStephan JamesRegina KingA young woman embraces her pregnancy while she and her family set out to prove her childhood friend and lover innocent of a crime he didn't commit.Barry Jenkins vem direto de ‘Moonlight – Sob a Luz do Luar’|2016 e não se acanha em pesar a mão para conferir à sua adaptação de James Baldwin uma potência visual poética. A história de amor agridoce entre Tish [Kiki Layne] e Fonny [Stephen James] ganha camadas densas que vão muito além dos dois face às questões sociais de uma realidade cheia de fissuras, na qual os personagens tentam evitar os sentimentos de agonizarem. Jenkins demonstra domínio no uso dos corpos negros como construção de sentido narrativo, numa época em que precisamos derrubar os muros antes de serem erguidos. Regina King mostra extraordinária força de atuação nas oportunidades que o roteiro prepara para ela.
* * * ½ Monteiro Júnior
02.0419 - DirectorTerry GilliamStarsJosé Luis FerrerIsmael FritschiJuan López-TagleToby, a disillusioned film director, is pulled into a world of time-jumping fantasy when a Spanish cobbler believes himself to be Sancho Panza. He gradually becomes unable to tell dreams from reality.Alguém duvidava ver esse filme finalizado algum dia? 20 anos após a primeira pré-produção, registrada no documentário ‘Perdido em La Mancha’|2002, Terry Gilliam entrega sua personalíssima, e amaldiçoada, brincadeira em cima da célebre obra escrita por Miguel de Cervantes. Assim como no livro do autor espanhol, a produção cinematográfica costura o real com a fantasia, num trânsito diegético até fluído de deslocamento tempo-espacial. Serve-se também da metalinguagem, quase num pastiche felliniano. Nem sempre a narrativa avança de maneira sólida, mas traz toda a excentricidade característica da filmografia do ex-Monty Phyton. Após Jean Rochefort [falecido], Robert Duvall e John Hurt [falecido], quem faz o cavaleiro da triste figura é Jonathan Pryce, com quem Gilliam fizera ‘Brazil – o Filme’|1985. Já o publicitário que faz as vezes de Sancho Pança quase foi Johnny Depp, Ewan McGregor e Jack O’Connell até parar em Adam Driver. A química de Driver e Pryce é o combustível nessa experiência louca. Parece um cruzamento, salvo as proporções, de ‘As Aventuras do Barão Munchausen’|1988 com ‘O Pescador de Ilusões’|1991. Provável que eu tenha exagerado, mas em Terry Gilliam nenhuma comparação é estapafúrdia. Assim como nenhuma obsessão fílmica. Mesmo com todas e inimagináveis dificuldades, evita seu projeto de ter destino semelhante ao ‘Duna’ de Alejandro Jodorowsky. Por pouco não consegue lançar em Cannes e no momento luta para reaver os direitos tomados pelo produtor português Paulo Blanco. O título de ‘filme mais amaldiçoado da História’ segue firme. Que venha ‘He Dreams of Giants’, sequência do documentário de 2002.
* * ½ Monteiro Júnior
03.0419 - DirectorDavid F. SandbergStarsZachary LeviMark StrongAsher AngelA newly fostered young boy in search of his mother instead finds unexpected super powers and soon gains a powerful enemy.A DC aposta no tom descompromissado, leve, de pastiche para manter a boa fase. Claro, a fórmula funciona – já foi testada pela Marvel. Importa tanto assim essa coisa do ovo e da galinha? Importa é que a dobradinha Billy Batson/Shazam! não trapaceia, na verdade é o barato da história. O herói pode ter a forma de adulto, mas continua sendo um meninão irresponsável que precisa amadurecer e ressignificar o conceito de família. Ambos os atores, Asher Angel e Zachary Levi, equilibram a peteca no ar, alternam-se como protagonistas de maneira orgânica a serviço da história. Um não some para só reaparecer no final, como em ‘Quero Ser Grande’|1988, que inclusive o filme cita nas referências, e tal opção me agrada muito. A estrutura é esquemática, com um déjà vu e outro [alguém conhece ‘Superior’, do Mark Millar?], atalhos para manter a ação em movimento. Para compensar, amarra bem os temas e até subverte aquela expectativa de personagens que parecem estar ali apenas para serem salvos na redenção do herói. Terceiro strike do Universo Estendido DC, agora é colocar voz no tom atingido.
