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by STANLEY23KUBRICK | created - 18 May 2014 | updated - 01 May 2022 | Public
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1. The Greek Tycoon (1978)

R | 107 min | Drama

A fictionalized account of the Greek shipping magnate, Onassis, and his meeting and subsequent marriage to the widow of assassinated U.S. president, Jacqueline Kennedy.

Director: J. Lee Thompson | Stars: Anthony Quinn, Jacqueline Bisset, Raf Vallone, Edward Albert

Votes: 2,194

[Mov 05 IMDB 5,1/10] {Video}

O MAGNATA GREGO

(The Greek Tycoon, 1978)


''Rodado em 1978 na Grécia, o filme é baseado na história do magnata grego Aristóteles Onassis e da primeira dama dos EUA Jacqueline Kennedy, que após a morte do marido se casa com o magnata. Na época, os produtores do filme não foram autorizados a fazer uma biografia de Jackie e de seu então marido, o milionário Aristóteles Onassis. A solução encontrada foi contar a história do casal sob os codinomes de Liz Cassidy e Theo Tomasis.'' (Filmow)

Universal Pictures

Diretor: J. Lee Thompson

702 users / 57 face

Check-Ins 42

Date 02/09/2012 Poster - ###

2. The Killing (1956)

Approved | 84 min | Crime, Drama, Film-Noir

91 Metascore

Crook Johnny Clay assembles a five-man team to plan and execute a daring racetrack robbery.

Director: Stanley Kubrick | Stars: Sterling Hayden, Coleen Gray, Vince Edwards, Jay C. Flippen

Votes: 97,530

[Mov 10 Fav IMDB 8,1/10] {Video/@@@@@}

O GRANDE GOLPE

(The Killing, 1956)
Obra Prima

"Mesmo longe das obras-primas que ainda faria, Kubrick demonstra grande evolução em relação ao seu esforço anterior, inclusive ousando em uma narrativa não-linear. A atmosfera é tensa e construída com cuidado, em um filme coeso e repleto de bons momentos." (Silvio Pilau)

"À exceção de duas cenas equivocadas (uma mal editada, outra devido a um diálogo porco), um filme de assalto enxuto e maravilhosamente bem contado, em que planos bem orquestrados e roteiro afiado se destacam. Primeiro contato com a sofisticação de Kubrick." (Rodrigo Torres de Souza)

''Construir uma carreira sólida no cinema não é fácil. Nunca foi. 70% dos realizadores não conseguem manter um nível do primeiro ao último filme de suas carreiras. Além do mais, seria ignorância cobrar de um ser humano a perfeição em tudo. Essa alteração do padrão de um filme para o outro atinge muitos cineastas hoje em dia. A exceção da regra (ou uma das exceções, poderíamos citar Hitchcock e Chaplin, talvez) tem nome e chama-se Stanley Kubrick. Perfeccionista compulsivo, Kubrick realizou, desde o primeiro momento, filmes que beijam a perfeição e, no caso de "2001", atinge-a. Com orçamento de miúdos 320 mil dólares, “O Grande Golpe” foi o filho de Kubrick responsável pela revolução cinematográfica imposta pelo diretor de O Iluminado.Em termos de narrativa, "The Killing" influenciou diretamente o cinema de David Mamet e, principalmente, o de Quentin Tarantino. A trama que lembra levemente Rififi, de Jules Dassin, propõe um divertido e bem dosado quebra-cabeças. O espectador vai entrando na história e, aos poucos, encaixando cada peça no seu devido lugar. É importante ressalvar que Kubrick nunca perde o controle da narrativa intrincada, nunca sai de foco. Decidido a roubar um banco mesmo tendo saído da prisão após cumprir pena de 5 anos, Johnny Clay (Sterling Hayden) mira alto e convoca uma turma especial para realizar um ousado e perigoso assalto à um hipódromo. Para mudar de vida de uma vez por todas, Clay estima que, na noite do roubo, os cofres podem estar com a bolada de 2 milhões de dólares. Com todo o planejamento minucioso, Clay não tem dúvidas de que o plano dará certo e parte para a ação. Com um vai e vem crescente na narrativa, as peças vão, gradativamente, sendo desenhadas na tela. Antes disso, Kubrick já tinha nos apresentado cada personagem em seu íntimo, então, no dia do roubo, é possível sentir as aflições e notar que as ambições de todos são bem distintas. Além da perfeição do roteiro (que Kubrick assina em parceria com Jim Thompsom), adaptado da obra de Lionel White, fotografia em chave menor que usa perfeitamente o recurso do contraluz para preto e branco e trilha sonora destacam-se nesta homenagem do cineasta ao film noir. Assim como toda a carreira de Kubrick, "O Grande Golpe" é genial." (Tudo é Critica)

''Boa Tarde! Com o filme The Killing daremos prosseguimento na filmografia de Kubrick e confesso que fiquei muito surpreso com a película. Antes de mais nada, vamos conferir a resenha. Quando o ex-presidiário Johnny Clay (Sterling Hayden) diz que tem um grande plano, todos querem participar. Especialmente quando o plano é roubar 2 milhões de dólares em um esquema ninguém vai se machucar. Mas, apesar do planejamento cuidadoso, Clay e seus homens se esqueceram de uma coisa: Sherry Peatty (Marie Windsor), uma garota ambiciosa e traiçoeira que está planejando um grande golpe só seu, mesmo que para isso ela precise acabar com toda a gangue de Clay. A trama é bem simples, o plano de realizar um grande assalto e como tudo isso se desenvolve. A película é em preto-e-branco o que deixa a narrativa bem atraente. Temos a presença de um narrador na película, na medida que os fatos vão se sucedendo, o narrador nos apresenta alguns fatos marcantes, com horários importantes no desenvolvimento dos fatos subsequentes. A película tem uma fotografia interessante, um clima de filme noir e com um desenrolar surpreendente. Para os leitores que já assistiram a maioria dos filmes do Kubrick, com certeza, se surpreenderão com esse filme, bem diferente da marca pessoal do diretor americano. Recomendo." (Mauricio Miranda)

''Reza a lenda que o ainda incipiente Stanley Kubrick (à época com 28 anos e apenas no seu segundo longa) teve que bater o pé e brigar com unhas e dentes para que ''O Grande Golpe'' fosse lançado do modo como o editara; não-linear e brincando com diferentes pontos de vistas. O estúdio relutou, disse que ninguém suportaria aquilo, mas acabou cedendo. E o jovem Kubrick triunfou, pois fora exatamente à ousadia e à habilidade em ser instigante e ousado, porém inteligível, que vieram os maiores méritos de The Killing, um delicioso flerte de Kubrick com noir que já anunciava a brilhante carreira que estava por vir. A história é conhecida e a fórmula já não era nova em 1956; temos um grupo distinto de sujeitos (de criminosos profissionais a policiais, passando até por um barman) que resolvem arquitetar um plano mirabolante para ganhar uma bolada, aqui o alvo é um hipódromo. O que o filme retrata é esse antes (planejamento), durante (execução) e depois (consequência). Kubrick acerta ao dedicar pelo menos uma ou duas cenas para dar a devida complexidade da caráter a cada um dos envolvidos no golpe, tirando assim o filme da superfície, se afastando daquele maniqueísmo tão típico de mocinhos e vilões. Cada um chegou ali com os seus – e tão seus – porquês, e Kubrick se abstém de promover algum julgamenta moral, deixando essa tarefa a cargo do espectador. Como é casto aos noirs, The Killing é, ao seu modo, um romance, trabalha com a figura do duplo, do sujeito que tem em si forças opostas. Johnny Clay, o golpista chefe, recém saído da cadeia, dotado de um código ético aparente e que quer ter nesse golpe a sua jogada final para poder fugir dali com a amada, é, afinal, um herói romântico, com esses interesses dúbios e atitudes difíceis de julgar e que acaba obrigando que a análise vá além da superfície e do lugar comum. A dificuldade mora, talvez, em ver ''O Grande Golpe'' depois de toda a análise psicológica e sociológica ímpar de Laranja Mecânica ou a metafísica de 2001, o exercício intelectual acaba sendo o de tentar abstrair as magnus opus de Kubrick que ainda estavam por vir e ver aqui as qualidades bastante únicas e nada modestas aqui presentes. Kubrick mostra saber dosar com uma precisão cirúrgica seus recursos ao mesclar a narrativa não-linear com uma narração em off que vai viajando no tempo e dando ao espectador o mínimo necessário para acompanhar as idas e vindas da história, quase como se Kubrick criasse os problemas para em seguida tentar solucioná-los; explicando para confundir e confundindo pra esclarecer. O final, em todo seu fatalismo tragicômico, é ácido e niilista e acaba por falar um pouco mais sobre seu diretor, o que é, para todos os efeitos, coerente com o que viria logo nos anos seguintes em filmes como Dr. Fantástico e Lolita. Num panorama final cabe ainda se questionar sobre o conceito de filme menor, tão usual em rodinhas cinéfilas para se referir a obras como essa, a questão parece ser meramente sobre parâmetro, pois se O Grande Golpe tiver seu fim em si mesmo o que temos é apenas (com todas as devidas aspas) um grande filme, um ponto de referência único para toda produção desse sub-gênero do filmes de assalto com pretensão de serem engenhosos que viram depois, de Onze Homens e Um Segredo à A Origem. Divertido, analítico, bem construído. Um Kubrick, pois." (Michael Barbosa)

O primeiro grande filme de Kubrick, no qual já se pode perceber o embrião do que formaria a sua visão de cinema.

''Sempre é interessante analisar os primeiros trabalhos de um artista que viria a se tornar referência em seu campo de atuação. Seja na música, na literatura, no cinema ou em qualquer outra forma de arte, é possível perceber nestes esforços iniciais uma visão diferenciada, um talento incipiente, ainda que a inexperiência impeça a construção de obras bem-acabadas. Os primeiros passos de Stanley Kubrick no mundo do cinema, como este ''O Grande Golpe'', são um bom exemplo disso. Dentro de pouco tempo, o cineasta construiria algumas das obras mais relevantes da sétima arte e, ainda que O Grande Golpe não esteja no nível delas, é uma importante referência na afirmação de seu estilo. Baseado em um livro de Lionel White, Kubrick escreveu (com o apoio de Jim Thompson, responsável pelos diálogos) este que se tornaria um dos primeiros e mais influentes dos chamados heist movies, ou, em uma tradução pouco inspirada, os filmes de roubo. A história é sobre um grupo que planeja um assalto no dia da corrida de cavalos mais importante do ano. Liderado pelo ex-presidiário Johnny Clay, o bando esquematiza tudo nos mínimos detalhes para o golpe que pode render a eles algo em torno de dois milhões de dólares. Mas, como sempre, nem tudo sai de acordo com o esperado. ''O Grande Golpe'' é um dos primeiros trabalhos de Kubrick (em ordem cronológica, o segundo ainda disponível, uma vez que seus primeiros não foram distribuídos), seguindo o fraquíssimo A Morte Passou por Perto e antecedendo o excelente Glória Feita de Sangue. Claramente, o cineasta demonstra evolução em relação ao seu esforço anterior, que apresentava uma narrativa desleixada e uma história totalmente sem graça, com um ou outro momento interessante. Agora, trabalhando com um enredo baseado em um livro – fato que viria a se tornar típico em sua carreira –, Kubrick revela pela primeira vez o seu completo domínio na condução de uma trama interessante, em um filme coeso e tenso que, assim que captura a atenção da plateia, jamais a deixa escapar. Em seus primeiros minutos, ''O Grande Golpe'' parece meio estranho ao espectador. A narração em off surge intrusiva e expositiva demais, apostando em uma formalidade que parece retirada diretamente de uma obra literária. Este recurso está presente ao longo de todo o filme e é inevitável apontar que se trata de algo desnecessário, que mais prejudica o filme do que auxilia em sua compreensão (segundo os relatos, Kubrick foi contra a narração, mas acabou cedendo às insistências do estúdio). Da mesma forma, Kubrick opta por iniciar o filme já em meio aos acontecimentos, sem apresentar os eventos ou os personagens. Como consequência, o espectador leva algum tempo para se situar dentro da trama e, principalmente, a se acostumar às opções feitas pelo cineasta. A mais importante delas talvez seja a que diz respeito à estrutura não-linear. Em uma escolha ousada para um cineasta quase iniciante, Kubrick constrói o seu filme brincando com a cronologia, utilizando um artifício que influenciou diversos cineastas ao longo dos anos, como Quentin Tarantino e Guy Ritchie. O Grande Golpe não foi o primeiro filme a quebrar o tempo da narrativa (Cidadão Kane, apenas para citar um exemplo, já tinha feito isso), mas talvez tenha sido o pioneiro no formato de contar o mesmo acontecimento através de diversos pontos de vista: somente após as diversas linhas narrativas terem sido apresentadas é possível compreender o todo da história – diferente do que Kurosawa fez em Rashomon, por exemplo, uma vez que lá se tratavam de versões da história. O melhor de tudo é que este recurso não surge como um mero exercício de estilo ou uma distração, mas realmente desempenha papel fundamental na construção da tensão do filme. Kubrick cria uma atmosfera angustiante, de que algo errado está sempre prestes a acontecer, combinando a inovadora estrutura narrativa com uma ótima trilha sonora e um trabalho de direção irrepreensível. O seu rigor estético preciso, a simetria na colocação dos elementos no plano e os elegantes movimentos de câmera, características que viriam a marcar o seu cinema, já podem ser percebidos em O Grande Golpe, como na cena na qual George conversa com Sherry e a câmera oscila de um lado para o outro, acompanhando os movimentos dele. Outro conceito recorrente no cinema de Kubrick e presente aqui em forma embrionária é a sua visão nada colorida da humanidade. O cineasta sempre se interessou pelo lado negro do Homem, por seus impulsos e desejos obscuros, e ''O Grande Golpe'' versa sobre estes assuntos, mesmo que de forma superficial. Claramente, o desenvolvimento psicológico dos personagens não é a maior força do filme, mas, ainda assim, Kubrick encontra espaço para apresentar este lado vil do ser humano, seja na frieza da personagem de Sherry, capaz de deixar o seu marido por dinheiro, ou no próprio fato de o enredo versar sobre um grupo com moralidade duvidosa. Assim, ainda que não consiga transpor para o celulóide toda sua visão, pela própria falta de experiência ou por não haver encontrado o seu estilo próprio, Stanley Kubrick já dá claros sinais do grande cineasta que viria a se tornar. Hoje, graças à diferenciada estrutura, ótimos diálogos e à direção habilidosa, O Grande Golpe segue como um filme acima da média e eficiente dentro de seu propósito, tornando-se referência. Porém, apesar das qualidades, a obra é lembrada até hoje principalmente por representar os primeiros passos de um gênio. E Kubrick, mesmo engatinhando, é melhor do que a maioria já de pé." (Silvio Pilau)

Top 250#197

Top 200#182 Cineplayers (Usuários)

Top Década 1950 #47 Top Policial #32

Harris-Kubrick Productions

Diretor: Stanley Kubrick

48.829 users / 2.280 face

Check-Ins 43

Date 02/09/2012 Poster -##########

3. The Mouse That Roared (1959)

Approved | 83 min | Comedy

An impoverished backward nation declares a war on the United States of America, hoping to lose, but things don't go according to plan.

Director: Jack Arnold | Stars: Peter Sellers, Jean Seberg, William Hartnell, David Kossoff

Votes: 9,462

[Mov 10 Fav IMDB 7,0/10] {Video}

O RATO QUE RUGE

(The Mouse That Roared, 1959)


''Um pequeno país em grave crise financeira declara guerra aos Estados Unidos. Como perderão a guerra, seus governantes receberão ajuda para se reerguer e, assim, seus problemas econômicos terminarão. Desta forma 20 homens armados de arco e flecha pegam uma barcaça, atravessam o oceano, chegam na América e tudo corre bem. Mas um problema acontece: eles ganham a guerra.'' (Filmow)

Highroad Productions Open Road Films (II)

Diretor: Jack Arnold

5.846 users / 1.268 face

Check-Ins 44

Date 02/09/2012 Poster - ########

4. The Painted Veil (1934)

Passed | 85 min | Drama, Romance

A wife neglected by her husband, a medical researcher in China, falls in love with a dashing diplomatic attaché.

Director: Richard Boleslawski | Stars: Greta Garbo, Herbert Marshall, George Brent, Warner Oland

Votes: 1,720 | Gross: $1.17M

[Mov 05 IMDB 6,6/10] {Video}

O VÉU PINTADO

(The Painted Veil, 1934)


''Romance “O Véu Pintado”, de W. Somerset Maugham, filmado em 1934 por Richard Boleslawski, com Greta Garbo eletrizante no papel de Katrin Koerber Fane, mulher resoluta e possessiva, que mantém um comportamento distanciado dos problemas financeiros enfrentados por sua família. Bonita, tem vários pretendentes, que rejeita sem dar explicações, até que sua irmã mais nova se casa. Katrin, então, faz de tudo para encontrar um marido e, sem escolher muito, encontra em um médico (o ator Herbert Marshall) o destino que mudará sua vida para sempre." (Filmow)

''Garbo. Este é o primeiro nome que aparece nos créditos iniciais de ''O Véu Pintado'' (The Painted Veil), produção de Hunt Stromberg, lançado em 1934. Naquela época, a popularidade da atriz era tão grande que enquanto o expectador acompanha na tela o título do filme, elenco, ficha técnica, produção e direção, o nome Garbo continua ao fundo, até o final, como se fosse uma das telas de pintura dos filmes da Metro daquela época: o que normalmente eram desenhos feitos pelo departamento de arte do estúdio para acompanhar os créditos dos filmes, em ''O Véu Pintado'' é apenas Garbo em letras garrafais. Mas apesar da grandeza da estrela sueca e seu poder junto ao público nas bilheterias, este filme dirigido por Richard Boleslawski não foi muito bem recebido e até hoje a crítica o rejeita, comparando-o com seus verdadeiros sucessos. A história original é do aclamado escritor, autor de obras como The Razor's Edge e Of Human Bondage, W. Somerset Maugham, adaptado para o cinema por Salka Viertel, Edith Fitzgerald e John Meehan. Walter Fane(Herbert Marchall) se casa com a austríaca Katrin(Greta). Médico dedicado, acostumado a viajar o mundo em meio a novas pesquisas, ele a convida a acompanhá-lo para uma viagem à China. Ela, excitada com a possibilidade de conhecer lugares em que jamais esteve, aceita o casamento e a viagem. ''O Véu Pintado'' se parece muito com Madame Bovary. A mulher inexperiente no amor e na vida, que aceita se casar com o primeiro pretendente, pensando que vai viver um conto de fadas, mas acaba se entediando diante da decepção. Por consequência, a traição passa a se tornar uma fuga. Ambos sofrem e o casamento logo se desmorona, deixando a ruína nas vidas de ambos. Com excessão de que a personagem de Maugham não tem mania de grandeza e além disso se arrepende da traição e resolve acompanhar o marido durante a epidemia de Cólera, há bastante semelhança com a obra de Flaubert. Até o sofrimento e melancolia do Dr. Fane quando a esposa se recolhe em seu quarto, sem querer vê-lo, num misto de culpa e rejeição lembra a consternação do Dr. Charles Bovary. Confesso que ainda não assisti a versão mais atual, com Naomi Watts no papel de Katrin, mas já li várias críticas favoráveis, dizendo que é a obra cinematográfica que mais perto chegou do livro. Também vale lembrar que os críticos compararam as duas versões e juram de pés juntos que o primeiro filme é de longe o mais fraco. Para os fãs da Divina vale à pena vê-la ao lado de Herbert Marshall e George Brent(o amante na história). Existem sempre momentos marcantes em filmes de Greta Garbo, por mais que este não seja um Rainha Chritina e A Dama das Camélias. ''O Véu Pintado'' é exótico e se Garbo já era exótica por si só, vê-la numa comunidade chinesa é no mínimo três vezes mais. Especial e mágico é o momento em que ela enrola um pano branco na cabeça, transformando-o num turbante, emuldurando seu belo rosto e deixando-o ainda mais destacado. A cena que sua personagem está com o amante no Festival Chinês é um dos pontos altos do filme. Emocionante vê-la arrependida, vestida com um hábito, voluntariando com as outras enfermeiras e se deixando descobrir pelo marido, já com as esperanças perdidas." (Tela Prateada)

Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)

Diretor: Richard Boleslawski

764 users / 67 face

Check-Ins 48

Date 05/09/2012 Poster - #####

5. The Shining (1980)

R | 146 min | Drama, Horror

68 Metascore

A family heads to an isolated hotel for the winter where a sinister presence influences the father into violence, while his psychic son sees horrific forebodings from both past and future.

