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- DirectorMichael WinterbottomStarsKieran O'BrienMargo StilleyRobert Levon BeenIn London, intense sexual encounters take place between an American college student, named Lisa, and an English scientist, named Matt, between attending rock concerts.[Mov 03 IMDB 4,9/10 {Video/@@@} M/43
9 CANÇÔES
(9 Songs, 2004)
Um filme completamente vazio sobre sexo.
Um rapaz inglês, sobrevoando a Antártida, começa a se lembrar de seu namoro, há um ano, com uma estudante americana em Londres, só que ele tem apenas duas lembranças com a moça: o tempo que passaram juntos em concertos de música e na cama. Não tarde na duração do filme, a estrutura deste se torna clara ao público: tórridas cenas de sexo, entrelaçadas por shows ao vivo de bandas de rock (nove, para ser exato), e com esporádicas – e curtas – cenas na Antártida, dadas no presente. Um estilo de metragem rítmica previsível e cansativo, que faz o espectador instantaneamente se perguntar: Há algum filme aqui?. Não tiremos conclusões precipitadas; Michael Winterbottom tem crédito no currículo, merece uma análise mais profunda. Este é, até o momento, o filme mais audaz e experimental da carreira deste eclético diretor, aqui completando 10 anos de carreira, e conseguiu uma inédita aprovação sem cortes do órgão regulador da Inglaterra, com uma censura de 18 anos. As numerosas cenas de sexo têm a explicidade de uma produção pornográfica, com bem detalhados momentos de sexo oral (tanto por parte da garota quando do rapaz), masturbação, penetração e mesmo uma inédita cena de ejaculação. Não que isto seja novo, pelo contrário; já em 1933, Ecstasy chocara o público com um eroticismo aberto e impensável na época; as revoluções culturais da década de 60 e 70 nos brindaram com diversos filmes cuja ousada temática sexual impressionam até hoje, sendo mais famosos Último Tango em Paris do Bertolucci, Diabo no Corpo de Marco Bellocchio e Império dos Sentidos, do Nagisa Oshima. Mas todos estes filmes fizeram uma abordagem de acordo com o clima de liberdade sexual, acompanhando mudança dos paradigmas da sociedade e fazendo reflexões importantes acerca do relacionamento e solidão. Mas 9 Canções não tem nada disso, apenas mostra um casal vivendo uma relação estritamente sexual. Sequer consegue nos chocar, ainda mais numa época em que os filmes da Catherine Breillat fazem isto muito bem sem precisarem ser explícitos. A princípio, este novo projeto do Winterbottom soa como um ode vazio à ideologia de sex, drugs and rock (sim, eles também se drogam, ainda que moderadamente) e parece ter parado no tempo. À exceção de uma cena onde Matt prende Lisa na cama com um cinto e venda seus olhos, simulando uma fantasia imaginária (feita toda sobre planos alternados), os atos sexuais do filme não são nem interessantes nem inspirados; não se trata de uma paixão avassaladora, nem de explorar os limites físicos e morais do ato. A proposta do filme é a de uma relação estritamente sexual e casual entre dois jovens, talvez o tipo de relacionamento mais comum hoje em dia. Não há brigas nem reflexões, e qualquer tentativa de uma aproximação mais séria é falha, como no fim de semana que os dois vão passar numa cabana na praia; os longos passeios pela vastidão deserta se provam pouco eficientes e cansativos, e tudo logo se resume à cama. Em uma outra cena, Matt senta pensativo na quina da cama, logo após transar, enquanto ouve Lisa se deliciar com um vibrador; ele, visivelmente aborrecido. Talvez por ser mais velho, tenha uma concepção mais fechada e romantizada de relacionamento, mesmo sendo apenas carnal, e por várias vezes dá para perceber seu contraste com a jovem e despreocupada Lisa, que se gaba de já ter namorado pessoas das mais diferentes nacionalidades. Também é ela que resolve voltar aos Estados Unidos sem maiores complicações, deixando Matt a solilóquios na Antártida, sobre a posição dos relacionamentos amorosos. O próprio ato sexual é visto no filme sem maior glamour ou intensidade, numa visão naturalista, tendo a bela fotografia do filme (todo filmado em digital, e destacando a luz natural) reforçando este aspecto. Com um tema interessante e passível de várias reflexões, o que poderia ter dado errado? Simplificando, o casal. Ao longo dos 69 minutos de filme (sim, foi intencional), os atores Kieran O'Brien e Margo Stilley provam ser bastante profissionais, porém nem um pouco talentosos. Não há química alguma entre os dois, em momento algum a relação parece convincente, e um parece desejar o outro. Também os diálogos, todos improvisados pelos mesmos (um erro do diretor em não delimitar as falas), soam idiotas e falsos, além de completamente inúteis. Teria sido uma abordagem interessante, caso ele tivesse trabalhado com um casal de verdade, mas este não foi o caso. O próprio diretor tem suas falhas graves, ao se concentrar demais na relação e não nos possíveis conflitos que poderiam surgir, deixando o longa com cara de uma das recentes produções de crise de meia idade do Antonioni; além disso, as nove canções do título, filmadas como um videoclipe, não adicionam nada ao filme, sequer falam sobre qualquer tema abordado e parecem completamente aleatórias. E é este exato fato de termos de procurar chifre em cabeça de cavalo para acharmos algo de mais rico e trabalhado que faz deste filme uma tentativa válida, porém fracassada." (Roberto Ribeiro)
"Sabe aquela máxima: sexo, drogas e rock n roll? "9 canções" (9 songs, 2004), de Michael Winterbottom (Código 46), é sobre isso. Um filme sobre sentimentos comuns e vividos por pessoas simples. Em Londres, a história de um jovem casal, formado por Matt e sua namorada americana Lisa, é contada a partir de seu relacionamento sexual. As cenas que mostram seus encontros, de teor explícito, são alternadas a trechos de apresentações ao vivo de grupos como o Primal Scream, Black Rebel Motorcycle Club e Franz Ferdinand, entre outros. A história começa com Matt narrando como foi sua relação com Lisa. Ele está a caminho da Antártida e começa a relembrar os acontecimentos. O diretor quis recriar o dia-a-dia de um casal de jovens apaixonados. Eles se conheceram num show na Brixton Academy, em Londres, e acabaram vivendo um romance. A partir daí, assistimos a cenas comuns do casal. Eles acordam, fazem sexo, tomam café-da-manhã, fazem sexo, almoçam, fazem sexo, trabalham, fazem sexo, saem e, antes de dormir, fazem sexo. Fatos que acontecem quando o relacionamento é recente e apaixonado. O sexo protagonizado pelo casal é forte e bonito. Eles praticam de todas as formas e fazendo jogos. Todos os movimentos em busca do prazer são mostrados explicitamente. Os mais puritanos podem pensar que se trata de uma desculpa para se mostrar cenas pornográficas. Não é isso. É simplesmente um casal apaixonado derrubando todos os limites. Eles se divertem, transam e até brigam. Logo que acontece essa briga, Matt acaba indo sozinho para o show do Super Fury Animals. A música apresentada é Slow Life. A letra da canção retrata metaforicamente o mix de sentimentos que ele está vivendo. Todas os acontecimentos vem pontuados pelas apresentações das bandas. Não é um filme intelectual, é simplesmente um exercício sobre os relacionamentos. A reflexão de Matt vai levá-lo a comparar sua situação com seu trabalho. Na Antártida, blocos de gelo se separam e depois trafegam em direção aos oceanos. Esses blocos chamados icebergs, ao derreterem acabam fazendo parte do mar. É justamente isso que ele viveu. O jovem inglês se separou de um bloco maior e se uniu a Lisa. Ao término, ele faz o caminho inverso e volta à sua origem. O ciclo se fecha com a apresentação da banda Black Rebel Motorcycle Club, a mesma de quando eles se conheceram. "9 canções" é direcionado a um público jovem interessado em curtir a vida onde ela se faz mais comum. Rock e sexo na medida certa como fonte inspiradora da própria realidade." (Mario Abbade)
''A tríade "sexo, drogas e rock-and-roll" é, possivelmente, uma das mais notórias da cultura pop. Se não a mais. Fácil cair no clichê ao explorá-las, a não ser que você resolva "chutar o pau da barraca" e fazer um filme intercalando cenas de sexo explícito e shows de rock das bandas mais descoladas da atualidade. Está aí a fórmula tão polêmica e artisticamente bem-sucedida de 9 Canções, honesto tratado de amor ao sexo e ao rock dirigido por Michael Winterbottom (A Festa Nunca Termina). Matt (Kieran O'Brien, que já trabalhou com o diretor em filmes anteriores) e Lisa (a estreante Margot Stilley) são fãs de rock-and-roll. Eles se conhecem em um show do Black Rebel Motorcycle Club - devidamente documentado pelo diretor - e, desde então, passam a viver um relacionamento baseado em sexo. Pelo menos é essa a impressão que temos, uma vez que as cenas entre os dois presentes no filme são sexuais. O relacionamento dura aproximadamente um ano e, durante esse tempo, o filme nos mostra não apenas sua intimidade, mas também os shows que freqüentam. As músicas escolhidas sempre têm a ver com o momento pelo qual o casal está passando: nada melhor do que iniciar e terminar esse ciclo na vida de ambos com Black Rebel Motorcycle Club tocando ao vivo Whatever Happened To My Rock and Roll no começo e Love Burns no final. Além da banda norte-americana, outras também são inseridas em apresentações ao vivo durante os sugestivos 69 minutos de filme, como The Von Bondies, Elbow, The Dandy Warhols, Primal Scream, Super Furry Animals e Franz Ferdinand. Terreno delicado esse no qual Winterbottom pisa para executar este projeto. Trata-se de uma obra explicitamente pessoal e intimista. As intenções parecem ser claras e, apesar da mesmice no roteiro e do ainda chocante sexo explícito entre os protagonistas, 9 Canções consegue limpar a aura suja que o ato sexual ganha nos filmes pornôs por meio de sua belíssima fotografia, baseada na luz natural dos ambientes e corpos filmados. Não é sexo de filme pornô, com loiras turbinadas e gemidos estupidamente artificiais. É sexo entre duas pessoas absolutamente normais, que fazem coisas na intimidade como eu ou você. Apesar disso, não há como não se sentir chocado. Não por ser um filme ruim, ou porque o próprio sexo seja ruim, mas esse tabu relacionado ao ato ainda está intrínseco. Por isso a polêmica. Uns consideram 9 Canções pura pornografia ofensiva disfarçada de arte. Outras, como eu, acreditam que o filme não é ofensivo, muito pelo contrário. Afinal, quem nunca quis ver um filme pornô muito bem filmado com uma trilha sonora incrível?" (Angelica Bito)
''Lembro que ao ver no jornal a história deste filme, fiquei bastante interessado, principalmente pela participação em forma de show do The Dandy Warhols e do Michael Nyman, os que mais conhecia e mais gostava. O primeiro uma banda indie que traz bastante bagagem da década de 80, e ainda cria um som superior as rivais; o segundo, um pianista fantástico. Ainda trilhariam pelo percurso de menos de 70 minutos outras seis bandas: Black Rebel Motorcycle Club (abre e encerra a trajetória das ''9 Canções''), The Von Bondies, Elbow, Primal Scream, Super Furry Animals e Franz Ferdinand. Tanto que nem se tem muito a dizer sobre a história do filme, ela é praticamente nula, mas nem por isso entediante ou insignificante. Mesmo que em fatos não tenha muito a dizer, as cenas ali presentes dizem muito. Aliás: um casal se conhece num show (Black Rebel Motorcycle Club), e começam um relacionamento. Vemos o decorrer do relacionamento através dos shows seguintes e através de cenas de sexo. O que acabei de dizer acima era ainda do período das pré-estréias. Quando estreou o filme, foi capa da Folha Ilustrada do dia. Empolgado fui ler a matéria. Fiquei tão desapontado com tal matéria, não por maltratar o filme, esculachando-o, mas por compará-lo ao mais que execrável O Império dos Sentidos, e por Michael Winterbottom ter este último filme como grande influência e inspiração. Reanimei-me novamente e resolvi encarar o filme, e aqui estou, feliz, por não ter me deparado novamente com um pornô de péssima qualidade. Sexo pode dizer muito mais que indecência, pecado, pornografia, ou mesmo, apenas prazer. E acho que é aí que Winterbottom ganha meu apreço (ao menos nesse filme, pois é o único que vi de sua filmografia). Tais cenas não transpiram apenas sensualidade, transpiram beleza, sentimentos, empenho, melancolia e ganha uma dimensão muito maior que O Império dos Sentidos, por exemplo. Neste vemos o sexo como mero instrumento de chocar a platéia, querendo mostar um sexo sem paixão e sem conexão, sexo por sexo deixa de ser arte e torna-se pornografia; naquele, vemos duas pessoas que transam pelo prazer, não apenas sexual, mas o prazer daquelas almas que se encontram, é um sexo vivo que foge aos corriqueiros gritos escandalosos, caras exageradas de prazer e tentativas de excitar a platéia – como em qualquer filme pornô de quinta categoria -, e torna-se belo por ser comum, ao som de Nadia de Nyman. Quando estão prestes a tomar café da manhã e surge aquela ânsia por parte dela por possuir aquele corpo mais uma vez naqule curto período que tinham, o sexo transforma-se em poesia, com uma música linda, uma cenografia espetacular, e toda aquela paixão e fluidez vinda do casal. Isso sim é arte, arte emociona com o mais simples acontecimento do cotidiano, como o sexo. Diálogos nem sempre são fundamentais, porque tal cena diria muito mais e emocionaria muito mais que qualquer diálogo de qualquer filme metido a besta e a pop. Além dos trechos que shows que são exibidos (gostei de todos exceto de Whatever happened to my Rock and Roll do Black Rebel Motrocycle Club), trazendo bastante coisa interessante e nova para mim, ainda posso me deparar com fantásticas cenas de decepção e melancolia. O relacionamento já não era o mesmo, Matt mal se comunica com Lisa, não saem mais juntos. Acho que nada cairia melhor para mostrar tal desmoronamento da relação do que quando, após mostrar-se indisposta para sexo, ele a vê masturbando-se no quarto e obtendo o prazer que não conseguia mais com ele, e quando ela se recusa a ir ao show para ficar em casa. Relacionamentos definham-se e constroem-se através de sexo, e também definham-se e constroem-se independente do sexo. E sexo também uma espécie de oráculo, pois é um dos momentos mais vulneráveis da pessoa, e que se percebe muito do que se passa com a pessoa (e não digo apenas o ato em si, mas também as preliminares e o pós-sexo). O humano também é arte, é belo, é proeminente, é instigante, é o filme. Não posso deixar de dar minhas vagas impressões sobre a fantástica trilha sonora. Graças a ela, me interessei em conhecer de fato o Super Furry Animals, fiquei estarrecido com a música do Elbow, gostei de Franz Ferdinand e Primal Scream (uma coisa inédita na minha vida – agora tentarei dar mais uma chance a eles), adorei o estlinho de brincadeira de CMom CMom, do The Von Bondies – mesmo tendo lido que essa é a única música da banda que presta. The Dandy Warhols e Michael Nyman são relamente espetaculares. A fotografia é brilhante. Uma das melhores do ano. Cenários também, principalemnte da área gélida apresentada. Grande filme. A nota está subindo. E toda aquela metáfora com a Antártida também é bem legal. Nem tudo está perdido." (Cinema com Rapadura)
Revolution Films
Diretor: Michael Winterbottom
15.023 users / 1.419 face
Soundtrack Rock = Black Rebel Motorcycle Club + Franz Ferdinand + Super Furry Animals + Elbow + Goldfrapp + The Dandy Warhols + Primal Scream + The Von Bondies + Black Rebel Motorcycle Club
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Date 12/03/2013 Poster - ####### - DirectorSam MendesStarsDaniel CraigJavier BardemNaomie HarrisJames Bond's loyalty to M is tested when her past comes back to haunt her. When MI6 comes under attack, 007 must track down and destroy the threat, no matter how personal the cost.[Mov 08 IMDB 7,8/10 {Video/@@@@} M/81
007 - OPERAÇÃO SKYFALL
(Skyfall, 2012)
''Espião britânico interpretado por Daniel Craig volta debilitado, mais introspectivo e menos mulherengo em novo filme. Na aventura dirigida por Sam Mendes, Bond combate Raoul Silva, vilão efeminado vivido por Javier Bardem. James Bond (Daniel Craig) teve o seu encontro mais próximo com a morte em "007 - Operação Skyfall", que estreia hoje nos cinemas. Após retornar debilitado dessa experiência dramática, Bond perdeu a confiança irrestrita no MI6, o serviço secreto britânico, onde trabalha como espião. Ele restabeleceu a fé quando fez uma jornada ao passado, com uma visita ao casarão onde cresceu, na Escócia. Apesar do apreço por recursos tecnológicos, Bond aposta no seu jeito tradicional de ser no 23º filme da franquia iniciada há 50 anos. Segundo o diretor Sam Mendes, o que está em jogo para o agente são valores como honra, coragem e respeito. Embora seja capaz de incorporar novidades, Bond permanece um herói clássico que luta contra o mal, diz Barbara Broccoli, produtora do longa-metragem e filha de Albert R. Broccoli, dono dos direitos da série para o cinema. Agora, por conta da natureza da sua nova missão, ele não é tão mulherengo. Craig representa, de acordo com Broccoli, um agente mais fiel às características do personagem inventado pelo escritor Ian Fleming (1908-1964). Os conflitos importantes ocorrem na cabeça dele, afirma. Ao equilibrar continuidade e mudança, o novo filme segue uma fórmula descrita por Everything or Nothing, The Untold Story of 007, documentário lançado na Inglaterra no início deste mês. Tal como nos 22 filmes anteriores, Bond visita lugares exóticos (Istambul, Xangai e Macau). Passa, porém, mais tempo em Londres. Seduz duas mulheres. É aprisionado pelo vilão. Escapa. Mata o inimigo. E, ao contrário da expectativa, termina sem uma Bond girl a seu lado. O agente 007 se envolve em uma missão pessoal: evitar que M (Judi Dench), a diretora do MI6, seja assombrada por erros do passado. M é perseguida por Raoul Silva (Javier Bardem), o novo antagonista do agente 007. Silva foi um espião tão brilhante quanto Bond. Ele se ressente de decisões da sua antiga chefe que o afastaram da profissão.Silva é um indivíduo alquebrado em busca de vingança, afirma Bardem. O ator espanhol diz procurar a humanidade dos personagens que encarna. Silva usa roupas chamativas e pinta o cabelo de loiro por sugestão de Bardem. Não foi apenas para ser divertido. Há um motivo para Silva ter uma relação extravagante com a própria imagem, explica o ator, referindo-se à deformação física do personagem. No primeiro encontro com Bond, Silva exibe um comportamento efeminado. Ele assedia o agente, imobilizado em uma cadeira. A resposta do espião é desconcertante." (Francisco Quinteiro Pires)
"Em seu 50º aniversário, a série aborda uma questão muito pertinente ("a inevitabilidade do tempo"), de modo consistente e irreverente e ao aliar o clássico ao moderno renasce bebendo da fonte de filmes de ação recentes. Muitos acharão o melhor da franquia" (Rodrigo Torres de Souza)
"Skyfall é o melhor da fase de Craig, embora não queira dizer muito. Traz os mesmos cacoetes de sempre, as referências à série são bacanas para os fãs, mas ainda estou em dúvida se o excesso de realismo ajuda ou atrapalha a imagem de Bond." (Alexandre Koball)
"O filme recente que melhor balanceou essa nova personalização de Bond com algumas de suas características mais vanguardistas. Filmaço e Barden rouba muito a cena, como todo vilão inesquecível de Bond deve ser, algo até então falho nos filmes de Craig." (Rodrigo Cunha)
"Ao assumir a ausência de um inimigo contra o qual se deve lutar, "Skyfall" coloca em xeque o papel de Bond e da própria série como um todo. Some-se a isso, a figura materna de M como uma bond-girl disfarçada, e temos um dos melhores filmes da franquia." (Régis Trigo)
"Roger Deakins, Sam Mandes e Javier Bardem fazem Skyfall. O primeiro pela fotografia elegante, o segundo por aproveitá-la para resgatar o charme da série e por imprimir a dose certa de ação. Já o último por ganhar de vez o público quando entra em cena." (Emilio Franco Jr.)
"Síntese de todos os filmes de James Bond, onde a ação do tempo é suspensa e se mesclam sem dificuldade todas as constantes antigas e atuais da série. A atenção dada aos dramas pessoais do personagem é interessante, porém dispensável." (Heitor Romero)
"Sam Mendes invade o passado de James Bond neste filme que é o mais intimista da série, com atores se revirando para entregar bons personagens e uma trama que condensa energia e ponderação. Alusão ao tempo." (Marcelo Leme)
''Diferentemente de tantos heróis que renascem do nada, James Bond optou por renascer de fato: logo na abertura de "007 - Operação Skyfall" ele leva um tiro e é dado por morto. Mas está bem vivo, na verdade, e bem longe, enchendo a cara em tempo integral. Ao voltar, está fora de forma, é certo. Mas a poderosa agência dirigida por Judi Dench, M, também está cambaleante: o prestígio de M está no chão, e a sede da agência sob ataque. Ao voltar, 007 encontra um mundo diferente. Em vez dos velhos gadgets, agora há um mundo de nerds à sua espera. É esse novo mundo que o 007 de Daniel Craig terá de enfrentar e no qual se desempenhará como o Bond mais atlético de todos os tempos. Bem atual, este é dos melhores 007 desde 1962.'' (* Inácio Araujo *)
"De volta a "007 - Operação Skyfall": o filme teve 8,5 milhões de espectadores no Brasil. Um grande número para um velho herói. Mas também uma prova de que um filme cheio de imaginação em sua trama, de energia nas atuações, de eficácia na realização leva público ao cinema. Essa é a diferença entre este 007 e a maior parte dos blockbusters recentes, quase sempre apoiados muito mais nos efeitos do que na imaginação. Filmes como "Skyfall" têm a virtude nada complementar de fazer as pessoas (a garotada, em especial) gostarem do cinema, que encham os olhos, que façam sonhar. Ou, em resumidas contas: Bond chega aos 50 anos produzindo um 007 novo em folha, mas sem renegar a tradição." (** Inácio Araujo **)
Empolgante e bem construído, talvez seja o filme que mais desenvolve o personagem em toda a história da série.