* * * Monteiro Júnior
04.04.19 - Cinépolis Rio Poty, sala Macro XE - DirectorBrie LarsonStarsBrie LarsonSamuel L. JacksonJoan CusackKit, a twenty-something dreamer, receives an invitation that would fulfill her childhood dreams.Uma dramédia assumidamente estranha, cercada de boas intenções e banhada pela atmosfera indie. Brie Larson [a Capitã Marvel de folga] faz sua estreia como diretora num pequeno filme de personagem, ok até aí. Pena o tom inócuo, sem ritmo, para o roteiro fraquinho de Samantha McIntyre, que insiste em levar a premissa ao pé da letra. Até a suposta química da atriz de ‘O Quarto de Jack’|2015 com Samuel L. Jackson não rende tanto – lembrando que o encontro aqui é anterior ao solo da super-heroína. As indulgências, estruturais e de direção, diluem o que haveria de potencial na simpática obra.
* * Monteiro Júnior
05.04.19 - Netflix - DirectorCristiano BurlanIn 2001, on the night of October 5, Rafael Burlan was murdered with 7 shots in his back, in Capao Redondo, neighborhood of San Paulo. The documentary seeks to rebuild through reports from relatives and friends what was the murder and its consequences in the tragic fate of this family.Ao ir atrás da memória do assassinato do irmão em 2001, Cristiano Burlan enquadra depoimentos brutalmente honestos a ponto de potencializar a crueza técnica e estética. Mesmo que venha a brotar algum momento de poética tristeza, como a imagem de um homem e um menino andando na praia, a qual siginificamos como pai e filho, após o longo relato do amigo do rapaz morto. Fora o aspecto dolorosamente pessoal da narrativa – além do irmão, Burlan perdeu também o pai e a mãe de modos trágicos e violentos cada um –, e da questão do realizador demorar a se expor diante da câmera, pulsa toda a realidade cinzenta, cheia de relativismos que fogem da mera estereotipação social, da juventude contemporânea nas periferias brasileiras.
* * * ½ Monteiro Júnior
06.04.19 - Canal Brasil - DirectorOriol PauloStarsAdriana UgarteChino DarínJavier GutiérrezTwo storms separated by 25 years. A woman murdered. A daughter missed. Only 72 hours to discover the truth.Esse ‘Alta Frequência’|2000 espanhol é bem ao gosto do realizador Oriol Paulo: elaboradíssimo enredo, agora propondo resolver um assassinato em pleno paradoxo temporal como pano de fundo à jornada de Vera Roy [Adriana Ugarte]. O responsável por tramas como ‘O Corpo’|2012 e ‘Um Contratempo’|2016 parece se importar mais em dar a impressão de amarrar todas as reviravoltas do que tornar consistente, ou pelo menos sem grandes furos de lógica, a premissa geral. Ali e acolá soa empolgante, e o ritmo vai se impondo aos poucos, mesmo sem disfarçar o quanto a estrutura requenta outras. O problema é deixar perguntas que refletem indulgência em vez de estímulo criativo.
* * ½ Monteiro Júnior
07.04.19 - Netflix - DirectorCristiano BurlanIn front of impunity, the film immerses in a vertiginous journey to rebuild Isabel's image and life.Tantas camadas entrelaçam esse suposto e devastador encerramento da Trilogia do Luto de Cristiano Burlan. Suposto porque a trilogia existencial da família pode, quem sabe, se estender. Torço que não. O próprio realizador, dessa vez, protagoniza a busca pela imagem cada vez mais sem nitidez da mãe assassinada em 2011. Tanto em ‘Construção’|2006, sobre a morte do pai, quanto em ‘Mataram meu Irmão’|2013, Burlan se reserva por trás dos depoimentos de amigos e parentes, o que foi efetivamente apontado por Eduardo Escorel numa crítica. O ‘puxão de orelha’ penetra na feitura do novo filme, forçando planos conjuntos absolutamente desconfortáveis. Para nós e o cineasta. No fluxo preciso de um quebra-cabeça que jamais será montado, a narrativa nos faz atravessar as entranhas da devastação da perda, potencializada por ter sido um feminicídio anunciado. De certo, é curioso como a repórter que cobriu o crime de maneira sensacionalista conquista espaço na estrutura do documentário. Assim como é um soco amargo a brutal lucidez de Burlan no desfecho, quando questiona sua covardia em fazer o filme ao invés de justiça com as próprias mãos. Algo que, constata, o pai e o irmão fariam. Embora retrate questões sociais de amplo alcance, sobretudo na realidade brasileira, trata-se, em essência, de um exame íntimo, pessoalíssimo, da dor e do impulso fatalmente humano pela sensação de justiça.