Director: Stanley Kubrick | Stars: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers

Votes: 1,106,908 | Gross: $44.02M

[Mov 10 Fav IMDB 8,5/10] {Video/@@@@@} M/61

O ILUMINADO

(The Shining, 1980)
Obra Prima

"Como em todo Kubrick, uma boa cena e só: no caso, a enxurrada de sangue pelo corredor. Supervalorizado, como toda a obra de Kubrick." (Demetrius Caesar)

"Kubrick soube adaptar bem o livro de Stephen King, retirando os excessos e mantendo apenas o bom terror psicológico. Jack Nicholson em grande performance neste que considero um dos melhores filmes do gênero." (Heitor Romero)

"A mania de grandeza de Kubrick sempre rendeu coisas gigantes." (David Campos)

"O ritmo cadenciado que desagrada a muitos é elemento da aula de terror psicológico e "atmosférico" praticada por Kubrick." (Rodrigo Torres de Souza)

Uma obra-prima do horror moderno, na melhor adaptação de uma história de terror do renomado escritor Stephen King.

''Stanley Kubrick disse, certa vez, que adorava adaptar livros medíocres, porque sempre resultavam em bons filmes. Essa foi uma indireta bastante direta para Stephen King e seus fãs, que bateram o pé e até hoje se contorcem para sua adaptação de ''O Iluminado'', que alguns dizem ser o livro mais assustador de King. Muitos consideram este o trabalho mais fraco do diretor. Opinião que, obviamente, já devem ter percebido que não compartilho. Acho este filme, do início ao fim, uma obra-prima do horror, e não é difícil entender o porquê. É fato que as histórias de King funcionam nos livros, pois instigam nossa imaginação, mas na tela tudo fica mais trash. Ao invés de dar medo, acabamos rindo, por mais bem feitos que sejam seus monstros. Não é de se espantar que os melhores filmes baseados em suas obras, além deste, sejam Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre - justamente dramas, que não utilizam do artifício monstros de borracha somados à efeitos especiais para funcionar. E é justamente esse o ponto crucial para o filme de Kubrick ser tão bom, e, ao mesmo tempo, tão odiado pelos adoradores da obra de origem. Ele retirou todos os monstros e tudo mais que têm no livro e manteve apenas o climão e as atitudes de Jack. Com isso, tudo ficou mais sugestivo, misterioso. Apenas alguns monstrinhos, no final do filme, servem de aperitivo aos fãs e dizer, para nós, que estamos assistindo ao filme, que existia algo muito mais macabro do que poderíamos imaginar. Kubrick preferiu se concentrar na degradação dos personagens no sentido psicológico pelo ambiente, e não totalmente pela sobrenaturalidade. Esse ponto é importante, porque para os personagens, Jack apenas enlouqueceu devido a solidão, mas para nós, que estamos assistindo, sabemos melhor tudo o que está acontecendo. No filme, conhecemos a história de Jack Torrance (Jack Nicholson), que aceita o trabalho de zelador de um imenso hotel durante a baixa temporada do local - um inverno bastante denso e torturoso. Durante esse período, ele tenta escrever o seu livro, mas um passado sombrio do hotel começa a aterrorizar a família e afetar diretamente a sanidade de Jack. Sua mulher se torna passiva a tudo o que está acontecendo, enquanto seu filho tem poderes paranormais de comunicação com as forças ocultas do lugar. Um dos melhores aspectos do filme é sua parte técnica. Tudo contribui para reforçar o clima de solidão do local - algo extremamente necessário, uma vez que a transição do Jack pai exemplar para o psicopata tinha de ser convincente (uma das grandes críticas ao filme é justamente que ela foi rápida demais). Os cenários, amplos e espaçosos, construídos todos em locação, utilizando apenas a fachada de um grande hotel para as externas, reforçam a teoria da solidão e do isolamento. A arte é grandiosa... E vazia. As salas são grandes, com muito espaço, o que deixa o local altamente pertubador. Some isso ao pesado clima, construído minuciosamente por Kubrick, e já dá para perceber o quão aterrorizante é a experiência. A fotografia é realista e não deixa que a diferença entre estúdio e locação sobressaia, além de um excepcional uso do inovador Steady Cam, principalmente na cena do labirinto. (um equipamento que evita a trepidação da câmera, enquanto corremos com ela em mãos) O Iluminado não é um filme explícito de sustos. É construído para nos deixar mal, com medo de uma pessoa que, teoricamente, nos ama e só quer o nosso bem. Algumas seqüências são de gelar a espinha, como a aparição das gêmeas no corredor, ou então o elevador que derrama uma enorme quantidade de sangue. O melhor é que, assim como diversos outros filmes de Kubrick, nada é mastigado demais na história. Sempre há uma brecha para a interpretação, para que cheguemos a uma conclusão por conta própria, sem necessidade de que o filme diga para nós sua intenção. A cena mais marcante é quando Jack coloca seu rosto entre uma abertura feita na porta com machadadas e diz a imortal frase Here's Johnny!. Jack Nicholson, um dos maiores atores de todos os tempos, improvisou tal fala, e fez um trabalho absolutamente brilhante em cena. Sua preparação sempre especial lhe concedeu alguns momentos únicos, como a seqüência do bar. Já Shelley Duvall, só faltou a coitada ser agredida por Kubrick, tamanho o número de broncas que levou do diretor, mas pelo menos o resultado final conseguiu ser convincente. Em determinada cena, ela chegou a filmar mais de 100 takes para que Kubrick conseguisse o que queria. Não descarto a possibilidade de algumas pessoas torcerem para que Jack consiga matar a esposa, de tão chata que ela é. Fiel ou não ao livro, Kubrick construiu um filme extremamente cativante, que consegue mexer com nossos medos interiores - e ainda muito melhor que a refilmagem de 1997, que se dizia a versão definitiva e fiel à obra de origem. O Iluminado é uma obra-prima do horror, que não necessita apelar para sustos fáceis para assustar, como a grande maioria dos títulos faz. Seja no drama, na guerra ou na ficção, esta é apenas mais uma prova da versatilidade do gênio por trás das câmeras. Um grande presente para aqueles que gostam de ser atormentados por uma história verdadeiramente macabra." (Rodrigo Cunha)

''Mais uma vez o diretor de clássicos como 2001 – Uma Odisséia no Espaço e Laranja Mecânica deixa o espectador repleto de questionamentos ao misturar o estudo dos efeitos causados pelo isolamento sobre a mente humana com visões sobrenaturais que podem ter múltiplas interpretações. O constante clima de um eletrizante suspense, recheado com ingredientes assustadores capazes de provocar frio na espinha da mais incrédula das pessoas, faz deste “O Iluminado” o clássico fantasmagórico de Stanley Kubrick, reafirmando o incrível talento deste gênio da sétima arte. Durante o inverno, Jack Torrance (Jack Nicholson) é contratado para cuidar de um hotel no Colorado, para onde vai com sua mulher Wendy (Shelley Duvall) e seu filho Danny (Danny Lloyd). O problema é que o isolamento começa a afetar sua mente e ele se torna cada vez mais perigoso, ao mesmo tempo em que seu filho descobre pertencer a um seleto grupo de pessoas conhecidas como os iluminados e começa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado. O travelling inicial pelos montes, acompanhando o carro na estrada ao som da assustadora trilha sonora, nos ambienta perfeitamente ao clima de “O Iluminado”. Kubrick nos introduz lentamente aos assustadores elementos da narrativa, como o amigo imaginário de Danny e a história do hotel Overlook contada para Jack, utilizando uma angustiante divisão em capítulos que cria um clima crescente de suspense, atenuado pela conversa sobre canibalismo da família a caminho do Hotel, onde as falas parecem ser mais lentas, tendo pequenas pausas entre elas. Kubrick prova novamente seu talento gigantesco ao abusar de enquadramentos perfeitos, utilizando muitos planos gerais e criando imagens de forte impacto, além de utilizar seu tradicional zoom, por exemplo, quando Dick (Scatman Crothers) está deitado na cama e tem uma visão. Observe também o intimidante plano de Jack brincando com a bola no saguão, mostrando o quanto o hotel Overlook pode ser assustador. O diretor também cria, com a colaboração da excepcional montagem de Ray Lovejoy, uma transição espetacular da maquete admirada por Jack para o belíssimo labirinto de verdade, numa tomada incrivelmente distante e encantadora. Faz ainda um plano de Jack trancado na dispensa que lembra a cena em que Frank, na porta do banheiro, reconhece Alex em “Laranja Mecânica”, numa interessante auto-referência. Como é de costume nos filmes dirigidos por Kubrick, a parte técnica é nada menos que espetacular. A fotografia branca, limpa, quase asséptica de John Alcott reflete a loucura e o vazio de Jack, isolado naquele hotel. Kubrick utilizou muitas luzes nas enormes janelas para criar um visual que aumentasse esta sensação, além das tradicionais lentes que captam com precisão praticamente todo o cenário. Com o passar do tempo e o aumento da loucura de Jack, a fotografia vai escurecendo, se tornando menos nítida, até finalmente se tornar fria, em tons azulados, com a neve atrapalhando completamente a visão, num reflexo do atordoado estado mental dele. Os cenários coloridos e incrivelmente iluminados (tapetes e paredes coloridos, luminárias e janelas enormes e reluzentes) criam um ambiente intimidador e praticamente com vida, graças ao talentoso trabalho de direção de arte de Leslie Tomkins. Repare como o tapete laranja, vermelho e marrom, em Danny brinca com carrinhos antes de ver a porta 237 aberta, tem um efeito hipnótico, nos levando pra dentro do quarto junto com ele quase que inconscientemente. Outro exemplo é o banheiro onde Jack e Grady (Philip Stone) se encontram e tem um diálogo decisivo, que propositalmente é colorido em vermelho e branco, simbolizando o sangrento caminho que Grady influenciaria Jack a seguir. O som também colabora com o clima de tensão através do uivo do vento durante a nevasca ou, por exemplo, quando Danny passeia de triciclo pelo Hotel e alterna entre o alto barulho dos tacos de madeira e o silencio absoluto do tapete. Note como Kubrick deixa a câmera no nível do triciclo, nos colocando na posição do garoto e, portanto, vulneráveis a qualquer perigo que possa aparecer. E finalmente, a assustadora trilha sonora de Wendy Carlos e Rachel Elkind tem um tom muito sombrio, além de pontuar muito bem algumas cenas, como na primeira aparição do Labirinto. Com todo este trabalho técnico de primeiro nível, o diretor só precisava de atores capazes de extrair do excelente roteiro, escrito por Diane Johnson e pelo próprio Stanley Kubrick, atuações do mesmo nível. E felizmente, o elenco de “O Iluminado” é muito competente. A começar pela sensacional atuação do ótimo Jack Nicholson. Inicialmente uma pessoa tranqüila e de bem com vida, como podemos perceber quando chega ao Hotel e brinca com as garotas que estão saindo, seu Jack vai lentamente sendo tomado pela loucura causada pelo isolamento. Também colabora com sua perturbação o fato dele, pelo menos teoricamente, pertencer ao grupo dos iluminados, e por isso ter visões nada convencionais. O excelente roteiro, aliás, tem um mérito inquestionável, que é justamente jamais deixar claro se as visões de Jack, Danny e posteriormente Wendy, são realmente visões fantasmagóricas ou apenas alucinações provocadas pelo isolamento. A transição de Jack, de pessoa tranqüila para completamente enlouquecido, é lenta e consistente. Os sinais vão aparecendo lentamente (outro mérito do roteiro), como na conversa entre Jack e Wendy a respeito de sua dificuldade para escrever com ela ao lado, sua conversa com Danny no quarto, quando diz que jamais o machucaria e gostaria de ficar ali com ele pra sempre (significando mais do que aparenta) ou seu pesadelo em que corta o filho em pedacinhos. Por não saber conviver com as visões que tem ele acaba enlouquecendo. Os sinais de que Jack também pertence aos iluminados são sutis, como a frase do barman (Seu dinheiro não vale aqui), sua visita assustadora ao quarto 237 e a festa em que ele conhece o garçom Grady. Sua conversa com o barman antes da festa, aliás, é um momento sublime da atuação de Jack, com o movimento dos olhos, a boca, a alteração repentina na voz e o movimento das mãos indicando o estado psicológico dele. Observe o momento em que ele diz que já machucou Danny antes. Segundos antes de falar, ele abre as mãos e suspira, como se estivesse tomando coragem para confessar. Quando volta ao bar, durante a festa, presenciamos o momento arrepiante em o garçom Grady revela seu nome. Observe a tensa reação de Jack, mexendo as mãos e os dedos, ao ouvir o nome dele. A conversa que segue entre os dois, no banheiro, é decisiva. Finalmente, logo após seu assustador texto datilografado ser descoberto por Wendy e Danny aparecer com o pescoço marcado, ela começa a culpá-lo e percebe sua alteração de comportamento. Inicia-se então outro momento antológico de Jack, transtornado, imitando a voz e partindo, alucinado, pra cima dela, que grita de forma estridente. Aliás, a atuação exagerada de Shelley Duvall como Wendy é uma exigência de Kubrick. Ele entendia que este histerismo era coerente com a personagem e, principalmente, com a situação que ela vivia. O rosto angular e incrivelmente branco dela maximiza os choros e gritos. Um dos grandes segredos da capacidade de aterrorizar que o filme tem reside no fato do personagem chave ser uma criança. A utilização de crianças como elemento chave do suspense é um artifício interessante, provocando ainda mais medo, já que teoricamente elas são inofensivas. E felizmente, Danny Lloyd tem uma excelente atuação como Danny, um menino ao mesmo tempo misterioso e inocente. Repare sua inocência enquanto brinca com os dardos, seguida por um olhar assustado, acompanhando da respiração ofegante, quando vê as duas garotas no Hotel. Quando começa a descobrir seu talento, indicado através do pensamento de Dick (Quer um pouco de sorvete, Doc?) e do esclarecedor diálogo que eles têm em seguida, Danny passa a ver imagens assustadoras com mais freqüência (como as meninas mortas e a macabra frase Venha brincar conosco Danny, para sempre, e sempre, e sempre…) o que só aumenta seu pânico. Outro momento inspirado do garoto acontece no grande clímax do filme, quando Jack parte para resolver seus problemas, enquanto Danny repete a assustadora palavra Redrum (Murder ao contrário, em português assassinato). Torcemos desesperadamente para Dick chegar a tempo no Hotel, enquanto Wendy vê a palavra no espelho e Jack tenta derrubar a porta à machadadas, dizendo a famosa frase Here’s Jhonny!. Os gritos e as caretas exageradas de Wendy aparecem novamente aqui e a barba por fazer de Jack acentua sua loucura. Wendy passa então a ver o mundo que não via, com pessoas no Hotel e imagens assustadoras, culminando na sensacional seqüência dentro do labirinto, onde é impossível desgrudar os olhos da tela. O plano final com Jack no meio dos formandos de 1921 deixa muitas questões em aberto, como é tradicional nos filmes de Kubrick. Seria ele um fantasma? O que estaria fazendo ali no meio daquela turma? Esta é uma questão que o filme não responderá, deixando a cargo de cada espectador tirar suas próprias conclusões. Quanto às visões, prefiro pensar que eram reais, e não apenas fruto da imaginação, o que teria total coerência com o próprio nome do filme. Em todo caso, existem pessoas que as interpretam como resultado do extremo isolamento da família, pois nesta situação, o ser humano realmente pode ter alucinações e enlouquecer. Mas isto tudo é pra ser discutido em outro local. Mais importante é destacar que Kubrick, mais uma vez, nos brinda com um filme espetacular, tecnicamente perfeito e capaz de arrancar arrepios da mais incrédula das pessoas. Se a intenção era fazer um bom filme de terror e suspense, ele alcançou com louvor. Reafirmando novamente seu incrível talento, Kubrick conseguiu fazer de “O Iluminado” um filme incrivelmente assustador, contanto com uma atuação antológica de Jack Nicholson. Com o seu apurado conhecimento técnico e narrativo, criou um filme de visual deslumbrante, com uma narrativa tensa e um resultado final absolutamente maravilhoso. Se existem ou não pessoas iluminadas não sou eu quem vai comprovar. O que posso dizer é que Stanley Kubrick era um diretor iluminado, capaz de criar obras marcantes e inesquecíveis como esta." (Roberto Siqueira)

''Por que enlouquece Jack Torrance em "O Iluminado"? Será a terrível solidão do hotel onde se encerra com a mulher e filho? Claro, sem o isolamento absoluto do local não haveria nada. E o que significam esses fantasmas que irrompem em sua vida? Há ali passados que não viveu. Seria um efeito de imaginação incontrolável? Pode ser tudo isso e um pouco mais o que leva Jack a, como um personagem bíblico, perseguir loucamente a família: não se pode esquecer que o agora zelador de hotel é um escritor. O que ele escreve ao longo de sua jornada? A mulher descobrirá: uma só frase, repetida ao infinito. "O Iluminado" talvez seja, entre outras, uma metáfora da falta de inspiração." (* Inácio Araujo *)

Top 250#48

Top 200/66 Cineplayers (Usuários)

Top Década 1980 #17 Top Reino Unido #6 Top Suspense #29 Top Terror #11

Warner Bros. Pictures Hawk Films Peregrine Producers Circle

Diretor: Stanley Kubrick

429.999 users / 26.737 face

Check-Ins 50 10 Metacritic

Date 07/09/2012 Poster - ##########

6. Stepfather 3 (1992 TV Movie)

R | 110 min | Horror, Thriller

That psycho stepfather has escaped from the insane asylum and had his face surgically altered. Now he's married again, this time to a woman with a child in a wheelchair. He goes on a ... See full summary »

Director: Guy Magar | Stars: Robert Wightman, Priscilla Barnes, Season Hubley, David Tom

Votes: 2,065

[Mov 01 IMDB 4,1/10] {Video/@@}

O PADRASTO 3 - ELE VOLTOU PARA FICAR

(Stepfather III, 1992)


''Depois de passar pela operação plástica, assassino muda-se para nova cidade e se casa com mulher separada. O filho dela irá desconfiar e irá investigar a real personalidade do seu padrasto. Seqüência do filme A Volta do Padrasto.'' (Filmow)

Incorporated Television Company (ITC)

22 users / 17 face

Diretor: Guy Magar

Check-Ins 65

Date 11/11/2012 Poster -

7. Staying Alive (1983)

PG | 93 min | Drama, Music, Romance

23 Metascore

Five years later, Tony Manero's Saturday Night Fever is still burning. Now he's strutting toward his biggest challenge yet: succeeding as a dancer on the Broadway stage.