''Como qualquer outro herói do Cinema, James Bond é um reflexo de seu tempo. Em seus mais de quarenta anos de atividade, o agente com licença para matar enfrentou o comunismo, participou de aventuras relacionadas à corrida espacial e combateu vilões com o poder da mídia, quase sempre traduzindo em seus filmes a época na qual a história se passava. A própria reinvenção do personagem, realizada por Martin Campbell e Daniel Craig no excelente 007 - Cassino Royale (Casino Royale, 2006), é um exemplo disso, apresentando às plateias o Bond do século XXI, cria das aventuras de Jason Bourne: saía o super-herói invencível, quase sobre-humano, para entrar um agente real, falível, com defeitos e virtudes críveis.Em ''007 – Operação Skyfall'' (Skyfall, 2012), no entanto, o diretor Sam Mendes e os roteiristas John Logan, Neal Purvis e Robert Wade acrescentam algo novo à série. Dessa vez, James Bond não é apenas um reflexo de seu tempo, mas também uma vítima dele. Sim, o terceiro filme do agente estrelado por Daniel Craig ousa colocar Bond como um veterano que insiste em permanecer em atividade, mesmo que canse e sofra com a idade já avançada para a tarefa que desempenha. Talvez pela primeira vez em toda a franquia, Bond é visto passando por testes dentro do MI6, precisando provar a sua aptidão. Da mesma forma, Mendes encena um plano com o simples propósito de exibir a exaustão do agente após se exercitar nadando em uma piscina, sem contar as constantes conversas dos personagens sobre o tempo ser implacável ou o fato de a atividade de 007 ser coisa para jovens. Com isso, James Bond se afasta de uma vez por todas daquela caricatura que havia se transformado nas últimas produções antes de Daniel Craig (na verdade, uma caricatura que sempre foi), surgindo como um homem de carne e osso. Em 007 – Operação Skyfall, ele é um agente extremamente competente, sim, mas o é por ser bem treinado e extremamente focado no que faz, não por simplesmente ser James Bond. Mais do que isso, o personagem é falível e, principalmente, parece vulnerável: por mais que a plateia saiba que o agente irá sobreviver, Mendes e Craig conseguem transmitir a sensação de que ele realmente está em perigo e de que, apenas talvez, algo pode acontecer a Bond. O clímax situado em uma mansão na Escócia é onde esse sentimento se torna mais claro: ali, os realizadores passam a impressão de que qualquer um dos personagens pode não sair vivo. Assim, ''007 – Operação Skyfall'' também ganha algo que a série pouco teve em seus 50 anos de existência: tensão. Por ter sido tratado, na maioria das vezes, como uma caricatura, sempre foi difícil sentir o protagonista realmente em perigo, ainda que tenha sido divertido assistir a suas peripécias. Aqui, ao contrário, há momentos em que Bond parece realmente em problemas, e a plateia sente tal vulnerabilidade, fazendo o filme crescer em nervosismo. Além do trabalho do roteiro na construção do personagem, pesa para isso também o excelente – e por que não surpreendente? – trabalho de Sam Mendes na direção das cenas de ação: acostumado a filmes menos movimentados, o cineasta se sai muito acima da grande maioria dos diretores do gênero, orquestrando bem a mise en scène e evitando o excesso de cortes que prejudica a apreciação do que está acontecendo. Mendes, na realidade, parece se inspirar bastante no estilo de Martin Campbell em 007 – Cassino Royale, apostando em planos aéreos com a utilização de dublês e evitando no que pode o CGI, o que traz verossimilhança às cenas – e os longos planos, como a bela luta vista apenas através de silhuetas, apenas contribuem para isso. Talvez não seja exagero algum afirmar que ''007 – Operação Skyfall'' é o filme que mais desenvolve o personagem em toda a história da série. Além de tornar Bond humano e crível através dos elementos já citados, dando continuidade ao que Martin Campbell fez em 007 – Cassino Royale, a produção joga o protagonista em um verdadeiro mergulho rumo ao seu passado. Todo o terceiro ato do filme apresenta um inédito background de Bond, com detalhes sobre de onde veio, traumas de sua infância e até mesmo os nomes de seus pais. Mais do que mera curiosidade, estas informações funcionam de forma a compor o agente como uma pessoa de verdade, garantindo a identificação do público. O que também contribui para isso é o desenvolvimento da relação entre o agente e M – nesse sentido, Mendes dá sequência ao melhor elemento do irregular 007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace, 2008), que estabeleceu quase um relacionamento de mãe e filho entre os dois. Aqui, não apenas M cresce como personagem (e parte para a ação!), como também se firma de vez como uma espécie de protetora ou guardiã de Bond. Interpretada por Judi Dench, a superior do agente mais famoso do mundo surge como uma profissional extremamente dedicada e até severa, mas capaz de defender com unhas e dentes aqueles sob o seu comando. Além disso, o surgimento de um homem que faz parte do seu passado também traz um conflito interno à personagem, que, assim como Bond, também ganha novas camadas, deixando de ser apenas a carrancuda diretora do MI6. Porém, ao mesmo tempo em que busca esse realismo na construção das cenas e dos personagens, Mendes jamais perde a essência de seu icônico protagonista. Seu James Bond ainda é o mesmo da última meia década, apenas mais evoluído. Pequenos detalhes, como arrumar a abotoadura de seu terno enquanto um trem desaba atrás de si ou o fato de ter uma resposta sempre na ponta da língua para as mulheres deixam claro que este é um filme de 007, e não apenas de um novo Bourne. Como se não bastasse, até mesmo a eficiência do personagem não é algo que o espectador precisa apenas aceitar de antemão, mas é apresentada: Bond, por exemplo, é um agente capaz de preferir ficar com estilhaços de bala de seu corpo para não perder provas. Da mesma forma, o bom humor da série também se faz presente em ''007 – Operação Skyfall''. Logan, Purvis e Wade constroem ótimos diálogos, que funcionam tanto no sentido de entreter quanto no de contribuir para o desenvolvimento dos personagens. É o caso, por exemplo, da conversa entre Bond e Q em um museu: repleto de tiradas inspiradas e divertidas (Vejo a porra de um navio gigante), o diálogo também ajuda a trazer à tona o fato de que o agente já deixou seu melhor tempo para trás, ao mesmo tempo em que ainda estabelece a produção como uma cria do século XXI através de uma simples pergunta, quando Bond questiona a simplicidade da arma e do rádio que recebe de Q: O que esperava, uma caneta explosiva?. Mas é o tempo, sem sombra de dúvida, o grande tema de ''007 – Operação Skyfall''. Todos os personagens precisam, de certa forma, acertar contas com o seu passado: Bond acaba retornando às suas raízes para encontrar em si a força necessária, M deve lidar com a culpa e o remorso de ter abandonado um agente no passado e o vilão Silva está em busca de vingança. Cada um tem seus próprios demônios para superar. Enquanto isso, Mendes também brinca com o passado da própria série, criando uma homenagem divertida aos primórdios de Bond ao colocar o personagem em um carro que poderia muito bem ter saído de um dos filmes estrelados por Sean Connery – e o fato de esta cena trazer os acordes do tema clássico do personagem pela única vez na produção certamente colocará um sorriso nos lábios dos fãs. Pela terceira vez assumindo o papel, Daniel Craig talvez tenha realize aqui o seu melhor trabalho como James Bond. Beneficiado pelo roteiro, o ator tem a possibilidade de se expor um pouco mais, buscando as fraquezas do personagem tanto na própria interpretação como através de pequenas escolhas, como deixar a barba crescer para passar a ideia de que ele realmente pode estar velho demais para as missões. Por outro lado, Craig jamais deixa de convencer no papel de um agente extremamente eficaz, exibindo novamente um estilo bruto que combina bem com o novo James Bond. Enquanto isso, a série volta a ter um antagonista à altura após o fraquíssimo bandido de Mathieu Amalric em 007 – Quantum of Solace. O Silva de Javier Bardem é um personagem mais complexo do que parece, com sentimentos conflituosos em relação ao seu próprio objetivo (ele é capaz de amar e odiar M ao mesmo tempo) e ainda tem alguns excelentes momentos, nos quais o oscarizado ator espanhol se delicia, como é o caso da cena na prisão a la Hannibal Lecter e, principalmente, em sua primeira aparição, na qual Mendes apresenta Silva através de um longo plano com um monólogo tarantinesco – e apresentar o vilão com uma conotação homossexual é mais uma forma do filme se distanciar das produções antigas, além de demonstrar uma boa dose de coragem por parte de Mendes. Coragem, aliás, que o cineasta exibe também na própria construção de sua narrativa. Durante boa parte de suas quase duas horas e meia de duração, ''007 – Operação Skyfall'' não traz qualquer sequência de ação, optando por desenvolver a história e os personagens. É algo arriscado para a série, especialmente em se tratando de uma produção voltada às multidões, mas que acaba por ser extremamente benéfica, tirando a obra da superficialidade e dando de oportunidade para Mendes construir alguns significados que podem passar despercebidos, como a rima entre o mergulho de Bond no lago congelado e o início (ressurreição, purificação) e fato de um personagem importante morrer exatamente no lugar onde os pais do protagonista foram enterrados. Até mesmo o clichê da lista dos agentes não incomoda, uma vez que serve apenas como uma espécie de MacGuffin para dar início a uma trama com mais camadas do que o esperado. Trazendo ainda uma sensacional sequência de créditos iniciais e locações inspiradíssimas, ''007 – Operação Skyfall'' pode não ser o melhor filme da série, mas é forte candidato ao posto. Mais importante do que isso, talvez, seja o fato de que se trata realmente de uma evolução para a franquia, um filme capaz de dar um passo à frente, construído sobre tudo aquilo que veio antes, porém ciente de que os tempos mudaram e que aquilo que dava certo hoje talvez não funcione. E isso já é o bastante para criar expectativa em relação à frase: James Bond voltará." (Silvio Pilau)
''Cada novo filme de James Bond se equilibra entre duas expectativas: trazer novidades à franquia, principalmente para atrair o público jovem, mas não corromper o formato clássico do herói, o que pode afugentar admiradores antigos. Após 50 anos, 23 filmes e seis atores no papel do agente 007, a fase do Bond loiro Daniel Craig está em plena forma. "007 Operação Skyfall", terceira longa com ele, lançado nos cinemas no ano passado, é o mais lucrativo da série, arrecadando no mundo todo mais de US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 2,2 bilhões). E, como sempre nos títulos de Bond, é ótimo para ver em casa. O roteiro tem uma divisão quase episódica (que favorece pausas na exibição) e testa a lealdade do agente à chefe M. Craig tem físico e carisma, as garotas são lindas e Javier Bardem brinca de supervilão meio gay. Diversão garantida." (Thales De Menezes)
James Bond faz 50 anos com seu primeiro filme "de autor".
"Em uma cena de 007 - Operação Skyfall, James Bond (Daniel Craig) precisa de armas e vai encontrar Q em um museu. O inventor e fornecedor de arsenal da franquia retorna neste 23º filme interpretado por um ator mais jovem, Ben Whishaw. Os dois sentam lado a lado, diante de uma pintura de um barco de guerra rebocado. Q enxerga ali a melancolia da finitude das coisas. 007 enxerga só um barco grande. Convocado a pilotar uma barca de 50 anos de idade, Sam Mendes parece ver nisso uma missão maior: uma responsabilidade de artista. É o primeiro cineasta "com assinatura" a dirigir um filme da franquia - conhecida por empregar diretores de aluguel e competentes executores - e, por isso mesmo, Mendes traz consigo o peso do autorismo, evidente na fotografia artística cheia de contraluzes e na quantidade de simbolismos por minuto de Operação Skyfall. O velho versus o novo, o analógico versus o digital - as metáforas se enfileiram na trama, em que a segurança de M (Judi Dench) e de todo o MI-6 é desafiada por uma ameaça do passado, Silva (Javier Bardem). Como James Bond representa o velho, ele usa navalha, faca, espingarda, trator, rádio, enquanto Silva prefere helicópteros e computadores. O fato de o vilão negar o arcaísmo do macho em nome de uma visão mais moderna da sexualidade é mais um dentre esses muitos simbolismos autorreferentes. Como Bardem é ótimo mesmo no papel mais afetado, esse antagonismo é o elemento que melhor se sustenta em Operação Skyfall, um castelo de cartas que a todo momento periga se sufocar na sua metanarrativa e ruir sob o peso do solene. Na ação, Mendes às vezes confunde elegância com pose. A cena de luta em Xangai, iluminada só pelos outdoors dos prédios, parece um número do Cirque du Soleil; enche os olhos e tal, mas está longe da desafetação da fotografia noturna urbana de um Colateral, por exemplo. Se Operação Skyfall é um filme que funciona, no fim das contas, é porque o discurso do velho contra o novo sempre esteve centralmente no subtexto na franquia. O 007 de Daniel Craig brinca, diz que seu hobby é a ressurreição, mas James Bond, enquanto ícone da altivez do império obsoleto do buldogue Winston Churchill, sempre precisou se reinventar diante das mudanças. Os Bonds de Roger Moore tinham mais humor porque o absurdo era uma forma de ingleses, escanteados por EUA e URSS, enxergarem a Guerra Fria e a corrida espacial do lado de fora. Já nos anos da AIDS o Bond de Timothy Dalton também precisou se adaptar, uma vez que não pegava ninguém. O que Sam Mendes faz aqui, no aniversário de 50 anos, é transformar todo esse subtexto em texto. Da trilogia que se encerra, Operação Skyfall é evidentemente melhor do que Quantum of Solace mas não tem a qualidade de Cassino Royale (um filme que também era sério e cheio de temas e autorreferências mas não caia na armadilha do autorismo). Se daqui em diante teremos mais filmes "de autor" na cinessérie, é uma questão que fica aberta. Por enquanto, James Bond conseguiu por pouco, na base da auto-homenagem, evitar que virasse de vez uma peça de museu." (Marcelo Hessel)
"A mais longeva franquia da história do cinema fez bodas de ouro em 2012. Há 50 anos, em outubro de 1962, estreava o primeiro filme do agente britânico James Bond. De 007 Contra o Satânico Dr. No para cá foram 23 longas-metragens que amealharam fãs de várias gerações ao redor do mundo. O aniversário, logicamente, pedia um novo filme. Não um filme qualquer, mas algo acima da média. Uma produção capaz de render verdadeira homenagem à trajetória do herói a serviço de Sua Majestade. A grata notícia para os fãs é que ''007 - Operação Skyfall'' é tudo isso: um ótimo filme de ação que faz jus ao legado deixado pelo charmoso espião com licença para matar. Quem vai dar uma festa costuma cercar-se de cuidados para que nada dê errado. Assim fizeram os produtores de Skyfall, que começaram por chamar um bom organizador para o evento: o diretor Sam Mendes, vencedor do Oscar por Beleza Americana. O aniversariante, um grande herói, só se justifica se tiver de confrontar um vilão à altura. Para não dar margem para o azar, convocaram outro ganhador de Oscar: Javier Bardem (Onde os Fracos Não Têm Vez). Junte a isso um bom enredo cheio de referências ao passado do personagem e a festa está pronta para começar. E começa com muita ação, com Bond e a agente de campo Eve (Naomie Harris, de Miami Vice) na cola de criminosos que roubaram um HD com informações sigilosas sobre todos os agentes da MI6, o serviço de espionagem do governo britânico. A sequência é extremamente movimentada e muito bem dirigida, o que deixa o espectador no clima tenso da situação: se não recuperar a arquivo, a vida de todos os espiões infiltrados pelo mundo estará ameaçada. A perseguição nas ruas movimentadas de Istambul envolve carros, motos, trem e até uma escavadeira. Tudo termina, não da melhor maneira, nas águas de um rio. Aqui os fãs têm a primeira das muitas surpresas reservadas pelo longa: uma típica e linda abertura dos filmes de 007 à moda antiga, com muitas cores e efeitos ao som da música-tema do filme na voz maviosa de Adele. Das sequências de abertura dos filmes de Bond, a minha preferida sempre foi a de Moscou contra 007. Tenho duas prediletas agora. Quando as coisas não vão muito bem, James Bond não fica se lamentando. Não faz seu estilo. Dá um tempo nos braços de alguma mulher maravilhosa, toma uma cervejinha à beira-mar depois do sexo - quem pensou que ver o agente tomando cerveja no lugar de seu dry martini ou um espumante Don Perignon 53 ia soar estranho, engana-se. Tudo foi muito bem pensado e soa plausível dentro da situação. E, afinal, Bond gosta de beber e o filme reserva espaço para ele saborear seu Martini, batido e não mexido, e outros drinks, mesmo que em situação pouco agradável. Terminado o descanso, Bond tem de voltar à ação e enfrentar um vilão indigesto: Silva (Bardem). Quem faz as honras desse primeiro contato entre os dois é uma bond girl cuja beleza e classe rivaliza com as belas mulheres que marcaram a carreira do agente. Sévérine, interpretada pela estonteante atriz Bérénice Marlohe, é do tipo capaz de fazer qualquer homem comum desistir de outras coisas menos importantes, como salvar o mundo ou a coroa britânica. James Bond, no entanto, não é um homem comum e segue com sua missão. Antes, claro, prova os encantos dessa beldade sob o chuveiro e a bordo de um iate. Isso é ter classe. Javier Bardem é um show à parte nesta festa de aniversário de 007. O ator faz um tipo cômico e, ao mesmo tempo, capaz de convencer o público de que é uma grande ameaça. Não somente a Bond, mas principalmente a M (Judi Dench), com quem quer acertar contas. Por quê? Isso você só vai saber vendo o filme. De Operação Skyfall é bom saber o mínimo, pois qualquer adendo pode tirar o prazer das muitas surpresas e referências que o filme traz. O pouco necessário está aqui e não vou me alongar mais. Todo o resto é sigiloso e põe em risco minha missão como crítico e a sua como espectador. Há aqui evidências suficientes para tornar obrigatória sua ida ao cinema." (Roberto Guerra)
25*2013 Oscar / 70*2013 Globo
Eon Productions Danjaq
Diretor: Sam Mendes
402.455 users / 78.211 face
Soundtrack Rock = The Animals
Check-Ins 279
Date 12/08/2013 Poster - ##### - DirectorStanley KubrickStarsKeir DulleaGary LockwoodWilliam SylvesterAfter uncovering a mysterious artifact buried beneath the Lunar surface, a spacecraft is sent to Jupiter to find its origins: a spacecraft manned by two men and the supercomputer HAL 9000.[Mov 10 Fav IMDB 8,3/10 {Video/@@@@@} M/86
2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPASÇO
(2001: A Space Odyssey, 1968)
"O ritmo lento da produção incomoda em alguns momentos, principalmente vista hoje. No entanto, o que temos aqui é simplesmente um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos; um filme referência e um espetáculo para os olhos. Imperdível!" ( Welinton Vicente)
"Estrutura narrativa que se rende a suavidade de uma clássica trilha sonora e ao delírio poético de imagens cadenciadas em sequência perfeita. A experiência mais transcendente que o Cinema já proporcionou." (Junior Souza)
"Obra-prima, não só pelos alardeados pioneiros efeitos especiais, mas pela proposta ousada, pelos memoráveis enquadramentos, elipses temporais, poética imagem/som e pela síntese que faz do comportamento humano. Por vezes cansativo, mas sempre instigante! " (Juliano Mion)
"Um épico complexo, que consegue atingir o difícil objetivo de "abraçar o mundo" e traçar uma análise do homem ao longo das eras, com o monolito sendo usado primeiramente como fio condutor na extensa linha de tempo atravessada pelo filme." (Heitor Romero)
"Bela noite para apreciar o cinema de Stanley Kubrick (1928-1999), um cineasta que filmava pouco, mas que tinha o rigor como centro de seus trabalhos (para não falar do talento, que é de uma obviedade assustadora). Retorna de uma tacada três belos filmes: De Olhos Bem Fechados, "2001 - Uma Odisseia no Espaço" e Laranja Mecânica. São histórias bem diferentes (o que era típico de Kubrick). A segunda é para a eternidade (ou sobre ela, em todo caso), a terceira, sobre um momento específico do humano. A primeira talvez seja um testamento e uma reflexão sobre os nossos hábitos. Mas todas se dão bem com as grande-angulares, as lentes preferidas do autor." (* Inácio Araujo *)
''Para encerrar o ano (e abrir outro) existem duas soluções: ou ir a uma festa de réveillon ou ver "2001: Uma Odisséia no Espaço". Eu sei, todo mundo vai ficar com a primeira opção. Até porque a segunda não é tão animadora: propõe enigmas inquietantes no que diz respeito à espécie humana.Não só a seu futuro, é verdade, mas, no que diz respeito ao futuro, estamos ali às voltas com algumas situações não menos estressantes, como a hipótese de inteligências artificiais superarem e mesmo dominarem o engenho humano. Mas não é tanto um ano novo de pânico que nos sugere Stanley Kubrick em seu 2001. Talvez esteja ali, já, a hipótese de um mundo em que a figura humana já não seja central." (** Inácio Araujo **)
A melhor e mais complexa obra de Stanley Kubrick.