* * * * ½ Monteiro Júnior
09.04.19 - Cinemas Teresina, sala 2 - DirectorLuca GuadagninoStarsChloë Grace MoretzTilda SwintonDoris HickA darkness swirls at the center of a world-renowned dance company, one that will engulf the artistic director, an ambitious young dancer, and a grieving psychotherapist. Some will succumb to the nightmare. Others will finally wake up.Luca Guadagnino, logo após o êxito de ‘Me Chame pelo seu Nome’|2017, mergulha na releitura do cult de Dario Argento de 1977, tentando honrar o original ao mesmo tempo que se distancia esteticamente dele. Promove esse diálogo audacioso, quase uma reinvenção mesmo, sem qualquer medo de assumir-se arrastado [tempera bem a atmosfera], gráfico e escatológico – o corpo sempre como motor da trama. Não esteriliza a fonte, mas penetra em suas vísceras e nos conduz ao subterrâneo da premissa com um rigor apoteótico desconcertante. Salvo suas particularidades, tal dialética deveria ser modelo para os inevitáveis remakes.
* * * Monteiro Júnior
11.04.19 | Cinemas Teresina, sala 5 - DirectorBelisario FrancaStarsReginaldo Alves AlmeidaCirce BittencourtMaria da GlóriaBrazil, 1930. Local elites not only admired Nazi and Fascist regimes, they even subjected victims to racist experiments. But one of them (BOY 23) survived to tell the tale.O subtítulo passa longe de dar pista acerca da medonha tese que a obra desenvolve com clareza contextual jornalística. Nazismo e eugenia entrelaçados ao racismo brasileiro pós-escravista nas décadas de 1930 e 1940. Claro, ainda hoje a sociedade é impregnada, veladamente ou não [mais], pela institucionalização dessa bizarra herança. Pensar que tínhamos o maior partido nazista fora da Alemanha, bancado pela elite branca, durante a ascenção do terceiro reich apenas esclarece muito do que estamos vivenciando atualmente. Isso à parte, o forte do docudrama de Belisario Franca enquanto peça audiovisual – tirando a polêmica do trabalho do historiador Sidney Aguilar Filho com a família Rocha Miranda –, recai em como os sobreviventes dos dez sombrios anos que o filme conta lidam com as próprias fissuras emocionais. Traumas individuais que reverberam no coletivo.
* * * ½ Monteiro Júnior
12.04.19 - Canal Brasil - DirectorMarc MeyersStarsRoss LynchAlex WolffAnne HecheA young Jeffrey Dahmer struggles to belong in high school.Marc Meyers se esforça em transformar a graphic novel semiautobiográfica de John Backderf numa sóbria observação da juventude do futuro serial killer Jeffrey Dahmer. Toda tentativa de compreensão de uma mente psicótica lutando contra os próprios impulsos fica aquém do potencial que a atmosfera promete. Toca a superfície da tensão latente, numa costura anedótica do que levaria Dahmer [o ator-cantor Ross Lynch] a implodir no primeiro assassinato. E aí sobra para a desestruturação familiar e o bullying na escola. Apenas a camada visível, e dramaticamente empática, de um self sombrio.