Director: Sylvester Stallone | Stars: John Travolta, Cynthia Rhodes, Finola Hughes, Steve Inwood

Votes: 17,602 | Gross: $64.89M

[Mov 01 IMDB 4,1/10] {Video/@@} M/17

OS EMBALOS DE SÁBADO CONTINUAM

(Staying Alive, 1983)


''Tony Manero, trabalha agora em uma academia de ginástica e anseia ser o dançarino principal de um grande show da Broadway. Em sua vida particular ele se vê dividido entre duas mulheres: Jackie, uma professora de dança que trabalha no mesmo lugar de Tony, e Laura, a dançarina principal do show da Broadway. Enquanto Tony, se apaixona por Laura, ela só o vê como alguém atraente que serve para fazer sexo, o que gera uma rivalidade entre eles na vida profissional.'' (Filmow)

41*1984 Globo

Paramount Pictures Cinema Group Ventures

Diretor: Sylvester Stallone

9.290 users / 869 face

Soudtarck Rock = The Bee Gees + Gary Wright

Check-Ins 67 20 Metacritic

Date 11/11/2012 Poster - ###

8. The Grudge (2004)

PG-13 | 91 min | Horror, Mystery, Thriller

49 Metascore

An American nurse living and working in Tokyo is exposed to a mysterious supernatural curse, one that locks a person in a powerful rage before claiming their life and spreading to another victim.

Director: Takashi Shimizu | Stars: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, Clea DuVall, William Mapother

Votes: 150,876 | Gross: $110.36M

[Mov 02 IMDB 5,8/10] {Video/@@@} M/49

O GRITO

(The Grudge, 2004)


Nessa onda de refilmagens de filmes orientais, conheça um lotado de sustos.

''Se um filme oriental pouco divulgado faz um enorme sucesso em seu país de origem, por que não fazê-lo bem-sucedido também no Ocidente? Além de propagarem por uma boa parte do mundo uma história inusitada e diferente, as refilmagens, quando decentemente realizadas e divulgadas, deixam os espectadores curiosos acerca do filme original. Apenas de filmes japoneses, podem-se citar refilmagens de Ringu (O Chamado), Dark Water (a ser lançado em meados de 2005), Dança Comigo? e, mais recentemente, The Grudge (estranhamente traduzido no Brasil para ''O Grito''). Refilmagem do terror psicológico Ju-On: O Rancor , ''O Grito'' trata de uma maldição gerada por um rancor guardado por alguém no momento de sua morte. A maldição impregna o ambiente onde a morte aconteceu e atinge indiscriminadamente a todos que entrarem em contato com o local. Dessa forma, tem início uma enorme cadeia de acontecimentos horríveis que, muito provavelmente, nunca acabarão. Karen (Sarah Michelle Gellar) é estudante de Serviço Social e a pedido do namorado vai morar com ele em Tóquio. Em pouco tempo, Karen é convidada para substituir uma outra assistente, que misteriosamente desapareceu. Ela fica encarregada de cuidar de uma velha senhora americana que mora numa casa tradicionalmente japonesa. Chegando lá, Karen percebe que existe algo estranho no lugar, uma atmosfera desagradável e ominosa. Explorando a casa, ela descobre um armário selado por fita adesiva. Ao abrí-lo, Karen inevitavelmente libera a maldição. Sarah Michelle Gellar não é o que se pode chamar de uma brilhante atriz. Em muitos filmes em que aparece, ela apenas faz o seu trabalho, talvez por não escolher papéis muito difíceis, por ser ofuscada por outros atores ou por simplesmente não conseguir desenvolver ao máximo suas personagens. Com ''O Grito'' não é muito diferente. A atriz sabe, sim, como conduzir seu papel, embora o faça de maneira pouco atraente. De qualquer maneira, O Grito é o tipo de filme em que as atuações não precisam ser exatamente brilhantes. Os outros atores, bem como Sarah, saem-se bem, mantendo o clima das cenas em que aparecem. Uma decisão sensata foi a de manter Takashi Shimizu na direção da refilmagem. Diretor também do filme original. Shimizu teve todo o tempo necessário para repensar o filme japonês e arrumar possíveis erros no americano, além de, é claro, deixar a trama da película muito bem explicada, como gostam os ocidentais. O enredo, inclusive, parece adquirir um novo aspecto quando transportado para o ambiente hollywoodiano. A decisão de gravar o filme em Tóquio e de manter nele alguns atores japoneses (os espíritos malignos de O Grito são interpretados pelos mesmos atores de Ju-On) parece servir apenas para deixá-lo com um aspecto mais nipônico, enquanto, na verdade, confere à história uma nova moldagem. A música de Christopher Young, como em todo terror psicológico, é fundamental para o andamento correto do filme, é através dela que o medo e a tensão serão sugeridos. Muito parecidos com os de Ju-On, os efeitos sonoros são os efetivos responsáveis pela manutenção da atmosfera tensa e, quando comparados aos da versão japonesa, não deixam a desejar. A imagem do filme recebeu uma polida e a fotografia (ainda que muitas cenas sejam idênticas às originais) parece sutilmente melhor, a ponto de se perceberem as melhorias desejadas - e alcançadas - pelo diretor. Mesmo que a essência do filme japonês esteja toda no americano, assistir à refilmagem depois que se viu o original é muito mais interessante, pois se vêem as adaptações almejadas pelo diretor e a nova face impressa à história da película. Ainda que direcionado especialmente ao público norte-americano, ou ocidental como um todo, ''O Grito'', diferentemente de O Chamado, não apresenta um aspecto inteiramente ocidental, ainda que levemente modificado. O destaque que a rancorosa e vingativa Kayako recebe no filme, apenas reforça o lado oriental da refilmagem, pois remete, com insistência, aos espíritos característicos das lendas nipônicas. Na verdade, de tantas referências à cultura japonesa, o filme parece uma refilmagem parcial, isto é, um filme americano bem oriental (ou seria um filme japonês bem ocidental?). Se o objetivo do diretor e do produtor Doug Davison foi o de adaptar a história de Ju-On ao gosto ocidental, a tentativa pode ter sido falha, porque ''O Grito'' não é, de maneira alguma, parecido com o terror ocidental. Entretanto, se o objetivo foi o de divulgar o filme original e de expor o Ocidente a um terror bem diferente do usual, a tentativa foi, sim, bem sucedida." (Flavio Augusto)

''Esquisito. Talvez seja essa a palavra que melhor defina “O Grito” ao sair do cinema. Talvez por ser uma história oriental, nossa mente do ocidente não absorva tudo o que se vê na tela. Apesar de ser um remake americano de um filme japonês, o filme é dirigido por Takashi Shimizu, o mesmo que fez o original em japonês. Assim, esta crítica espera decifrar um pouco mais do jeito e da cultura de se fazer cinema oriental, até porque este colunista vem assistindo em cinema e DVD a enxurrada de filmes de terror japoneses que invade o Brasil e o resto do mundo. Primeiro percebemos que as lendas são muito fortes no Japão. Tanto é que a primeira cena do filme é um texto explicando justamente o que está por vir. Isto é, o filme já nos impõe que a lenda é verdadeira antes de dar qualquer explicação. Logo somos transportados para uma cena chocante de suicídio sem motivo aparente e depois a apresentação do filme, cheia de efeitos especiais. Exatamente da mesma forma começa “Ilusão de Morte“, outro filme de terror oriental disponível em DVD. Somos apresentados a Karen (Sarah Michelle Gellar ou Buffy – A Caça Vampiros), uma estudante americana no Japão que vai tomar conta de uma senhora na casa onde se encontra a maldição. Dizem que quando alguém morre através de muita fúria ou mágoa, esse sentimento permanece no lugar da morte, matando todos que têm contato com ele. Coincidência (ou não), as mortes são muito parecidas com aquelas vistas em O Chamado, outro remake americano, que deu origem à coqueluche de filmes de terror japoneses. Em ambos as pessoas aparentemente morrem de medo ou de um susto muito grande. Portanto outro ponto interessante: o emocional representa muito no oriente, sendo capaz de dominar o físico. Ilusão de Morte tem como maneira de morrer o mesmo conceito. Já que Karen foi uma das pessoas a entrar na casa, ela fica contaminada com a maldição e deve achar um jeito de escapar, enquanto todos os outros vão morrendo à sua volta. Shimizu soube conduzir muito bem as cenas de terror e suspense não nos poupando de chamado terror visual, porém bem fundamentado. Condução parecida pode ser vista em DVD no filme oriental The Eye – A Herança, lançado recentemente. Também é eficaz a maneira de contar a história voltando e adiantando no tempo, montando aos poucos o quebra-cabeça. Os problemas começam a partir da segunda metade de projeção e infelizmente só vão aumentando. Nesse ponto o filme começa a se tornar mais abstrato, com mortes das mais variadas formas, sem seguir padrões: alguns corpos aparecem, outros somem pra sempre; alguns morrem de medo, outros são literalmente assassinados. Pior, a própria maldição começa a se contradizer quando descobrimos quem começou tudo. Sem revelar mais detalhes, diria que quem começou tudo deveria ser aquele que mata através da maldição, quando é o oposto. Pra finalizar o fim do filme é uma incógnita, pois é difícil engolir que a maldição deixou Karen escapar para atacá-la em outra ocasião. Porque? Além disso, o roteiro é cheio de furos: ele simplesmente esquece outras pessoas que entram na casa, mas não sofrem da maldição (o assistente do delegado, por exemplo). Será que o filme não teve tempo suficiente para matá-lo? E se o delegado sabia da maldição, porque ele entrou na casa em primeiro lugar? Assim, o que poderia ser um terror muito acima da média, torna-se apenas um filme com bons sustos e efeitos especiais. Parece que os japoneses dos outros são mais esquisitos que os nossos." (CineCritícas)

''Qualquer pessoa que acompanha o que acontece no mundo do cinema já sabe que a nova coqueluche entre produtores de Hollywood é refilmar filmes de terror japoneses. Especialmente depois do sucesso de O Chamado (2002). Desta forma, o cinema americano passa a explorar uma outra forma de se fazer filmes de terror. Saem os assassinos em série e para dar lugar ao sobrenatural; ai invés de adolescentes e garotas peitudas sendo mortos, temos crianças assustadoras. Assim como O Chamado, O Grito é refilmagem de filme japonês que, produzido por Sam Raimi - que, muito antes de ser o sr. Homem-Aranha, dirigiu o clássico trash A Morte do Demônio (1982) -, custou US$ 10 milhões e, somente no final de semana de estréia nos EUA, faturou US$ 40 milhões, aproximadamente. Alguém duvida do sucesso? Logo nos créditos iniciais é deixado claro que se trata de uma maldição: quando alguém é morto em momento de extrema raiva, seu espírito fica preso no mundo dos vivos, matando a todos que atravessem seu caminho. É por esse caminho que passa a assistente social Karen Davis (Sarah Michelle Gellar), que resolveu mudar-se ao Japão com o namorado Doug (Jason Behr). Quando ela é escalada para cuidar de Emma Williams (Grace Zabriskie), uma senhora americana que vive em Tóquio em estado catatônico, Karen entra em uma casa aparentemente normal, mas que está tomada pela maldição. Por meio de flashbacks, o filme nos mostra como a família Williams chegou na casa e como foi a mesma tomada pela maldição. E, claro, também mostra as assustadoras almas de Kayako (Takako Fuji) e o menino Toshio (Yuya Ozeki) que, presos no imóvel, são os que espalham a morte. Por ser uma refilmagem, impossível não comparar com o original, Ju-On (2000). Ambos têm o mesmo diretor, o japonês Takashi Shimizu, e uma parte do elenco original permaneceu na versão americana, como os dois atores que interpretam os fantasmas. Apesar de ser o mesmo roteiro, alguns efeitos especiais foram adicionados nesta nova versão, fazendo que o terror aumente. Por mais que já se conheça a história e já saiba onde estão os sustos, ainda se fica preso à poltrona do cinema tamanho clima de tensão durante a película. O novo roteiro ainda ganhou conclusões que não existiam no original por ser destinado ao público norte-americano e, claro, um final que remete a uma continuação, que já está sendo produzida pela Ghost House Pictures, de Sam Raimi. Apesar de ''O Grito'' apelar para formas já manjadas de botar medo no espectador - como a trilha sonora que fica mais alta à medida que o personagem chega perto do susto, gatos pretos que aparecem do nada, a sombra passando atrás de portas de vidro e na frente do espelho -, o filme ainda é capaz de manter a atenção (e a tensão). O problema é que, à medida que ele caminha ao final, torna-se chato, assim como Sarah Michelle Gellar no papel de enfermeira aterrorizada. Ela parece muito mais tranqüila e corajosa do que a situação pede - se eu estivesse na situação dela, por exemplo, certamente sairia da cidade, no mínimo. Mas tudo vale a pena já na primeira cena, com Bill Pullman, que, apesar de ser um dos maiores coadjuvantes de Hollywood, ainda vale o ingresso. Só não vale sair da sala na cena seguinte." (Angelica Bito)

Top 100#24 Cineplayers (Bottom Editores)

Columbia Pictures Ghost House Pictures Fellah Pictures Senator International Vertigo Entertainment

Diretor: Takashi Shimizu

88.804 users / 3.328 face

Check-Ins 71 32 Metacritic

Date 08/11/2012 Poster - #

9. Sssssss (1973)

PG | 99 min | Horror, Sci-Fi

59 Metascore

A college student becomes lab assistant to a scientist who is working on a serum that can transform humans into snakes.

Director: Bernard L. Kowalski | Stars: Strother Martin, Dirk Benedict, Heather Menzies-Urich, Richard B. Shull

Votes: 3,968

[Mov 01 IMDB 5,2/10] {Video/@}

O HOMEM COBRA

(Sssssss, 1973)


"Um respeitado especialista em cobras esconde o assustador desejo, de transformar um ser humano no maior dos répteis. Percebendo que seu novo assistente é a cobaia perfeita, o médico começa a aplicar no rapaz algumas injeções de seu novo "soro imunizador". Rapidamente, o jovem começa a experimentar efeitos colaterais estranhos e perturbadores." (Filmow)

Universal Pictures Zanuck/Brown Productions

Diretor: Bernard L. Kowalski

1.937 users / 1.454 face

Check-Ins 69

Date 10/11/2012 Poster - #

10. Orca (1977)

PG | 92 min | Adventure, Drama, Horror

27 Metascore

A hunter squares off against a killer whale seeking vengeance for the death of its mate.

Director: Michael Anderson | Stars: Richard Harris, Charlotte Rampling, Will Sampson, Bo Derek

Votes: 13,286 | Gross: $14.72M

[Mov 01 IMDB 5,2/10] {Video/@}

ORCA - A BALEIA ASSASSINA

(Orca, 1977)


"O mau gosto tranforma uma produção de bons recursos (que poderia ao menos resultar num filme divertido)em um lixo trash e indigno de alguns dos talentos que compõem o elenco. Um dos filhotes do Tubarão de Spielberg." (Vlademir Lazo)

"A falta que um Spielberg faz em um filme desses." (Heitor Romero)

"Um belo, inteligente e criativo filme dos anos 70, antes de tubarão e free Willy, mas aqui o animal que ao contrario do tubarão, matava por prazer, aqui, é uma orca, com motivos de sobras para querer vingança, não se na vida real, é possível cometer pecado contra um animal, aqui com certeza a revolta é grande com relação a pesca predatória e sem motivo, apenas pelo prazer de fazer mal aos animais! O Filme conta a história de um capitão de crustáceos que resolver por dinheiro capturar um tubarão para o aquário da cidade, na primeira tentativa falida, ele então resolve capturar uma orca, mas esse acaba sendo um erro fatal, pois ao atirar o arpão, acerta de raspão uma orca macha, e certeira sua companheira que estava grávida, capturando-a, a orca macha enfurecido com o fim de toda sua família, observa seu algoz com muito ódio e planeja se vingar do mesmo! Um filme muito forte, dramático, e que com certeza causa uma revolta ao ver aquela cena deplorável e cruel, isso não se animais na vida real podem fazer isso, mas se pudessem, com certeza já teríamos enfrentado uma guerra com eles, pois todos os dias invadimos seus territórios, destruímos suas casas, os expulsamos de seus lares e outras coisas desse tipo que com certeza ainda poderá futuramente ter consequências!!!! Aquela orca macho tinha seus motivos em querer vingança contra o ser humano que destruiu sua família bem na sua frente e nãos os reprimo, pois nós seres humanos também temos esse sentimento, quando alguém resolvem fazer mal ao que é nosso: Richard Harris, Professor Albus Dumbledore em Harry Potter e a Pedra Filosofal, também fez um ótimo personagem neste filme, o Capitão Nolan, um homem sagaz e sem escrúpulos que paga com a vida, o crime que cometeu contra aquele animal. Não devemos invadir o território dos outros, pois não temos o direito de fazer isso, assim como nós temos o direito a vida, eles também têm esse direito de viverem em paz e tranqüilos, assim como nós! O que uma coisa boa para todos! Muito Obrigado!" (CineDica)

Dino de Laurentiis Cinematografica Famous Films (II)

Diretor: Michael Anderson

6.296 users / 1.100 face

Check-Ins 76

Date 05/11/2012 Poster - #

11. Son of the Pink Panther (1993)

PG | 93 min | Comedy, Crime

33 Metascore

Charles Dreyfus encounters Jacques Gambrelli, who reminds him painfully of Inspector Clouseau, the man who drove him insane. With good reason: Gambrelli is Clouseau's son.