''Não estranhe se, assim que terminar de assistir a 2001: Uma Odisséia no Espaço, a sensação que ficar seja de perplexidade, estranheza, incerteza. Isso é normal, afinal, estamos falando de uma (se não for a) das obras mais complexas da história do cinema. Desde que inauguramos o site tenho vontade de falar sobre este filme, mas nunca me senti arduamente preparado para tal missão. Por que? É simples. Kubrick, por si só, já é uma figura enigmática e que emprega subtextos em seus filmes de maneira brilhante, quase sempre pouco perceptíveis, ou que abra um leque de discussões sobre suas obras, afinal, ele nunca mastiga o que quer para nós. Essa característica do diretor atinge seu auge aqui, quando até hoje, passados quase quarenta anos de seu lançamento, continua sendo uma obra de ficção científica atual e discutida, pois nenhuma das interpretações que rolaram até hoje, por mais plausíveis que possam parecer, podem ser consideradas A certa. Como isso? Qual a graça de ver um filme onde não há, aparentemente, um sentido? 2001 é muito mais que isso. O sentido não está no entendimento da história, e sim na reflexão que seus temas, principalmente o homem, proporcionam ao público. É interessante pensar, entender as situações e tentar nos colocar dentro da complexa cápsula do tempo em que 2001 se situa. Sua atualidade, sua ficção e seu deslumbramento se encontram na história, e não em efeitos e ferozes cenas de ação, como a grande maioria dos filmes procuram focar seu interesse. 2001 é feito para neurônios, não para os testículos – e não pense que esta é uma frase preconceituosa, pois 2001 é isso mesmo, um desafio a sua mente. É um filme de questionamentos, não de respostas. É um filme de sentimentos. É um filme a frente de seu tempo (o homem só pisaria na lua, de fato, um ano após seu lançamento). Mas o filme é completo, pensado, perfeito, e até essa lentidão soa como proposital aos olhos dos mais filosóficos, afinal, no espaço, os movimentos parecem ser em câmera lenta. A complexidade técnica causa inveja e estudo até os dias de hoje, mesmo sem existir computadores na época para efeitos especiais (não se esqueçam disso, o que Kubrick fez foi na marra, na técnica, no talento, e até hoje o espaço de 68 continua lindo e convincente). Como não se fascinar, por exemplo, pela bela rotação que a moça dá em certo ponto do filme, saindo de cabeça para baixo pela porta lateral? E a caneta flutuante? E a sala gigante de exercícios, construída para ser rotacional e, em certo momento, Kubrick passeia com sua câmera por ela como se ela fosse plana e estática? E o que dizer da maior elipse da história do cinema, quando partimos da pré-história para o século XXI? A sobreposição de películas para criar um espaço convincente combina perfeitamente com a fina trilha sonora que só mesmo Kubrick consegue combinar em seus filmes – músicas clássicas, antigas, mas que parecem que foram feitas especialmente para as cenas em que são utilizadas, na mais perfeita sinfonia de uma valsa espacial. O número de seqüências clássicas ultrapassa o limite do citável, em uma história definida por três atos: o nascimento, que é toda aquela parte dos macacos pulando, descobrindo seus meios de vida e dando os primeiros passos evolutivos (como ferramentas, deixar de ser caça para se tornar caçador e etc); a luta do homem contra a máquina (quando o super computador HAL 9000 enlouquece com a idéia de ser desligado e passa a aterrorizar sua tripulação) e o próximo passo da evolução humana, em uma psicodélica e diferente seqüência, provavelmente diferente de tudo o que você viu da época - e essas três histórias estão interligadas por um ponto chave, que é o encontro com um monolito, um extraterrestre. Como não poderia deixar de ser, ''2001: Uma Odisséia no Espaço'' é um filme tipicamente Kubrickiano não apenas na história, mas também na forma. Diversos pequenos detalhes enriquecem a obra, como a referência escondida à IBM e HAL, que são as letras anteriores as da empresa. Diz o mito que foi algo proposital, negado pela equipe, mas seria muita coincidência um computador ter uma referência tão clara assim a toa. Os espaços são grandes e brilhosos, com poucos ou estranhos objetos de cena, assim como em diversas de suas obras. A importância de 2001 é cristalina: antes dele, os filmes de ficção científica eram aqueles conglomerados de monstros destruindo cidades, sempre vistos com ar trash – características que, após os mais de 100 milhões de dólares arrecadados em bilheterias e sua importância artística, foram alteradas com o tempo. Hoje, por exemplo, filmes de ficção como Solaris podem ser vistos com outros olhos. Pense que, na época, ainda não se sabia ao certo como a Terra era vista do espaço (no filme, ela é toda azul, não dá para ver os continentes). Ganhou, merecidamente, o Oscar de Efeitos Especiais e foi indicado ainda em outras três categorias: Melhor Diretor, Direção de Arte e Roteiro Original (não é uma adaptação). Uma pena que Kubrick tenha perdido a direção para Carol Reed e seu Oliver!, que hoje é bem menos lembrado. Kubrick era perfeccionista, arrogante, de poucos amigos, mas também um gênio inesquecível do cinema, e 2001: Uma Odisséia no Espaço é sua melhor obra de sua pequena e brilhante filmografia. Apenas ele poderia fazer um filme onde não há o certo e o errado, apenas o complexo em um lugar onde não há nem ar, mas uma bela e sincronizada sinfonia. A combinação perfeita de imagem, som, história, atuação e personagens marcantes. Prepare-se para o turbilhão de informações e curta a vontade, pois nossa equipe, quase em sua totalidade, recomenda 2001 como uma boa pedida." (Rodrigo Cunha)
41*1969 Oscar
Top 250#90
Top 100#41 Cineplayers (Editores)
Top 200#20 Cineplayers (Usuários)
Top Década 1960 #5 Top Estados Unidos #19 Top Inglaterra #2 Top Aventura #4 Top Ficção Científica #2
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) Stanley Kubrick Productions
Diretor: Stanley Kubrick
323.123 users / 17.302 face
Check-Ins 400
Date 08/12/2013 Poster - ########## - DirectorCatherine CorsiniStarsRaphaël PersonnazClotilde HesmeArta DobroshiThis is the tale of a hit-and-run accident that results in the death of an illegal foreigner. Three men, including a young executive, are aboard the vehicle responsible of the accident and decide to keep silent about the whole thing. But a young woman witnesses it and succeeds in finding the driver, and the wife of the deceased.{Video/@@@} M/42
3 MUNDOS
(Trois mondes, 2012)
''Um homem atropela outro e foge. A única testemunha, Juliette (Clotilde Hesme) decide procurar a família da vítima. Assim, acaba envolvendo-se em uma história muito mais densa e complicada do que imaginava." (Filmow)
''Mesmo partindo de um mote previsível - vidas afetadas por um acontecimento -, ''3 Mundos'' encontra boas saídas para as ciladas nas quais o argumento principal poderia lhe jogar facilmente. Entretanto, não consegue empolgar com uma trama arrastada e maçante. O jovem Al, de origem humilde, luta durante anos para crescer profissionalmente dentro de uma concessionária e alcançar uma posição elevada. Por acaso – ou não – fica noivo da filha do dono. Depois do casamento terá parte da companhia em suas mãos. No ambiente da empresa, percebe-se seu desequilíbrio e indecisão entre manter-se um profissional responsável ou ser o cara descolado junto aos amigos que fez ao longo dos anos. Em uma noite com sua faceta descolada, bebe demais e causa um acidente. Com medo de perder as conquistas, foge. Mas não percebe que Juliette viu tudo. Temos o acusado, a vítima e a testemunha. O enredo lembra muito 21 Gramas, mas não tem sua densidade existencialista. Aqui, a questão é social, quase política. A universitária Juliette é parisiense e está grávida de seu professor estrangeiro. Tenta ajudar Vera, esposa do homem atropelado. Imigrantes ilegais na França, o casal não tem direito a nada. A crítica ferrenha às leis do país vem à tona em uma das melhores passagens do filme. Ao discutir sobre doação de órgãos com os médicos, Vera quer cobrar pela possível doação do marido. À reação indignada, dá uma resposta a altura. Ao tentar ajudar a viúva a pagar os custos médicos, Juliette vai atrás de Al. E ouvindo sua versão da história, se comove, não consegue julgá-lo de forma simplista. Esse é um dos clichês do qual Três Mundos consegue fugir, do posicionamento radical frente a um caso polêmico. O grande pano de fundo, exatamente aquilo que não o deixa cair num abismo de mesmice, é a questão de como as dificuldades podem tornar pessoas duras em relação à vida, como podemos agir de forma equivocada com nossos semelhantes para tentar proteger aquilo que conquistamos a duras penas. Raphaël Personnaz (Al) e Arta Dobroshi (Vera) ganham destaque em termos de atuação. Clotilde Hesme força a barra ao tentar parecer frágil e indecisa na pele de Juliette, carregando uma expressão inalterável. Esteticamente, as sequências no subúrbio de Paris são importantes para mostrar o contraste entre a crua realidade e a vida de sonho que Al poderia levar casando-se com a filha do chefe. Um ambiente austero, certamente, não cria pessoas amáveis e capazes de tomar decisões equilibradas. Três Mundos entrelaça vidas em um emaranhado de hostilidade a que todos estamos expostos e ajudamos a construir, sem termos noção onde tanta agressividade sofrida pode nos levar. No entanto, não vai muito além da superfície desse tema profundo - e passa sem deixar marcas." (Cristina Tavelin)
2012 Palma de Cannes
Date 31/12/2014 Poster - ### - DirectorCarl RinschStarsKeanu ReevesHiroyuki SanadaKô ShibasakiA band of samurai sets out to avenge the death and dishonor of their master at the hands of a ruthless shogun.{Video/@@@} M/28
47 RONINS
(47 Ronin, 2013)
"É impossível olhar para Reeves e não notar sua apatia e desprazer de estar vivendo um personagem lastimável. Falho em quase tudo o que propõe, não encontra um viés para o protagonista e sabota miseravelmente o sentido daqueles que desejou homenagear." (Marcelo Leme)
{Esta vida não oferece nada apenas a morte} (ESKS)
''Assisti à superprodução ''47 Ronins'' já sabendo de seu revés nas bilheterias norte-americanas. Estreou nos Estados Unidos na véspera de Natal e até 26 de janeiro havia faturado minguados US$ 38 milhões. O orçamento do longa foi de US$ 200 milhões. Some a esse valor uma média de US$ 25 milhões gastos em promoção e tem-se a dimensão dantesca do fracasso. O que faz um blockbuster - filme feito meticulosamente para atingir o grande público e faturar alto - fazer água? Como executivos versados em minimizar riscos não conseguiram antever um fiasco iminente? Mesmo uma estrutura industrial de produzir entretenimento audiovisual como Hollywood, com décadas de experiência, às vezes erra feio. ''47 Ronins'' conseguiu unanimidade: não agradou o público tampouco a crítica. A própria Universal, produtora do filme, não se surpreendeu com os números. Sabia que estava com uma batata quente nas mãos. O longa é uma versão americanizada do japonês homônimo de 1941, dirigido por Kenji Mizoguchi. Não há comparações entre ambos. Filmado em 3D , a produção leva às telas a lenda mais famosa do código de honra samurai, o bushido. Segundo a história, 47 samurais tornaram-se ronins (samurais sem senhor) depois de seu mestre ser obrigado a cometer seppuku (ritual suicida) por problemas com uma autoridade do país. Liderados por um mestiço interpretado por Keanu Reeves, buscam vingança contra o traiçoeiro soberano que traiu seu mestre e os levou à desgraça. Elementos humanos típicos dos filmes de samurai, como lealdade, sacrifício, persistência e honra, são pormenores perdidos em meio a efeitos especiais espetaculosos, cenários deslumbrantes e seres fantásticos - supostamente baseados no folclore japonês, mas que na verdade parecem saídos de uma produção sci-fi. Para piorar, o protagonista vivido Reeves deve ser um dos mais apáticos e insossos vistos desde os tempos dos samurais. Trata-se de um filme vazio em conteúdo narrativo, com trama que não empolga e, supreendentemente, incompetente em disfarçar isso. Blockbusters mais eficientes e igualmente medíocres costumam investir num ritmo frenético de ação para anestesiar os sentidos do espectador e ao menos entretê-lo a fórceps na falta de uma história decente a ser contada. Os realizadores de ''47 Ronins'', curiosamente, tinham uma boa história a contar e a contaram mal. Para piorar, foram extremamente inábeis em dissimular sua imperícia." (Roberto Guerra)
"Mais do que um fato histórico, a epopeia dos 47 ronins faz parte do panteão de lendas do povo japonês e é considerada como a expressão acabada do bushido, o código de honra dos samurais. A memória dos 47 guerreiros é reverenciada em festas tradicionais e em inúmeras adaptações da saga para o teatro, cinema, literatura e mangás. No começo do século 18, lorde Asano, senhor da cidade de Ako, é obrigado a cometer o seppuku - suicídio ritual - depois de atacar o arrogante lorde Kira, que cobiça suas terras. Desonrados pelo suicídio de Asano e banidos, os 47 ronins - samurais sem senhor - decidem lavar sua honra e planejam a vingança meticulosamente durante dois anos. O desfecho trágico deu envergadura mítica à história. A lenda sofreu mudanças nesta versão hollywoodiana, como a introdução de Kai (Keanu Reeves), um guerreiro mestiço adotado ainda garoto por lorde Asano (Min Tanaka). Apesar de sua lealdade incondicional a Asano, Kai é marginalizado por outros samurais, que o acusam de ter ligações com demônios. Apaixonado por Mika, filha de Asano, que também é desejada por Kira (Tadanobu Asano), Kai é decisivo na execução da vingança. O outro ronin fundamental na história é Kuranosuke Oishi (Hiroyuki Sanada), o líder do grupo, que, caído em desgraça, arrisca tudo no plano de vingança. O roteiro não está à altura da lenda, pois não tira proveito de todo o potencial dramático desta, reduzindo-a a uma história de artes marciais. A opção de narrá-la como um conto fantástico não é ruim, mas a ênfase nas pomposas cenas de batalha - que justificam o uso do 3D - tira a história do prumo. Nesse contexto, não surpreende que os personagens sejam figuras com pouca profundidade, encarnadas por atores inexpressivos. Convincente nas cenas de luta, Keanu Reeves chama a atenção ao manter a mesma insípida expressão facial do início ao fim. Outro aspecto que não ajuda é a opção por diálogos em inglês em um filme sobre o Japão tradicional." (Alexandre Agabiti Fernandez)
"Ronin é um samurai que não tem um senhor de terras para servir. Uma condição não muito honrosa no Japão feudal. "Os 47 Ronins" é uma história de vingança que ganhou várias versões no cinema japonês. Foi lançada no ano passado esta versão ocidentalizada, num projeto bancado pelo ator Keanu Reeves, que se tornou fanático por artes marciais depois de aprender um pouco para Matrix (1999). Mirando no público jovem americano, Reeves e seus parceiros tomaram grande liberdade para inserir mudanças para modernizar a trama. Isso inclui até o personagem do ator, um guerreiro mestiço. Coisa nova também é o surgimento de feiticeiros, monstros e mutantes. Este "47 Ronins" pode revoltar os puristas que conhecem a história original, mas é um belo filme de ação." (Thales de Menezes)
''A lenda na qual este “47 Ronins” é baseado é, na verdade, uma história real de lealdade e luta que inspirou gerações da nação japonesa e que, obviamente, já ganhou diversas versões na sétima arte. A mais recente empreitada neste sentido, no entanto, não fora capitaneada por japoneses, sendo escrita por Chris Morgan (Velozes e Furiosos 6), Hossein Amini (Drive) e Walter Hamada (produtor dos remakes de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13). Não é um bom sinal quando tanta gente de estilos diferentes mexem em um roteiro assim. E a necessidade de aproximar a trama das plateias ocidentais acabou por transformar e muito a alma desta produção. Dirigido pelo estreante Carl Rinsch, este primeiro longa do diretor será uma estranha referência para o seu currículo. Isso porque, a despeito das eficientes cenas de ação (prejudicadas pela ausência de sangue), o filme falha naquilo que é mais básico para uma fita do gênero, que é criar empatia entre a audiência e os personagens. Ao tentar agradar ocidentais e orientais, o texto aliena as duas audiências, algo irônico considerando que isto remete diretamente ao protagonista mestiço criado pelos escritores. Vivido por Keanu Reeves, Kai foi encontrado quando criança pelo senhor da região de Ako, o honrado Asano (Min Tanaka), e passou a trabalhar como seu serviçal, desenvolvendo uma amor pela filha do nobre, Mika (Ko Shibasaki). Kai vive uma existência solitária, sendo insultado pelos samurais do seu mestre. Até que uma trama nefasta do rival de Asano, o arrogante Kira (Tadanobu Asano), faz com que o Shogun (Cary-Hiroyuki Tagawa) obrigue o nobre a cometer suicídio, o que leva seus samurais a se tornarem ronins, samurais caídos. Após um ano de escravidão, Kai é recrutado pelo orgulhoso Oishi (Hiroyuki Sanada), antigo líder dos protetores de Asano, para ajudar a vingar o seu senhor caído e resgatar Mika e o povo de Ako das garras de Kira. Mas para fazer justiça, o grupo terá de passar por uma poderosa e maliciosa bruxa (Rinko Kikuchi), serva pessoal de Kira, o que obriga Kai a ter de recorrer a um segredo de seu misterioso passado para dar aos seus companheiros alguma chance nesta batalha. O ponto forte do longa é, paradoxalmente, o seu calcanhar de Aquiles. O universo proposto na tela é deveras interessante, mostrando um Japão feudal repleto de magia, beleza e perigo. Neste sentido, a direção de arte e a equipe de efeitos especiais acertam em cheio, com locações detalhadas, figurinos e armas lindamente montados e criaturas com designs bacanas. Parabéns para a equipe de Rinch, que obrou maravilhas aqui, utilizando esse visual em cenas de luta complexas e bem coreografadas, com destaque especial para a tensa sequência da invasão à fortaleza de Kira, cena que demonstra de modo econômico que os samurais possuíam outros talentos além de suas habilidades de combate. Plasticamente, tratam-se de momentos belíssimos. O 3D, pós-convertido, neste caso específico não é recomendado. Embora os momentos com maior iluminação funcionem bem no formato, durante as diversas cenas noturnas, filmadas com câmeras digitais, uma granulação acaba por se sobressair no quadro, o que incomoda o espectador e prejudica a composição dos quadros. O problema é que não houve tempo hábil para explorar aquele universo, que acaba sendo apenas pincelado, nunca aprofundado. O mesmo ocorre com a personalidade dos ronins. É impossível para o público torcer e se emocionar com os sacrifícios dos guerreiros sem conhecê-los. Seria, obviamente, também impossível desenvolver 47 heróis, o vilão principal, capangas, a mocinha e o universo onde o filme se passa em menos de duas horas de projeção. Mas dar personalidade a apenas quatro ou cinco figuras centrais e esperar que o público não note a falta de identidade das demais figuras é ingenuidade em demasia por parte dos realizadores. A falta de sangue também ameniza as consequências das batalhas, o que diminui ainda mais o impacto das ações vistas em tela. A inserção de Kai e a justificativa para que o gaijin Keanu Reaves dê vida ao personagem até que funciona. O jeito de cão perdido de Reeves combina com o passado de Kai e o arco do renegado e seu relacionamento platônico com a princesa Mika dão um ar de conto de fadas que se encaixa bem com o clima de magia apresentado, fazendo sentido com a bruxa sem nome vivida de maneira sadicamente divertida por Rinko Kikuchi. No entanto, a mistura dessa veia fantasiosa com o conto de honra dos ''47 Ronins'' acaba não dando certo, com os dois lados do filme entrando quase que em curto toda vez que se tocam. Faltou a sutileza japonesa de mestres da narrativa como Hayao Miyazaki (muito referenciado visualmente pela produção, aliás) que conseguem dosar o fantástico e o palpável em suas obras. Fosse este um longa focado apenas em Oishi e seus homens ou uma fantasia dedicada com Kai e Mika ao centro, o resultado possivelmente seria positivo. Do jeito que está, temos uma obra perdida e sem prumo. Uma pena, de fato." (Thiago Siqueira)
Date 31/12/2014 Poster - ### - DirectorAbel FerraraStarsWillem DafoeShanyn LeighNatasha LyonneA look at how a painter and a successful actor spend their last day together before the world comes to an end.[Mov 06 IMDB 4,5/10] {Video/@@@@} M/54
4:44 - O FIM DO MUNDO
(4:44 Last Day on Earth, 2011)
"Sexo, álcool, drogas, blues, conflitos, lágrimas e ventania. Porque o final dos tempos sempre foi mais visceral que brincar de cabaninha." (Daniel Dalpizzolo)
"Em épocas marcadas por misticismos, histerias, afetos e divagações sobre o sentido da vida e o fim do mundo, Ferrara versa sobre o final dos tempos com sereno desespero, entre a calmaria e o esporro, da linda transa do inicio ao vento da morte no final." (Vlademir Lazo)
"Praticamente um rival do 'Melancolia' de Lars Von Trier, Ferrara se difere ao ignorar o impacto universal do tema e inseri-lo num espaço ainda mais pessoal e intimista. Um bem-vindo olhar diferenciado sobre um já desgastado tema." (Rafael W. Oliveira)
"Parece importante hoje que cada um imprima sua própria visão de fim do mundo, cada vez mais distante daquela típica dos filmes-catástrofe e mais próxima de um tipo de redenção diante do fim da existência. Surpresa boa ver Ferrara entrando nessa onda." (Heitor Romero)
"Ferrara não tem a profundidade, a técnica e a visão para falar de fim de mundo como von Trier o tem. A perspectiva pessoal do inevitável, porém, não deixa de ser interessante, embora mal executada e de gosto duvidoso." (Alexandre Koball)
"Ferrara e o apocalipse de cada um." (Bernardo D.I. Brum)
"O que você faria se houvesse uma data certa, com horário preciso, que estipulasse até o minuto exato, para o fim do mundo? Pois foi a este ponto que chegaram os personagens de "4:44 – O Fim do Mundo", mais um filme inspirado pela recente onda de catástrofes anunciadas pelos incas séculos atrás e marcadas para o final de 2012 – o que, como vimos, não possuía fundamento. Sua falta de veracidade e comprovação científica, no entanto, não impediu o exercício da criatividade de muitos realizadores, que desenharam cenários explosivos e grandiosos, como os de 2012 (2009), ou simbólicos e repletos de presságios, como os de Melancolia (2011). Neste filme dirigido pelo sempre inquieto Abel Ferrara, a visão apresentada está muito mais próxima do segundo caso acima citado. Ao contrário de tragédias globais e destruições sem limites, a ação aqui é interna, tendo como foco quase que exclusivo o casal formado por Willem Dafoe e Shanyn Leigh, um célebre ator e uma pintora de sucesso, os dois juntos dentro do próprio apartamento esperando pelo instante final. O filme já começa neste último dia, com todo mundo se preparando para a madrugada seguinte quando, exatamente às 4h44min, tudo chegará ao fim. A explicação, oferecida mais em detalhes do que em um modo mais didático, vem de causas naturais, do constante abuso do ser humano em relação à natureza e do desgaste da camada de ozônio que nos protege. É curioso, por outro lado, que algo que tenha como origem sintomas globais possa ser tão pontual em seu clímax, mas mesmo isso é mais uma das questões levantadas pelo cineasta através de seus personagens.Afinal, o que fazer neste tempo que resta? Falar com amigos e familiares pelo Skype, tentar fazer as pazes com a ex-esposa, beber até esquecer, dividir mais uma carreira de cocaína com antigos companheiros? Retomar contatos já esquecidos e pedir perdão àqueles ao nosso redor, ou seguiremos mentindo, enganando, escondendo? O homem realmente muda estando assim tão próximo do fim ou, de fato, a esperança é a última que permanece, fazendo com que a gente se mantenha fiel aos nossos preceitos até não ter mais volta? Qual o conceito de arrependimento num cenário como esse? Não seria, portanto, o caso de nos entregarmos ao sentimento mais animalesco que há dentro de nós, focando nossa atenção aos instintos primários, como sexo, comida e descanso? Por que se desesperar, qual o sentido de um suicídio prévio se em poucas horas todos terão o mesmo destino? Como fica a vontade de, mesmo indo contra a si próprio, ser dono de sua vida e de suas decisões, impedindo que outro – Deus? – decida por nós? Selecionado para o Festival de Veneza de 2011, "4:44 – O Fim do Mundo" permanece inédito nos cinemas brasileiros, além de ter tido uma carreira insignificante ao redor do mundo – passou por outros festivais de menor impacto, como os de Nova York, Paris e Rio de Janeiro, sem maiores repercussões. No entanto, é um trabalho que merece ser apreciado por um público fiel e dedicado, pois este irá encontrar um Ferrara ainda instigante e pertinente, além de se deparar com mais uma performance visceral de Willem Dafoe, um ator que muitas vezes vislumbrou o mainstream, mas que se sai sempre melhor em projetos independentes e diferenciados como esse. São muitas questões e poucas respostas, e são justamente encontros como esses que levam à reflexão e, com ela, ao desenvolvimento. Ainda que seja até o fim do mundo." (Robledo Milani)
"A raça humana sempre buscou, de maneira desesperada, significados para sua existência, e a ideia de uma aniquilação total não deixa de ser uma delas. O fim do mundo pode ser enxergado como uma prova cabal de que existe sim algum sentido para o nosso planeta, mesmo que seja o de ser extinto. Em "4:44 - O Fim do Mundo", o diretor Abel Ferrara (Vício Frenético) resolveu passear por este conhecido tema, apresentando as últimas horas do planeta Terra - que será engolido pelas previsões "alarmistas" do ex-vice presidente Al Gore. Temos então como foco uma surreal percepção do evento, vivenciada pelo casal Cisco (Willem Dafoe) e Skye (Shanyn Leigh). O roteiro aparentemente simplista aborda basicamente as emoções e relações humanas, investigando os pontos positivos e negativos de uma união conjugal, e como estes influenciam o comportamento dos dois diante do armageddon. Os elementos mais evidenciados são: o sexo, os relacionamentos paralelos do casal (parentes e amigos), e a falta de compreensão e atitude diante deste desfecho inesperado - ninguém ali fez planos para o fim do mundo. Ferrara também esmiúça o uso da tecnologia, ferramenta que possui suas qualidades (de encurtar distâncias) e também defeitos (de se acomodar com as distâncias). Praticamente todas as interações humanas do filme são feitas através do Skype, despedidas de pais e filhos são pouco calorosas, sem expressividade, algo ausente e desprovido de sentimentos mais edificantes. Willem Dafoe é um competente ator, e cumpre bem o seu papel no longa. Já a jovem Shanyn Leigh aparece um pouco perdida, mas não chega a ser um problema para o resultado final. No entanto, o ritmo escolhido por Ferrara é o grande X da questão: lento e moroso, ele se torna extremamente cansativo, e o fato de tudo ocorrer no mesmo ambiente (o apartamento do casal) só piora a falta de dinâmica. Mesmo assim, temos bons momentos propiciados pelo roteiro, quase sempre vivenciados por Dafoe. Apesar da razão do fim do mundo se tornar quase uma piada (cujo rosto é o de Al Gore), a obra nos faz refletir ao emular um provável comportamento humano diante de um apocalipse eminente, que foi provado e alertado pela mídia. É algo mórbido, que vem disfarçado de ironia e conformismo, originando então o sentimento que o diretor explora, só que apesar da cadeia de raciocínio ser válida, ela, ao mesmo tempo, não oferece tanta profundidade. Em resumo: "4:44 - O Fim do Mundo" não é um filme fácil. Seu ritmo lento e arrastado busca, aparentemente por vontade própria, incomodar a audiência... e consegue. Só que por trás deste desafio de paciência, existem alguns propósitos interessantes que são bem explorados pelo diretor, e a opção corajosa do filme - de se apoiar basicamente nos protagonistas - também pode ser encarada como um mérito nos dias de hoje. Interessante, mas não tão relevante." (Ronaldo D'Arcadia)
2012 Lion Veneza
Fabula Funny Balloons Wild Bunch Bullet Pictures Off Hollywood Pictures
Diretor: Abel Ferrara
3.013 users / 1.184 face
Check-Ins 514 14 Metacritic
Date 16/04/2014 Poster - ###### - DirectorSteve McQueenStarsChiwetel EjioforMichael Kenneth WilliamsMichael FassbenderIn the antebellum United States, Solomon Northup, a free Black man from upstate New York, is abducted and sold into slavery.[Mov 03 IMDB 8,3/10] {Video/@} M/97
12 ANOS DE ESCRAVIDÃO
(12 Years a Slave, 2013)
''Um ano antes de o ator Chiwetel Ejiofor começar a filmar "12 Anos de Escravidão", ele rodava um filme no Estado da Geórgia, onde fez um passeio turístico. Foi a um calabouço do século 19, usado para manter prisioneiros os negros recém-chegados da África antes que fossem leiloados. Perguntei ao guia para que serviam as argolas na parede", contou Ejiofor. "Ele respondeu que eram usadas para prender os ibos [grupo étnico africano]. E eu disse a ele que era ibo. É nesse momento que você percebe que também esteve lá. É seu sangue. Se "12 Anos de Escravidão" está disputando o Oscar de melhor filme e outros prêmios, isso se deve em larga medida à poderosa e inquietante interpretação de Ejiofor, 36, para a história de Solomon Northup. O diretor do filme, Steve McQueen, disse que ele sempre foi sua escolha para o papel. Foi o porte de Ejiofor que o convenceu de que ele seria o ator ideal. Para mim, Chiwetel tinha a classe que eu precisava mostrar na tela", diz. Ejiofor mergulhou na preparação, viajando de Calabar, porto nigeriano que servia de polo ao comércio de escravos, à Louisiana rural, do outro lado do Atlântico. Em alguns dos momentos mais expressivos de Ejiofor, diante de seu cruel feitor, ele não fala, e usa a linguagem corporal, especialmente o seu olhar, para transmitir o que Northup sente. McQueen descreve isso como uma interpretação tai chi. Desde o primeiro dia, meu foco esteve em seus olhos, disse. Conversávamos sobre como usar o rosto para traduzir linguagem. Ejiofor vive em Londres. Nasceu lá, no bairro de Forest Gate, para onde seu pai, médico, e sua mãe, farmacêutica, emigraram depois do colapso do Estado separatista de Biafra, na Nigéria, onde os ibos eram maioria. Tínhamos prateleiras repletas de clássicos", diz Zain Asher, irmã de Ejiofor. "Nossa mãe acreditava que educação era liberdade. Chiwetel ficava em seu quarto lendo Shakespeare em voz alta da manhã à noite. Lembro que quando consegui meus primeiros trabalhos, outro ator me disse que se não mudasse de nome, interpretaria muitos africanos, diz Ejiofor. "Foi uma das coisas mais ofensivas que me disseram. Disse que minha família vinha da África e tinha muita vontade de interpretar africanos." (Larry Rother)
"Após o maravilhoso Shame, Steve McQueen diminui o ritmo e entrega uma obra acadêmica e branda sobre a escravidão. Para países que ainda hoje convivem com os efeitos desse fato histórico, os acontecimentos mostrados não têm o efeito-choque (infelizmente)." (Alexandre Koball)
"Filme importante, impactante, talvez até um pouco brando perto do que as pessoas que sofreram com a escravidão realmente passaram. O final é pra matar qualquer um de tanto chorar." (Rodrigo Cunha)
"McQueen sucumbe diante do "grande tema", e toca a banda de forma inesperadamente convencional. Nem Ejiofor, Fassbender e Nyong'o, todos mal construídos, diminuem a sensação de decepção. Hollywood ainda não acertou suas contas com o racismo na América." (Régis Trigo)
"Mais do que a abordagem dura, mais do que o retrato sem concessões, mais do que a jornada do protagonista, mais do que as atuações, o que fica na pele e na mente são as impactantes cenas de McQueen, como o enforcamento o açoitamento. Duro e memorável." (Silvio Pilau)
"A escravidão duramente retratada a ponto de transformar a dor física dos personagens em dor psicológica para o público. É um sentir-se cúmplice sem poder intervir. Nada parece desnecessário a não ser a própria realidade." (Emilio Franco Jr)
"Um par de cenas memoráveis com propósito narrativo claro, cru e chocante: discriminação significa ferir os direitos de um próximo e faz de você um senhor de escravos como Epps. Tem certeza de que é nesse mundo que você quer viver? Assim que você quer ser?" (Rodrigo Torres de Souza)
"O formato é convencional, mas ao mesmo tempo McQueen dribla as possíveis limitações dos enlatados de Oscar e consegue chegar a um resultado autêntico, forte, impactante. É bom ver uma mega produção que não subestima o público." (Heitor Romero)
"Grandes cenas e grandes atores se envolvem num filme de circunstâncias brutais e de fundamental valor histórico. É estonteante e incômodo sem ser gratuito. Também é austero, profundo! Uma grande história contada por um lúcido cineasta." (Marcelo Leme)
"De Shame para "12 Anos de Escravidão" o mundo de Steve McQueen passou do cult ao mainstream com uma pernada. E daí a ganhar o Oscar de melhor filme de 2014 foi outro passo. Talvez tenha a ver com os sentimentos do diretor negro, pois 12 Anos trata da história de um negro liberto que é feito escravo. Mas McQueen tira a relevância do tema mais do que a aborda. Filmes de boa consciência são bons para descarregar a culpa, mas não ajudam a resolver problemas." (* Inácio Araujo *)
Uma das raras obras que conseguem chegar ao grande público sem as habituais concessões e reducionismos.