* * ½ Monteiro Júnior
13.04.19 - Telecine Play - DirectorAli AbbasiStarsEva MelanderEero MilonoffJörgen ThorssonA customs officer who can smell fear develops an unusual attraction to a strange traveler while aiding a police investigation which will call into question her entire existence.O iraniano-sueco Ali Abbasi dribla os gêneros que flerta e realiza um daqueles filmes escorregadios de classificar. Pelo menos até o estudo da solidão no começo, e o teste de empatia do espectador, se converter na sombria fábula em que a personagem de Eva Melander, sob maquiagem excepcional, atravessa essa estranha jornada para ressignificar a própria existência. O conto de John Ajvide Lindqvist [‘Deixe Ela Entrar’|2008] é a base para a busca identitária que leva a história a cruzamentos inesperados, entrelaçando uma atmosfera fantástica a abordagem psicológica dos personagens. Não precisa curtir lendas nórdicas ou acreditar em trolls para ser atravessado pelas questões da natureza humana em seu aspecto, digamos, nada simpático. Ao examinar quem são os verdadeiros monstros, Abbasi segue uma terceira via.
* * * ½ Monteiro Júnior
15.04.19 - DirectorSólveig AnspachStarsDidda JónsdóttirAlexander BriemJulien CottereauAnna Hallgrimsdottir lives in Reykjavik with her two sons. Fed up with the coldness of Iceland, she decides to sell her business to be able to move out of the country. Her business, selling dope, is prosperous, she wants a good price out of it... the dealer whom she'll hand it over to (as well as her mobile : that's how her customers reach her and order the amount they need) tells her he'll have the money within 48 hours. Meanwhile, Anna gets involved in all kinds of Icelandic familial adventures and her kitchen fills up with customers/friends, partying, while waiting for her to comeback, and sell them their daily grass.Comédia dramática islandesa-francesa, esse quarto longa de ficção da realizadora Sólveig Anspach, falecida em 2015, abraça o inusitado sem receio nenhum. Por vezes, o filme beira o nonsense – e existe o risco de eu me lembrar da produção como aquela do pato que engoliu o celular de uma poeta que virou traficante de drogas e agora quer sair do ramo, passar a fiel e tresloucada clientela adiante. Contudo, a obra consegue fugir dos padrões das comédias escrachadas, costurando momentos espontâneos. Há um quê [sutil?] de melancolia na atmosfera geográfica circunscrita nos vales finlandeses, onde a ciranda de personagens marginalizados se cruzam como se dessem voltas em torno de si mesmos.
* * ½ Monteiro Júnior
17.04.19 - Mubi - DirectorSusanna LiraStarsMussumAlcioneRenato AragãoThe trajectory of musician and comedian Mussum as vocalist of the group "Os Originais do Samba" and later in cinema and TV as a member of "Os Trapalhões", a group that revolutionized the way of making humor on Brazilian television.Mais nostálgizis do que reveladoris, a narrativis entremeia o Trapalhãozis da tevêzis e do cinemis com o também talentozis sambistis de coraçãozis. A diretoris Susanna Liris não se furtis de abordarzis o racismis exploradis pelo humoris da épocazis ou os casis amorosis – cinco filhis de cinco mulherezis. Estranha não trazeris nenhumzis companheiris d’Os Originaizis do Sambis e permaneceris na camadis hagiográficazis. A narraçãozis de Lázaro Ramis tem um quêzis de ‘Ilha das Florezis’|1989, o curtis de Jorge Furtadis. De qualquer modis, é o enormis carismis de Antônio Carlis que se revela forévis.
* * * Monteiris Júniorzis
18.04.19 - Cinemis Teresinis, salis 7 - DirectorBeatriz SeignerStarsMarleyda SotoEnrique DiazMaría Paula Tabares PeñaNuria, 12, Fabio, 9, and their mother arrive on a small island in the middle of the Amazon, bordering Brazil, Colombia and Peru. They fled the Colombian armed conflict, in which their father disappeared. One day, he mysteriously reappears in their new home.A poética como Beatriz Seigner trabalha o sentimento dos tanto dos imigrantes quanto dos fantasmas da guerrilha das Farcs, num território de ninguém ilhado entre Brasil, Colômbia e Peru, é a alma atmosférica do filme. Esse banho documental – usa reais moradores da chamada Ilha da Fantasia – no universo fantástico expressa com melancólica precisão o reflexo de uma perda dupla: o luto pelos parentes mortos/desaparecidos se imbrica no luto pela própria identidade deixada para trás. A atuação silenciosa de Enrique Dias é o contraste da fortaleza de Marleyda Soto, enquanto a garota Maria Paula Tabares Peña é a pista para o insuspeito final catártico.