Director: Blake Edwards | Stars: Roberto Benigni, Herbert Lom, Claudia Cardinale, Shabana Azmi

Votes: 5,920 | Gross: $2.46M

[Mov 02 IMDB 3,5/10] {Video/@}

O FILHO DA PANTERA-COR-ROSA

(Son of the Pink Panther, 1993)


''Uma princesa árabe é raptada, e compete ao Inspector-Chefe Dreyfuss salvá-la. Felizmente que desta vez Clouseau não se encontra nas redondezas para o ameaçar! Mas quando um polícia local com o triste nome de Jacques (Benigni) é destacado para o ajudar, este consegue que Dreyfuss o afaste - tudo isto no 1º dia de serviço. Dreyfuss logo começa a recear que se Clouseau tivesse um filho há muito tempo desaparecido, seria muito assim!'' (Filmow)

Filmauro International Traders United Artists

Diretor: Blake Edwards

3.226 users / 55 face

Check-Ins 77

Date 04/11/2012 Poster - ##

12. The Phantom (1996)

PG | 100 min | Action, Adventure, Comedy

53 Metascore

The Phantom, descendent of a line of African superheroes, travels to New York City to thwart a wealthy criminal genius from obtaining three magic skulls which would give him the secret to ultimate power.

Director: Simon Wincer | Stars: Billy Zane, Kristy Swanson, Treat Williams, Catherine Zeta-Jones

Votes: 35,819 | Gross: $17.30M

[Mov 02 IMDB 4,8/10 {Video/@@@}

O FANTASMA

(The Phantom, 1996)


''Há 400 anos, o Fantasma protege a selva de Bengala. Ele enfrenta seu maior desafio quando precisa combater um rico empresário que quer obter as três lendárias Caveiras de Touganda que, juntas, lhe darão poder absoluto." (Filmow)

Paramount Pictures Ladd Company, The Village Roadshow Pictures Boam Productions

Diretor: Simon Wincer

24.343 users / 1.050 face

Check-Ins 86

Date 03/11/2012 Poster - ####

13. Heaven Can Wait (1943)

Passed | 112 min | Comedy, Drama, Fantasy

An old roué arrives in Hades to review his life with Satan, who will rule on his eligibility to enter the Underworld.

Director: Ernst Lubitsch | Stars: Gene Tierney, Don Ameche, Charles Coburn, Marjorie Main

Votes: 12,372

[Mov 08 IMDB 7,6/10] {Video/@@@@}

O DIABO DISSE NÃO

(Heaven Can Wait, 1943)


''O austríaco Ernst Lubitsch fez carreira em Hollywood dirigindo comédias românticas ambientadas no mundo frívolo da alta sociedade. Este era o universo onde ele se sentia mais à vontade, e a razão é bem simples: Lubitsch cresceu freqüentando a burguesia de Viena. A abordagem dele ao tema, no entanto, nunca foi negativa ou positiva demais. Ele não era condescendente nem crítico em excesso; usava a ambientação burguesa como moldura para encenar histórias universais sobre amor, paixão e desejo. “O Diabo Disse Não” (Heaven Can Wait, EUA, 1943) é um dos trabalhos mais inspirados que dirigiu. A comédia, uma das mais lembradas pelos fãs do cineasta austríaco, foi filmada em um esfuziante colorido technicolor, magnificamente preservado nas cópias em DVD. Lubitsch é um cineasta típico da primeira metade do século XX, como John Ford ou Howard Hawks, por exemplo. Era versátil, trabalhava em grande velocidade e, apesar de ter um olho esplêndido para detalhes técnicos (o posicionamento da câmera é sempre elegante e sutil), procurava ocultar essa técnica, de forma que seus filmes não possuem uma assinatura visual ou estética evidente. Ele preferia parecer invisível e chamar atenção unicamente para a trama. Sabia, como todos os grandes mestres, que bom cinema é a arte de contar boas histórias, sem que o público precise perceber a mão do diretor por trás delas. Em termos de narrativa, “O Diabo Disse Não” possui influência nítida de Cidadão Kane, produzido dois anos antes. A produção biografa em flashback um homem que está morto quando o filme começa. Ele é o milionário Henry Van Cleve (Don Ameche). Depois de morto, Van Cleve se dirige ao inferno e pede abrigo a um Diabo muito cortês (Laird Cregar). O playboy tem certeza de que não tem lugar no céu para ele, que foi tão infiel à esposa Martha (Gene Tierney). Todo o resto do filme, com exceção do epílogo, consiste em Van Cleve narrando a Lúcifer os principais episódios de sua vida. O texto de Lubitsch é enxuto e impregna todo o filme com um senso de humor sofisticado e inteligente. Observe, por exemplo, a impagável seqüência em que um Henry Van Cleve quase adolescente passa por uma experiência bizarra que envolve álcool e uma esperta governanta francesa. Há um monte de cenas divertidas, embora “O Diabo Disse Não” não seja exatamente o tipo de produção em que o espectador cai na gargalhada a cada dois minutos. Lubitsch constrói gags visuais, não conta piadas. E o final, apesar de previsível, funciona muito bem dentro do universo proposto pelo diretor. “O Diabo Disse Não” fez bastante sucesso na época do lançamento original e chegou a concorrer a dois Oscar, de filme e direção. Na época a categoria de maquiagem ainda não existia, mas se existisse o filme a ganharia com facilidade: o processo de envelhecimento dos atores Don Ameche e Gene Tierney, ambos perfeitos nos respectivos papéis, é simplesmente impecável, superando até mesmo o já citado Kane, cujo preto-e-branco disfarçava eventuais imperfeições na maquiagem dos artistas. Aqui, o brilhante technicolor – o uso do vermelho denotando lascívia é muito bem empregado pelo diretor europeu – ressalta a excelência do trabalho dos responsáveis pelo make up." (Rodrigo Carreiro)

''Ernst Lubitsch morreu em 1947, com 55 anos. Mas, doente desde 1934, sabemos pelos seus biógrafos que, a partir dessa data, a idéia da morte o obcecava. Em 1943, teve uma crise grave e convenceu-se que ia morrer. Foi então que escolheu a peça do húngaro László Busfeketé, Birthday, como base para o que pensou ser o seu último filme. Três anos depois Lubitsch referia-se assim a Heaven Can Wait: Penso que é um dos meus filmes mais importantes, porque tentei, sob vários pontos de vista, sair das convenções então vigentes do cinema. Por várias vezes, tive de enfrentar uma grande resistência durante a preparação desse filme, que não continha nenhuma mensagem e não queria demonstrar o que quer que fosse. O herói era um homem que só se interessava em viver bem, sem procurar realizar qualquer obra, nem fazer nada de particularmente nobre. Quando o estúdio me perguntou porque é que eu queria fazer um tal filme, respondi que esperava apresentar ao público um certo número de seres humanos e que se o público os achasse simpáticos, isso chegaria para tornar a obra num sucesso. Aliás, mostrei um casamento feliz a uma luz mais verdadeira do que habitualmente é mostrada nos écrans, onde um casamento feliz é muitas vezes pintado como uma ligação aborrecida e monótona, à lareira”. Conhecendo o estado de espírito de Lubitsch e esta declaração, há alguns pontos a sublinhar. Um homem que pensa que vai morrer escolhe - contra tudo e contra todos - uma história que, embora fiel às constantes convenções e registros do seu discurso, vem marcada pelo signo da morte (o flashback que constitui a maior parte do filme é a narrativa de Henry ao personagem lubitschianamente tratado por Sua Excelência e comummente designado por Diabo ou Príncipe das Trevas). É uma obra onde as duas seqüências capitais são seqüências de morte: a valsa dançada por Don Ameche e Gene Tierney, quando esta oculta ao marido a gravidade do seu estado e a porta fechada entre a saída duma enfermeira e a entrada doutra, ouvindo-se, na banda sonora, a mesma valsa. Não vemos - já se disse que é a suprema elipse de Lubitsch - nenhuma dessas mortes (como também não vemos a dos avós ou dos pais), mas exatamente porque as não vemos, o buraco que deixam é maior (mesmo ou porque Lubitsch multiplica conotações amargas ou cruéis, como o fato da valsa ser a da Viúva Alegre). E, quando Lubitsch diz o que diz, sobre a sua saída das convenções vigentes, não é ousadia pensar que se refira ao uso do tempo, que conhece neste filme, a partir do casamento e mais particularmente quando o protagonista dobra os 50 anos (idade que Lubitsch então tinha) uma aceleração extremamente insólita. A festa das bodas de prata (de fato a festa da morte da mulher) vai fazer raccord com os bolos de velas (cada vez mais velas e menos bfff...) com a imagem fixa (a fotografia dos filhos e o comentário à soma das idades), com a crueldade da conversa com o filho em torno dos oculistas e das jovens leitoras, com o grande plano dos remédios (os 70 anos), com o desejo de flutuar num oceano de whisky e soda, até culminar nas duas enfermeiras, e na imagem destas (ao espelho) enfeitando-se para velar o moribundo. Para lá da ironia, há qualquer coisa de “horrível” nesse modo como metade duma vida é despachada, como se a morte real tivesse intervindo na seqüência (não menos cruel) em que Henry falha a favor do filho (cujo retrato finge não reconhecer) a “conquista” da atriz, assumindo o comportamento que antes víramos no pai dele (e não o avô, personagem fabuloso, mas que já só em imagem emoldurada continua a presidir à decadência de Henry). Como há qualquer coisa de horrível na cena de ciúmes (ciúmes afinal da morte) e naquela dança final, com um longo travelling com grua, que confere ao par um tom espectral, varrendo - doce e cruelmente - Gene Tierney do campo. Se aproximarmos tudo isto de: a) a seqüência em que a velha é despachada pelo Diabo, depois de mostrar as pernas (Sua Excelência não perdoa o mau gosto); b) a simpatia da Excelência pelo protagonista e o tratamento daquele como great tycoon em grande gabinete, examinando dossiês e descrevendo o que chama, com alguma contida irritação, above; c) a repetição do rapto de Tierney - 16 anos depois do primeiro - depois desta informar o marido que da primeira vez não teve medo, mas fingiu que teve medo e depois de se revelar que a separação tinha tido como principal fundamento uma questão comparativa de preços e jóias; d) o tema de How to make your husband happy que finalmente se volta contra Henry e não contra Albert, e que o protagonista reencontra perto do fim, entre os livros da mulher. Se aproximarmos tudo isto, dizia, teremos algumas razões para pensar que para lá da simpatia e da felicidade a que se refere Lubitsch, os sentimentos do realizador para consigo próprio e para com a humanidade em geral, eram tudo menos simpáticos e felizes e que Heaven Can Wait, se de fato foi pensado como despedida deste mundo, é uma das mais amargas despedidas que alguma vez alguém fez dele. Evidentemente, não há choro (e como poderia havê-lo?) mas os dentes rangem bastante. E a saudação ao outro mundo não é mais otimista. Admiravelmente construído (apetecia dizer genialmente), com alguns dos melhores gags (visuais e de diálogos) da obra de Lubitsch, com uma direção de atores magistral, Heaven Can Wait é um filme que pode fazer rir tanto como os melhores filmes do seu famoso autor. Mas é um riso que progressivamente se vai gelando, quando nos damos conta que o nunca consentido é o abandono ao instante, ou seja ao tempo real, sempre filtrado e finalmente devorado pelo tempo do filme. É esse tempo que impõe a regra do jogo, muito menos carnal, mas não menos mortal, que a do filme de Renoir que Heaven Can Wait (por caminhos diametralmente opostos) não deixa de evocar. Só que em Renoir vem da carne um peso que neste filme não existe. Foi Truffaut que disse, uma vez, referindo-se às célebres elipses lubitschianas (o Lubitsch touch) que no gruyère Lubitsch cada buraco é genial”. Em Heaven Can Wait o queijo quase desapareceu e só ficou o buraco. O que talvez seja ainda mais genial." (João Bénard da Costa)

16* 1944 Oscar

Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Ernst Lubitsch

6.500 users / 472 face

Check-Ins 609

Date 26/06/2014 Poster - ########

14. The Master (2012)

R | 138 min | Drama, History

86 Metascore

A Naval veteran arrives home from war unsettled and uncertain of his future - until he is tantalized by the Cause and its charismatic leader.

Director: Paul Thomas Anderson | Stars: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Jesse Plemons

Votes: 186,237 | Gross: $16.38M

[Mov 05 IMDB 7,1/10] {Video/@@@} M/86

O MESTRE

(The Master, 2012)


"O Mestre", sexto longa de Paul Thomas Anderson, confirma o cineasta como o mais instigante e surpreendente de Hollywood hoje. O filme tem tema semelhante ao da obra-prima Sangue Negro (2007): a obsessão de uma personagem para tentar trazer sentido para sua vida em um mundo que não a entende. Em "O Mestre", são duas personagens: Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um veterano da Segunda Guerra paranoico e alcoólatra, que vaga de emprego em emprego, e Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), líder da seita A Causa. Quell e Dodd se encontram num navio, onde Dodd reúne seguidores da doutrina. O filme é inspirado, em parte, na vida de L. Ron Hubbard, o fundador da cientologia, religião preferida de astros de Hollywood. Mas o filme não é uma denúncia da cientologia. Anderson parece mais interessado em explorar as causas do messianismo de Dodd e da fidelidade de Quell a seu novo líder. "O Mestre" é rodado em 65 mm -formato de alta definição. As imagens são lindas, com cores marcantes e definição impressionante, na contramão das imagens digitais que vêm aproximando o cinema perigosamente da TV. A fotografia do filme, aliada à trilha de Jonny Greenwood (guitarrista do Radiohead), implora que "O Mestre" seja assistido numa tela grande e com som de qualidade. A exemplo do magnata do petróleo de Daniel Day-Lewis em Sangue Negro, Anderson criou em Quell e Dodd personagens fascinantes. E a batalha de atuações de Phoenix e Hoffman é um dos pontos altos do cinema nos últimos anos." (Andre Barsinski)

"A lista de filmes carregados de Paul Thomas Anderson aumenta, mas O Mestre é um filme de grandiosas interpretações (Hoffman e Phoenix em virtuosas demonstrações) e o tema é acertadamente relevante." (Alexandre Koball)

"Anderson mais uma vez ataca a religião em um estudo de personagens forte, com o trio de atores principais inspirados em uma história que acaba sendo contada de forma prepotente demais. Não chega perto de Sangue Negro, mas é um bom filme." (Rodrigo Cunha)

"O cinema não como meio de organização, mas de desarranjo entre os homens e o mundo. Instigante por todo seu mistério, pelas relações de poder e organização que filma e pelo desamparo ao qual submete o espectador. Filme curioso e desafiador." (Daniel Dalpizzolo)

"A ousadia, o arrojo e frescor dos primeiros filmes de PT Anderson, deram lugar a obras excessivamente cerebrais, dissonantes, truncadas e aborrecidas. Assim como em "Sangue Negro", "O Mestre", a par da sua ambição temática e apuro técnico, é apenas chato." (Régis Trigo)

"Menos uma crítica à religião (ainda que exista) e mais um estudo do personagem de Phoenix, que está absolutamente fantástico. Anderson desfila seu talento para adentrar na alma do protagonista, mesmo que a história não decole como em seus outros filmes." (Silvio Pilau)

"Sequências belas em um conjunto que não convence no todo. Hoffman está brilhante e natural em sua performance, em contraponto a um Phoenix um tanto forçado e over em cena - como o próprio filme." (Vlademir Lazo)

"Veículo para atores talentosos, discreta prensada em certos cultos religiosos (não à toa muitos adeptos da cientologia se incomodaram) - PTA continua ambicioso, mas desta vez não conseguiu se aprofundar em nenhum dos difíceis temas que escolheu discutir." (Heitor Romero)

"Aprofundamento religioso? Que nada! PTA foca em conturbadas, complexas, apaixonadas relações interpessoais - sem, necessariamente, atrelá-las a qualquer culto, ainda que a crença neste, até o fim, leve o público a esperar por um desfecho menos pessimista." (Rodrigo Torres de Souza)

Paixão versus Razão.