''Inevitáveis como música natalina em shoppings durante as compras de fim de ano, os violinos estão maciçamente presentes nas trilhas sonoras dos filmes sérios da temporada de premiação. Ir ao cinema nessa época é escutar uma saraivada de violinos chorosos, dolorosamente repetitivos, de um punhado de compositores medíocres, que, em geral, nem carreira têm a não ser isso: mandar uma mensagem ao público do cinema de que chegou o momento para se arrebentar em lágrimas. Além da tortura dos violinos piegas, também há que se aguentar outro elemento inevitável à sala de cinema nesse período de prêmios: a tosse. Sim, pois Nelson Rodrigues já dizia que uma parte da classe média acha que assuntos sérios são como fungos alergênicos: causam reações que produzem tosse. Assistir a ''12 Anos de Escravidão'' (12 Years a Slave, 2013) é como estar sentado em alguma emergência de hospital público durante um inverno bem seco, quando a parcela da população que têm problemas respiratórios, como asmáticos e os que sofrem de bronquite, correm para as inalações. Explica-se: o filme de Steve McQueen foi longe como nunca antes ao retratar, com um brutal realismo, a escravidão no sul dos Estados Unidos pelos anos 1840, quando parte dos escravos já eram livres no norte do país. Um violinista negro é sequestrado durante uma turnê em Washington, vendido para uma plantation na Louisiana e por uma dúzia de anos vai sofrer todo tipo de humilhação imaginável, que todos nós de alguma forma sabemos como foi, mas ninguém nunca a viu assim, com todos os detalhes, dando voz aos escravos, um filme passado pelo ponto de vista de um músico. É de tirar o fôlego (no caso do pessoal da tosse, literalmente). Nas duas horas e quinze de filme, uma desgraceira só. Navalhadas na cara, queimaduras no corpo, navios negreiros nos rios do pais, mãos cortadas, escravos cegos de escorbuto, isso só na primeira hora de filme; uma calamidade que, sem exagero, a plateia não está preparada para ver. Houve mesmo quem se perguntasse se seria ético filmar a escravidão, como o cineasta Michael Haneke fez ao levantar a questão se seria correto usar o Holocausto como tema de tantos filmes “inconsequentes”. O escravo em questão, Solomon Northup, escreveu um livro contando a sua história – tudo é baseado em fatos reais – e tornou-se ativista contra a escravidão. Ao convertê-la ao cinema, McQueen e sua equipe fizeram, de longe, o mais importante filme até hoje feito sobre a escravidão nos EUA e a dúvida sobre a pertinência de se filmar o tema simplesmente desaparece. O filme é tão forte que dissolve a quase nada as tentativas anteriores, como Tempos de Glória (Glory, 1989), de Edwark Zwick; torna A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985), de Steven Spielberg, praticamente uma historieta de salão, e evidencia ainda mais a tolice de Lincoln (Idem, 2012), também de Spielbergh. Quentin Tarantino, a seu modo, até conseguiu fazer um filme engraçado em Django Livre (Django Unchained, 2012), mas, quando pela primeira vez que a palavra *beep* é pronunciada em 12 Anos de Escravidão, e é uma das primeiras, sabemos claramente que não é uma paródia e todo seu conteúdo negativo e racista está lá. Como no filme de Tarantino, the n-word vai ser pronunciada inúmeras vezes (não 139 vezes, claro), sempre insultante e pejorativa. Curiosamente, 12 Years a Slave é ainda mais violento que Tarantino – é quase um filme de horror, com a grande diferença que não é catártico. O filme provará que a degeneração engendrada pela escravidão é tal que condena toda a sociedade que participa dela. Ninguém se salvará, pois não há salvação. Salomon será traído pelos seus próprios companheiros de senzala e ele próprio terá de selvagemente castigar uma das escravas, dando chibatas até arrancar a pele da infeliz, cena mostrada em detalhes, sem dúvida uma proeza de maquiagem e efeitos especiais, que não sairá facilmente da mente de quem a vir. Ao ser vendido para um proprietário de terras e escravos sádico (Michael Fassbender, ator fetiche do diretor), cairá no meio de um triângulo amoroso entre o dono, a mulher (chocante interpretação da atriz Sarah Paulson), e uma das escravas, que, além de colher algodão o dia todo, também tinha de prestar serviços sexuais à noite para o patrão. McQueen não poupa o público da selvageria, para isso usando imagens muito belas: a beleza plástica do filme, soturna e implacável, soma-se a diálogos duros e pausas, longos silêncios, que, se provocam ainda mais tosses, dão o necessário ritmo para que a plateia absorva as imagens. Há uma certa calma, portanto, nas imagens, no andamento do filme, e a violência não explode: ela está permanentemente lá, à espera que aconteça – e chega sempre perversa e aviltante. Esse é o grande trunfo do diretor, algo que nem Spielbergh nem Tarantino conseguiram: a narrativa do filme é interna, seu desenvolvimento soa lógico, mesmo que à beira do surreal; os arroubos das personagens e a brutalidade corporal são recursos estéticos integrados à época e costumes. Sem necessidade de se recorrer à referências externas, McQueen construiu um universo próprio, fluido e eficiente, para sua obra seminal. Fassbender e sua psicose são a parte mais fraca do filme (além, claro, dos violinos, sempre eles, de Hans Zimmer). Mas o filme de Steve McQueen não é sentimental, como aliás também não é a Philomena (Idem, 2013), do também inglês Steven Frears. Curioso ver dois filmes tão anti-sentimentais, com dois abnegados nos papéis principais, numa espécie de cruzada anti-cinismo entre os filmes premiáveis desse ano. 12 Anos de Escravidão foi independentemente produzido por Brad Pitt (que faz uma ponta no filme) e distribuído pela 20th Century Fox. É daquelas raras obras médias que conseguem furar o bloqueio e chegar ao grande público sem as habituais concessões e reducionismos. Organismo estranho, provoca tosses nervosas, mas é melhor escutar o pessoal tossindo insistentemente porque incomodados com cenas difíceis do que o confortável silêncio dos violinos melodramáticos." (Demetrius Caesar)
''Só mesmo a bilheteria modesta e o tema indigesto para plateias adormecidas com pipoca fazem "12 Anos de Escravidão" ter que competir com "Gravidade" pelo Oscar de melhor filme. Seria como pôr Meryl Streep e Sandra Bullock no mesmo patamar. "12 Anos...", dirigido pelo britânico Steve McQueen ("Shame"), é o melhor filme de Hollywood, e o mais necessário, em muitos anos. É o primeiro filme que torna impossível continuar vendendo mentiras e mistificações sobre escravidão por mais de um século", escreveu a crítica de cinema do New York Times Manohla Dargis. Levou um século para vermos o impacto do chicote em um corpo nu", redigiu David Thomson, da revista New Republic, lembrando a condescendência com os negros desde E o Vento Levou. O longa é baseado na autobiografia publicada em 1853 do violinista Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), negro livre em Saratoga, Estado de Nova York, que é sequestrado enquanto se apresenta em Washington e vendido como escravo na Louisiana. Não há senhores de escravos bonzinhos, epifania de personagem branco que descobre que a escravidão (ou o racismo) é algo errado, nem flerte entre o homem branco e a escrava negra. Mostra, sem meio tom, os estupros constantes do senhor de escravos Epps (Michael Fassbender) contra sua favorita, Patsey (Lupita Nyong'o). A mulher de Epps, com ciúmes de Patsey, agride repetidamente a rival, nessa nada romantizada Casa Grande e Senzala americana. Northup aprende cedo que a submissão é requisito para se viver e a esconder que é alfabetizado. Tampouco vira melodrama — o intelectualizado Northup quer realmente entender o sistema que permitiu a lógica da escravidão. A autobiografia levou 160 anos para chegar às telas e custou apenas US$ 20 milhões, equivalente ao cachê de um único astro hollywoodiano. A participação de Brad Pitt abriu bolsos. "12 Anos de Escravidão" pode render o primeiro Oscar já dado a um diretor negro. Até pode perder para a linguagem new age no concorrente "Gravidade", mas já é o filme imperdível do ano." (Raul Juste Lore)
Poderoso terceiro filme de Steve McQueen arranca lágrimas em Toronto.
''A saída da sessão para a imprensa e indústria de ''12 Anos de Escravidão'' (12 Years a Slave) no Festival de Toronto era como uma procissão de lamentos. Poucas pessoas conversavam e a maioria enxugava as lágrimas. Algumas seguiam chorando minutos após o fim do filme. A cena acima já explicaria o suficiente o tamanho do impacto que o novo trabalho de Steve McQueen (Hunger, Shame) tem no público. Baseado em uma história real, o filme acompanha um cavalheiro, nortista negro, livre e letrado, nos Estados Unidos de 1841, alguns anos antes da abolição oficial da escravatura. A trama segue o respeitado homem em seu cotidiano com a família, até que, enganado por uma oferta de trabalho, ele é aprisionado e levado ao sul escravagista, ilegalmente. Começam então os 12 anos de agruras do título. O diretor reuniu um elenco fantástico, que inclui Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Paul Giamatti e Brad Pitt, mas é Chiwetel Ejiofor quem tem aqui o papel de uma vida. Ele vive Solomon Northup, o vitimizado autor da biografia que inspira o filme, com intensidade equilibrada. A maneira que ele encontrou para interpretar o homem que coloca de lado seu orgulho, de forma a seguir vivendo em direção à efêmera liberdade que lhe foi roubada, é comovente em todos os momentos - dos mais contidos aos de frágil explosão. Ele não é um herói, no entanto, tem um dentro de si. Ainda que tenha participação pequena, a atriz estreante Lupita Nyong'o é igualmente responsável pelo sucesso do filme, já que sua personagem, Patsey, é a que mais sofre as agruras do fazendeiro destemperado vivido por Michael Fassbender (surtando, em sua terceira colaboração com McQueen). McQueen, que é negro, filma com sensibilidade, evitando o choque como bandeira (este não é Django Livre), mas não se furta em mostrá-lo de frente quando necessário. Há uma poderosa cena com Lupita, Ejiofor e Fassbender, filmada em plano sequência, que justifica todo o cuidado em não banalizar a violência em 12 Years a Slave. Ao final, o terceiro filme de McQueen não apenas é seu melhor até aqui, mas um dos melhores dramas já realizados sobre algo que, quase 200 anos depois, segue lamentavelmente tão atual." (Erico Borgo)
86*2014 Oscar / 71*2014 Globo
Top 250#102
Top Década 2010 #40 Top Biografia #17 Top Histórico #20
Regency Enterprises River Road Entertainment Plan B Entertainment New Regency Pictures Film4
Diretor: Steve McQueen
320.385 users / 77.720 face
Check-Ins 540 48 Metacritic
Date 18/04/2014 Poster - ## - DirectorNoam MurroStarsSullivan StapletonEva GreenLena HeadeyGreek general Themistocles of Athens leads the naval charge against invading Persian forces led by mortal-turned-god Xerxes and Artemisia, vengeful commander of the Persian navy.[Mov 03 IMDB 6,3/10] {Video/@@@@} M/48
300 - A ASCENSÃO DO IMPÉRIO
(300: Rise of an Empire, 2014)
"As batalhas no mar trazem outra dinâmica ao mundo de 300, mas basicamente é o mesmo filme (medíocre) que Snyder nos apresentou anos antes - todo visual e nenhum conteúdo." (Alexandre Koball)
"Enquanto o filme anterior ainda era capaz de fazer algo pelos personagens e pela "mitologia" de Esparta, aqui a história não funciona, restando unicamente o espetáculo visual e as boas cenas de ação. É divertido por um tempo, mas cansa rapidamente." (Silvio Pilau)
"Eva Green compensa o filme inteiro." (Marcelo Leme)
Copie/cole do épico macho vem pra aplacar a sede dos garotinhos de mais de 30 anos.
*
''O que dizer ou esperar da continuação bem tardia (para os padrões hollywoodianos) de uma superprodução que ressuscitou um gênero, que investe praticamente nas mesmas tintas (de CGI)? Todos estão carecas de saber que há exatos oito anos Rodrigo Santoro estrelava um inesperado sucesso que traria de volta um estilo de filme semi extinto, o épico de capa e sandália baseado na graphic novel de Frank Miller, 300. Na pele do literalmente gigantesco vilão Xerxes, nosso galã se viu nos holofotes de um filme que rendeu mais de 200 milhões de dólares somente em casa (no mundo todo foram quase 500 milhões). Gerard Butler virou um astro, Lena Headey hoje brilha em Game of Thrones e o resto é história. Mas por que diabos fazer uma continuação agora, quando todos já dilapidaram o gênero novamente com produções toscas e repetitivas, rendendo inclusive uma sátira? Porque apenas uma língua é falada nos corredores de Hollywood: o dinheirês. E as possibilidades de voltar a faturar muito ultrapassam lógica e discernimento. Ah, todos os mocinhos do anterior morreram? Que diferença faz? Logo Frank Miller teve a ideia de novo texto onde acontecimentos paralelos aos do levante espartano contra o Deus persa levariam Zack Snyder e sua trupe de volta à Grécia antiga, dessa vez com foco em Atenas. De novidade, o filme mostra o nascimento de Xerxes como Deus, com direito a Santoro cabeludo e barbudo no início (que no entanto influencia bem menos a trama em relação ao primeiro) e o deslocamento da ação da terra para o mar, justificada pelas qualidades marítimas dos atenienses, que partem na cruzada contra a esquadra liderada por uma maquiavélica Artemísia, espécie de braço direito do pai assassinado de Xerxes, vivida pela bela Eva Green. Tirando esses dois aspectos, estamos diante do mesmo 300 de antes, como se a franquia já fosse longa e nenhuma atualização aparente fosse necessária, apenas um copie/cole com fundo de tela diferente e uma senhora cena de sexo no recheio. O mocinho da vez é o australiano Sullivan Stapleton (cujo currículo inclui o fabuloso Reino Animal (Animal Kingdom) e percebemos principalmente por ele que já não houve retoque computadorizado nos tanquinhos dos rapazes, que tanta piada rendeu no primeiro. Já o sangue digital continua batendo ponto em proporções garrafais e as lutas continuam atraindo os meninos que forem buscar escapismo barato e nem liga pra coisas bobas como roteiro e direção. Detalhe: citei o comandante visionário (como esse título da Warner é divertido) Snyder ainda agora mas lógico que ele não voltaria a assinar uma continuação de 300, metido como só. Então ele entregou todas marcações de cena, storyboards e uma cópia do primeiro pro pau mandado Noam Murro (vejam, só Hollywood nos proporciona a delicia de ver paus mandados terem paus mandados) pra fazer o serviço, e ele assinou roteiro e colocou o nome na produção. Afinal, se o que interessa aqui é o dinheiro, como Snyder perderia a chance de ganhar? Se você é fã do primeiro, esqueça a rabugice e corra pro cinema. O seu "filme do ano" está te esperando." (Francisco Carbone)
[orange{Estamos transformando jovens em memória. Os Mortos não carregam culpa, nem responsabilidade} (ESKS)
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''Há vários quadros em ''300: A Ascensão do Império'' que eu gostaria de imprimir, emoldurar e pendurar na parede: há aquele que traz vários remos suspensos contra um céu nublado enquanto pingam gotas de água do mar; outro que traz uma bela mulher em contraluz no convés de um navio; aquele que enfoca um homem sob a água em meio a destroços e cadáveres; um que usa o reflexo do céu sobre a água para sugerir navios que parecem flutuar e assim por diante. Infelizmente, estes quadros, quando em movimento e encadeados uns aos outros com o objetivo de contar uma história, perdem a força em função da narrativa sem foco ou vida. Se o 300 de Zack Snyder impactava com a força e a energia de seus personagens, este seu sucessor anestesia o espectador e desperta sono – mesmo que, aqui e ali, interrompamos um bocejo diante de uma ou outra bela imagem.Roteirizado por Snyder e Kurt Johnstad a partir do trabalho de Frank Miller, este Ascensão do Império é, ao mesmo tempo, pré-continuação, continuação e um ponto de vista alternativo dos fatos ocorridos no longa anterior. Enfocando as origens de Xerxes (Santoro) e da calculista Artemisia (Green), o filme acompanha também o herói Temístocles (Stapleton), que comanda alguns milhares de homens contra a poderosa frota persa. Sem conseguir convencer Leônidas (vivido por Butler em 300) a se unir ao seu exército, o sujeito recorre a diversas estratégias a fim de manter os números invasores longe da terra, contando para isso com o auxílio do companheiro Scyllias (Mulvey), que resiste à ideia de ver o jovem filho Calisto (O’Connell) partindo para a guerra. Espalhando a trama através dos dilemas de vários personagens secundários a fim de expandir uma história frouxa, A Ascensão do Império ainda traz um roteiro preguiçoso que recorre a longas narrações em off que explicam detalhes da narrativa e até mesmo os sentimentos do herói – e quando a rainha Gorgo (Headey) descreve a reação de Temístocles diante da morte de alguns companheiros, o filme beira o ridículo, já que seria razoável supor, sem a necessidade de explicações, que o herói não teria ficado particularmente satisfeito com a perda. Como se não bastasse, os diálogos de Snyder e Johnstad soam excessivamente pomposos e/ou artificiais (Você aprecia o êxtase do aço e da carne...), tornando-se ainda piores em função da maneira burocrática com que são recitados pelo elenco irregular – e cada cena protagonizada por Calisto, vivido pelo inexpressivo Jack O’Connell, representa uma breve tortura. Apelando para recursos patéticos a fim de criar alguma estrutura visível e um mínimo de antecipação (Eu lhe contarei o que seu pai me disse quando chegar a hora.), o projeto ainda traz vários momentos nos quais Temístocles tenta se transformar num sub-William Wallace (com o qual divide apenas a saia) através de discursos vazios com frases de efeito aparentemente geradas enquanto os roteiristas se encontravam embriagados. Além disso, é irritante perceber como A Ascensão do Império trata o espectador como imbecil, empregando flashbacks que esclarecem elementos que já estão claríssimos (como aquele que relembra a flecha disparada pelo protagonista no início da projeção) ou diálogos expositivos que tentam explicar o que já está explicado (Rochas!). E se Leônidas e sua turma podiam parecer implausíveis com sua vibe Village People, ao menos tinham personalidade, ao passo que Temístocles se apresenta como um protagonista desinteressante e sem carisma – no que se iguala à direção de Noam Murro, que, de tão preocupada em respeitar os tiques estéticos de Zack Snyder, soa mais como uma cópia barata do que como um esforço autêntico de conferir dinâmica à narrativa. Assim, a cada plano no qual subitamente o frame rate se eleva até quase congelar o quadro ou no qual vemos o sangue esguichar de qualquer ferida aberta em qualquer lugar do corpo, a impressão é a de que Murro está apenas marcando os itens de uma lista que lhe foi entregue por Snyder – e como repete estes recursos várias vezes ao longo dos 102 minutos de projeção (bem como os travellings que se aproximam dos rostos dos atores enquanto estes recitam os terríveis diálogos), o filme acaba se tornando entediante apesar de todos os efeitos visuais, combates e gritos. Entediante, mas bonito. Contrapondo as capas azuis dos atenienses ao vermelho que marcava os espartanos e ao preto/dourado usado pelos persas, os figurinos criam um belíssimo contraste entre estas cores marcantes e o cinza que domina os cenários digitais. Isto, porém, não contorna a falta de substância dos personagens – e é frustrante perceber como Rodrigo Santoro, por exemplo, é subutilizado, ao passo que Eva Green ao menos contorna a unidimensionalidade de sua personagem com sua beleza e com a decisão inteligente de criar uma performance que, mesmo sem grandes explosões, soa suficientemente over para divertir. Afinal, não é toda vilã que tem a oportunidade de decapitar um inimigo e, em seguida, levantar sua cabeça pelos cabelos a fim de beijar sua boca – uma imagem repugnante que a sensualidade e a segurança de Green conseguem tornar quase sexy. Quase.