* * * Monteiro Júnior
18.04.19 - Cinemas Teresina, sala 1 - DirectorMatías LucchesiStarsPaula Galinelli HertzogPaola BarrientosAlvin AstorgaIn a rural school in the middle of the mountains, a girl who is starting to become a woman feels the profound need to discover her true identity. She does not know who her father is and she is determined to find him, but her mother does not approve it. The hostility of winter in such a harsh place turns this desire into a real threat: freezing in the middle of nowhere. Going behind the backs of the school authorities and the girl's mother, her teacher decides to help her. They set off on this quest for truth, but it is not going to be an easy journey... Their only clue is a small, rusty plate.Em seu primeiro longa, o realizador argentino Matías Lucchesi deixa os personagens guiarem a narrativa de uma maravilhosa simplicidade estrutural. Mas nunca rasa. A atuação da jovem Paula Galinelli Hertzog traz no olhar todo o impulso dramático dessa busca pela referência paterna que a dê um norte existencial – a metáfora se concretiza na última cena, com o presente que ganha. A dinâmica da menina com Paola Barrientos, que faz a professora a ajudá-la, vai costurando uma certa cumplicidade com poucos elementos. E que termina por ser, junto à necessidade da protagonista, o motor de um road movie cheio de verdades emocionais no percurso.
* * * Monteiro Júnior
20.04.19 - Mubi, madrugada - DirectorJeon Go-WoonStarsEsomAhn Jae-hongJae-Hyun ChoiWhiskey and cigarettes, the only ways of keeping her dignity in this city.A sul-coreana Jeon Go-Woon faz de seu début como realizadora um manifesto pessoal contra as pressões sociais da vida adulta e como a bolha imobiliária das grandes cidades, no caso Seul, força renúncia de hábitos e autoafirmação. A jornada de Miso [Esom] para driblar o sistema e suas expectativas é, ao mesmo tempo, árdua e inspiradora. Go-Woon parte de uma observação de personagem para levar a saborosa narrativa a ressignificar o contexto das relações – ela procura abrigo, sem muito sucesso, com cada ex-membro da banda da juventude e sente de perto seus dilemas por entrarem no ‘padrão’ esperado pela sociedade – e o próprio espaço urbano enquanto ‘ter um lugar’ para ser vista como ‘responsável’. O desfecho, a imagem final, nada contra maré, sem trocadilho intencional, e é a cereja desse bolo.
* * * ½ Monteiro Júnior
20.04.19 - Mubi - DirectorIngmar BergmanStarsLiv UllmannErland JosephsonAino TaubeTwo psychiatrists have their marriage tested when one suffers a mental breakdown.A maneira como Bergman mergulha sua câmera na depressão da protagonista faz a própria energia do quadro reagir às mudanças internas dela. Chega a ser de uma cinestesia árdua. Liv Ullmann, por sua vez, se deixa consumir, corpo e alma, na atmosfera que trafega estados de realidade e sombrio onirismo e nos devolve toda essa exaustão no olhar que parece gritar para dentro de si mesma. Não é um filme fácil, que se assiste levianamente, e cujo ritmo anda na cadência pesada do psique da personagem – é a versão ‘compacta’ de uma narrativa para a tv de quase três horas. Camadas de medos e traumas vão sendo expostas e revelando neuroses profundas da natureza humana. A obra fecha num arremate textual brilhante e comovente.
* * * ½ Monteiro Júnior
23.04.19 - Mubi - DirectorOlivier AssayasStarsGuillaume CanetJuliette BinocheVincent MacaigneSet in the Parisian publishing world, an editor and an author find themselves in over their heads, as they cope with a middle-age crisis, the changing industry and their wives.Assayas pode até assumir suas referências em Éric Rohmer, mas a impressão é que ele aspira a um Woody Allen mais antenado com a própria época. Espertinho que é, acelera o ritmo dos diálogos para, se isso é mesmo possível, dinamizar a verborragia pós-intelectual presa no plano/contraplano e que usa a desculpa do enredo neurótico-burguês para discutir tendências ululantes no universo literário com indiscreto ar de sofisticação. Vai do crescimento das publicações online à aborrecida problemática da autoficção como se descesse a ladeira rolando. Sorte ele escrever com fôlego e ter um arsenal de atores cujos carismas dão conta da quase farsa. Até por não termos aqui um protagonista único, mas uma ciranda de infidelidade bem à francesa.