Cinco anos após Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), história que explorava a relação do homem com a terra onde pisa através da figura bruta e ameaçadora de Daniel Plainview, Paul Thomas Anderson volta em ''O Mestre'' (The Master, 2012), uma história tão característica de nossos tempos quanto aquela que o precedeu; parecendo suceder temporalmente a história, PTA troca a figura do self-made man pela confusa geração dos anos cinquenta, que cresceu em meio à Grande Depressão e lutou na Segunda Grande Guerra, encarnado na figura de Freddie Quell, um veterano da marinha americana que, após o conflito mundial, parece não encontrar seu lugar no mundo – uma premissa não muito diferente de Os Melhores Anos de Nossas Vidas (The Best Years of Our Lives, 1946), de William Wyler. Porém, focado menos nas questões sociais, a viagem de Quell pelos Estados Unidos que não reconhece mais e que não é reconhecido pelo mesmo é muito mais introspectiva do que exteriorizada, o que acaba levando-o a encontrar Lancaster Dodd, um carismático líder religioso que fundou um culto conhecido apenas como A Causa – que, ao prometer através da hipnose regressiva fazer as pessoas se lembrarem de suas vidas passadas para se livrarem de seus males e doenças em sua atual encarnação, acaba seduzindo o desajeitado protagonista, alcoólatra e sujeito a surtos violentos. Freddie acaba se tornando um dos homens mais dedicados à causa através de seus longos, exaustivos e condicionantes rituais. Não diferente de seus outros personagens ao longo de sua carreira, o protagonista de Joaquin Phoenix é um homem assolado por uma angústia interna, onde o choque com o mundo sempre deságua em obstinação e excessos por parte de personagens que, ainda que adultos, não conseguem lidar com a realidade e da relação nascida entre ela e seu ímpeto criativo e destrutivo irrefréavel. Seja Eddie Addams, que se metamorfoseia em Dirk Diggler para conquistar o mundo do pornô, seja Daniel Plainview, que constrói a imagem de um respeitado industrial e pai para construir seu império de petróleo, o desespero dos personagens de Anderson parte de sua própria obsessão irrefreável e sua frustração constante com organizações e estruturas maiores. ''O Mestre'' se desenvolve de forma tensa e esquisita, amparado tanto pela trama narrada a conta-gotas, esmiuçando através de sua considerável metragem vários campos da personalidade de seu protagonista, quanto pela linguagem extremamente pessoal, apesar de referencial, de Paul Thomas Anderson, que descortina seus personagens não nos momentos de explosão, mas principalmente nos momentos solitários e de divagação; os primeiros minutos, senão fundamentais à trama, são essenciais em matéria de construção de personagem, e por consequência de atmosfera. Na enérgica atuação de Phoenix, encontramos a voz comum e distinta do universo de seu filme; Freddie, por maior dedicação e paixão que tenha à Causa, jamais consegue se adequar, com o figurino e a expressão corporal abatida e “torta”, distinguindo-o dos demais seguidores da causa; a disfuncionalidade também pode ser percebida pelas melodias e harmonias foras de padrão da trilha sonora de Johnny Greenwood, do Radiohead, que cria uma nova e distinta sensação de anti-épico, perturbado e distorcido, como também se via em Sangue Negro. O novo antagonista e de certa forma personagem-título da obra responde por Lancaster Dodd, interpretado por Philip Seymour Hoffman. Homem carismático, ele é a completa antítese do descontrolado Freddie, a ira e insatisfação em estado bruto; homem calculado, apesar de inseguranças e angústias que lhe provocam frequentes irritações, é amparado por Peggy Dodd (Amy Adams), a grande mulher por trás do grande homem: ela que encoraja, aconselha e suporta o líder da Causa. Os dois são unha e carne, cérebro e coração da organização; sua rigidez fanática constrói, ao longo do filme, um pequeno império de influência quando suas ideias encontram eco por burgueses novos-ricos. A reconstrução precisa de época revela-se extremamente necessária para que PTA possa expressar não apenas todos os rituais burgueses em plena ascensão, mas também da crise que tomava o pais no pós-guerra. Se em Sangue Negro era encenada a batalha por terra entre Daniel Plainview e o pastor Eli Sunday pela conquista de uma terra que poderia ser vertida em dinheiro, ''O Mestre'' joga nas costas de Hoffman e Adams o papel de figuras de autoridade que tomariam os Estados Unidos de assalto – são os Estados Unidos à beira do McCarthismo, da Guerra do Vietnã, dos assassinatos de John F. Kennedy e Martin Luther King. Os indivíduos que formam o casal Dodd são dois bastiões da moral que, mesmo contestados por céticos, começam a construir um pequeno império religioso, econômico e moral. A obra de PTA faísca o tempo todo em seu conflito; a dedicação de Quell não demora para ser substituída pela dúvida, pela insubordinação, pela busca da liberdade pessoal. O Mestre é, desde o primeiro enquadramento, um filme sufocante, que fecha no rosto de Joaquin um filme sutil em sua violência; mesmo os momentos de explosão e conflito extremado, encenada de forma devastadora pelo diretor em sua cena mais intensa, é um apelo à introspecção, ao coração de dois homens diferentes que sentem uma simpatia mútua e que, por maior que seja a vontade, não conseguem entrar em sintonia; o instinto de Freddie e o autoritarismo de Lancaster são incompatíveis. Característica de Anderson, suas câmeras sempre próximas demais sempre fazem Dodd crescer enquanto Quell é estraçalhado; o campo cinematográfico, ou seja, o espaço-tempo da encenação que circunda a câmera de O Mestre, é o humano, existe por causa dele. Ele não apenas perfura a paisagem para se erguer, como fazia o monstro Plainview: agora que o império existe por si, ele o distorce ao seu bel prazer; enquanto barcos, casas e auditórios são vertidos por Dodd em um modelo alternativo de vida, com A Causa surgindo como uma religião propícia à mentalidade voltada para crescimento, lucro, ostentação e consumo, onde as religiões anteriores não fazem mais sentido por não conseguirem curar os males da alma humana, conversas, veículos e reuniões são vertidos, para Quell, em uma expressão constante de sua liberdade, que jamais aceita todas as imposições de Dodd. A cena do primeiro embate verbal entre Freddie e Lancaster é especialmente marcante; um quer dominar, seduzir e conquistar, enquanto o outro quer brincar, ridicularizar e recusar-se a levar a sério. Em um exercício simples de plano e contraplano, há uma lenta dissecação entre opressor e oprimido, entre mestre e servo, entre imposição e recusa. Um pequeno momento em particular, descolado da trama, expressa o conflito entre Quell e o sistema onde se estabeleceu, onde Lancaster canta e Freddie observa com um sorriso irônico. A distorção do mundo, ocorrida em uma intersecção de planos, mostra que debaixo daquele teto (grande, largo e pesado, como exibe a câmera contra-plongée – baixa e apontada para cima), a paixão do invíduo não descansa nunca. Não apenas por seguir pouco tempo após o final de Sangue Negro e por repetir a figura do líder religioso, O Mestre dialoga com seu predecessor por olhar com ternura e uma nota melancólica a construção social de uma nação, através de capital, espírito e embate; mesmo a grandiosidade distante de um outro momento não isenta o filme de um caráter de lamento, onde não é cometido, a priori, um julgamento de seus protagonista e antagonista, que não necessariamente odeiam-se de morte. Pelo contrário, são mais próximos que imaginam ou gostariam de ser e acabam, no final das contas, resolvendo diplomaticamente suas diferenças. No final, contriando a deseperadora reticência do I'm finished! de Daniel Plainview, ''O Mestre'' acaba sendo um grito de liberdade de um espírito jamais plenamente consciente de si ou responsável pelos seus atos. Inconsequente, jamais adaptado, disforme e aberrante, Quell distorce o ambiente e a atmosfera do filme, acrescenta-lhe curvas e imperfeições e jamais fecha o debate; resta apenas o mundo à frente, imenso, livre, caótico e ameaçador. A construção social recusa o livre e o selvagem; o cinema resgata-o, exibe-o à luz de refletores e projetores, descobre sua incoerência, seu lado que até ele mesmo teima em esconder, intercede com o processo da memória para que, mesmo recusando o pathos, alcance a redenção de seus miseráveis protagonistas. Não tão grandioso, bem mais introspectivo e misterioso, ''O Mestre'' é a representação de uma eterna angústia humana em uma jornada interminável, com uma humanidade obsessiva e insatisfeita demais consigo mesmo para parar fixa no mesmo lugar e morrer – como a própria imagem em movimento, efêmera, sem amarras e sem gramática. Se ao filme de PTA falta completude ou ponto final, é porque antes lhe sobra força vital e disposição para viajar até os cantos mais obscuros – seja da América, seja da alma do indivíduo. O infinito embate entre as duas instâncias, inserido na história crítica à manipulação espiritual, ao delírio de grandeza e às instituições organizadas é o que torna O Mestre tão forte e característico do seu autor, ainda comprovando, mais uma vez, a razão de ser um dos cineastas mais notórios de sua geração." (Bernardo D.I. Brum)

85*2013 Oscar / 70*2013 Globo / 2012 Lion Veneza

Weinstein Company, The Ghoulardi Film Company Annapurna Pictures

Diretor: Paul Thomas Anderson

90.348 users / 26.906 face

Check-Ins 604 43 Metacritic

Date 23/06/2014 Poster - ######

15. Opium: Diary of a Madwoman (2007)

Unrated | 90 min | Drama, Romance

A drug-addicted doctor (Thomsen) who works in an asylum discovers that one of his patients (Stubo) is a gifted writer.

Director: János Szász | Stars: Ulrich Thomsen, Kirsti Stubø, Zsolt László, Enikö Börcsök

Votes: 1,189

[Mov 04 IMDB 6,6/10] {Video/@@@}

ÓPIUM - DIÁRIO DE UMA LOUCA

(Ópium: Egy elmebeteg nö naplója, 2007)


''O Dr. Brenner, viciado em drogas, chega a um asilo para um novo trabalho. Estamos nos primórdios da era da lobotomia. O Dr. Brenner não se encontra muito bem e pouco depois descobre que uma das suas doentes, a completamente disfuncional Gizella, é uma escritora muito talentosa. Mas Gizella negou a escrita, porque a torna ainda mais louca. O médico viciado e a escritora louca vão iniciar uma espécie de relação amorosa, tornando-se dependentes um do outro." (Filmow)

EuroArts Entertainment H2O Motion Pictures Hunnia Filmstúdió

Diretor: János Szász

Check-Ins 591

844 users / 186 face

Date 02/08/2014 Poster - #####

16. The Little Soldier (1963)

Not Rated | 88 min | Drama, War

97 Metascore

During the Algerian War, a man and woman from opposing sides fall in love with one another.

Director: Jean-Luc Godard | Stars: Anna Karina, Michel Subor, Henri-Jacques Huet, Paul Beauvais

Votes: 8,154 | Gross: $0.02M

[Mov 10 Fav IMDB 7,3/10] {Video/@@@@@} M/97

O PEQUENO SOLDADO

(Petit Soldat, Le, 1963)


''1958, guerra da Argélia. Bruno Forestier (Michel Subor) é desertor, está refugiado em Genebra e se apaixona por Veronica Dreyer (Anna Karina). Um partido de extrema esquerda ordena que ele tem de eliminar um jornalista político da rádio suíça. Fracassada a missão, Bruno é preso e torturado pela Frente de Libertação Nacional. Consegue escapar e volta para Veronica, que está trabalhando para a FLN. Tempos depois, ela é presa e torturada até a morte pelos extremistas franceses por ter escondido Bruno." (Filmow)

{A fotografia é a verdade e o cinema é a verdade em 24 vezes por segundo} (ESKS)

{A vantagem de se estar morto é que não se pode morrer de novo} (ESKS)

***** ''A irresponsabilidade e indefinição política de "O Pequeno Soldado" (1963) é o retrato de uma geração que ainda não vivera sua idade da razão, mas que já se projetava nela. Até aqui minha história tem sido simples: a história de um sujeito sem ideal. E amanhã?, pergunta-se Godard, no início do filme. Um filme de direita que flerta com o romantismo da esquerda: como explicá-lo aos que se acostumaram a ver em Godard um ícone da esquerda? Talvez começando pelo mal de la jeunesse (mal da juventude) da geração nouvelle vague. Niilista, despolitizada, infantilista, a juventude francesa da Guerra Fria refugiou-se nos cinemas para não compartilhar, em casa, do civismo e do moralismo algo hipócritas dos pais, sobreviventes da Segunda Guerra. A dissensão com os adulto se acentuou com a Guerra da Argélia. Por que morrer sem convicção na guerra suja dos adultos?, perguntavam-se os jovens, engrossando as estatísticas de deserção. No filme, Bruno Forestier (Michel Subor) é um desertor francês, um individualista romântico que sonha fugir para o Brasil para não entrar na guerra como no colégio de nossa infância. Como o Malraux de A Condição Humana, Forestier reflete o tempo todo sobre seus atos, mas é do tipo que se põe às questões erradas, perturbado que está pela assincronia entre o seu interior e o seu exterior, entre a idéia que tem de si e a imagem que vê no espelho. Pego apaixonado no meio da guerra entre duas facções rivais, a FLN (Frente de Libertação Nacional) argelina e um comando antiterrorista de direita do qual tenta se desvincular, o petit soldat filia-se aos anti-heróis de Samuel Fuller, mas seu verdadeiro pai é mesmo o mercenário de Cinzas e Diamantes (Andrzej Wajda), de quem retoma o lema: o importante na vida é não se dar por vencido.Anna Karina, iniciando, em plena paixão, seu ciclo com Godard, faz uma revolucionária da FLN a quem Forestier dedica a frase: Fotografar um rosto é fotografar a alma que há detrás. A fotografia é a verdade. E o cinema é a verdade 24 vezes por segundo. Começando a tentar apreender a alma de sua Karina, Godard se reconcilia, indiretamente, depois da provocação de Acossado, com as idéias de André Bazin, grão-mestre da geração. Censurado pelo governo, repudiado pela direita e pela esquerda, o filme marcaria o início do fim da moda nouvelle vague. Depois do sucesso de Acossado, esta era a segunda surpresa que Godard aprontava." (Tiago Mata Machado)

Les Productions Georges de Beauregard Société Nouvelle de Cinématographie (SNC)

Diretor: Jean-Luc Godard

3.401 users / 233 face

Check-Ins 590 5 Metacritic

Date 01/08/2014 Poster - ########

17. The Jazz Singer (1927)

Passed | 88 min | Drama, Music, Musical

66 Metascore

The son of a Jewish Cantor must defy the traditions of his religious father in order to pursue his dream of becoming a jazz singer.

Director: Alan Crosland | Stars: Al Jolson, May McAvoy, Warner Oland, Eugenie Besserer

Votes: 11,075 | Gross: $7.63M

[Mov 08 IMDB 6,9/10] {Video}

O CANTOR DE JAZZ

(The Jazz Singer, 1927)
Obra Prima

O primeiro filme falado da história pode não ser o melhor, mas é uma belíssima curiosidade para os amantes do cinema.

**** "Talvez, se os irmãos Warner não tivessem apostado suas últimas fichas em ''O Cantor de Jazz'', o primeiro filme da história a utilizar o invento do som no cinema, ficássemos sem alguns dos grandes clássicos da história. Isso porque este foi o filme que salvou a Warner Bros. da falência, em 1927, graças a inovação que trouxe às telas. As pessoas adoram novidades. O filme foi um estouro e, se não ajudou a firmar o advento da nova técnica, pelo menos foi o pioneiro, quem deu o primeiro importante passo para sua consolidação nos anos a seguir. Isso porque alguns importantes cineastas, como Chaplin ou Eisenstein, posicionaram-se contra a implementação do som, com medo de que ele apenas deixasse tudo mais relaxado. O russo, inclusive, chegou a escrever um Manifesto do Som, em que dizia que o som não deveria ser usado para a ambigüidade da imagem, e sim que ele deveria trazer algo novo à construção das seqüências. Ele queria dizer que o som não deveria reproduzir exatamente aquilo que a imagem estava mostrando, como por exemplo a imagem de uma arma disparando e o seu som; e sim que o recurso deveria ser utilizado para expandir os limites que ela possuía, não ser redundante. Com o tempo, aprendemos que o som aumentou os limites do filme dos quatro cantos da tela, pois, graças a ele, temos a possibilidade de saber algo que está acontecendo fora das quatro linhas que determinam a imagem. Se há um grito, um tiro ou qualquer outro efeito sonoro óbvio fora da imagem, e o personagem reage a ele, sabemos o que está acontecendo. Isso expandiu o espaço. Não seria mais necessário colocar a imagem de uma arma disparando, cortar para um personagem reagindo a ela e assim por diante. Agora, através apenas da imagem de uma pessoa se retorcendo, somado ao ruído anterior de tiro, saberíamos que ela havia sido baleada. ''O Cantor de Jazz'' ainda não utilizava desses complexos - e hoje comuns - efeitos do som. Ele aposta no básico do básico para trazer uma novidade e assim dar o primeiro passo à um novo mundo. O som é totalmente redundante a imagem, mas ele traz algo mais: a magia das músicas. Um espetáculo da Broadway, por exemplo, poderia ser quase perfeitamente transposto para a tela (ainda não tínhamos cores). E aí está o ponto forte de ''O Cantor de Jazz'': mesmo sendo o primeiro filme falado da história, sabe usar muito bem, a seu favor, as sensações que belas canções do gênero podem trazer a um filme. Ele conta a história de uma tradicional família de cantores religiosos que têm um filho que não está seguindo os mesmos passos das cinco gerações anteriores. O seu sonho é se tornar um grande cantor de jazz, algo que choca o seu pai. Expulso de casa, ele depende apenas de seu talento para subir na vida. É a já contada e recontada história feijão com arroz do preconceito, da quebra de estigmas e todas as conseqüências que tem de sofrer quem o faz. Apesar de ser o primeiro filme falado, não ache que tem a estética de produções de alguns filmes de 30, 40, quando o som já estava dominando a área. Toda sua estrutura básica vem dos filmes mudos, inclusive com os tradicionais letreiros de diálogos. Há apenas um único diálogo entre os personagens durante todo o filme, o que é assustador, devido sua sincronia e verossimilhança - lembrando que o som direto só chegou ao cinema nos anos 50, 60. Há uma frase, que se tornou marca do filme, dita entre uma canção e outra. É, sem dúvida, a melhor cena do filme. O personagem de Al Jolson vira para a tela e, com convicção, diz: acalmem-se, vocês não viram nada ainda , logo após uma das primeiras seqüências musicais do longa. Aliás, é em suas costas que o filme inteiro está. Ele convence não apenas nas seqüências mudas, pois é um ator absurdamente expressivo - a cena que ele chora quando está pintado de negro é incrivelmente sensível. Mas o seu carisma na hora do espetáculo é tão grande que fica difícil não se contagiar e reagir à música que está sendo cantada. Se hoje em dia já não é a obra-prima que fora na época, pelo menos é uma curiosidade obrigatória para os amantes do cinema. Para quem não tem saco para assistir um filme mudo com leves traços de canções, fica a dica para tentar achar o longa sutilmente adicionado ao último filme de Martin Scorsese, O Aviador. Ele faz sua pontinha, uma pequena participação na história do magnata da aviação. Se o cinema há muitos anos já transmitia suas mensagens, com a chegada de ''O Cantor de Jazz'' ele ganhou um leque enorme de outras opções. Agora ele podia falar, cantar, gritar, sussurrar..." (Rodrigo Cunha)

{Dentro de cada ser humano há um espirito que deseja se expressar, possivelmente estas canção de Jazz lamentosa e angustiante, seja depois de tudo, a expressão incompreendida de seu pranto} (ESKS)