E eu não me espantaria caso o resto do cadáver do pobre infeliz chegasse a manifestar alguma reação diante do que estava acontecendo com a parte superior de seu corpo mutilado, conferindo uma nova conotação ao subtítulo desta fraca continuação.'' (Pablo Villaça)
*****
''Muitos gostaram de 300 (2006), inovadora adaptação para as telas dos quadrinhos de Frank Miller. Muito do que o filme tinha de bom se repete agora na sequência ''300 - A Ascensão do Império". Mas o resultado perde feio na comparação com o original. Acima de tudo, a grande sacada do primeiro filme era reproduzir textura, cores e sensação de profundidade dos desenhos de Miller. Ele usou um fiapo de história, a batalha perdida de 300 espartanos contra milhares de persas comandados por um temido deus-rei, Xerxes. A continuação se passa antes, durante e depois dessa batalha. Enquanto os espartanos vendem caro a derrota diante de Xerxes, guerreiros atenienses travam combate contra a esquadra persa comandada por Artemísia. Xerxes é novamente interpretado por Rodrigo Santoro, e o brasileiro tem o bônus de aparecer no filme com sua aparência normal, antes da transformação no calvo e malhado deus. Com voz e corpo alterados por computador, cumpre bem seu papel. A guerreira Artemísia é a grande novidade da sequência. E, como sempre, a francesa Eva Green é uma presença solar na tela, mesmo em um filme sombrio como esse. Os problemas começam com o canastrão australiano Sullivan Stapleton como o ateniense Temístocles, que comanda as ações contra a invasão persa. Ele fica devendo carisma ao escocês Gerard Butler, ator principal de 300. Mas o maior deslize é a troca de diretores. Zack Snyder (de Watchmen) agora é só produtor, passando a direção para Noam Murro. E, como diz o nome, ele parece só entender mesmo de violência. O segundo 300 é só pancadaria. As cenas entre batalhas são arrastadas e com diálogos pomposos, pertinentes em balões de HQ mas forçados demais para o cinema. As imagens de sangue jorrando em câmera lenta (e 3D) a cada golpe de espada são tantas que entediam - são mais de 40 só em cinco minutos da primeira luta do filme. Assim, "300 - A Ascensão do Império" se transforma em um produto para moleques que têm o gibi em casa. Para fãs de cinema, a novidade ficou no filme original." (Talhes de Menezes)
Warner Bros. Legendary Pictures Cruel & Unusual Films Atmosphere Entertainment MM Hollywood Gang Productions Nimar Studios
Diretor: Noam Murro
184.007 users / 71.056 face
Soundtrack Rock = Black Sabbath
Date 13/04/2015 Poster - #### - DirectorTom GriesStarsJim BrownRaquel WelchBurt ReynoldsIn 1912 Sonora, Mexico, native revolutionary Yaqui Joe (Burt Reynolds) robs a bank to buy arms for his oppressed people, but finds himself sought by an American lawman and the Mexican Army.[Mov 01 IMDB 5,9/10] {Video/@}
100 RIFLES
(100 Rifles, 1969)
TAG TOM GRIES
{esquecível}Sinopse
''100 Rifles é um filme western estadunidense de 1969, dirigido por Tom Gries. O roteiro foi baseado no romance The Californio de 1966, de Robert MacLeond. As locações foram em Almeria, na Espanha, e a canção original foi composta por Jerry Goldsmith. O filme alcançou notoriedade na época ao mostrar cenas de amor interracial do casal protagonista.''
*****
''A história de "100 Rifles" é clássica: um xerife persegue o índio que assaltou um banco para colocar o dinheiro a serviço de uma boa causa. Estamos na virada para o século 20, e a causa é a Revolução Mexicana (uma delas, enfim). Esse tema da revolução e dos aventureiros ou justiceiros que acabam aderindo a ela, como acontecerá em dado momento, não era original quando Tom Gries fez este filme, em 1969. Talvez a originalidade da coisa seja o terceiro elemento: a presença de Raquel Welch. Também não é um grande filme. Mas é exemplar de duas circunstâncias complementares: a Guerra do Vietnã e a decadência do faroeste - o gênero foi o porta-voz dos valores americanos, então mais abalados do que nunca.'' (* Inácio Araujo *)
Marvin Schwartz Productions Twentieth Century Fox Film Corporation
Diretor: Tom Gries
1.795 users / 143 face
Date 17/12/2015 Poster - ###### - DirectorAndrew HaighStarsCharlotte RamplingTom CourtenayGeraldine JamesA married couple preparing to celebrate their wedding anniversary receives shattering news that promises to forever change the course of their lives.[Mov 06 IMDB 7,2/10] {Video/@@@@} M/94
45 ANOS
(45 Years, 2015)
TAG ANDREW HAIGH
{romântico}Sinopse
''Falta apenas uma semana para o 45º aniversário de casamento de Kate Mercer e o planejamento para a festa está indo bem. Contudo, uma carta chega para seu marido: o corpo de seu primeiro amor foi descoberto, congelado e preservado nas geleiras dos Alpes Suíços.''
"Propõe questões interessantes sobre o casamento, o poder do passado e a 3a idade, em uma narrativa que aposta na sutileza e no trabalho dos atores. Mas é o tipo de filme a ser admirado à distância, por ser incapaz de tecer um laço emocional com o público." (Silvio Pilau)
''Os filmes de Ingmar Bergman ensinaram que, às vezes, bastam um par de sólidos intérpretes e uma direção com foco para produzir cinema de primeira grandeza. O britânico Andrew Haigh retoma essa lição do mestre sueco em "45 Anos", premiado com o Urso de Ouro de melhor atriz e ator para Charlotte Rampling e Tom Courtenay no Festival de Berlim deste ano. O longa narra os dias que antecedem a festa dos 45 anos de casamento de Kate e Geoff, um casal que vive tranquilamente a maturidade. A chegada de uma carta que relata a descoberta do cadáver de uma jovem desaparecida há muito tempo introduz a crise na estabilidade do casal. A morta havia sido o primeiro amor de Geoff. A reaparição desse fantasma coloca Kate em estado de dúvida e insegurança, e o ciúme entra em cena para envenenar o período de renovação de felicidades. A ilusão do amor eterno ou ao menos de uma estabilidade conferida pelos 45 anos sem maiores turbulências são perdidos num instante. A indisposição de Kate aumenta à medida em que se aproxima o dia da festa, e o comportamento oscilante de Geoff em relação ao assunto intensifica seu desconforto. O tratamento de Haigh, 42, prioriza o lugar da mulher, associa a perspectiva do espectador à subjetividade dela e só esboça os sentimentos de Geoff. De certa maneira, este longa inspira-se diretamente em "Cenas de um Casamento", o épico da intimidade de um casal realizado por Bergman em 1973. No lugar do anúncio de uma amante que desfazia a ordem no filme do diretor sueco, "45 Anos" explora o impacto da revelação de um fantasma. A ressurgência desse fator guardado no passado de Geoff e fora do alcance de Kate dá ao filme sua força ao captar as variações de um sentimento incerto e indefinível, mais abstrato que palpável. Em vez de representá-lo por meio de diálogos ou crises, Haigh prefere captá-lo nas interpretações de mil nuances de Rampling e Courtenay. "45 Anos" também confirma o talento de Andrew Haigh, diretor jovem que chamou a atenção com seu segundo longa, o drama gay Weekend, no qual já se percebia a capacidade para expor a desordem dos afetos. Sua participação como roteirista de cinco e diretor de dez episódios da série Looking, também centrada no universo gay, reafirmaram sua vocação para retratar a insatisfação da superficialidade emocional e a melancolia contemporânea em contraste com a abundância do hedonismo. Agora, Haigh se distancia da especificidade para abarcar uma geração mais velha e menos disposta à intermitência. O que consegue é tornar sua percepção mais universal." (Cassio Starling Carlos)
Frio até a última camada.
''A principal característica de ''45 anos'' é o ritmo lento, algo que há anos não me incomoda necessariamente. O problema do novo filme do britânico Andrew Haigh é que toda a história parece apenas um rabisco precário de um filme que poderia ter sido, mas não foi. Charlotte Rampling e Tom Courtenay protagonizam magistralmente a história de uma mulher que, às vésperas do aniversário de 45 anos de casamento, vê a relação sendo impactada pela descoberta do corpo da primeira paixão de seu marido. Embora as aparências indiquem que há um casal protagonizando o filme, as atenções voltam-se constantemente para Kate Mercer, interpretada por Rampling, esposa muito dedicada e solícita, que estuda profundamente o comportamento do marido após este receber a carta informando sobre o paradeiro do corpo de sua ex-namorada, descobrindo coisas a respeito de seu casamento e de si mesma que ela preferiria esquecer. Um corpo jovem, desfalecido, congelado e intacto emerge das profundezas das montanhas de gelo para assombrar as perspectivas de Kate sobre o seu casamento com Geoff e sobre a sua própria personalidade. Kate vê-se como uma substituta que jamais alcançou a grandeza de sua predecessora. Kate talvez perceba-se agora similar aos 45 anos ao lado do marido: dedicada, porém maçante, agradável, porém monótona. A canção sob a qual Kate e Geoff valsam em seu aniversário possui uma atmosfera muito mais fúnebre que nupcial. As letras de Smoke Gets In Your Eyes indicam que amar é uma ilusão – quando a fumaça se dissipa completamente torna-se inevitável perceber que a paixão fundara-se sobre o vazio. Ler e interpretar ''45 anos'' é uma experiência muito mais agradável que assisti-lo. Não há nada no filme que vá para além de sua sinopse. Toda a narrativa é preenchida por momentos que vez após vez expressam a mesma questão: Kate está subitamente desentorpecida em relação ao seu casamento. Haigh não vai realmente a fundo em Geoff e tampouco parece interessado em ir além do que lhe interessa em Kate – a personagem que Rampling compõe possui um conflito interno complicado, é verdade, mas é unidimensional. O filme parece indicar a presença de um autheur – o próprio diretor, Andrew Haigh. Na minha opinião, faltaram algumas mãos para refinarem o que Haigh bem começou, para realmente levarem o filme para frente, ao contrário do filme como ficou: engatado e prolixo. A composição dos planos é grosseira e travada. Se por um lado combina com o clima bucólico e burguês da região onde o filme se passa na Inglaterra, por outro faz com que o filme se torne ainda mais redundante: camada após camada, recurso após recurso, 45 anos diz sempre a mesma coisa. Num sussurro educado e gelado, Haigh, Rampling e Courtenay tentam, mas não fazem-se ouvir." (Guilherme Bakunin)
88*2016 Oscar / 2015 Urso de Ouro / 2015 Sundance
Bureau, The
Diretor: Andrew Haigh
9.318 users / 3.394 faceSoundtrack Rock
The Moody Blues / The Platters / The Turtles / Dusty Springfield / Aaron Neville
36 Metacritic 176 Down 27
Date 06/02/2016 Poster - ##### - DirectorSam MendesStarsDaniel CraigChristoph WaltzLéa SeydouxA cryptic message from James Bond's past sends him on a trail to uncover the existence of a sinister organisation named SPECTRE. With a new threat dawning, Bond learns the terrible truth about the author of all his pain in his most recent missions.[Mov 05 IMDB 6,8/10] {Video/@@@} M/60
007 CONTRA SPECTRE
(Spectre, 2015)
TAG SAM MENDES
{intenso}Sinopse
''Uma mensagem enigmática do passado leva James Bond (Daniel Craig) à uma missão secreta para a Cidade do México e, eventualmente, para Roma, onde ele conhece Lucia Sciarra (Monica Belluci), a bela e proibida viúva de um infame criminoso. Bond infiltra uma reunião secreta e descobre a existência da sinistra organização conhecida como SPECTRE. Enquanto isso, em Londres, Max Denbigh (Andrew Scott), o novo chefe do Centro para a Segurança Nacional, questiona as ações de Bond e desafia a relevância do MI6, liderado por M (Ralph Fiennes). Bond secretamente recruta Moneypenny (Naomie Harris) e Q (Ben Whishaw) para ajudá-lo a contatar Madeleine Swann (Léa Seydoux), a filha de seu antigo inimigo Mr. White (Jesper Christensen), que pode ter uma pista para desembaraçar a teia de SPECTRE. Como a filha de um assassino, ela compreende Bond de uma maneira que a maioria dos outros não podem. Conforme Bond segue em busca do coração de SPECTRE, ele desvenda a arrepiante conexão entre ele e o inimigo que procura (Christoph Waltz).''
"De certa forma, é bom ver Bond se voltando aos exageros da série e à exageração da realidade. Não tem pé e nem cabeça (como geralmente não tem), mas pelo menos não se leva à sério demais. Waltz um tanto quanto desperdiçado, uma pena." (Alexandre Koball)
"Cassino Royale" e "Skyfall" deram uma lição: quanto mais humano for o James Bond, melhor é o filme. "Spectre" ignora isso e, com absurdas cenas de ação, uma bond-girl e um vilão sem alma, vira umas maiores decepções de 2015 e um dos mais fracos da série." (Régis Trigo)
"Após uma ótima primeira metade (com uma das melhores aberturas da série), o filme enfraquece aos poucos, acumulando clichês (o vilão mais parece Jigsaw com seus joguinhos) e fazendo de Bond o herói invencível de outros tempos. Mas o resultado é positivo." (Silvio Pilau)
"Bond mantém sua sagacidade habitual, mas esta nova aventura é morna e mal resolvida, e embora dialogue bem com o que a série era antigamente (inclusive abordando a relevância de Bond na atualidade), o gosto final é de decepção." (Rafael W. Oliveira)
"Extremamente irregular, com diálogos quase tão ruins quanto Cinquenta Tons de Cinza e um vilão cuja latida é mais forte que a mordida. A beleza de Seydoux rouba o filme, assim como poucas belíssimas cenas de Mendes que infelizmente não sustentam o filme."
(Guilherme Spada)
O fim de uma era.