* * * Monteiro Júnior
23.04.19 - Cinépolis Rio Poty, sala 7 - DirectorJoel EdgertonStarsLucas HedgesNicole KidmanJoel EdgertonThe son of a Baptist preacher unwillingly participates in a church-supported gay conversion program after being forcibly outed to his parents.Edgerton é habilmente discreto ao ir descamando as chagas amargas do pensamento de que é possível mudar quem as pessoas são numa espécie de realinhamento comportamental – terapia de conversão lá nos Estados Unidos; ‘cura gay’ por aqui. O filme opera sempre na frequência dos dramas interiores, silenciados, que apenas afastam emocionalmente todos aqueles cujo amor entre si deveria ser a única coisa a importar. Baseia-se nas memórias de Garrard Conley para mostrar o quanto é o próprio ser humano que falha em seu dissimulado senso de humanismo.
* * * Monteiro Júnior
24.04.19 - Looke - DirectorAnthony RussoJoe RussoStarsRobert Downey Jr.Chris EvansMark RuffaloAfter the devastating events of Avengers: Infinity War (2018), the universe is in ruins. With the help of remaining allies, the Avengers assemble once more in order to reverse Thanos' actions and restore balance to the universe.A épica conclusão de uma era segue enredo com poderoso espírito corporativista: celebra e homenageia o próprio decênio do Universo Cinematográfico Marvel para entregar o maior ‘fan service’ da sétima arte até agora. Três horas voam no Reino Quântico e fazem dos Vingadores finalmente vingadores nesse amálgama de grandes e pequenos arcos a serem completados com todas as pompas esperadas de um espetáculo do gênero super-heróis no cinema.
Também atesta um agridoce paradoxo existencial: a melhor parte é a espera. Sempre há algo de melancólico em encarar o momento, não importa se ele surpreenda ou frustre. Minha sensação na sessão de estreia foi meio a meio, como a balança do equilíbrio almejada por Thanos. Ao filme, então: SPOILERS ON.
Em primeiro lugar, é bom comprovar que a segunda parte da Saga Infinito sustenta as decisões tomadas em ‘Vingadores: Guerra Infinita’|2018. Quem morreu antes do Estalo do Titã Louco não retorna na mesma leva de quem virou poeira. O que não quer dizer que não haja malabarismos para garantir a presença de alguns. O primeiro ato talvez seja a melhor coisa do filme, mesmo longe de ser a melhor coisa da coisa. A participação da Capitã Marvel passa anos-luz de ser devidamente explorada, seja em sua entrada ou no ato final. O ‘hype’ que vimos na cena pós-créditos com Fury ano passado não se realiza, a personagem quase não faz falta. Fomos ludibriados?
Por outro lado, a atmosfera dos heróis sobreviventes ao Estalo rende aquela sensação de fracasso que reverbera em cada um de maneira distinta – da introspecção da Viúva Negra, ou do Capitão América mediando terapias de grupo, ouvindo os lamentos de um dos diretores do filme, Joe Russo, ao Thor transformado em pastiche. Incrível como a Marvel não abre mão do humor nem depois do fim do mundo. Eu ingenuamente esperava um tom mais sério. Não tipo a DC, óbvio, mas...
O ‘time heist’ [assalto no tempo é um bom trocadilho da tradução brasileira, convenhamos] é ao mesmo tempo [pardon] a grande sacada do filme, em termos de glorificar a marca Marvel, e o calcanhar de Aquiles da estrutura. Fazer os heróis roubarem as Joias do Infinito dos filmes anteriores do UCM é corporativamente uma ideia genial, além de divertido revisitar cenas por outro ângulo. Na prática, porém, soa como um repeteco ao contrário de ‘Guerra Infinita’, onde é Thanos quem passa o filme atrás das joias. Aqui há uma lógica quântica, digamos, quadrinhista de viagens no tempo, o que insuspeitamente [ou descaradamente?] promete servir a um plano ainda mais audacioso do estúdio dirigido por Kevin Feige. O futuro promete ser uma bagunça.