***** ''Muitos nomes importantes da história do cinema eram declaradamente contrários a utilização do som. Entre eles, podemos destacar Charles Chaplin, que, inteligentemente, sabia que a fala poderia destruir seu principal personagem. Mas não eram apenas os interesses próprios que guiavam estas pessoas, já que muitas de fato acreditavam que o som poderia tirar parte da magia do cinema. Felizmente, o tempo se encarregou de mostrar justamente o contrário e o som chegou para acrescentar e abrir um leque de novas possibilidades para os cineastas. E o longa responsável por esta mudança é este “O Cantor de Jazz”, que apresenta mais do que a novidade do som, entregando também um intrigante estudo dos efeitos provocados pelo fanatismo religioso. O jovem Jakie Rabinowitz (Al Jolson) desafia a tradição familiar de cinco gerações e decide sair de casa, numa tentativa de realizar seu sonho e se tornar um cantor de jazz, contrariando a intenção de seu pai (Warner Oland), que gostaria que ele cantasse na sinagoga. Após conseguir espaço no show bizz, ele retorna para sua cidade, mas a distancia não amenizou a amargura no coração de seu pai, ainda revoltado com o caminho que ele decidiu seguir. O primeiro filme falado da história do cinema representaria de qualquer maneira um importante divisor de águas na indústria cinematográfica, independente de suas qualidades como filme. E sabendo da importância do que tinha nas mãos, o diretor Alan Crosland conduz esta transição com cuidado, buscando evitar o choque na platéia (como citado, nem todos acreditavam que o som vingaria no cinema). Por isso, o longa inicia no tradicional formado do cinema mudo, com trilha sonora ininterrupta, diálogos escritos na tela e as belas imagens em preto e branco narrando à história do jovem que queria cantar jazz. Mas aos 3 minutos de projeção, Crosland insere o momento que mudaria a história do cinema, permitindo ao espectador ouvir pela primeira vez a voz de um ator nas telonas quando o garoto Jakie (Robert Gordon) surge cantando uma bela canção. Desta forma, Crosland faz a transição do cinema mudo para o cinema falado de maneira lenta, com o som surgindo inicialmente nos versos das canções e, somente aos 17 minutos, através das primeiras frases de Jakie, no intervalo entre as músicas. O cinema finalmente tinha um diálogo (neste caso, monólogo) na tela (aliás, nesta cena Al Jolson tem um ótimo desempenho, se soltando e animando a platéia com assovios e muita energia). Em seguida, numa conversa com a Srta. Dale (May McAvoy), os diálogos voltam a aparecer escritos na tela e o som sai de cena, voltando somente quando Jakie canta para a mãe, já em seu retorno pra casa, quando novamente as frases aparecem no intervalo entre duas canções. Conduzindo a narrativa de maneira bastante convencional, alternando planos médios, planos americanos e closes, Crosland mostra sensibilidade em momentos mais fortes, como quando a porta do quarto é fechada e indica a surra sofrida por Jakie, evidenciada em seguida com seu olho roxo, mas também se sai bem nos raros momentos bem humorados da narrativa, como quando um rabino entra no ensaio de Jakie e vê uma moça com as pernas desnudas, provocando seu espanto. O diretor também mostra habilidade na condução da narrativa, explorando os aspectos do interessante roteiro (creditado para Samson Raphaelson, Alfred A. Cohn e Jack Jarmuth), prendendo o espectador mesmo com poucas falas e sem utilizar os diálogos (e o som) em grande parte do tempo, mostrando a luta de Jakie para fazer sucesso e, principalmente, para seguir sua vida sem se apegar as tradições tão fortes de sua família. Este conflito interno do personagem é refletido até mesmo através da trilha sonora de Rosa Rio e Louis Silvers, que oscila bastante enquanto embala os momentos dramáticos e intensos da narrativa. Como era costume na época, as atuações do elenco de “O Cantor de Jazz” soam exageradas, justamente pela dificuldade da falta da fala, que obrigava os atores a se expressarem de forma caricata. Ainda assim, a mensagem principal da narrativa é transmitida com precisão, mostrando os perigos do fundamentalismo religioso através do pai descontente com o filho que quer cantar jazz e não hinos na sinagoga, interpretado por Warner Oland. O Sr. Rabinowitz claramente valoriza mais a religião do que o próprio filho, o que se reflete em momentos intensos e desagradáveis, como quando ele surra o filho ou quando o expulsa de casa, funcionando como uma excelente crítica ao fanatismo religioso. Após passar muito tempo fora, Jakie retorna pra casa, mas ainda assim seu pai é incapaz de se comover, irritando-se com a música cantada pelo filho dentro de sua casa, o que motiva o jovem a dizer que viverá a vida dele como quiser. Como bem explicado por Jakie, suas músicas significam para o seu público o mesmo que os hinos para as pessoas da sinagoga, mas, infelizmente, esta explicação só revolta ainda mais seu fanático pai, que lhe expulsa definitivamente daquela casa, evidenciando mais uma vez a cegueira provocada pelo fanatismo religioso. E nem mesmo sua mãe Sara (interpretada por Eugenie Besserer), que claramente é mais compreensiva que seu pai, escapa de comentários arraigados no pensamento religioso, como quando ela se questiona aflita se ele estaria apaixonado por uma mulher não judia. Refletindo outro pensamento do período, após ganhar um belo presente do filho, ela pergunta se ele faz algo de errado, demonstrando uma curiosa desconfiança de seu sucesso, que é compreensível numa época em que ser artista não era sinônimo de ter dinheiro. E finalmente, quando invade o camarim de Jakie, com o olhar triste e desamparado de quem tem uma última esperança de que o filho volte para ver o pai, Besserer também demonstra bem a aflição de Sara Rabinowitz. E apesar da importante contribuição para a evolução do cinema através do uso do som, é neste interessante estudo das conseqüências do fanatismo religioso que reside o aspecto mais fascinante do longa. E quais conseqüências seriam estas? As respostas podem ser encontradas através do comportamento de Jakie, um homem claramente atormentado pelo conflito entre agradar a família (e as tradições religiosas) e lutar para realizar o seu sonho. Este conflito aparece em diversos momentos do longa, como quando um homem canta e faz Jakie relembrar os tempos de sinagoga, mostrando o peso que a formação religiosa tem sobre ele e ressaltando o bom trabalho de montagem de Harold McCord, notável também antes do grande show de Jakie, quando ele olha no espelho e vê a sinagoga, também sentindo-se culpado por não fazer o que seu pai queria, num momento inspirado da atuação de Jolson, que ilustra bem a aflição do personagem. Esta situação o levará a viver um grande dilema no dia da reconciliação, o dia mais importante da sinagoga: ele deveria agradar ao pai ou priorizar sua carreira? E apesar de sua situação nada confortável, aparentemente ninguém parece se preocupar com seu conflito interno, revelando um egoísmo coletivo surpreendente, como fica evidente quando ele chega e sua mãe pergunta se ele veio para cantar, ouvindo um Não mãe, vim para ver o papai como resposta. Mas, por outro lado, sua mãe é a primeira e entender seu dilema e abrir mão de seus planos, pedindo para que o filho faça o que seu coração mandar. Já o produtor do espetáculo representa o típico pensamento americano de que o sucesso é mais importante que a família. Mesmo com o pai morrendo, ele exige que Jakie ensaie para o show que pode engrenar sua carreira de vez – o que Jakie de fato faz. Mas, após o ensaio, a tristeza e a aflição consomem Jakie, algo refletido na escuridão que toma conta da tela por alguns segundos. E então ele toma a amarga decisão de abrir mão da carreira para cantar no lugar de seu pai, que morre no exato momento em que ouve a voz do filho na sinagoga, provocando o desespero de Sara (num momento exagerado da atuação de Besserer). Só que, infelizmente, o politicamente correto era regra na época e, após a morte do pai, tudo volta a dar certo para Jakie, que volta a cantar e fazer sucesso, dedicando as músicas para a mãe. Ainda que não tivesse uma narrativa interessante, “O Cantor de Jazz” já estaria marcado por ser o primeiro filme falado da história da sétima arte. Mas o longa vai além, apresentando uma história interessante, que aborda temas importantes como a tradição familiar, o fanatismo religioso e a luta para conseguir realizar os sonhos. E se hoje os avanços tecnológicos nos permitem sonhar ainda mais alto, é porque filmes como este tiveram a coragem de ousar, trazendo inovações para esta verdadeira fábrica de sonhos e transformando este mundo mágico chamado cinema." (Roberto Siqueira)

1*1929 Oscar

Top Década 1920 #38

Warner Bros.

Diretor: Alan Crosland

6.225 users / 383 face

Check-Ins 586

Date 23/07/2014 Poster - ##########

18. Enemy (2013)

R | 91 min | Drama, Mystery, Thriller

61 Metascore

A man seeks out his exact look-alike after spotting him in a movie.

Director: Denis Villeneuve | Stars: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon, Isabella Rossellini

Votes: 215,249 | Gross: $1.01M

[Mov 06 IMDB 6,8/10] {Video/@@@@} M/61

O HOMEM DUPLICADO

(Enemy, 2013)


"Adaptar Saramago para o cinema nunca é uma tarefa fácil, mas Villeneuve mantém sua regularidade em um trabalho que foge do óbvio, faz pensar e discute o tema da identidade como poucos filmes atuais. As metáforas vão afastar muita gente..." (Rodrigo Cunha)

''O protagonista de ''O Homem Duplicado'', dirigido por Denis Villeneuve, é Adam (Jake Gyllenhaal), um professor de história que leva uma vida tão monótona quanto os padrões cíclicos da mesma história que ensina em suas aulas pouco entusiasmadas. Adam é mais um dos que sofrem com os malefícios da modernidade. Institucionalizado pelo seu dia a dia, sente-se tão desanimado quanto solitário, ainda que tenha uma bela namorada, Mary (Mélanie Laurent), com quem faz sexo todos as noites. Num dia em que resolve sair um pouco do seu cotidiano, aceita a curiosa indicação de um colega sobre um filme. Durante a sessão, repara que um dos atores coadjuvantes é praticamente idêntico a si. Seria um irmão gêmeo desconhecido? Um clone? Que diabos é aquilo? Tal descoberta deixa o mundo de Adam de cabeça para baixo. E o professor, intrigado, como não poderia deixar de ser, desenvolve uma fixação pelo sujeito e faz de sua principal ocupação descobrir quem é aquela pessoa tão fisicamente semelhante a ele. Baseado no livro homônimo de José Saramago, O Homem Duplicado, de Villeneuve, parece ser um pouco mais direto em sua proposta de confrontar dois mundos distintos e levantar questões sobre perda de identidade numa sociedade que cultiva a individualidade. Amparado em metáforas visuais que causam estranheza pertinente - a aranha recorrente desde a primeira cena é uma delas -, o filme é muito mais do que o encenado. Talvez por isso pode calhar de ser incompreendido, pois o didatismo passa longe da obra. Com um cinema caro as reviravoltas, Villeneuve desenvolve com eficácia um filme repleto de guinadas. E o principal, tais mudanças de perspectiva na trama não têm o mesmo aspecto de pegadinha como em seus filmes anteriores. Estão lá para alimentar tanto o suspense quanto o drama. E nos enxutos 90 minutos, o diretor é assertivo em dissimular e deixar a subjetividade da audiência aguçada. Penso não ser errado afirmar que O Homem Duplicado seja seu trabalho mais equilibrado e maduro." (Celso Silva)

A estratégia da aranha.

"A questão da identidade norteia muitos dos filmes mais interessantes do cinema, e em alguns casos é o tema central da obra completa de alguns cineastas, vide David Lynch. Na literatura, um dos maiores nomes a abordar o tema através de diversos prismas e esferas, sempre apontado um novo ângulo e resolução a cada novo livro, foi José Saramago. Mais especificamente, Saramago muitas vezes questionou a noção da identidade individual sendo perdida em um mundo cada vez mais globalizado. Não à toa que seu romance tenha servido de base para o novo trabalho de Denis Villeneuve, "O Homem Duplicado". Se antes em sua curta filmografia o diretor se preocupou em abordar a iminente ruptura da sociedade em uma escala coletiva, agora ele aposta em uma incisão minimalista sobre a destruição do fator que nos dá o senso de eu. No caso, a questão é abordada pelo recurso das dicotomias, discorrendo sobre o duplo de cada um. Desta vez, no entanto, nada de personagens lunáticos de múltiplas personalidades, ou espelhos partidos refletindo um rosto multiplicado em mil pedaços. Tudo em O Homem Duplicado é mais “físico”, embora de fundo inegavelmente metafórico. Adam (Jake Gyllenhaal) é um professor preso em uma rotina insossa de aulas, correções de provas, trânsito, sexo com a namorada de ocasião. Depois de aceitar a sugestão de um amigo de assistir a um filme, ele acaba entrando em um pesadelo ao encontrar na tela um homem de aparência idêntica à dele. Após conhecer seu duplo, o ator Anthony, o professor entra num processo espiral de confusão crescente, até chegar ao ponto de não saber mais distinguir sua própria pessoa. É um filme de enlouquecedora dinâmica cíclica, propositalmente montado e narrado de forma a fechar uma roda tão estreita e tortuosa, que o próprio espectador tem que lutar para não perder o fio da meada e deixar escapar a distinção entre cenários e personagens, onde começa uma coisa e onde termina outra. Para isso, o diretor recorre a uma fotografia amarelada que torna homogêneos todos os ambientes e planos, que logo se camuflam e se sobrepõem em um jogo cada vez mais afundado na esquizofrenia do personagem duplicado. Todo o estofo técnico tem um porque, e nota-se aí a habilidade de Villeneuve em fazer de O Homem Duplicado não um simples filme espertinho, mas uma teia de aranha de estratégia complexa. Aliás, há aranhas literalmente transitando pela trama, dentro de um universo de dicas e signos visuais que enriquecem a leitura da obra. Por exemplo, logo de cara, ao acompanhar a rotina de Adam, Villeneuve faz questão de usar sua aula sobre as ditaduras para dialogar diretamente com o espectador sobre seu jogo de perspectivas. Adam cita pensadores que profetizam que o século XXI será uma repetição do século XX, e ainda inclui um pensamento perturbador de Karl Marx que com certeza se aplicará sobre a trama no decorrer do filme: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Mas como saber o que é farsa, o que é repetição, quem é o duplicado de quem, quando todo esse universo se fecha em um labirinto sem início ou fim? Alguns críticos associaram a obra ao cinema de Cronenberg e ao de Lynch, mas talvez com certo equívoco. Se há momentos em que de fato o filme esbarra em alguns conceitos da filmografia de Cronenberg, o que o aproxima do cinema de Lynch não é a confusão espaço-temporal ou o choque com a lógica, mas sim a discussão em comum sobre a desconstrução gradual do indivíduo dentro de uma sociedade. Nos filmes de Lynch, por diversas vezes, um mesmo personagem se projeta em dois corpos distintos, ou contrariamente um mesmo ator encarna dois papéis antagônicos, como símbolo visual das nossas dualidades, dos conflitos internos entre o que aparentamos ser e o que somos de fato no íntimo, até chegar ao ponto da perda dessa noção do real, perdendo-se junto o senso do “eu”. E nisso quem ganhou mais foi Jake Gyllenhaal, em um grande momento de sua carreira, pontuando e contornando bem as modulações dos personagens, sabendo em determinados momentos aproximar Adam e Anthony em um só ser humano, enquanto em outros os divide em lados opostos. ''O Homem Duplicado'' é o filme mais enigmático e desafiador de Denis Villeneuve, e mais uma prova de que se trata de um cineasta diferenciado e acima da média, que sabe driblar imposições de estúdios e manter sua marca, como fizera antes em Os Suspeitos (Prisioners, 2013), e ainda adaptar um escritor difícil como José Saramago, sem decepcionar como uns e outros por aí (leia-se Fernando Meirelles). Acima de tudo, o diretor aproveita para progredir numa unificação de sua filmografia, que vai avançando e construindo uma identidade muito forte. Melhor de tudo, não sucumbe às auto-explicações nem ao pragmatismo, honrando o nome de Saramago e deixando apenas para Adam/Anthony e para a degustação do espectador as complicações relativas à moderna crise existencial." (Heitor Romero)

"Da origem ao resultado final, "O Homem Duplicado" é uma obra estranha, de difícil classificação. Baseado no livro homônimo do português José Saramago, de 2002, o filme foi dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, de Incêndios (2010). Ao revisitar o conceito do doppelgänger, do ser que replica outro, o filme lembra um híbrido entre o realismo poético de A Dupla Vida de Véronique (1991), de Krzysztof Kie?lowski, e o onirismo opressivo de "Gêmeos - Mórbida Semelhança" (1988), de David Cronenberg. Na trama, um introspectivo e atormentado professor de história (Jake Gyllenhaal) descobre a existência de um sósia perfeito, um ator (também interpretado por Jake Gyllenhaal), ao assistir a um filme banal. Decide ir atrás de seu duplo e conhece um homem em tudo diferente dele, extrovertido e narcisista - com exceção, claro, do físico. A partir do encontro, as vidas dos dois passam a se embaralhar, incluindo aí a namorada do professor e a mulher grávida do ator. Em meio à trama quase sempre realista, há aparições fantásticas, surreais, de aranhas gigantes que lembram as criadas pela artista francesa Louise Bourgeois. O filme nunca se define entre a questão psicológica da perda/troca de identidade e o suspense criado pela situação; entre o entretenimento e o existencialismo. Mas, de certa forma, essa indefinição, essa ambiguidade, ajuda o filme a preservar o enigma do personagem duplo, a se destacar da média. Como Saramago diz no livro e Villeneuve replica no filme, o caos é uma ordem por decifrar - e "O Homem Duplicado" tem a sabedoria de não facilitar a tarefa. Ainda que não satisfaça plenamente, o filme fica na memória, sobretudo sua última e inesperada imagem." (Ricardo Calil)

{Um ato criativo de memória, para se lembrar de algo, para se lembrar de alguém, é... Está sempre disfarçado em emoções...} (ESKS)

Top Canadá #39

Pathé International Entertainment One Rhombus Media Roxbury Pictures micro_scope Mecanismo Films

Direção: Denis Villeneuve

61.042 users / 18.946 face

Check-Ins 572 30 Metacritic

Date 25/05/2014 Poster - ####

19. Ripley's Game (2002)

R | 110 min | Crime, Drama, Mystery

A dying family man in need of money is persuaded to assassinate a European crime boss.