''A ideia de um Bond renovado, mais sério e realista, impiedoso e lotado de conflitos morais, foi aceita por um público que mostrava sinais de cansaço com uma figura intocável e ajudou a renovar o interesse por uma franquia que caminhava para a aposentadoria com um filme mediano atrás do outro. James Bond canastrão, beirando o surreal, cartunesco e, porque não, antigo havia sido deixado de lado pela personificação muito mais máscula de Craig para o personagem em 007 - Cassino Royale, claramente inspirado por um Jason que fazia sucesso na época. Bond agora dificilmente ri, e quando o faz, ou é de forma irônica ou porque sabe que vai traçar alguma das muitas mulheres que passam em seu caminho. A peça de museu havia sido atualizada. Seguindo a clássica ordem natural das coisas, este ''007 Contra Spectre'' chega aos cinemas não apenas com tom de despedida de mais uma fase cíclica do personagem como questionando novamente esse papel do homem super espião em um mundo cada vez mais digital e controlador. Na sinopse, em paralelo pela busca do assassino de M, Bond deve enfrentar uma crise na sua agência, já que os espiões 00 estão sendo considerados ultrapassados pelos recursos tecnológicos hoje disponíveis. A discussão que aconteceu naturalmente quando houve a troca de postura do personagem acontece de novo, forçada por um roteiro que não sabe muito bem o que fazer com seus personagens, enfraquecendo novamente um personagem que começa a implorar por mais uma renovação. Ao mesmo tempo em que começa com uma cena de ação espetacular envolvendo um helicóptero – constante durante todo o filme, lotado de cenas marcantes de porrada, tiroteio e perseguição -, o principal mote que move a história é o seu lado dramático perante à situação moral e psicológica em que se encontra seu personagem título. Ou seja, a ação espetacular acaba ofuscada por, dessa vez, não ser o interesse real do momento que vive o personagem. A história de Spectre, para funcionar, dependia fundamentalmente dos personagens se encontrarem em tela, que não é o que acontece. Bond é o menor dos problemas, afinal, continua agindo como sempre agiu: de maneira irresponsável mas eficiente, se envolvendo com belas mulheres e impiedoso com os inimigos. Algo que, nessa era Craig, trazia complicações para a consciência do personagem; culpado por tantas mortes nas suas costas, ele não é mais o mesmo e isso é visível. Só que os personagens que cruzam o seu caminho não recebem o mesmo tratamento. Monica Bellucci só serve para abrir as pernas e depois nunca mais aparece, o que é uma pena, já que é uma baita atriz e poderia ter sido muito melhor aproveitada. A Bond Girl Léa Seydoux surge totalmente sem sal, mas logo depois coloca um vestido colado e age de maneira sexy, evocando a sensualidade que tivera em Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d'Adèle, 2013) e provando que, sim, poderia ser uma Bond Girl digna – a impressão de que dá no começo do filme é que ela seria engolida por Craig. Já Ralph Fiennes, agora com nariz, demonstra um M eficiente não apenas atrás das mesas, com a pose elegante que um homem de seu cargo deve ter, como também quando é exigido nas cenas de ação, afinal, ele precisa ir a campo para salvar sua corporação. A broxada inacreditável ficou por conta dos vilões, algo que sempre foi um dos pontos fortes da série. Quando soube que Christoph Waltz seria um dos escolhidos, tive a certeza de que não poderia dar errado, afinal, o ator vinha de trabalhos magníficos, um atrás do outro: foi um dos personagens mais marcantes dos filmes de Tarantino em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), depois um anti-herói eficiente em Django Livre (Django Unchained, 2012), além de ter trabalhado com uma série de diretores renomados como Roman Polanski e Tim Burton até ser escalado por Sam Mendes para viver o grande vilão Oberhauser. Até que ele começa bem, impositivo, uma figura realmente ameaçadora, mas que com o desenvolvimento imposto pelo roteiro, acaba bobo e caricato, ainda que sua maquiagem tenha ficado bem legal. A questão é que Bond sempre teve vilões icônicos e este Oberhauser de icônico nada tem, é um personagem totalmente esquecível e incompatível com o status que o filme lhe dá e o ator que tem. O mesmo pode ser dito do gigante Hinx. Claramente inspirado em um dos personagens mais famosos da franquia 007, o Jaws de 007 O Espião Que Me Amava e de 007 contra o Foguete da Morte, Hinx é apresentado ao público como um personagem ruim de coração e com unhas poderosas, que foram mostradas como sua principal arma. Obviamente que isso iria render problemas para Bond, certo? Não, pois o roteiro sequer chega a usar sua vantagem contra o personagem. Imperdoável e um erro até amador. A conclusão dada para ele também é tão abrupta que causa decepção instantânea ao constatarmos que ele saiu da história daquele jeito mesmo. A decisão de trazer fim ao ciclo acaba enfraquecida por vilões que foram bem construídos mas mal utilizados, interesses românticos repentinos e forçados (quem já viu deve concordar que tudo foi fácil e irreal demais, mesmo para Bond; não falo nada mais para não estragar nenhuma surpresa) e uma história que não consegue concluir bem sua proposta de unir tematicamente todos os Bonds da era Craig; tiveram a cara de pau de usar apenas fotos para isso. Se fica atrás na canção tema e tensão para Skyfall, em roteiro e desenvolvimento para Cassino Royale e nem o pior filme consegue ser porque é melhor do que Quantum of Solace, acaba sendo um filme mediano em tudo, mas que era vendido como a obra máxima de Bond, partindo daí parte da decepção. Acontece que o filme não é ruim, pois tem cenas de ação que conseguem suprir a diversão (são as melhores dessa nova geração, uma espetacular atrás da outra) e diálogos bem escritos (adorei a metáfora da pipa no furacão), além de locações e alguns planos maravilhosos que agregam certo valor à obra. É necessário ser justo com ele. Craig ainda tem contrato para mais um filme e recentemente desistiu de sair da franquia, permanecendo nela pelo menos por mais um filme e cumprindo o seu contrato original de cinco do personagem. Mas sinceramente, depois do modo como o arco desse Spectre se concluiu, não vejo muito para onde a história desse atual Bond pode ir e nem há tempo suficiente para um novo ciclo começar. Vamos ver o que farão com nosso espião querido mais uma vez." (Rodrigo Cunha)
''O grande mérito de "007 Contra Spectre" é embutir o tanto quanto é possível de credibilidade a um personagem muitas vezes tido como datado, sem ignorar os chavões que marcam o charme da saga. O 24º filme oficial da bilionária franquia de James Bond estreia nesta quinta-feira. Os filmes de Daniel Craig, sexto ator a trajar o smoking de Bond, sempre se equilibraram na corda bamba da dualidade realismo versus legado. Se o anterior, 007 - Operação Skyfall, colheu elogios pelo seu tom severo, falhou ao ignorar algumas das cláusulas pétreas de 007 –a de não ter uma Bond girl notável, por exemplo. Do antecessor, 007 Contra Spectre retoma o clima soturno e a mão firme de Sam Mendes, também diretor de Skyfall. E recupera também os tais ingredientes do Bond clássico – a começar por reintroduzir na trama a organização criminosa Spectre, ausente desde 007 - Os Diamantes São Eterno, último dos longas oficiais protagonizados por Sean Connery. É um filme pós-Edward Snowden: James Bond segue o rastro do grupo terrorista comandado por Oberhauser (Christoph Waltz). Já M, chefe de 007, luta para manter o serviço de agentes secretos diante da iminência de serem substituídos por um sistema de vigilância que passa por cima de liberdades civis. Para o jornal inglês "The Guardian", é um filme pró-Snowden. Mendes tem êxito em retratar a Spectre da forma mais verossímil que se pode dentro de um universo como o de Bond: o vilão vivido por Waltz é sádico como se exige, mas não incorre nos exageros dos inimigos clássicos e que hoje seriam risíveis: não aniquila oponentes em lagoas habitadas por piranhas ou tubarões. Numa trama que conecta as pontas soltas dos três filmes anteriores protagonizados por Craig, o vilão Oberhauser se mostra o "responsável por toda a dor" do agente. A francesa Léa Seydoux (Azul É a Cor Mais Quente) interpreta Madeleine Swann, filha de um inimigo do espião e a mais memorável Bond girl desde a passagem da atriz Eva Green por 007 - Cassino Royale. Madeleine sabe manejar uma arma, se impõe, recupera uma tradição de mulheres que batem de frente com James Bond, caso de Pussy Galore de 007 Contra Goldfinger e da agente Anya Amasova de 007- O Espião que me Amava. Outro ponto forte do novo filme é dar mais protagonismo aos coadjuvantes de sempre, coisa que já havia começado no longa anterior. Na pele do chefe do serviço secreto, M, Ralph Fiennes tem uma tarefa que vai muito além do que só passar a missão a seu agente com licença para matar. Mesmo Q, hoje mais um hacker do que o cientista das engenhocas malucas dos filmes clássicos, ganha mais minutos de tela e importância na história. "Spectre" falha quando incorre no humor. As tiradas engraçadinhas de Craig, no meio de uma perseguição de carros, lembram os piores momentos dos filmes protagonizados por Roger Moore, o mais fanfarrão dos Bonds. Christoph Waltz faz um inimigo convincente, mas perde para o psicopata de olhar hipnótico vivido por Javier Bardem em "Skyfall"." (Guilherme Genestreti)
***
''Quando um filme de James Bond chega as lojas, a reação dos maníacos por 007 pode ser de alegria, pela aventura a disposição, ou de tristeza, porque aquela caixa com todos os filmes comprada no natal passado acaba de ficar desatualizada. "007 Contra Spectre'' chega para ser adicionada a coleção e para provar que Daniel Carig acertou mesmo no papel. Sua quarta aparição como agente secreto tem um caráter meio retrospectivo, já que Bond enfrenta agora um vilão que está ligado aos infortúnios que 007 passou nos últimos filmes. E, para melhorar, o bandido é interpretado pelo sempre ótimo Christoph Waltz. Monica Bellucci só fazuma ponta, mas o time de Bond Girls está muito bem liderado pela francesa Léa Seydoux, capaz de lutar e correr de vestido colado. É mais do mesmo, claro, mas sempre diverte.'' (Thales de Menezes)
*****
''Não falta espetáculo em "007 contra Spectre''. Desde o início, James Bond (mais uma vez interpretado por Daniel Craig) encontra-se envolvido em lutas mortais. Depois, será escanteado por conta de sua fidelidade ao chefe M (Ralph Fiennes) e também porque é um individualista convicto: serve à rainha fielmente, mas pensa com a própria cabeça. Essa coisa de hierarquia é um tanto relativa para ele. Aqui os inimigos se sucedem, como os perigos, como as locações um pouco pelo mundo inteiro. Novidade propriamente é a pretensão de aposentar M e o ataque terrorista à organização que ele chefia. Até o passeio nostálgico ao passado não deixa de ser uma atração. Algo parece errado: passar o filme todo à procura do inimigo de sempre (a organização secreta Spectre)? Que importa? No meio de tanta agitação, de tantos efeitos, tantos perigos, nem notamos. Afinal este é o James Bond século 21: não é o charme que manda, e sim a forma física.'' (* Inácio Araujo *)
''O plano-sequência de abertura do novo James Bond sugere, a princípio, releitura elegante da perseguição tradicional em filmes da série. O agente secreto segue um criminoso, em meio dos festejos do Dia dos Mortos, acompanhado por uma câmera apenas, sem as tremedeiras e os cortes rápidos e cansativos do gênero de ação. A filmagem contínua atribuiria ao longa mais realismo, mote da reinvenção da franquia com o ator Daniel Craig, não fosse a ansiedade do diretor Sam Mendes. Um corte desnecessário na sequência à la Marca da Maldade, de Orson Welles, sintetiza o fracasso que é "007 Contra Spectre''. Mendes tenta fazer muito, com agrados a fãs nostálgicos (quem mais teria paciência para a caça ao tesouro das referências?), elo entre as tramas dos três filmes anteriores e promessas de inovação. Acaba por entregar pouco mais que um roteiro clichê e confuso, diálogos rasteiros e personagens superficiais. A narrativa segue um eixo policial e outro político. No primeiro, Bond investiga uma pista obscura que o leva à descoberta da organização criminosa Spectre. Contar mais redundaria em spoiler. O segundo se trata da parte mais interessante de "007 Contra Spectre". Um burocrata do governo britânico, apelidado por Bond de C, tenta substituir o programa 00, que concede aos agentes licenças para matar, por um supersistema de vigilância. O risco de fechamento do programa – uma das diversas semelhanças com o último Missão Impossível – abre brecha para uma questão moral promissora: por que um governo precisa de figuras com carta branca para matar? O que é pior? O fim da privacidade em nome de uma suposta segurança ou agentes com ares de Juiz Dredd, personagem dos quadrinhos que acumula os papéis de policial, magistrado e executor?A aura sociopata conferida por Daniel Craig ao personagem, que prioriza a violência ao cérebro e à sedução, resulta numa pena de morte ambulante e aleatória. O longa é óbvio nas soluções que oferece ao debate, um entre vários quase frustrantes. A viúva (Monica Bellucci) de um criminoso promete ser uma rara Bond girl mais velha, mas acaba seduzida e descartada em minutos. O mesmo acontece com a outra (Léa Seydoux), cujos freios à abordagem machista do herói duram poucas cenas. O esforço da franquia para se mostrar relevante, propagandeando o tal realismo, só fortalece a nostalgia. O que parece importar para os realizadores, no final das contas, é a comparação entre vilões, carros, martínis batidos mas não mexidos, canetas que explodem e Bond girls sempre descartáveis." (Matheus Magenta)
88*2016 Oscar / 73*2016 Globo
B24 Columbia Pictures Danjaq Eon Productions Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) Sony
Diretor: Sam Mendes
271.494 users / 86269 face
48 Metacritic 172 Up 23
Date 28/06/2016 Poster - ## - DirectorJon StewartStarsGael García BernalKim BodniaDimitri LeonidasIranian-Canadian journalist Maziar Bahari is detained by Iranian forces who brutally interrogate him under suspicion that he is a spy.[Mov 05 IMDB 6,6/10] {Video/@@} M/67
118 DIAS
(Rosewater, 2014)
TAG JOHN STEWART
{esquecível}Sinopse
''No Irã cobrindo as eleições presidencias de 2009 e os protestos decorrentes, o jornalista Maziar Bahari (Gael Garcia Bernal) é preso por autoridades locais e passa mais de cem dias na cadeia sendo torturado e interrogado incessantemente.''
''Uma vítima boa-praça e indefesa nas mãos da polícia de um regime político linha-dura é uma combinação na medida para o público que não resiste a dramas sobre injustiças. Junte-se a isso o apelo de histórias baseadas em fatos reais e está feita a receita bem-sucedida de "118 Dias". Em sua estreia na direção, o apresentador Jon Stewart transpõe o relato pessoal de Maziar Bahari, jornalista canadense nascido no Irã. Durante a cobertura que fazia das eleições iranianas em 2009, Bahari registrou em vídeo protestos contra a reeleição, suspeita de fraudulenta, do presidente Mahmoud Ahmadinejad e acabou sendo preso e torturado pelo regime durante meses sob a acusação de espionagem. O material é o suficiente para um típico filme político, em que a denúncia do autoritarismo se fortalece com a figura do jornalista como expressão do ideal de liberdade. Na primeira parte, Stewart dedica-se a replicar essa mistura de emoção e indignação aprendida na escola do thriller político de Costa-Gavras. É na prisão, contudo, que o filme ganha força, ao representar em minúcias o duelo físico e psicológico entre torturador e refém e evocar exemplos do passado. Por meio da representação do conflito numa relação que é antes de tudo de dominação, "118 Dias" consegue dar corpo a concepções opostas de crenças religiosas e ideologias sem usar apenas abstrações ou slogans. Mesmo que siga à risca a cartilha do maniqueísmo, o filme evita ser apenas um panfleto contra os maus modos do atual regime iraniano e mostra que o vigor desse autoritarismo vem de uma história e de uma tradição." (Cassio Starling Carlos)
Até quando veremos biografias que não acrescentam nada ao cinema?
''Após uma enxurrada de biografias sem nenhum rigor técnico ou narrativo, ou só com uma coisa ou outra, era chegada a hora de algo mais substancioso na hora de contar uma história real, um decoro narrativo e uma inventividade cênica que trouxesse frescor a um gênero tão cambaleante. Infelizmente se a hora chegou, ainda não foi com a estreia atrás das câmeras de Jon Stewart. Apesar da bela reconstituição dos fatos e do elenco afiado, qual a função desses filmes que não trazem nada além de contar burocraticamente uma história, por mais extraordinária que seja? O repórter de origem iraniana Mazair Bahari trabalha para a Newsweek e volta até seu país de origem durante as eleições de 2010, quando o presidente à época (também conhecido como ditador) Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito em circunstâncias tidas por muitos como fraudulentas. Na ânsia de denunciar os atentados na qual a população revoltosa sofreu após as eleições, Mazair consegue imagens explosivas de ataques de autoridades locais. Não demora a baterem em sua porta com alegações absurdas de espionagem, mas que rendem uma prisão que dura pelo tempo do título nacional, onde torturas físicas e psicológicas serão impingidas a ele. Ou seja, uma história tão rica e fascinante quanto as de O Jogo da Imitação e A Teoria de Tudo... Tratada com a mesma burocracia. Aqui e ali, o ator/apresentador transformado em diretor tem algum lampejo de imaginação, nada que dure muito. Ou que justifique a falta de cuidado com que os personagens coadjuvantes são (mal) tratados. O cúmulo do desperdício se estende ao personagem titulo; sim, o Rosewater do título original em inglês do filme se refere a um perfume típico que o principal torturador do jornalista usa, torturador esse que é tratado da forma mais maniqueísta possível, aliás como todos em cena. Dá pena real de ver como histórias repletas de potencial são reduzidas a "reprodução dos fatos", exclusivamente pelo teor extraordinário dos fatos, e que somente eles já convenceriam o público médio, tanto que as duas biografias britânicas indicadas ao Oscar saíram ada uma delas da festa com um troféu nobre cada pela capacidade de atração de suas tramas, sem nenhuma das duas ter qualquer arroubo qualitativo. Ele também não está aqui. O que está? Gael Garcia Bernal se virando do jeito que pode num projeto muito aquém do seu talento; Shoreh Aghdashloo igualmente compenetrada no seu ofício e tentando o máximo em dignidade; Kim Bodnia como o malfadado policial, esse então imerso num personagem ruim mas tentando se safar com o talento que tem. Em meio a isso tudo, temos Stewart, que claramente está tentando cavar seu nome na indústria. Funciona enquanto um primeiro filme, mas pro próximo a gente torce para que ele se cerque de um melhor roteirista ele mesmo e seja mais ousado imageticamente. Mesmo que demonstre alguma ousadia aqui e ali, ainda falta se jogar do trapézio sem rede de proteção. Taí, acho que é isso que falta a todas essas biografias quadradas, acreditar menos no poder da história que tem pra contar. Porque sabemos do poder delas; estão sendo filmadas, lógico que há um colossal interesse gratuito nelas. Por que não partir do princípio que o interesse já está ganho previamente e ousar, e vibrar, e ofertar mais ao público do que não apenas um roteiro em imagens? Do jeito que a dieta cinematográfica continua me entregando biografias das piores formas possíveis, continuo na minha ideia ruim de menospreza-las, e olha que acho que esse produto aqui até tenta, hein... Mas no fim das contas, ainda temos um roteiro ruim e uma encenação que não privilegia a imaginação, em um baita contra-senso já que ambos são da mesma pessoa. Uma pena." (Francisco Carbone)
Busboy Productions International Traders OddLot Entertainment
Diretor: John Stewart
8.348 users / 5.325 faceSoundtrack Rock
Leonard Cohen
35 Metacritic
23/08/2016 Poster - # - DirectorMichael BayStarsJohn KrasinskiPablo SchreiberJames Badge DaleDuring an attack on a U.S. compound in Libya, a security team struggles to make sense out of the chaos.[Mov 03 IMDB 7,3/10] {Video/@} M/48
13 HORAS - OS SOLDADOS SECRETOS DE BENGHAZI
(13 Hours - The Secret Soldiers of Benghazi, 2016)
TAG MICHAEL BAY
{esquecivel / violento}Sinopse ''O longa conta a história de um grupo de seis soldados privados que trabalham num complexo da CIA em Benghazi, na Líbia, em 2012. Em um aniversário dos atentados de 11 de setembro, eles precisaram defender um posto diplomático que recebe a visita de um embaixador americano, e que, obviamente, será um alvo de terroristas. Inspirado na história verídica de um ataque, do grupo terrorista Ansar al-Sharia, ocorrido na cidade de Benghazi (Líbia) a um Complexo Diplomático dos EUA a 11 de setembro de 2012 - que vitimou o embaixador Christopher Stevens e três agentes norte americanos. ''
"Bay ligeiramente contido consegue criar um thriller de guerra moderna com uma boa preparação e muitos tiroteios, idolatrando, como era esperado, o exército e os heróis norte-americanos em detrimento dos descartáveis rebeldes do Terceiro Mundo." (Alexandre Koball)
"A cinematografia de D. Beebe, parceiro de Mann na obra-prima Miami Vice, deu um plus legal na obsessão de Bay pelo militarismo. 13 Hours é um filme de cerco que combina Call of Duty (perspectiva) e filme de zumbi (atmosfera) dum modo bem angustiante." (Daniel Dalpizzolo)
"Traz todos os problemas e qualidades típicos de um filme de Bay: no primeiro caso, desenvolvimento nulo de personagens e história, duração excessiva e exacerbado jingoísmo. No segundo, as cenas de ação sempre eficientes, com alguns belos planos." (Silvio Pilau)
"Vale o esforço do elenco em tentar dar dignidade a linhas de diálogos tão cretinas e expositivas. O Michael Bay de volta as péssimas origens. " (Francisco Carbone)
"Apesar de se basear em fatos reais, Michael Bay contrói um filme sem vida ou alma, relatando uma história desinteressante que é revelada ao público de maneira pobre. Nunca não me importei tanto com uma história, principalmente, com seus personagens." (Guilherme Spada)
"Michael Bay é o diretor por trás de Transformers e outros pesos-pesados de bilheteria. Este aqui é um filme sério do cineasta, baseado em episódio real na Líbia, em 2012, quando o embaixador americano teve sua casa cercada por divisões hostis e bem armadas do exército local. Seis ex-soldados das Forças Especiais, contratados pelos pela CIA, se tornaram a única defesa dos americanos na embaixada. Com bom elenco, que tem John Krasinski e Dominic Fumusa, o filme é denso e tem sequências espetaculares de combate. Nem mesmo um exagerado ar de louvação aos soldados compromete a diversão." (Thales de Menezes)
''Dois filmes se complementam e às vezes parecem não conversar em "13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi". O primeiro é uma típica produção parruda realizada por Michael Bay, com ação em doses cavalares, fascínio pela força bruta e idealização do macho branco americano como paradigma do herói. O segundo denuncia a incompetência dos Estados Unidos no papel de vigilante da democracia liberal e as burrices de sua inteligência. O roteiro se baseia num livro-reportagem do jornalista Mitchell Zuckoff que investigou e denunciou as falhas da defesa americana expostas num ataque a uma base secreta da CIA na Líbia, em 2012. As franjas de crítica reproduzidas no filme vêm, certamente, desse relato. Mas "13 Horas" chama a atenção também por projetar uma visão negativa do heroísmo –anomalia nesse tipo de blockbuster. O filme tenta se inscrever na mesma linhagem de Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura, ambos dirigidos por Kathryn Bigelow. Como naqueles, a ação combinada de inteligência e intervenção militar revela-se insuficiente ou frustrante e, ao final, o único sonho dos sobreviventes é voltar para casa. Mesmo que "13 Horas" faça apologia da força, o filme não comporta nenhum triunfo. Enquanto a catarse pela ação, fundamental nesse tipo de cinema, não deixa ninguém aliviado, o impacto final vem do desastre. Ao contrário do heroísmo alquebrado dos filmes de Bigelow e do Sniper Americano, de Clint Eastwood, os personagens de Michael Bay não têm espessura. Quando o filme tenta dar dimensão humana a eles, o resultado é piegas. É inegável, porém, a eficiência do diretor na ação. O modelo imersivo que cria, importado dos games e aprimorado ao longo da franquia Transformers, coloca o público no centro da batalha e faz uma curiosa transposição dos antigos faroestes para as formas atuais ultratecnológicas de combate. Ao evocar uma situação clássica do cinema americano, Bay mostra que gostaria de ser um pouco John Ford. O modo como defende a superioridade, no entanto, faz dele apenas um herdeiro de John Wayne." (Cassio Starling Carlos)
89*2017 Oscar
Paramount Pictures 3 Arts Entertainment Bay Films Dune Films Latina Pictures
Diretor: Michael Bay
83.305 users / 51.589 face
36 Metacritic 390 Down 22
Date 15/04/2017 Poster - ## - DirectorJerzy SkolimowskiStarsRichard DormerPaulina ChapkoWojciech MecwaldowskiThe lives of several Varsovians are intertwined for just 11 minutes. These minutes turn out to be crucial for their ultimate fate.[Mov 05 IMDB 5,8/10] {Video/@@@@@} M/51
11 MINUTOS
(11 Minut, 2015)
TAG JERZY SKOLIMOVSKI
{interessante}Sinopse ''Um marido ciumento fora de controle, uma atriz sensual, um frágil diretor de Hollywood, um traficante imprudente, uma jovem desorientada, um ex-presidiário vendedor de cachorro-quente, um estudante em uma missão misteriosa, um limpador de janelas em uma pausa fora do combinado, um velho desenhista, um time de paramédicos agitados e um grupo de freiras esfomeadas. Em uma inesperada cadeia de eventos, as vidas, os amores e os destinos desses personagens podem ser selados em meros 11 minutos.''
"Skolimowski meio irreconhecível. Algumas ideias visuais não funcionam, e por mais habilidoso que seja esse supercontrole das tramas e personagens e haja um acúmulo significativo de elementos em cena, a catarse final não é capaz de absorver suas potências." (Daniel Dalpizzolo)
Dilatar e entrelaçar.
''A importância de onze minutos nas existências humanas – o quanto pode mudar. O quanto esse tempo pode conter muitas ações, pensamentos, universos inteiros em si. Aqui o tempo é específico – inclusive no título -, mas Skolimowski sempre teve essa impressão sobre o caráter final e decisivo da vida e suas reviravoltas carregadas de dramaticidade e significado. Isso era verdade em grandes clássicos da sua carreira – a relação obsessiva de O Ato Final, os segredos obscuros de O Estranho Poder de Matar, as relações de exploração em Classe Operária, a luta pela sobrevivência em Matança Necessária. Em seus filmes, cada pequeno evento deixa marcas – e seus personagens foram constituídos por elas. O veterano conterrâneo e contemporâneo de Roman Polanski despe seu filme de qualquer fator extra-tela e dá valor apenas aos conflitos silenciosos organizados em um coral de um pequeno grupo que toma espaço numa faixa curta de tempo e incorpora o valor dos pontos de vista também à estética do filme – abundam imagens de celulares, de conversas de videochamadas, de câmeras de segurança, entre outas, que abrem o filme apresentando um panorama fragmentário, cuja cronologia descritiva só irá se resolver depois. Cronologia descritiva essa profundamente dilatada por Skolimowski, que aumenta os tempos do filme a todo tempo, preocupado com o rumo que cada um de seus protagonistas está tomando, onde temos a oportunidade de tomar parte em cada pequeno drama - um entregador viciado em drogas e adrenalina que precisa estar em vários pontos da cidade em um curto período de tempo, um vendedor de cachorro quente, ex presidiário com um segredo obscuro, uma garota com seu cachorro, um adolescente revoltado à beira de cometer um crime, um casal que se encontra na intimidade do quarto, um grupo de paramédicos socorrendo vítimas em estado emergencial, um cafetão viciado em drogas em sua busca obsessiva por sua namorada, que se encontra com um diretor de cinema que tenta constrangê-la com seus avanços. Criado a partir de uma experiência pessoal trágica, a perda de seu filho, Skolimowski torna seu Onze Minutos uma experiência tão visceral quanto Matança Necessária, ainda que para isso lance mão de uma corrente exatamente oposta ao seu clássico recente, focado em um único protagonista e o detalhamento nos sacrifícios que tem que enfrentar para sobreviver e como é reduzido a um estado praticamente animal. Aqui, todos ainda estão vestido suas máscaras, ainda que cada um carregue seus próprios medos, culpas, perturbações e paixões violentas que cedo ou tarde o roteiro faz vir à tona. A dilatação temporal de Skolimowski torna seus espaços claustrofóbicos, sufocantes – de alguma maneira seus personagens não sentem que pertencem ali, nem sabem o que estão fazendo concentrados naquele ponto da cidade, com o diretor abusando do ataque sensorial, repetindo os ritmos da trilha sonora e da música, pontuando a proximidade do perigo iminente, fazendo do filme praticamente inteiro uma longa pavimentação para a elaboradíssima e cheia de camadas cena final que de uma vez só faz todas as histórias se encontrarem sem fornecer respostas alguma. Um único momento e uma única ação basta para mudar todas aquelas vidas de uma vez só. Cada pequeno detalhe manejado nesse mosaico em organizações alternadas e dialéticas de montagem, as histórias em paralelo e as histórias que conversam umas com as outras, nos dão a verdadeira dimensão e impacto emocional da catástrofe cinematográfica, dilatada e entrelaçada pela última vez em toda a concentração de catarse nos atordoando de uma vez só. O efeito cinematográfico, puro e simples, potente e devastador, que poucos cineastas, mesmo veteranos como Skolimowski, conseguiriam preparar e entregar com tanta consciência das ferramentas à sua disposição.