Até seria empolgante caso o ‘time heist/tour UCM’ ocupasse metade do segundo ato e culminasse num ponto médio mais equilibrado da narrativa, como se poderia esperar de uma trama de três horas [e um minuto]. Não, cara pálida, o ‘time heist/tour UCM’ é o segundo ato inteiro. A falsa vitória do Estalo do tal Professor Hulk [um Fera verde?] que traz os desaparecidos de volta, e que seria esse ponto médio, já cai no terceiro ato direto. Meio que impede a montanha-russa de fazer uma curva inesperada e dar um sopro criativo no enredo. Estou sendo cínico? Admito que cheguei ao fim da espera com altíssimas expectativas de que as duplas Markus/McFeely [roteiristas] e os irmãos Russo [diretores] fossem enveredar por desvios menos cômodos.
Claro, é apoteótico quando todos os super-heróis Marvel, até os que voltam da poeira, se agrupam para encarar Thanos e seu exército uma última vez. Alguns planos gerais dão a dimensão do evento como verdadeiras pinturas impressionistas. E ainda conseguem promover, quase na prorrogação, um bem-vindo levante digno do empoderamento feminino do nosso tempo. Por outro lado, nem todos os setups do enredo – digo, do Grande Enredo Marvel – são recompensados, assim como a lógica flexível da física quântica usada para entrelaçar as linhas temporais, e anular por completo a necessidade dos paradoxos, por vezes escapam à organicidade da própria história e chegam mesmo a nos distrair da imersão naquele universo.
Distração essa que não é gratuita. Se temos arcos individuais se fechando, os do Homem de Ferro e Capitão América são destacados, também testemunhamos a conclusão de um arco maior: o do próprio Universo Marvel. E justo com o personagem que o estabeleceu, fazendo um link com sua primeira aparição, lá em 2008, ao ressignificar o modo como ele, Tony Stark, lida com a própria identidade heroica: da arrogância de ser o Homem de Ferro ao altruísmo de se sacrificar justamente por sê-lo.
Não que o UCM vá se acabar, pelo contrário. Reino Quântico? Viagem no tempo? Linhas temporais alternativas sendo criadas? Respire, pois uma das coisas que tornaram um caos [para mim, pelo menos] acompanhar os quadrinhos de super-heróis pode estar migrando para o cinema. Ao que as pistas do filme indicam, podemos estar diante da gênese do MUCM, Multiverso Cinematográfico Marvel. Que já começaria – há tentativas de análise sobre – deslizando na própria lógica com o desfecho dado ao Capitão América. Ele envelheceria numa diferente linha do tempo, não fazendo sentido ele aparecer naquele banco. Assim como a conversa entre Banner e a Anciã parece frouxa para justificar o final do Capitão, pois, mesmo devolvendo a joia a 1945, ele altera o curso da História ficando com Peggy Carter. Ou a quântica do roteiro ignora o efeito borboleta também? Aquele velhinho no banco deixa um leque de questões em aberto que não estão neste filme. De qualquer maneira, fecham-se ciclos, criam-se novos, o universo se expande e tudo é possível. O choro por uma morte hoje é o sorriso de amanhã graças ao artifício de, por que não, trazer o morto direto de uma realidade paralela para ajudar a trupe. Mas a trupe de qual realidade?
Não custa repetir num suspiro: o futuro promete ser uma bagunça. Espero que não. Se Feige é tão gênio quanto Stan Lee [em outra ótima ponta póstuma] na administração da Marvel nos cinemas, a História pode dizer melhor do que eu. Só sei que não há nada de inocente quando o processo criativo parte, e retroalimenta as próprias referências, na instituição Marvel/Disney. Ou vou acha puramente casual um rato ser o responsável indireto pela provável criação desse ambicioso multiverso corporativo?