Director: Liliana Cavani | Stars: John Malkovich, Dougray Scott, Lena Headey, Ray Winstone

Votes: 19,473

[Mov 07 IMDB 6,7/10] {Video/@@@@}

O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY

(Ripley's Game, 2002)


''Tom Ripley (John Malkovich) possui um dom incomum: é capaz de imitar, com perfeição, a assinatura, a voz, o modo de se mexer, tudo numa pessoa. Para sobreviver Ripley utiliza este dom das mais diversas formas, até mesmo para cometer crimes. Num de seus golpes ele consegue, indiretamente, convencer Jonathan Trevanny (Dougray Scott) a assassinar um homem por uma grande quantia de dinheiro. Porém o que Ripley não contava era que a situação fugiria de seu total controle." (Filmow)

{O mundo não é um lugar mais pobre só porque essa gente morreu. É um carro a menos na estrada e um pouco menos barulho e bagunça} (ESKS)

''Tom Ripley nasceu bem cedo, numa manhã nas areias de Positano, na italiana Costa Amalfitana, ali mesmo onde, do mar, Ulisses pediu que seus marinheiros o amarrassem ao mastro para impedir que o canto das sereias o fizesse se lançar às águas. A texana Patricia Highsmith caminhava por ali cuidando de sua própria vida, no começo dos anos 50. Vinha de escrever um romance, Pacto Sinistro, que daria origem a uma obra-prima de Alfred Hitchcock. De repente, cruza por um rapaz andando sozinho, pensativo. Naquele momento, por nada, ela começa a imaginar o que o teria levado até ali e o que ele estaria fazendo por aquela região. Quando voltou ao quarto do hotel, passou a criar possibilidades de vida passada e futura para o estranho, que nunca mais veria. Surgia assim O Talentoso Mr. Ripley, pronto em poucos dias, o primeiro de uma série de cinco livros que daria a luz a um dos anti-heróis mais adoráveis da literatura policial, que influenciaria do refinado canibal Hannibal a variados Stephen King. Tom Ripley, o rapaz americano que (como seu antecessor brasileiro Macunaíma) não tem nenhum caráter, flerta com o assassinato em série, adora o luxo, gosta de música erudita e artes e é bissexual, logo ganharia o cinema. A primeira adaptação é do livro original e saiu da França, com Alain Delon no papel principal e René Clement na direção. O Sol por Testemunha (Plein Soleil, 1959) teve seu lugar no cinema sério - François Truffaut dizia que Clement fazia cinema de papai -, mas eliminou toda a tensão homossexual entre Ripley e o amigo rico Dick. A segunda veio da Alemanha, com Wim Wenders. Seu O Amigo Americano (Der Americanische Freund, 1977) encontra um Ripley mais velho, frio e calculista, que se parece mais com a cara de Dennis Hopper, que o interpreta, do que com a criação de Highsmith, mas o filme é genial. O mais famoso, não por acaso dos EUA, é O Talentoso Mr. Ripley (1999), em que o chato Anthony Minghella procura homenagear o original cinematográfico em detrimento do romance, e o resultado é um Ripley tíbio, inseguro de suas ações, que se encaixa perfeitamente em Matt Damon. Eis que chega do mundo globalizado (EUA, Reino Unido, Itália), pelas mãos de Liliana Cavani (de O Porteiro da Noite), uma nova adaptação de O Amigo Americano, agora com o nome original do romance, Ripley's Game (O Jogo de Ripley), que no Brasil ganha o título de "O Retorno do Talentoso Ripley" e estréia hoje. Em uma palavra? Médio. Não ajuda o fato de o papel-título ter ficado com John Malkovich. O ator desenvolveu uma persona cinematográfica tão forte (uma espécie de Jack Nicholson entediado) que agora só funciona em autoparódias (como em Quero Ser John Malkovich). Aqui, demora a convencer como o Ripley maduro, semiaposentado numa vila italiana (no livro era uma cidadezinha parisiense), que volta à ativa por insistência de um ex-sócio e para se vingar de um pobre coitado, que ele flagra o insultando. Especialmente constrangedora é a seqüência em que ele e o tal coitado, agora já transformado em assassino de aluguel, esperam seus inimigos na vila. Aí, Ripley vira Stallone..." (Erika Palomino)

Baby Films Cattleya Mr. Mudd

Diretor: Liliana Cavani

13.674 users / 363 face

Soundtrack Rock = St. Etienne

Check-Ins 571

date 23/05/2014 Poster - ###

20. The Miracle Worker (1962)

Approved | 106 min | Biography, Drama

83 Metascore

The story of Anne Sullivan's struggle to teach the blind and deaf Helen Keller how to communicate.

Director: Arthur Penn | Stars: Anne Bancroft, Patty Duke, Victor Jory, Inga Swenson

Votes: 20,509 | Gross: $5.45M

[Mov 07 IMDB 8,0/10 {Video/@@@}

O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN

(The Miracle Worker, 1962)


"Alguns flashbacks desnecessários e situações over the top tiram o status de obra-prima deste belíssimo drama sobre cegueira dirigido por Arthur Penn." (Alexandre Koball)

"Há o equilíbrio necessário na direção para que o filme não se perca ou em melodramas ou em uma frieza não condizente com a história." (Heitor Romero)

"A benevolência excessiva e a liberdade que é dada para pessoas limitadas não cumpre seu dever de uma ajuda. Cumpre seu dever de dependência. Muitas vezes o zelo é confundido com um simples mimo porque o mundo externo acredita que uma pessoa cega sempre vai precisar de alguém, que um cadeirante nunca vai poder andar sozinho, que um mudo não pode se comunicar sem outra pessoa. Após as esperanças de uma cura impossível para as menores deficiências morrerem, o que sobra é um cuidado que impossibilita um deficiente a viver como uma pessoa normal. E é essa situação, que é um ensaio sobre as diversas formas de se amar alguém, que é tratada no filme ''O Milagre de Anne Sullivan'', um relato tocante e bastante atual. Helen Keller (Patty Duke) nasceu com um problema em sua vida: depois de uma doença, ela acabou se tornando não apenas cega, mas também surda e muda. Seus pais, Kate e Arthur Keller (Inga Swenson e Victor Jory) procuram algum meio de curá-la dessa sua deficiência, mas a mimam excessivamente, deixando Helen diferenciada de outras crianças. Como uma última esperança de ajudar a menina, os pais chamam uma tutora, Anne Sullivan (Anne Bancroft). A professora, porém, que também era cega e foi acostumada a cuidar de outras pessoas, encontra uma dificuldade em ensinar seu método tanto pela falta de experiência da menina graças ao ambiente cercado em que foi criada quanto pelo confronto com o método de educação paterna. As atuações estão excelentes. O elenco está soberbo. Victor Jory compõe seu personagem com alguns detalhes que o ligam à sua profissão, ao mesmo tempo que ainda se cobre com uma capa da rigorosidade familiar, mas da exceção para a filha deficiente. Inga Swenson é a típica mãe preocupada, que transborda amor e compaixão em suas cenas equilibradas. Andrew Prine, que fez o irmão James Keller, dá sua graça a partir de diálogos cheios de ironia e de uma razão inconveniente, encoberta pela pena da incapacidade da irmã gerida pelos pais. Por mais que os três estejam em sincronia, quem dá um show são as duas ganhadoras do Oscar, Anne Bancroft e Patty Duke. Anne surge como a ponte não-ortodoxa da menina com o mundo normal, algo diferente e tratado com preconceito. Afinal de contas, Anne é uma cega que está disposta a ajudar outra cega. Mas quem melhor do que um semelhante para entender as necessidades de seus iguais? A firmeza na fala e nos trejeitos da personagem Anne Sullivan são ótimos, e aqui, a brecha necessária para o amor e a afeição entrarem promove uma explosão de sentimentos no espectador. E Patty Duke merece grande mérito do filme. Sua personagem faz crer que a atriz interpretando é mesmo uma deficiente. Seu olhar vazio, seus movimentos desleixados, os detalhes que ela conferiu à personagem; tudo está perfeito e a menina rouba a cena. Como criar uma relação com alguém que não quer se relacionar, mas precisa ser ajudado? Helen estava tão acostumada com a concha de paixão em que foi criada que não conseguia se adaptar mais ao mundo. Sua família a estragou tanto quanto sua deficiência. Anne Sullivan cria seu método fazendo uma ligação contrária, comovendo o público com a importância que ela dá a uma verdadeira melhora da menina. Mas como se cria amor partindo do ódio? Para Anne, essa tarefa é tão difícil quanto mostrar coisas novas para alguém que apenas sente. Como falar para uma pessoa o que é uma boneca ou um pássaro se essa pessoa nunca viu uma boneca ou ouviu um pássaro? Helen desenvolve seus estudos por meio da rigorosa professora e de seu alfabeto adaptado, pelo toque do alfabeto de libras. E ao mesmo tempo, desenvolve sua verdadeira noção de carinho, um carinho escondido pelas ações extremas dos pais, um carinho explícito na forma de educar que Anne achou para sua pupila. O problema de Helen deixa o filme extremamente atemporal, já que a sociedade ainda não sabe como agir defronte a uma situação parecida com a do filme. Ao mesmo tempo que a aluna vai compreendendo que vive num mundo onde ela não é o centro, a professora começa a enfrentar seus demônios do passado. Visões provenientes de memórias viram o primeiro plano nas telas em imagens desfocadas, que mostra a infância da própria Anne Sullivan e como ela adquiriu toda a firmeza de seu caráter. O aprendizado é recíproco, e não só entre as duas. Anne acaba mudando a postura inconveniente de toda a casa, mostrando que o tratamento certo com Helen era algo errado. Uma criança é erroneamente educada pela pena, que acaba virando um mimo a mais e uma chance a menos na luta por uma vida normal. Helen não poderia depender da família para sempre, e Anne mostra isso de um modo duro, mas sincero. A crueldade e a beleza entram em constraste junto à trilha sonora, que chega a seu ápice emocional em poucos minutos. E o fato mais belo do filme talvez seja o processo de aprendizado que, no fim, mostra que não há milagre algum. A verdadeira evolução de Helen foi conhecer seus limites. A cura não existe, e um filme que critica as falsas esperanças de uma vida normal não poderia ser diferente. É uma lição necessária e incrivelmente humana. O amor que qualquer um precisa é movido pelo cuidado, e não pela pena é o que cada bela cena da obra de Arthur Penn. Ter pena é simplesmente se entristecer defronte a algo e deixá-lo permanecer do jeito que se encontra, esteja ele certo ou errado. O cuidado é ajudar ao máximo, não importando as deficiências. A deficiência da família encobre a deficiência da menina, e para acabar com ambas é preciso de muito cuidado, zelo e afeições movidas pela verdade, e não pela piedade. ''O Milagre de Anne Sullivan'' é um relato tocante e emocional sobre as dificuldades de uma pessoa limitada viver normalmente quando ela foi criada sem limites." (Gabriel Neves)

35*1963 Oscar / 20*1963 Globo

Top Biografia #19

Playfilm Productions

Diretor: Arthur Penn

10.140 users / 1.368 face

Check-Ins 100

Date 08/10/2012 Poster - ########

21. The Flintstones in Viva Rock Vegas (2000)

PG | 90 min | Comedy, Family, Romance

27 Metascore

In this live-action prequel to The Flintstones (1994), the Flintstones and the Rubbles go on a trip to Rock Vegas, where Wilma Slaghoople is pursued by playboy Chip Rockefeller.

Director: Brian Levant | Stars: Mark Addy, Stephen Baldwin, Kristen Johnston, Jane Krakowski

Votes: 25,448 | Gross: $35.27M

[Mov 01 IMDB 3,3/10 {Video/@@} M/27

OS FLINTSTONES EM VIVA ROCK VEGAS

(The Flintstones in Viva Rock Vegas, 2000)


''Regrinha básica de Hollywood: para ser sucesso, uma seqüência deve (1) ser bem melhor que o filme original ou (2) pelo menos apresentar muitas novidades em relação ao primeiro episódio. ''Os Flintstones em Viva Rock Vegas'' consegue não cumprir nenhum destes dois mandamentos. O resultado é um filme morno, beirando o aborrecido, sem novidades nem atrativos. Não poderia ser diferente. Afinal, o primeiro episódio já não era lá grande coisa, e se sustentava apenas pelo fator novidade e pela excelente interpretação de John Goodman que praticamente encarnou Fred Flintsone. Nesta continuação, a novidade já não existe mais, e todo o elenco original foi substituído por nomes inexpressivos. Mal costurado e sem criatividade, o roteiro também não ajuda, mostrando como Fred e Barney teriam conhecido Wilma e Betty. Quem diria? Wilma era uma patricinha pré-histórica, antes de apaixonar pelo brutamontes Fred e trocar seu belo padrão de vida por uma casinha de pedra nos subúrbios de Bedrock. Nem a mãe de Wilma, vivida pela elegante Joan Collins, consegue convencer no papel, já que no desenho ela era grande e gorda. Enfim, um grande equívoco de US$ 58 milhões que faturou menos de US$ 40 milhões nas bilheterias norte-americanas.Curiosidade de bastidores: Mel Blanc, criador de vozes históricas como as de Pernalonga, Patolino e Gaguinho, entre muitas outras, está creditado no filme como a voz de Dino, mesmo onze anos depois de sua morte. Explica-se: ''Os Flintsotnes em Viva Rock Vegas'' utilizou-se de gravações feitas por Mel ainda nos desenhos originais dos anos 60. Coisas da tecnologia." (Celso Sabadin)

Universal Pictures Amblin Entertainment Hanna-Barbera Productions

Diretor: Brian Levant

12.463 users / 387 face

Soundtrack Rock = The Brian Setzer Orchestra + Nick Lowe + New Radicals

Check-Ins 102

Date 08/10/2012 Poster - #####

22. What's Up, Tiger Lily? (1966)

PG | 80 min | Adventure, Comedy, Crime

63 Metascore

A Japanese James Bond -esque spy flick reused and redubbed into the plot of a secret agent searching to uncover a recipe for the world's greatest egg salad in Woody Allen's directorial debut.

Directors: Woody Allen, Senkichi Taniguchi | Stars: Woody Allen, The Lovin' Spoonful, Frank Buxton, Louise Lasser

Votes: 9,997

[Mov 07 IMDB 6,1/10 {Video}

O QUE HÁ, TIGRESA

(What's Up, Tiger Lily?, 1966)


"Boa ideia de Allen com momentos (diálogos) inspiradíssimos, mas no final a sensação de gratuidade é a que fica." (Alexandre Koball)

"A ideia é boa e até mesmo ousada, mostrando a confiança de Allen logo em seu primeiro filme. Mas o resultado é irregular: a maior parte do tempo é apenas tediosa, com momentos esparsos que revelam a acidez e o humor peculiar do realizador." (Silvio Pilau)

"O argumento é divertido e alguns momentos inspirados, mas a inexperiência de Allen afetou muito o resultado. Se tivesse vindo em um momento mais maduro de sua carreira, seria hilariante." (Heitor Romero)

"Um Woody Allen apenas acadêmico, de exercício; praticamente um Hermes e Renato mais pomposo." (Rodrigo Cunha)

{Woody Allen, em seu primeiro filme cômico, redubla um filme de ação japonês, mudando o plot para uma receita secreta de salada de ovo} (ESKS)

''Woody Allen recria um filme de ação japonês com novos diálogos e desenvolve uma comédia a partir de suas imagens, transformando uma disputa entre quadrilhas em uma busca pela receita perfeita de salada de ovos. ''O que Há, Tigresa?'' na verdade é Kagi no Kag, filme de espionagem japonês, só que com o áudio original suprimido para dar lugar às novas falas reescritas e dubladas em inglês. Assim, o novo roteiro transforma o longa-metragem em uma comédia escrachada, mudando radicalmente sua trama. E o resultado é estranhamente divertido, ainda mais quando o renomado diretor e roteirista Woody Allen surge na tela para nos apresentar a ideia, neste que é o seu primeiríssimo filme, ainda que não seja totalmente seu. De qualquer forma, é possível encontrar traços do humor característico de Allen desde então, principalmente do tipo que permeia seus primeiros filmes, como Um Assaltante Bem Trapalhão, Bananas e O Dorminhoco, todos repletos de um subtexto crítico. A sensação de descompromisso já surge com a apresentação da ideia, e a partir daí é fácil rir com as inserções propostas pelo cineasta, elas que de uma forma geral também alfinetam – ou mais do que isso – o trabalho pedestre feito pelas produtoras americanas ao trazer filmes estrangeiros para o país. Não por acaso o novo texto tem homens agindo de maneira misógina, xingamentos xenofóbicos e uma trama envolvendo a busca por uma misteriosa receita de salada de ovos. E, curiosamente, num bom e num mau sentido, o filme se mantém engraçado; por um lado, a realidade atual da dublagem continua nos permitindo entender e consequentemente rir da sátira proposta por Allen, por outro, é triste pensar que trinta e oito anos depois os problemas nesse setor do audiovisual continuam tão gravemente alarmantes, não sendo incomum que associem a técnica ao termo mutilação. Numa época em que os Estados Unidos não poderiam estar mais aversivos a estrangeiros, certos de sua hegemonia, o novo roteiro de O que Há, Tigresa? faz inserções espertas que comentam esse sentimento: O que está fazendo? pergunta o protagonista quando outro personagem começa a se curvar, como se quem tivesse dirigido a dublagem não soubesse dos costumes orientais. Outra piada recorrente: o herói proferindo xingamentos como “porco sarraceno”, cão espartano, vaca romana e mosca espanhola. Aí cabe um olhar mais próximo, que revela toda a carga de conhecimento cultural que Woody Allen traz consigo desde seu primeiro roteiro. Pois, se era apenas para denunciar o xenofobismo dos norte-americanos, qualquer nacionalidade associada a um animal bastaria para se fazer entender nesta piada específica. Porém, Allen faz questão de que surjam povos conhecidos pela imposição de sua hegemonia em diferentes épocas, indo fundo nas camadas da pequena e discreta piada. E que seja possível se extrair isso apenas de uma só de suas ideias, já revela o potencial que iria esbanjar nas décadas seguintes. Uma sinopse do longa seria, então, no mínimo inadequada, uma vez que apresentar a ideia é mais importante que o filme em si. E o pouco que se tem a dizer sobre o projeto, na verdade, revela mais ainda sobre a eficiência da execução dessa ideia. Embora não se trate de um filme realmente dirigido por Woody Allen, é de fato seu debute nas telonas, que não poderia ser mais apropriado e divertido. Que tenha um subtexto crítico é apenas consequência direta da condução do cineasta, que nestes primeiros anos iria se dedicar a ótimas comédias antes de começar uma transição para o drama com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), iniciando aí uma fase que iria render verdadeiras obras-primas, como Interiores e Manhattan." (Yuri Correa)

Benedict Pictures Corp. National Recording Studios Toho Company

Diretor: Woody Allen / Senkichi Taniguchi

6.729 users / 499 face

Check-Ins 104

Date 05/02/2013 Poster - ########

23. Them! (1954)

Not Rated | 94 min | Horror, Sci-Fi

74 Metascore

The earliest atomic tests in New Mexico cause common ants to mutate into giant man-eating monsters that threaten civilization.