Por Bernardo D.I. Brum
''Cinco anos depois de lançar Essential Killing, uma obra-prima de cinema de ação sobre a potência e a responsabilidade do gesto destrutivo, Jerzy Skolimowski transforma em 11 Minutos essa premissa do seu longa anterior em uma molecagem. Acompanhamos vários personagens cujas histórias se cruzam durante 11 minutos de suas vidas em Varsóvia, na Polônia, a começar por uma atriz recém-casada que se encontra com um diretor de Hollywood para fazer um teste num quarto de hotel (para desespero de seu marido, que acorda atrasado para o compromisso depois da ressaca do casamento), até um grupo de freiras que come cachorros-quentes e aguarda um ônibus na frente do mesmo hotel, epicentro da ação. Não falta o entregador de moto (para acelerar a ação) nem a grávida em trabalho de parto (para fins dramáticos). A ideia de que vidas podem mudar definitivamente em menos de um minuto é o conceito fatalista por trás de 11 Minutos, mas Skolimowski não antecipa o tom sombrio, a não ser em estranhas aparições de uma figura no chuvisco de uma televisão ou em pontos pretos no céu - sugestão de realismo fantástico que acaba não se efetivando. Na verdade o cineasta polonês está mais interessado em acompanhar como pequenos gestos contribuem para definir esses instantes transformadores, desde o atrito de uma mão num sofá até o desespero de um bombeiro para liberar o caminho que o separa de uma vítima. Se ''11 Minutos'' não tem a mesma potência e a gravidade de Essential Killing, é porque, primeiro, não lida diretamente com as consequências da ação (elas virão apenas no final apoteótico, e assim se tornam um tanto inconsequentes) e, segundo, recorre muito mais a artificialismos de efeitos sonoros e jogos de câmera para tentar envolver o espectador. A ideia é que tudo ao redor seja imprevisível, mesmo numa cidade modorrenta como Varsóvia. (Talvez Skolimowski se saísse com um filme melhor se tivesse rodado em lugares verdadeiramente cacofônicos como Xangai ou Nova York...) À falta de desordem, ele amplifica barulhos da cidade, sirenes, obras, e mesmo nas horas de correria a câmera fica frequentemente fechada em close-up ou plano americano acompanhando os personagens. Ao negar o contexto no enquadramento - tudo pode dar errado em torno das pessoas porque não vemos o que há ali - o diretor tenta estabelecer um suspense na marra. O resultado parece um respiro juvenil na obra do polonês, que ficou 17 anos sem filmar antes de retomar sua carreira em 2008 com Quatro Noites com Anna. É como se Skolimowski descobrisse só agora o cinema digital como mídia do efêmero e da experimentação formal, com um relativo atraso em relação aos filmes de virada de século que faziam isso, como Corra, Lola, Corra e Time Code. De qualquer forma, o desfecho catártico de arrancou aplausos na sessão em que estive, e a Polônia entrou na brincadeira: ''11 Minutos'' é o inscrito pelo país a uma vaga no no Oscar de filme estrangeiro em 2016." (Marcelo Hessel)
2015 Lion Veneza
Element Pictures Skopia Film
Diretor: Jerzy Skolimowski
1.201 users / 155 face
12 Metacritic
Date 01/07/2017 Poster - ##### - DirectorJames DeMonacoStarsFrank GrilloElizabeth MitchellMykelti WilliamsonFormer Police Sergeant Barnes becomes head of security for Senator Charlie Roan, a Presidential candidate targeted for death on Purge night due to her vow to eliminate the Purge.[Mov 05 IMDB 6,1/10] {Video/@@@@} M/55
12 HORAS PARA SOBREVIVER - O ANO DA ELEIÇÃO
(Purge - Election Year, The, 2016)
TAG JAMES DE MONACO
{violento}Sinopse ''Já se passaram dois anos desde que Leo Barnes (Frank Grillo) deu fim a uma ação de vingança lamentável em uma noite de expurgo. Servindo agora como chefe de segurança para a Senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), sua missão é protegê-la durante sua corrida para a presidência e sobreviver ao ritual anual que tem como alvo os pobres e inocentes. Mas quando uma traição os força a sair às ruas da capital em uma noite onde nenhuma ajuda é disponível, eles devem continuar vivos até o pôr do sol... ou ambos serão sacrificados por seus pecados contra o Estado.''
"12 Horas para Sobreviver – O Ano da Eleição poderia tranquilamente se chamar “Quando James DeMonaco encontra Freud e Dostoiévski”. Ao contemplar as eletrizantes cenas de ação deste terceiro capítulo da franquia de sucesso, para os que leram e se impactaram, torna-se quase impossível não fazer associação com uma emblemática passagem de Os Irmãos Karamazov. De acordo com o autor de Crime e Castigo, “em todo homem, é claro, habita um demônio oculto: o demônio da cólera, o demônio do prazer voluptuoso frente aos gritos da vítima torturada […]. Diante do excerto literário acima, o filme de James DeMonaco torna-se ainda mais potente. Nos anos 1980, o renomado geneticista Oswaldo Frota Pessoa, da USP, conhecido por estudar o comportamento humano, apontou numa reportagem que o instinto violento do homem faz parte de sua herança biológica. Será? Outros contrapõem esse discurso, mas o especialista reforçava a sua tese alegando que esta imanência ganha mais projeção de acordo com o ambiente de convivência. Se olharmos novamente para o filme em questão, tais afirmações se complementam e criam um feixe reflexivo ideal para pensar o mal-estar da civilização contemporânea. Por falar em mal-estar, civilização e violência, é um efeito quase automático citar Freud, pai da psicanálise que explicou a agressividade se embasando na sua teoria pulsional. A discussão não era exatamente uma novidade. Em 1908, Alfred Adler teorizou sobre “pulsão de agressão”, tendo Freud como seu leitor. O psicanalista aderiu aos pressupostos, divergiu levemente e esboçou a sua teoria sobre o assunto, culminando no icônico O mal-estar da civilização, de 1929, um texto quase sempre citado quando alguém se propõe a pensar a violência numa instância analítica e reflexiva. "12 Horas para Sobreviver – O Ano da Eleição", por sinal, parece uma versão cinematográfica da teoria freudiana, salva, claro, as devidas proporções. No filme Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), senadora e candidata ao cargo de presidente dos Estados Unidos, promete acabar com o dia do expurgo. O problema é que algumas pessoas e instituições não estão interessadas nestas mudanças que visam a atual conjuntura, tal como os casos políticos golpistas da vida real. Paralelo ao conflito político da senadora há a busca pela sobrevivência de Joe e Marcos, negro e mexicano, respectivamente, homens que precisam lutar pela sobrevivência e pela manutenção de seu estabelecimento comercial face aos criminosos e assassinos que saciam os seus “instintos de violência” durante o período do expurgo. Há um momento em que as histórias paralelas se encontram, e de forma orgânica e didática, atuam juntas para o sucesso narrativo do filme. Nesta terceira e eletrizante parte da franquia de James DeMonaco, cineasta que também assina o roteiro, os aspectos semióticos são contundentes ao exibir uma crítica ao clima político mundial estadunidense: a senadora pode ser uma alegoria para o embate entre Hillary Clinton e Donald Trump. De um lado, uma mulher na política, com ideias e projetos liberais, enquanto do outro lado, na pele dos opositores, temos pessoas que pregam valores morais e religiosos, mas que apoiam o comportamento sádico e sangrento da violência institucionalizada do expurgo. Em Uma Noite de Crime, primeiro momento da franquia, o expurgo é estabelecido e os acontecimentos gravitam em torno de um representante comercial que trabalha numa empresa de segurança. Na noite programada para o ato de liberação geral dos roubos e assassinatos sem penalização, numa tentativa de diminuir a criminalidade durante todo o ano, o profissional ironicamente tem a sua residência ameaçada. Em Uma Noite de Crime – Anarquia, o ritmo continua impactante, com alguns poucos deslizes, numa trama que acompanha três histórias paralelas sobre pessoas comuns tentando sobreviver ao expurgo. Conduzido de maneira bem focada, 12 Horas para Sobreviver – O Ano da Eleição, é um exemplar bem sucedido da franquia, pois analisa de forma deitada como este feriado afeta a sociedade. Qual contingente populacional mais sofre com este dia? As camadas populares em suas casas e bairros inseguros ou a elite privilegiada em suas torres de conforto? Outra questão instigante é sobre quem ganha com esta situação. Estamos falando dos Estados Unidos, terra do american way of life. A resposta, caro leitor, não é difícil, mas trata de um tema complexo: as multinacionais que lucram com a fabricação de armas e itens de segurança. Outro ponto positivo é a forma como a personagem da senadora é delineada: no passado ela viu toda a sua família morrer de maneira violenta em um dia de expurgo. Por conta disso, um dos seus interesses políticos é revogar este “feriado” e elaborar projetos diferentes para discutir a violência, uma questão bastante presente no cotidiano das reportagens, dos filmes e do modo de viver dos estadunidenses. Híbrido entre suspense, terror e ação, o filme parece uma narrativa urbana dos 1980, preocupado em deflagrar o caos estabelecido pela guerra civil no dia do expurgo. A violência, tema criticado no filme, por sua vez, ganha contornos metalinguísticos. James DeMonaco fala sobre o assunto, mas também o utiliza como elemento estético, apresentado de maneira bastante gráfica para causar no espectador, juntamente com a catarse de ordem psicológica, a repulsão física. Ao longo dos seus 104 minutos, a violência em ''12 Horas para Sobreviver – O Ano da Eleição'' é romantizada, poética, visceral, elemento básico para contar a história, mas diferente dos usos mais oportunistas, tais como filmes de terror explícitos que adoram chocar pela estética pura em si. Aqui, a embalagem é mais complexa: há um discurso forte, diálogos embasados e uma abordagem política inquietante que não vai deixar você sair do cinema indiferente." (Leonardo Campos)
''O terror, além de dar medo, é um gênero que também comporta críticas à política, à sociedade e aos comportamentos. "12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" trata da democracia na era do espetáculo e aborda efeitos da crise global, o que aumenta a expectativa por um filme com ambições acima da média. O terceiro título da franquia lançada em 2013 com Uma Noite de Crime opõe o bem e o mal nos candidatos à presidência dos Estados Unidos no nada distante ano de 2025. A situação está dominada por uma facção que criou a noite na qual matar é legal e estimulado. Assim, a matança serve ao controle populacional e permite eliminar pessoas consideradas inconvenientes, sobretudo minorias. Na oposição, uma senadora, sobrevivente de um massacre da noite letal, une excluídos do festim diabólico. Difícil não ver a referência à atual disputa presidencial norte-americana, com o discurso supremacista de Donald Trump e a simbologia da candidatura de Hillary Clinton, primeira mulher após o primeiro presidente negro. Mas para aí a capacidade de o filme disparar pensamentos sobre o mundo. O roteirista-diretor James DeMonaco evoca o cinema de John Carpenter e de Walter Hill, mas não insiste em significados. O filme entra numa espiral convencional limitada ao espetáculo da sanguinolência. A seu favor, DeMonaco usa uma inventiva concepção visual com máscaras de ícones da história americana e torna Washington um cenário de pesadelo. O impacto das imagens, contudo, só sugere um segundo grau que o filme não alcança e, por isso, frustra."(Cassio Starling Carlos)
Universal Pictures Platinum Dunes Blumhouse Productions Man in A Tree Dentsu Fuji Television Network
Diretor: James DeMonaco
66.445 users / 23.323 faceSoundtrack Rock T. Rex / The Muggs / David Bowie / The Muggs
31 Metacritic 960 Down 492
Date 29/04/2018 Poster - ######## - DirectorEmmanuelle BercotStarsSidse Babett KnudsenBenoît MagimelCharlotte LaemmelDr. Irène Frachon from Brest discovers, that Mediator pills cause heart valve problems/deaths. In 2009, she starts an uphill battle against the producer and the French health authorities.[Mov 06 IMDB 6,6/10] {Video/@@@@}
150 MILIGRAMAS
(La fille de Brest, 2016)
TAG EMMANUELLEBercot
{interessante}Sinopse ''Uma pneumologista do Hospital Universitário de Brest descobre uma ligação direta entre a administração de uma droga que foi admitida no mercado e um número surpreendente de mortes suspeitas. Sozinha contra o mundo, ela vai lutar para trazer a verdade à luz.''
"O título do filme no Brasil se refere à dosagem de benfluorex, o princípio ativo do medicamento Mediator, epicentro de um dos maiores escândalos sanitários da história recente da França, droga usada por diabéticos que provocou centenas de mortes naquele país. O caso veio à tona em 2009, por iniciativa de Irène Frachon, pneumologista do Hospital Universitário de Brest, que se se insurgiu contra o lobby da indústria farmacêutica e as autoridades sanitárias. Sua luta, cheia de altruísmo e determinação - que resultou na retirada do medicamento das farmácias francesas - é contada a partir dos códigos do thriller, numa narrativa cheia de reviravoltas e suspense. Uma história que envolve grupos de interesse sem escrúpulos, enquanto os poderes públicos tergiversam, merece ser levada às telas. Mas o roteiro, baseado no livro-denúncia publicado por Frachon em 2010, não está à altura do tema. O filme lança mão uma série de elementos para tentar dar mais densidade dramática à personagem da pneumologista, como momentos de sua vida familiar, que não surtem o efeito desejado. O mesmo acontece nas cenas em que ela aparece sozinha no mar agitado, alusão óbvia ao combate solitário e corajoso que trava contra os poderosos. Outra inconveniência é ter feito de Frachon uma dinamarquesa, nacionalidade de Sidse Babett Knudsen, a atriz que encarna a personagem, para poder justificar seu sotaque. Nos momentos de tensão extrema ela solta imprecações em dinamarquês, para a estupefação geral. No meio de tanto artificialismo, Knudesen -que é uma atriz com recursos- acaba se perdendo e muitas vezes carrega nas tintas. A mesma falta de matizes aparece na estrutura do drama, organizado a partir da oposição esquemática entre a médica e seus aliados -os bons, ponderados e justos- e os representantes do laboratório e das autoridades de saúde - os maus, presunçosos e mentirosos. Finalmente, os doentes, aqueles pelos quais a heroína se joga de cabeça nessa guerra, e seus dramas pessoais, aparecem muito pouco, quase não têm voz." (ALexandre Agabiti Fernandez)
2017 César
Haut et Court France 2 Cinéma Canal+ Ciné+ France Télévisions France Télévisions Distribution Haut et Court Distribution Wild Bunch Cofinova 12 Soficinéma 12 SofiTVCiné 3 Cinémage 10 Palatine Étoile 13 Conseil Régional de Bretagne Paris-Brest Productions Breizh Film Fund
Diretor: Emmanuelle Bercot
707 users / 112 face
Date 06/06/2018 Poster - ###### - DirectorClint EastwoodStarsAlek SkarlatosAnthony SadlerSpencer StoneThree courageous young Americans prevent a terrorist attack on a train bound for Paris.[Mov 02 IMDB 5,1/10] {Video/@@} M/45
15h17 - TREM PARA PARIS
(The 15:17 to Paris, 2018)
TAG CLINT EASTWOOD
{interessante}Sinopse ''Quando um terrorista invade o trem n° 9364 da Thalys a caminho de Paris, três amigos e soldados norte-americanos – Anthony Sadler, Alex Skarlatos e o piloto da Força Aérea Spencer Stone – se esforçam para imobilizar o extremista, armado com um fuzil AK-47, e evitar uma enorme tragédia.''
"É um thriller competente, mas bem abaixo dos grandes trabalhos de Clint. Tem uma montagem baseada em flashbacks que se denuncia um tanto quanto gratuita no seu clímax, apesar de ser o motivo para manter o espectador atento até o seu desenrolar." (Alexandre Koball)
"Novo olhar de Eastwood para a formação social americana, reservando espaço a uma espontaneidade cotidiana e um gosto pelo acaso bem refrescantes - é um filme mais interessado na vida em torno da história que na história em si. E ainda tem a eurotrip..." (Daniel Dalpizzolo)
"Clint usa um evento de no máximo dez minutos para transmitir sua visão política a favor do belicismo e das armas, no que não é nada sutil. Além disso, o filme carece de história, parecendo apenas enrolação até o acontecimento final. Mais uma bola fora." (Silvio Pilau)
*****
''Clint Eastwood costuma construir seus filmes em torno de um personagem forte. Ele pode ser caubói ou aposentado, o filme pode ser maior ou menor, tanto faz: a construção sempre começa por aí; ela que arrasta a trama. [Isso é que torna "15h17 - Trem para Paris" ao mesmo tempo estranho e fascinante para quem acompanha a obra do cineasta. Como contar uma história em que os três personagens centrais são perfeitos fracassados? Spencer, Alek e Anthony são amigos de infância unidos pela frustração escolar, três jovens destinados a se tornarem incapazes de qualquer compreensão mais ampla do mundo. Três boçais, em suma, ou "losers", como chamam os americanos. Já adultos, dois deles entram para as Forças Armadas. Spencer vai para a Aeronáutica, mas não consegue se firmar numa exigente unidade de salvamento; Alek entra para o Exército e serve no Afeganistão. Numa licença, os dois, mais Anthony, reencontram-se na Europa. Clint Eastwood nos conduz então a uma viagem turística mais que típica: dentro de um museu não conseguem perceber basicamente nada. Na Alemanha, acreditam que Hitler se matou para evitar o contato com as tropas americanas. De Veneza não captam senão o que lhes mostra os selfies que um deles tira com insistência. Resumindo, eles se tornam adultos tão simpaticamente bobos quanto eram na escola. E a rigor viram adultos incapazes de sustentar um filme de Clint Eastwood - que, por uma vez, trabalha a partir de seres profundamente desinteressantes. Eis o que torna o filme fascinante: é o desafio de construí-lo em torno de caras tão satisfeitos com a própria mediocridade. Clint precisa abandonar a ideia de personagem forte para narrar sua trajetória. Isso pode ser árduo. Tem-se a sensação de que a qualquer instante o filme afundará no nada. Mas eis que algo mudará e a oportunidade para que se tornem heróis surgirá. Por quê? Não se sabe. É como se Clint nos dissesse que a vida é puro mistério. Eles mereceram ser chamados a algo especial? Merecer não tem nada a ver com isso", dizia a certa altura o protagonista de Os Imperdoáveis. Esse viés - a vida como puro acaso, feita de ironias, de coisas que não controlamos— foi não raro sugerido ao longo da obra de Clint Eastwood, mas nunca desenvolvido tão explicitamente. Eis o que faz do longa um acontecimento paradoxal: anuncia uma transformação relevante no trabalho do grande diretor, que agora mergulha no lado obscuro da América para ali encontrar a poesia dos fracassados. A viagem de trem, seja dito de passagem, propiciará aos rapazes, na vida real, um ato de heroísmo, em 2015, de que decorrerão uma condecoração concedida por François Hollande, então presidente francês, e um desfile em carro aberto pelas ruas de Sacramento, Califórnia, onde nasceram e cresceram. Ironias do destino: o heroísmo dos boçais saudado por um presidente francês medíocre e depois pelos caipiras de sua cidade. "Trem para Paris" é um filme estranho: filme menor de Clint Eastwood, mas não insignificante.'' (* Inácio Araujo *)
Expresso para o nada.
''Numa estação de trem, a câmera acompanha a caminhada de um homem, aparentemente. Calça branca, camisa jeans, uma bolsa de viagem. É construído um clima de tensão através da trilha-sonora e do rosto não-revelado do alvo da imagem. Paralelo a isso, um carro conversível carrega três amigos sorridentes em alta velocidade. Jovens e bonitos, o provável protagonista narra essa passagem rápida para entendamos como eles se conheceram. O novo longa de Clint Eastwood promove uma leitura de uma história que poderia ser banal e se tornou espetacular pelo acaso. Os personagens narrados acima estarão todos no mesmo trem rumo à França, quando um ataque terrorista ocorre. Entre culpado, inocentes e um grupo de rapazes que será testemunha ativa dos eventos, o veterano diretor adapta o livro escrito pelos três jovens que estavam mesmo dentro desse trem, que ele promoveu também a protagonistas do seu filme, numa tentativa que tinha muito para dar errado - e deu. Sem muito enfeite técnico a adornar seu produto (a bem da verdade, esse não é um interesse do cinema de Eastwood), o diretor volta a intercalar os fatos de um evento real como nos seus longas anteriores, Sniper Americano e Sully, que provavelmente formam uma trilogia com esse aqui sobre o heroísmo hoje e as fraquezas que arranham essa superfície. Três histórias reais, ambientadas e em circunstâncias completamente diferentes, onde ele já tinha pincelado uma guerra que desdobrava interna e externamente com um soldado, um salvamento de um desastre aéreo por um piloto de carreira, e aporta agora no terrorismo fora da zona de combate. A forma como ele observa cada um desses episódios e o modo de traduzir o estado interno dos seus personagens-título anteriores tinham alcançado resultado de diferente reverberação, em processos mais e menos bem sucedidos, e que aqui encontram uma série de empecilhos para almejar repetir a qualidade de qualquer um dos dois. A verdade é que seu novo filme talvez seja o mais repleto de falhas narrativas e desacerto de ideias, e eu não estou citando somente essa trilogia do heroi moderno, mas dentro de toda a carreira desse grande cineasta. Ao dividir o roteiro de sua assistente Dorothy Blyskal numa salada de três frentes (a infância dos soldados, o ataque terrorista e... uma turnê pela Europa a título de turismo!), Eastwood precisaria ao menos criar interesses individuais por cada uma dessas passagens. Pois bem, o trio de crianças é imerso numa pregação cristã religiosa que tem função quase de convertimento; a turnê Itália/Alemanha/Amsterdam rende um sem número de cenas que não fazem nenhum sentido e não complementam em nada a narrativa, pelo contrário, afasta do mote principal da construção do herói que ao menos está colocada nas outras duas e praticamente só serve para vender pacotes turísticos, de tão óbvias que são as imagens, os lugares e as situações; por fim, o ataque terrorista mais sem tensão já visto, rápido, quase limpo, e que deixa clara a procura da ação em outros tempos e cantos, afinal não havia material para um longa ali. Em comum, os três segmentos têm a absoluta falta de interesse para os unir, em cenas que, ou são muito mal dialogadas, ou dirigidas sem qualquer capricho. Resta o clichê absoluto que une todas as sequências. Desde a infância, quando as crianças frequentam um colégio católico que molda seu caráter (e que é um lugar de onde só se faltou o calabouço para parecer um castelo da madrasta), até a fase adulta, onde os personagens tomam decisões para mudar suas vidas em segundos e proferem frases desse nível a todo momento: eu sei que precisamos ir a Paris, o destino nos empurra até lá. Óbvio que poderia ser tudo amenizado se o elenco escolhido fosse bom, mas... perai, os soldados são os próprios atores. Pois é... se preciso explicitar esse aspecto, digamos que chamaram duas crianças cujo talento nada deve aos adultos, havendo ao menos uma coerência na atitude. Não cito três crianças porque um dos meninos é o pequeno Bryce Gheisar, que já tinha encantado em Extraordinário e aqui continua funcionando, pena que suas falas são horríveis como as de todo o filme. Lá pelas tantas, ao percebermos que dois dos adultos envolvidos nas cenas infantis têm ligação com o universo cômico (Judy Greer e Tony Hale que vivem respectivamente a mãe do protagonista e o diretor da escola), chega a tentar levar uma reflexão de se Eastwood não estaria debochando desse universo cristão que retrata, mas essas passagens são vendidas de forma melodramática, com trilha suave de fundo e olhares marejados, logo fica claro que o diretor acredita nelas. E o filme ainda abraça a religião como solução narrativa quando seus personagens passam a obedecer os conselhos do religioso diretor sem qualquer questionamento, deixando claras as intenções doutrinadoras do filme. Diálogos ruins, roteiro ruim e esquemático que divide a narrativa entre três passagens injustificadamente, e uma direção que nunca avança para além da burocracia, uma escolha de elenco que não funciona como aparato cênico ou dramático, isso tudo depois de dois filmes bem sucedidos (em construção narrativa de um lado e em resultados práticos e monetários do outro). Fica a impressão de que absolutamente tudo deu errado no longa. Como reagir quando um filme não se justifica ou funciona nem na leitura dramática nem na leitura estética, isso vindo de um cineasta que sempre teve algo a dizer, mas que parece ter se acostumado aos altos e baixos na última década? Perplexidade é a resposta. Dois pontos positivos da experiência de assistir 15h17: a curta duração que encerra o filme em 1 hora e meia, e a certeza de que o próximo filme de Clint Eastwood não precisa de praticamente nada para ser superior." (Francisco Carbone)
Warner Bros. Village Roadshow Pictures Malpaso Productions
Diretor: Clint Eastwood
16.064 users/ 19.547 faceSoundtrack Rock Imagine Dragons
36 Metacritic 890 Up 222
Date 23/09/2018 Poster - ####### - DirectorSam MendesStarsDean-Charles ChapmanGeorge MacKayDaniel MaysApril 6th, 1917. As an infantry battalion assembles to wage war deep in enemy territory, two soldiers are assigned to race against time and deliver a message that will stop 1,600 men from walking straight into a deadly trap.[Mov 10 Favorito IMDB 8,4/10] {Video/@@@@@} M/78
1917
(1917, 2019)
TAG SAM MENDES
{inesquecível}Sinopse ''1917 conta a história de dois soldados britânicos em um dos momentos mais críticos da Primeira Guerra Mundial. Em uma dramática corrida contra o tempo, os soldados deverão cruzar o território inimigo e entregar uma mensagem que cessará o ataque brutal a milhares.