* * * Monteiro Júnior
25.04.19 - Cinema Teresina, sala 7, 2D - DirectorDan ReedStarsMichael JacksonWade RobsonJoy RobsonAt the height of his stardom, the world's biggest pop star, Michael Jackson, began long-running relationships with two young boys, aged between seven and ten, along their families. They now allege that he sexually abused them.Não se trata de o que seria a verdade, uma instância fundamentalmente inapreensível até para um documentário. As quatro horas testemunhais em torno dos abusos sexuais que teriam sido cometidos por Michael Jackson em Wade Robson e James Safechuck trafegam de forma empática pelas consequências devastadoras nas vítimas e suas famílias. O britânico Dan Reed parece assumir na fé toda a parcialidade da narrativa que, enquanto descontrói sem dó a figura do Rei do Pop, tenta construir um relato complexo e tortuoso de como Robson e Safechuck, que já foram importantes testemunhas a favor do astro nos processos de 1993 e 2005, mudaram por completo suas versões. A longa duração é um elemento crucial para essa construção. A alienação dos pais ao que acontecia com os filhos talvez seja, depois do crime em si, o mais complicado de absorver. Desconcertante de assistir [ambos são gráficos nas descrições] e impossível ficar indiferente.
* * ½ Monteiro Júnior
28.04.19 - HBO GO - DirectorCédric KahnStarsAnthony BajonDamien ChapelleAlex BrendemühlThomas is a drug addict. In an effort to put an end to his habit, he joins a community of former addicts who live isolated in the mountains and use prayer as a way to cure themselves.O francês Cédric Kahn constrói esse conto simples, mas funcional, de ir-se contendo paulatinamente a própria raiva existencial. Ao mesmo tempo, tenta refletir sobre a descoberta da fé como o mistério do equilíbrio interior – e os caminhos bifurcados aos quais ela pode conduzir. Muito do filme vem da espontaneidade do elenco jovem e da atmosfera montanhosa da França profunda. O protagonista, Anthony Bajon, ganhou o prêmio de ator no Festival de Berlim.
* * ½ Monteiro Júnior
28.04.19 - Telecine Play - DirectorJoão Pedro RodriguesStarsPaul HamyJoão Pedro RodriguesXelo CagiaoFernando, a solitary ornithologist, is looking for black storks when he is swept away by the rapids. Rescued by a couple of Chinese pilgrims, he plunges into an eerie and dark forest, trying to get back on his track.A excursão pasoliniana do português João Pedro Rodrigues pelos simbolismos cristãos é uma controvérsia no mínimo instigante. A atmosfera dribla as próprias armadilhas ao parecer estar sempre atraída por uma bruma de onirismo nessa incomum busca existencial. E muitíssimo bem fotografada.
* * ½ Monteiro Júnior
29.04.19 - Mubi - DirectorFrançois TruffautStarsJean DesaillyFrançoise DorléacNelly BenedettiPierre Lachenay is a well-known publisher and lecturer, married with Franca and father of Sabine, around 10. He meets an air hostess, Nicole. They start a love affair, which Pierre is hiding, but he cannot stand staying away from her.O quarto longa de François Truffaut é a narrativa procedural de um adultério com vigor próprio e, dizem, alguma dose semiautobiográfica. Em atmosfera de crônica, quase indecentemente amoral, sustenta um tom singular até o instante no qual se resolve pelo agridoce desfecho melodramático. Perdido da memória coletiva entre dois ótimos filmes, ‘Jules e Jim – Uma Mulher para Dois’|1962 e ‘Fahrenheit 451’|1966, possui uma câmera ágil com um truque e outro à la nouvelle vague, mas sofisticada, e que olha não apenas para o comportamento dos personagens, e sim para suas reações emocionais – de certo é ótimo o jogo do apagar e acender as luzes no compasso do estado de espírito do protagonista. Françoise Dorléac, a ‘pele doce’ do título original que Jean Desailly e a câmera alisam no hotel em Reims, irmã de Catherine Deneuve, morreria três anos depois num acidente de carro. Detalhe para a cena do gatinho do lado de fora do chalé que foi reutilizada em ‘A Noite Americana’|1973.
* * * Monteiro Júnior
30.04.19 - Mubi