Menos ''
"1917 é tecnicamente espantoso. Acho que o filme oferece uma imersão, uma experiência diferente ao espectador. Faz diferença ver nas telonas! A guerra crua em meio a ratos e putrefação tira um pouco o usual caráter romantizado das guerras mostradas em filmes análogos, sustentando assim a honra dos personagens a troco de uma medalha, um latão, conforme um deles questiona." (Marcelo Leme)
"O longo plano-sequência tem muito estilo, apesar de ser mantido muito artificialmente em alguns pontos-chave. Achei a primeira metade, tecnicamente falando, muito próxima da perfeição. Porém, esse mesmo plano tira poder da narrativa, ao diminuir a jornada dos garotos para 'alguns passos' e não dar a noção grandiosa que certamente existiria em tal ambientação. As imagens são espetaculares, que visuais fantásticos!" (Alexandre Koball)
''O desafio a que Sam Mendes e Roger Deakins se propuseram era altíssimo, mas foi alcançado com louvor. '1917' entra desde já na galeria do gênero, com uma realização técnica exuberante, criando momentos de cair o queixo, outros de pura tensão e ainda outros em que a beleza e a poesia dominam. O roteiro é melhor trabalhado do que parece à primeira vista, dando espaço a instantes mais intimistas em meio ao caos. Uma obra espetacular, para se ver e rever. Nasce um clássico.'' (Silvio Pilau )
''Dois jovens soldados britânicos dormem, encostados numa árvore, num campo ocupado na Primeira Guerra Mundial no início de “1917”. Um oficial os acorda e pede que o sigam. Caminham pela trincheira - as trilhas escavadas na terra exibem placas cujos nomes, rua Paraíso e rua Sortuda, soam irônicos no cenário. O general então anuncia a missão dos rapazes. O irmão de um deles, que integra um pelotão a alguns quilômetros dali, está prestes a embarcar numa emboscada armada pelos alemães. A tarefa da dupla é, então, impedir o ataque planejado. Os espectadores acompanham cada passo dos soldados, como se tivessem os olhos colados às suas nucas. E eles não desgrudam nos mais de cem minutos seguintes do filme -somos sugados pelo verdadeiro labirinto que é a guerra, enquanto os soldados funcionam como o novelo de lã que guia o caminho. Isso porque o longa, que estreia agora, foi filmado de modo a imitar um plano-sequência, uma tomada única e contínua, sem cortes. Não foi uma tarefa simples. George MacKay, que interpreta um dos jovens, conta que a equipe ensaiou por cinco meses antes das filmagens. Ele e o colega Dean-Charles Chapman corriam por campos vazios, obedecendo a marcas no chão. Os ensaios orientaram não só a coreografia dos atores e da câmera como, em muitos casos, a própria elaboração dos cenários, já que as trincheiras eram escavadas de acordo com o ritmo emocional das cenas e das necessidades da equipe de fotografia. Em geral, com a edição, é possível ajustar o ritmo do filme, prolongando um momento, ou optando por um ângulo diferente. Mas aqui antecipamos todo o processo. Precisávamos decidir tudo isso antes, conta o ator. MacKay também afirma que os planos do filme têm cerca de cinco minutos cada um - o mais longo, oito. Para que tudo saísse como planejado, cada tomada foi repetida em média 20 vezes. Uma delas exigiu 54 regravações. Eu me lembro que, quando ensaiamos alguns dos momentos mais físicos do filme, pensei ‘só consigo fazer isso umas cinco vezes e se vamos fazer 50, tenho que malhar. A façanha deu certo, e o filme se tornou um inesperado favorito ao Oscar de melhor filme. Desde o Globo de Ouro, quando o diretor Sam Mendes tirou de Martin Scorsese a estatueta de melhor filme de drama (ele concorria com “O Irlandês”), o thriller acumulou indicações aos principais prêmios da temporada. Mais importante, no fim de semana passado, o longa foi eleito o melhor filme pelo Sindicato de Produtores de Hollywood. A associação acertou 21 vencedores do Oscar nos últimos 30 anos. Pesa contra “1917” o fato de nenhum dos atores do filme - que tem participações especiais da nata britânica, como Colin Firth e Benedict Cumberbatch - ser indicado ao Oscar. Mas a crítica vem apostando em sua imitação de plano-sequência, o que já tinha feito com Birdman, de Alejandro Gonzales Iñarritu, vencedor do prêmio há cinco anos. O feito visual pode, então, conquistar a Academia? Walter Carvalho, um dos diretores de fotografia mais celebrados do país e eleitor do Oscar, afirma que não é o fato de a produção parecer um plano-sequência que pode determinar sua vitória. É muito mais complexo. Tem a questão da política, de quem é a bola da vez, dos velhinhos da Academia, da influência de outros mercados, do Globo de Ouro, diz. Além disso, declara, planos-sequência têm se tornado cada vez mais comuns. É engraçado porque ele virou uma espécie de desafio. As pessoas esquecem um pouco que em 1927 já tinha um desses, diz, lembrando Aurora, do expressionista alemão F.W. Murnau. Um dos motivos para essa proliferação é a tecnologia digital, explica o cineasta. Nos tempos da película, os planos-sequência eram limitados ao tamanho dos chassis das câmeras, de cerca de quatro minutos. Os mais longos tinham pouco mais de dez minutos - Alfred Hitchcock usou exatos 12 desses para montar seu célebre Festim Diabólico. As estratégias do mestre de suspense não são tão diferentes daquelas de Mendes agora. Para criar a ilusão de um único plano-sequência, ele aproveita a movimentação dos personagens e aproxima sua câmera de seus paletós, enchendo o quadro de preto. Muitos dos cortes de “1917” também acontecem quando a tela enegrece, depois de explosões ou das mudanças de iluminação súbita que acontecem quando os soldados adentram nos interiores. Walter Carvalho ressalta que a principal mudança que os planos-sequência sofreram de lá para cá foi a motivação por trás de seu uso, hoje muitas vezes técnica, e não narrativa. Os planos que mais me seduzem não obedecem à tecnologia, mas à linguagem, diz. Eles trabalham com a ideia da duração do rolo de filme, e expressam uma narrativa no tempo e no espaço desse rolo. Nada contra as tecnologias”, continua o cineasta. Ele lembra que grandes revoluções cinematográficas aconteceram justamente porque a câmera diminuiu de tamanho. Mas não é a partir da tecnologia que se consegue a emoção extraordinária que o Joaquin [Phoenix, indicado a melhor ator por Coringa] transmite através do seu corpo. A crise não é da imagem, é da representação. Nunca se repetiram tantas histórias, nunca se construiu tantos planos-sequência como se eles tivessem nascido ontem. Carvalho conta que ainda não assistiu a “1917”. Mas, de fato, vale apontar que não só a ideia do plano-sequência, como também o tema da produção é um tanto batido. Filmes de guerra são um dos gêneros favoritos do Oscar e já foram laureados na categoria principal da premiação ao menos outras 15 vezes. Alguns analistas ainda sugerem que o atual conflito entre Estados Unidos e Irã pode fortalecer a mensagem antibélica do longa de Sam Mendes. Resta saber se, depois de tantas vitórias acumuladas, “1917” vencerá também a guerra.'' (Clara Balbi)
''Um dos jovens soldados no centro de “1917” faz pouco caso das glórias oferecidas pelos campos de batalha ao revelar ao amigo que trocara por uma garrafa de vinho francês uma medalha que recebera por sua bravura. Eu estava com sede, ele justifica. Que desperdício, responde o companheiro. Poderia ser o ponto de partida para um exame mais profundo dos dois personagens e suas diferentes visões sobre a guerra, mas o diretor Sam Mendes desperdiça a chance e muda de assunto. Quando o filme chega ao fim, sabemos tão pouco sobre os seus protagonistas quanto no início. O longa “1917” acompanha os dois soldados britânicos numa missão arriscada durante a Primeira Guerra Mundial. Eles têm poucas horas para levar uma mensagem urgente do comando militar até uma posição avançada onde um regimento entrincheirado se prepara para atacar os alemães. Os generais britânicos descobriram que o exército inimigo está pronto para reagir à ofensiva. Como as comunicações com a linha de frente foram cortadas, a mensagem levada pelos dois soldados é a única maneira de suspender o ataque antes que o regimento seja trucidado pelos rivais. Composto por longas sequências editadas como se formassem um plano único sem cortes, com emendas quase imperceptíveis, o filme é uma impressionante exibição de competência técnica e eficiência logística, em que cada cena foi planejada minuciosamente antes das filmagens. O recurso permite que o espectador acompanhe a ação quase em tempo real, com a câmera inquieta se movendo constantemente para não perder de vista os dois soldados enquanto eles percorrem as trincheiras e as ruínas de lugarejos destruídos por bombardeios até alcançar seu objetivo. Mas, com o tempo, se percebe que o virtuosismo técnico é uma armadilha, aprisionando os personagens nos limites estreitos que Mendes estabeleceu e impedindo que a trama se desenvolva e ofereça ao espectador algum entendimento do que foi um dos conflitos mais sangrentos da história. Há momentos de tirar o fôlego, como a queda espetacular de um avião após um combate aéreo observado à distância pelos protagonistas. Mas eles parecem ter entrado no filme só para satisfazer o exibicionismo do diretor, sem cumprir nenhuma função relevante para a história. Interpretados por George MacKay e Dean-Charles Chapman, os dois soldados encontram pelo caminho um punhado de atores do primeiro time, de Colin Firth a Benedict Cumberbatch, mas ninguém perde tempo com reflexões. Tudo passa, como se apenas o cumprimento da missão confiada aos garotos importasse. Os encontros com o inimigo são igualmente decepcionantes. Só em uma cena o rosto de um soldado alemão é visto com alguma nitidez, mas ele desaparece depois de pronunciar uma palavra e após uma luta corporal que o artificialismo da encenação de Mendes esvazia de interesse e emoção. No fim, um letreiro dedica o filme a Alfred Mendes, avô do diretor que lutou na Primeira Guerra e sobreviveu para contar o que viu. Se ele conseguiu extrair alguma lição da dramática experiência, é uma pena que seu neto não tenha conseguido traduzi-la ao levar para a tela as suas histórias.'' (Ricardo Balthazar)
O mecânico e o sensorial
''Há exatos 20 anos, o bem sucedido diretor de teatro Sam Mendes saía do escopo minimamente controlado do palco para uma jornada ininterrupta no cinema, descortinando universos do lado oposto ao que um autor teatral propõe. Mesmo em seu projeto inicial, Mendes sempre desejou ampliar seu olhar para o macro das encenações. Seu diferencial foi uma busca pela captura de uma nuance mínima dentro do lugar amplificado pela tela grande, que acabou por consagrá-lo desde a estreia. Olhar ''1917'' agora e encontrar esse filme mergulhando sua mecânica evidente em um jogo de sutileza sensorial é perceber que esse cineasta já estava lá em Beleza Americana, no vizinho voyeur que observa tanto os seios nus da jovem pela janela quanto o tórax igualmente nu do pai da mesma. Ao nos colocar como testemunhas de eventos que revelam os buracos de fechaduras patéticos do american way of life, Mendes já tecia sua teia de ligação entre os eventos da tela e o espectador fora dela. Em determinado momento desse novo filme, o jovem soldado protagonista fere sua mão num arame farpado em intenso forjar que se segue ao mergulho da mesma mão em um, digamos, orifício inesperado, invadindo a já capturada plateia a uma imersão cognitiva natural entre os que conjuram sensibilidade e inteligência cênica ao seu talento natural. Com essa cena, esse artifício invisível nos submerge a um estado enquanto público que já estava se costurando desde o plano de abertura, um campo dividido entre o mato relaxado e as parcas flores que se abre para filmar a dupla protagonista; ali, o anzol já tinha sido lançado, e os prováveis peixes mordido a isca. Ao longo de quase 2h de duração, seguimos tanto os rapazes em missão quanto o aprimoramento do encontro entre Mendes e o gênio Roger Deakins, parceria iniciada em Soldado Anônimo e elevada a um patamar impossível de alcançar aqui, que transmite tanto a atmosfera perteita ao filme como realça os cuidados sensoriais que o diretor tinha acurado com seu primeiro parceiro, o igualmente genial Conrad L. Hall, que com ele ganhou seus 2 Oscars - ainda que o segundo tenha sido póstumo. Foi nesse primeiro duo que Mendes elaborou um processo que culmina em ''1917'', um lugar perdido dedicado ao toque, ao olhar, à humanidade, dentro da maquinaria superlativa. Como já dito, esse é o ponto-chave de sua filmografia. Mesmo quando suas produções são polaroides de simplicidade contemporânea, o cineasta filma qualquer que seja sua escolha narrativa com tintas grandiloquentes, criando ele mesmo o contraponto na forma intimista com que encerra suas ações. Ainda que elas sejam partidas do agente britânico mais famoso do cinema, Mendes encapsula em suas imagens o espaço para o humano perdido no labirinto. É de momentos onde as pessoas se conectam e literalmente sentem, entre si ou sozinhas na escuridão, que reside a inflexão de 1917. Ainda que sua estratégia em emular um plano-sequência interminável produza algo a princípio emocionalmente inerte, pouco depois de sua metade a 'magia' se desfaz e resta ao longa o capital mais precioso a qualquer filme: a conexão. É dessa nova recapitulação que vem a mente os cavalos abatidos, o resgate na fazenda, o rio de cadáveres, a ponte improvisada e tantas outras cenas que já tinham explorado os limites entre o potencial mecânico da produção e a sensorialidade das reações humanas a cada evento e cada encontro. A dubiedade entre promover um espetáculo de tintas fortes e o encontro sutil dos personagens com suas sensações garantiu até hoje uma parte considerável do fascínio de Mendes na tela grande, e aqui essa capacidade é exacerbada para ambos os lados. Com a ajuda da espetacular lente de Derkins e da cenografia arrepiante de Dennis Gassner, Sam Mendes olha com a mesma compreensão para os esqueletos expostos em cena e para os que tentamos esconder em momentos de terror, mas que escapam à nossa vontade em singeleza inesperada. A despeito da trilha ligeiramente insidiosa de Thomas Newman, a experiência ampla proposta parece não se encerrar com o término. De material imagético inegavelmente impactante (como as cenas da cidade em chamas, que nos remete ao horror que Vitorio Storaro conseguiu em Apocalypse Now), 1917 acaba por impressionar muito mais por, apesar de tudo, nunca perder de vista o material humano que é sua força-motriz, um rapaz chamado George MacKay. Seu arco dramático perfeito parece justificar inclusive o 'truque' de Mendes com o 'one shot' falso, indo da abertura ao encerramento só pra que descansemos juntos aos olhos do jovem soldado, voltando mais uma vez ao que lhe interessa acima do espetáculo, e que ao mesmo tempo o justifica.'' (Francisco Carbone)
92*2020 Oscar / 77*2020 Globo
Top 300#59
DreamWorks Reliance Entertainment New Republic Pictures Neal Street Productions Mogambo Amblin Partners British Film Commission Screen Scotland
Diretor: Sam Mendes
204.276 users / 202.623 face
57 Metacritic 10 Down 5
Date 10/02/2020 Poster - ####### - DirectorJafar PanahiStarsBehnaz JafariJafar PanahiMarziyeh RezaeiThree actresses at different stages of their career. One from before the 1979 Islamic Revolution, one popular star of today known throughout the country, and a young girl longing to attend a drama conservatory.[Mov 06 IMDB 7,1/10] {Video/@@@@} M/78
3 FACES
(Three Faces, 2018)
TAG JAFAR PANAHI
{simpático}Sinopse ''Uma famosa atriz iraniana recebe um vídeo perturbador de uma garota implorando por ajuda para escapar de sua família conservadora. Ela então pede a seu amigo, o diretor Jafar Panahi, para descobrir se o vídeo é real ou uma manipulação. Juntos, eles seguem o caminho para a aldeia da menina nas remotas montanhas do norte, onde as tradições ancestrais continuam a ditar a vida local.''
''Por mais criativo que Jafar Panahi de fato seja, há bem pouco em 3 Faces que já não tenha sido explorado pelo cineasta iraniano, até com menos, o que decepciona em contraponto com tamanho hype. Adendo: visto em festival, talvez careça de uma revisão.'' (Rodrigo Torres )
''Quem esperava que "3 Faces", do diretor Jafar Panahi, fosse se provar uma farpa direta contra o governo iraniano saiu algo frustrado da exibição do filme, neste domingo, no Festival de Cannes. Ainda assim, o longa encontra seus modos de incomodar a cultura local. Entre os cineastas, Panahi é o mais conhecido crítico ao regime do Irã. Em 2010, ele foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e a ficar 20 anos sem filmar sob a acusação de fazer propaganda contra o governo. Sem permissão para viajar, ele não apresentou o longa em Cannes. Na tarde de domingo, durante a conversa com a imprensa, sua cadeira estava vazia. Mais do que um ataque ao governo, “3 Faces” é um libelo contra o conservadorismo provinciano e um aceno ao feminismo. A trama gira em torno de uma aspirante a atriz que pede socorro porque seus pais não permitem que ela ingresse num conservatório. A história tem início com um vídeo feito pelo celular pela garota (Marziyeh Rezaieh). Ela relata a oposição de seus pais e termina se enforcando. As imagens são enviadas para Behnaz Jafari, atriz de sucesso que fica inconformada com sua incapacidade de ter ajudado a menina. Ela e o próprio Jafar Panahi, ambos interpretados por si mesmos, resolvem viajar ao lugar, um povoado ermo, cheio de gente conservadora, para descobrir se Marzieyeh de fato morreu. “3 Faces” é o quarto filme que Panahi realiza após a condenação. É, portanto, uma obra clandestina. Em 2011, ele também dirigiu o documentário "Isto Não É um Filme" sobre a sua impossibilidade de filmar. O longa só pôde deixar o país por ter sido oculto num pendrive. Além de Panahi, outro diretor em competição neste ano também não pôde vir a Cannes por estar preso: o russo Kirill Serebrennikov, de Leto, crítico do governo Putin acusado de cometer crimes fiscais.'' (Guilherme Genestreti)
O olhar sempre humanista de Panahi.
''Famoso por obras premiadas dos anos 90 como O Balão Branco e O Espelho, o cineasta iraniano Jafar Panahi é um caso sem igual no cinema. Condenado a um banimento cinematográfico em 2010 por “propaganda contra o regime”, Panahi chega em 3 Faces ao quarto filme pós-condenação, após os elogiados Isso Não é Um Filme, Cortina Fechada e Táxi Teerã. Panahi sempre teve seus filmes ligados em maior ou menor grau a temas políticos, e em 3 Faces o caso não é diferente. Na obra que venceu o melhor roteiro em Cannes 2018, o diretor novamente se coloca como ator e personagem que observa o próprio país. E é fácil identificar os temas que o diretor se adereça aqui: tradicionalismo e machismo. Junto com a atriz Behnaz Jafari (Uma Família Respeitável), também interpretando ela mesma, o diretor conduz seu carro pelo interior do Irã em busca de uma garota que aparentemente cometeu suicídio em vídeo enviado pelos dois. Segundo a mesma, seu sonho era ser atriz mas sua família, seu noivo e sua vila viam a questão com maus olhos. Como poucos países no atual cenário cinematográfico, o Irã e seus cineastas traduziram as crises narrativas e representativas da virada do século, levando adiante o legado neorrealista (personagens realistas, locações naturais, misto de profissionais e amadores no elenco) adicionando um toque próprio que, enquanto cria uma representação de realidade, questiona o ilusionismo inerente ao cinema. Justamente por isso, a narrativa ficcional proposta aqui - o road movie de busca por uma pessoa - é entremeada de conversas e momentos não previstos, com a câmera filmando ambas as situações roteirizadas e espontâneas com igual interesse, seja a inusitada situação do vídeo levada em uma mescla de drama social e humor bizarro, seja ouvindo os curiosos depoimentos dos passantes que se penduram na janela e compartilham suas vidas e pensamentos, oferecendo visões de mundo ao serem solicitados por informação. A temporalidade da câmera de Panahi é outro fator a ser considerado aqui. Em mais de uma sequência, a mais marcante sendo a primeira após a introdução, Panahi e Jafari conversam entre si e falam ao telefone enquanto dirigem na estrada e depois estacionam, com a câmera seguindo a atriz, parando quando a mesma para, girando sobre o próprio eixo enquanto a atriz circunda o carro. Uma sequência de encenação praticamente desorientada para representar o estado emocional também confuso dos personagens. Se o cinema é emoção e afeto, esse afeto também é tempo e espaço, e mesmo uma cena predominantemente contemplativa também pode ser nervosa. Na introdução, onde a garota filma com a típica câmera de celular (o selfie vertical), mora a pergunta chave a ser respondida no resto do filme. A partir do momento em que a questão torna-se determinar a veracidade do suicídio, pergunta-se o que é realismo. Onde está a produção, o truque, o corte da montagem que faz a realidade se separar da representação? É uma questão integrada à misé-en-scene no desenrolar da obra que torna-se um tanto difícil de responder: a imagem não recebe um tratamento de estilo, a câmera se demora na natureza, nos animais, nas estradas, nos olhares coadjuvantes. Não temos muitos cortes, a imersão em uma rotina não-urbana e na compreensão dos seus costumes é profunda. Existe um discurso sobre o real e sua mimese, mas como Panahi mostra o próprio cinema possui linhas que o dissolvem, quebram e reconfiguram numa nova ficção autoconsciente. Justamente por buscar seus protagonistas entre os oprimidos das velhas narrativas concedendo-lhes narrativas modernas que Panahi e outros cineastas iranianos, por suas preocupações político-sociais e humanistas sobre a imagem, continuam na vanguarda do cinema mundial. Faces é só mais um exemplo disso.'' (Bernardo D.I. Brum)
2018 Palma de Cannes
Jafar Panahi Film Productions Kino Lorber
Diretor: Jafar Panahi
2.723 users / 2.550 face
18 Metacritic
Date 05/03/2020 Poster - ########