Director: Gordon Douglas | Stars: James Whitmore, Edmund Gwenn, Joan Weldon, James Arness

Votes: 24,194

[Mov 04 IMDB 7,3/10 {Video/@@@@}

O MUNDO EM PERIGO

(Them!, 1954)


"O clássico "O Mundo em Perigo" é o responsável pela onda de filmes com insetos gigantes em Hollywood, ciclo conhecido como Big Bugs. É um dos pontos altos da verdadeira reviravolta que o gênero terror sofreu na década de 50 e de todo o medo e paranoia que surgiu assim que o homem mostrou-se capaz de dividir o átomo. Vampiros, lobisomens, múmias e fantasmas ficaram definitivamente para trás, assim como todas as explicações místicas e toda sua ingenuidade. O perigo agora era muita mais moderno e palatável. O terror havia se tornado científico e a ficção científica aterrorizante. E junto com a paranoia comunista e o medo de uma invasão alienígena, o pavor pela destruição atômica e os perigos da radioatividade tiravam o sono dos americanos, e eram um prato cheio para se faturar uma boa grana nas telonas. "O Mundo em Perigo" é um dos principais exemplares de quando o cinema fantástico resolve mostrar os efeitos devastadores da radioatividade, personificando a paranoia nuclear na ameaça concreta da possibilidade de modificar a natureza e a estrutura das coisas e quais os efeitos que isso poderia trazer para a humanidade, transformando simples formigas, olha só que animal minúsculo e inofensivo, em criaturas gigantescas, prontas para destruir o mundo como nós vivemos. Essas formigas gigantes, que variam de dois a quatro metros de altura, são frutos dos testes nucleares feitos no deserto do Novo México durante a década de 40. A radiação aumentou exponencialmente seus tamanhos e somado a isso, junta-se a força descomunal destes insetos, que podem carregar normalmente vinte vezes o seu próprio peso, sua fama como vorazes soldados e toda sua casta e convívio social dentro do formigueiro. Esses formigões são descobertos quando o sargento Ben Peterson (James Whitmore) investiga estranhos acontecimentos no deserto, ao encontrar um trailer completamente destruído, com seus ocupantes desaparecidos e a filha do casal encontrada na estrada em estado de choque quase catatônico. Além disso, o policial também descobre um armazém completamente destruído com seu proprietário morto e coberto de ácido fórmico. Entra em cena o agente do FBI Robert Graham (James Arness), um cientista do Departamento de Agricultura e autoridade em mirmecologia, o Dr. Harold Medford (Edmund Gwenn) e sua filha, a bela Patricia Medford (Joan Weldon). Auxiliados pelas forças armadas, logo eles descobrem o terrível ataque dessas formigas anabolizadas, e também se dão conta que duas rainhas escaparam e voaram em direção a Los Angeles, estabelecendo-se para montar uma colônia no subsolo, em uma rede de esgoto, pronta para dar a luz a uma centena de formigas que poderão colocar o mundo em perigo. O filme foi indicado, vejam vocês, ao Oscar de efeitos especiais, hoje datados e divertidos, que dá muito mais vontade de rir do que mete medo, mas um desbunde para a época. Coordenadas por Ralph Ayres, as formigonas eram controladas mecanicamente (lembrando que não havia CG na época, tá) através de cordas, roldanas e engrenagens. Muito bem recebido pela crítica e público, ''O Mundo em Perigo'' abriu uma porteira, para vermos na sequência todo tipo de inseto, aracnídeo, réptil ou crustáceo gigante atacando cidades e tocando o terror em populações inteiras, nem todos contando com o mesmo orçamento e esmero dos diretores, roteiristas e produtores. Alguns casos são clássicos e outros, apenas filmes bagaceiras que pegam essa onda, mas que acabam se mostrando tão divertidos quanto, aumentando o tamanho de aranhas, lagartos, caranguejos, escorpiões e por aí vai. E como disse o Dr. Harold Medford na última cena do filme: Quando o homem entrou na era atômica, ele abriu a porta para um novo mundo. O que eventualmente encontraremos nesse novo mundo, ninguém pode prever. Sinistro! Outro filme famoso com formigas que se tornam gigantes, mas dessa vez por conta de lixo tóxico, é O Império das Formigas, também conhecido como O Ataque das Formigas Gigantes, clássico sem precedentes das reprises da Sessão das Dez no SBT nos anos 80." (101 Horror Movies)

''A primeira parte de ''O Mundo em Perigo'' investe bastante no mistério. A situação principal do filme é revelada aos poucos. Uma garotinha em choque andando no deserto, um trailer destruído, pegadas estranhas, sons agudos vindos de algum lugar, mortes e açúcar, muito açúcar. Esse suspense criado é trabalhado com bastante qualidade. Quando as formigas gigantes aparecem, a história muda de rumo e se transforma em uma típica ficção científica de monstros assassinos. É interessante que mesmo agora o filme mantém um bom nível. Os efeitos especiais funcionam bem, o elenco alcança o tom necessário para não transformar tudo em uma paródia, os diálogos são marcantes e em alguns momentos as formigas realmente parecem seres ameaçadores. O que faltou foi passar uma sensação de que de fato o mundo estivesse em perigo. Em nenhum momento nos convencemos de que elas podem se reproduzir e dominar a Terra, como os cientistas do filme sugerem. O desfecho não nos surpreende, mas a frase final dita por um personagem possui um grande impacto ao anunciar que dias piores virão." (Cultura Intratecal)

27*1955 Oscar

Warner Bros. Pictures

Diretor: Gordon Douglas

12.179 users / 3.341 face

Check-Ins 116

Date 25/02/2013 Poster - #####

24. Henri-Georges Clouzot's Inferno (2009)

Not Rated | 100 min | Documentary

Henri-Georges Clouzot's unfinished masterpiece, Inferno (1964), is reconstructed in this film which is part drama and part documentary.

Directors: Serge Bromberg, Ruxandra Medrea | Stars: Romy Schneider, Bérénice Bejo, Serge Reggiani, Jacques Gamblin

Votes: 2,002 | Gross: $0.02M

[Mov 07 IMDB 7,5/10] {Video/@@@@}

O INFERNO DE HENRI-GEORGES CLOUZOT

(L'Enfer d'Henri-Georges Clouzot, 2009)


"Se tivesse sido completado, ''O Inferno, que Henri-Georges Clouzot'' deixou inacabado em 1964, seria, muito provavelmente, um dos mais filmes mais belos, mais fascinantes da história. E dá para garantir uma outra coisa: Clouzot foi um dos cineastas mais chatos que já houve, muito provavelmente o mais chato, mais exigente: trabalhar com Clouzot era um verdadeiro inferno. Essas duas verdades ficam absolutamente claras quando vemos O Inferno de Henri-Georges Clouzot, um documentário absolutamente delicioso e revelador, realizado em 2009 pelos diretores Serge Bromberg e Ruxandra Medrea. O documentário traz longas, detalhadas entrevistas com mais de uma dezena de pessoas que trabalharam com Clouzot na preparação e nas filmagens, meio século atrás. Inclui entrevistas de Clouzot na época – o diretor, nascido em 1907, morreu em 1977), coloca dois atores, Bérénice Bejo e Jacques Gamblin fazendo uma leitura dramática de diálogos escritos pelo diretor para o filme – tudo, é claro, intercalado com muitas das cenas que chegaram a ser filmadas, com uma Romy Schneider estonteantemente bela, aos 26 aninhos, mais Serge Reggiani, Dany Carrel, Jean-Claude Bercq e Mario David. O próprio Serge Bromberg, um dos dois diretores do documentário, e também autor do roteiro, é o narrador, com a voz em off. Propositadamente, o documentário não responde de maneira direta, em momento algum, à questão fundamental: mas, afinal, por que motivo O Inferno não chegou a ser completado? Ele consegue, com isso, intrigar o espectador, e envolvê-lo na história do filme jamais feito, quase como se fosse ele mesmo, o documentário, um thriller psicológico. Os entrevistados, e mais a narração do próprio autor, vão fornecendo pedaços de explicação, pistas. A conclusão a que se chega não é complexa. Ao contrário, é até simples. O Inferno não chegou a ser completado porque foi vítima da ambição desmedida de seu autor. Clouzot parecia ter a certeza de que faria o melhor filme do mundo, um filme para mudar a história do cinema, um filme definitivo. Tinha dinheiro à disposição, dinheiro demais – a Columbia encantou-se com o projeto e botou uma montanha de dólares à disposição de realizador. Com ambição demais e dinheiro demais, o cineasta pirou feio. A trama de O Inferno, em si, a história que o filme contaria, essa era simples. Marcel (Serge Reggiani) e Odette (Romy Schneider) se casam e compram um hotel à beira de um lago artificial, uma represa. No início, são o protótipo de um jovem casal feliz. Mas rapidamente Marcel se vê, como diria Caetano, atingido pela flecha preta do ciúme. Odette é bela demais, demais, demais. Dois homens do lugar, Martineau (Jean-Claude Bercq) e Julien (Mario David), e uma moça, Marylou (Dany Carrel) estão sempre ali no hotel, rodeando Odette – e o ciúme de Marcel vai se tornando uma obsessão, uma doença, uma loucura. Ele passa a desconfiar que Odette o trai com todos eles, com Marylou inclusive. A questão não é a história em si – é a forma com que Clouzot pretendia contá-la. Ele queria mostrar visualmente, através da imagens, como o ciúme, a obsessão, a loucura iam tomando conta de Marcel. Queria distorcer imagens, mostrar o mundo como se visto através daqueles espelhos de parques de diversões, que tornam as pessoas imensamente gordas, ou imensamente finas e compridas. Queria jogar imagens de olhos, de bocas, de línguas, de orelhas, como se fossem de um caleidoscópio. Queria incorporar tudo que as artes visuais de então experimentavam, a op art, as figuras geométricas. Queria mostrar visualmente a loucura. Contratou artistas plásticos, figuras de proa da vanguarda da época, para ficar inventando imagens loucas. Equipes grandes trabalharam nisso durante meses em um estúdio de Paris. O objetivo era deixar o espectador do filme em um clima que chamavam de “instabilidade visual. Haveria seqüências em preto-e-branco e seqüências em cores. Um dos entrevistados no documentário, William Lutchansky, assistente de câmara, definiu: A cada vez que Marcel imagina uma traição, ele tem crises de ciúme, e o universo exterior se deforma. Então, precisávamos bolar como deformar o universo. Após meses de experimentações no estúdio parisiense, começaram as filmagens em si, com os atores. Haviam escolhido um hotel à beira de uma represa e perto de uma ponte rodoviária e uma gigantesca ponte ferroviária, muito antiga, na região de Auvergne, no centro da França, o Hotel Garabit. O hotel foi alugado para a equipe de filmagem, ficou totalmente entregue à produção. Chegaram a criar uma praia artificial junto da represa, porque a ação exigia a existência de uma pequena praia. Clouzot contratou três equipes de filmagens – três equipes inteiras, cada uma com seu diretor de fotografia (três grandes, renomados diretores de fotografia), seus assistentes, seus iluminadores, seus câmaras, suas script-girls. Era tanta gente que não cabiam todos de uma vez no restaurante do hotel – as refeições eram feitas em turnos. Ali, durante várias semanas, atores e técnicos viveram o inferno. Aqui seria preciso fazer um rápido flashback para falar um pouco de Henri-Georges Clouzot. Clouzot era tido unanimemente, em 1964, como um dos grandes cineastas franceses, um dos maiores cineastas de todos os tempos, do mundo todo. Os americanos o chamavam de “o Hitchcock francês; há registros de que o próprio Hitchcock o considerava um sério rival, e uma de suas motivações para fazer Psicose, de 1960, era suplantar As Diabólicas, que o mestre francês lançara em 1955. Em 1964, como dizia a canção de Bob Dylan apresentada ao mundo no ano anterior, os tempos estavam mudando – desde 1958, a França vivia a febre da nouvelle-vague, com os filmes dos jovens Truffaut, Godard, Malle, Rohmer, Chabrol, a turma dos Cahiers du Cinéma. Clouzot era da velha guarda; seu último filme havia sido A Verdade, com a jovem grande estrela Brigitte Bardot. Um dos esportes preferidos dos jovens críticos do Cahiers que virariam os cineastas da nouvelle-vague era descer a lenha em Clouzot. O documentário não fala sobre isso, a coisa da animosidade entre a turma da nouvelle-vague e o cineasta já veterano, mas dá para imaginar que Clouzot queria responder àquela meninada com seu filme definitivo, revolucionário. Grande mestre do filme noir, começou fazendo de tudo um pouco, diz o Dicionário de Cinema – Os Diretores, de Jean Tulard. Supervisiou versões francesas de operetas alemãs, sem contar a redação de um número impressionante de roteiros para Gallone, Barancelli, Litvak. Sua primeira tentativa já é um golpe de mestre. O Assassino Mora no 21, um dos melhores policiais já rodados na França, vale pela inteligência da adaptação do romance de Steeman, uma interpretação magnífica e pela forma de criar uma atmosfera pesada peculiar a Clouzot. Segue-se O Corvo, uma das obras-primas do cinema francês. E depois Tulard cita Crime em Paris, sua segunda obra-prima, Anjo Perverso, Salário do Medo, um filme de suspense que descreve o transporte de explosivos por caminhão, refletindo sobre a dignidade do trabalho humano, As Diabólicas, Os Espiões. Depois de Os Espiões, de 1957, veio A Verdade, de 1960, que foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Aí Clouzot perdeu a primeira mulher, Véra Clouzot – que havia trabalho em As Diabólicas, ao lado de Simone Signoret, nos papéis que seriam recriados em 1996 por Sharon Stone e Isabelle Adjani em Diabolique. Casou-se novamente, com Inès. E trabalhou no roteiro de O Inferno. Numa época em que os jovens da nouvelle-vague faziam roteiros vagos, apenas indicativos, deixando boa parte para ser improvisada na hora das filmagens, Clouzot fazia o oposto. Era um detalhista, um perfeccionista, em seus roteiros. Escreveu e reescreveu; décadas e décadas antes que isso ficasse comum, elaborou storyboards – desenhava em detalhes como seria cada tomada. O diretor Serge Bromberg abre seu documentário contando que teve a idéia de realizá-lo a partir de um incidente: num dia qualquer, ele, Bromberg, um sujeito que tem claustrofobia, ficou por duas horas preso dentro de um elevador de um prédio de Paris, junto com uma companheira de infortúnio, Inès Clouzot. Falaram do grande cineasta morto, de suas obras – e, é claro, de O Inferno. Nos créditos finais do documentário, Bromberg colocou um agradecimento ao elevador do prédio – citando inclusive o endereço exato. Algumas das histórias que o documentário apresenta: * Costa-Gavras foi contratado como primeiro-assistente de Clouzot. Costa-Gavras, o grande diretor, o Senhor Cinema Político, ainda no início da carreira. Ele conta que recebeu uma cópia do roteiro, um catatau imenso; uma hora depois, Clouzot ligou perguntando o que ele havia achado. Ligaria mais duas vezes naquela mesma noite. * Havia uma seqüência passada no bar diante do hotel em que Julien- Mario David dava uma palmadinha na bunda de Marylou-Dany Carrel (na foto abaixo). Marylou, então, reagia dando uma batidinha com sua sandália na testa de Julien. Nessa seqüência, como em várias outras do filme, passadas, como já se disse, à beira de um lago, as pessoas vestiam trajes de banho. Clouzot mandava repetir seguidamente a cena – até que a bunda da atriz Dany Carrel começou a ficar roxa. Tiveram que passar maquiagem para continuar. Depois de repetir a cena diversas, diversas, diversas vezes, com a bunda doendo, Dany Carrel se enfureceu e bateu forte com o salto da sandália na testa de Mario David, que começou a sangrar. Clouzot, sem saber o que fazer, pediu a opinião do produtor. Tem que parar de filmar por hoje, Clouzot, é isso que você tem que fazer, foi a resposta. * Clouzot tinha insônia. Ele não dormia e não queria que ninguém dormisse, conta Catherine Allégret, a filha de Simone Signoret e enteada de Yves Montand, uma das atrizes do filme. As filmagens começavam cedo – às 7, 7h30 da manhã as equipes estavam a postos para trabalhar, e portanto todos iam dormir cedo, no Hotel Garabit. Mas Clouzot tinha insônia, e volta e meia acordava diversos dos colaboradores dizendo que acabara de ter uma idéia, e queria discuti-la com a equipe. * Havia uma sequência em que Marcel, o marido ciumento obsessivo, corria pela estrada junto ao hotel, atravessando a ponte rodoviária, passando até o outro lado da represa, tentando flagrar Odette com o bonitão Martineau. Como Clouzot filmava até 20 vezes a mesma tomada, Serge Reggiani deve ter corrido umas dez maratonas completas. * À medida em que as filmagens avançavam, o tempo ia ficando mais curto, porque, por um motivo qualquer, a Electricité de France, a empresa de energia dona da barragem que criara a represa, iria esvaziá-la numa data determinada. As filmagens, portanto, tinham um deadline, um prazo fatal. Mas, quanto mais se chegava perto do prazo fatal, mais Clouzot ficava exigente, querendo repetir cenas – e às vezes simplesmente não sabia o que queria fazer. Dezenas e dezenas de pessoas ficavam ali, à espera de que o cara decidisse o que fazer. * Romy Schneider foi vista e ouvida berrando que não agüentava mais, que o cara era um doido varrido. * Um belo dia Serge Reggiani (na foto) simplesmente não aguentou mais, e se mandou. Chegaram a chamar Jean-Louis Trintignant para ver se ele aceitaria pegar o papel principal do filme. * Até que Clouzot teve um ataque cardíaco. Não, não foi fatal. Ele ainda faria um derradeiro filme, A Prisioneira, em 1968. Morreria em 1977. Mas o ataque cardíaco foi fatal para o filme. Depois do incidente com o elevador parado entre dois andares, Serge Bromberg foi atrás do que restou do Inferno de Clouzot. Encontrou 185 rolos de filmes dentro de velhas latas – 13 horas de película revelada. Deve seguramente ter sido um trabalho insano escolher, entre tanta coisa, o que foi usado no documentário. A beleza de Romy Schneider, em preto-e-branco e em cores, é tão absurda, tão esplêndida, que chega a doer. O resultado final do trabalho de Serge Bromberg e Ruxandra Medrea é de fato fascinante. Beleza de documentário. Ele só não cita, não diz uma palavra a respeito do filme L’Enfer, no Brasil Ciúme – O Inferno do Amor Possessivo. O filme foi feito em 1994 por Claude Chabrol, com Emmanuelle Béart no papel que foi de Romy Schneider e François Cluzet no que foi de Serge Reggiani. O próprio Chabrol assinou o roteiro, dando o crédito de que se baseou no roteiro original de Henri-Georges Clouzot. Enquanto via o documentário, me peguei pensando: mas eu vi um filme com essa mesma história! Claro: vi o filme de Chabrol. Vi em 1994, quando foi ele foi lançado. Só anotei os dados básicos, sem comentário algum, mas dei 3 estrelas em 4. A escolha de Emmanuelle Béart para o papel que havia sido de Romy Schneider é acertadíssima. La Béart é estupidamente bela – como Romy, tem aquela pele muito clara, os olhos claros expressivos, brilhantes, maravilhosos. Só não chega a ser tão bela quanto Romy Schneider. Mas não há ninguém exatamente como Romy Schneider. O documentário poderia ter citado a existência desse filme de Chabrol. Mas a rigor não precisava. É uma experiência fascinante ver este documentário. Todos os apaixonados por cinema deveriam vê-lo.'' (50 Anos de Filmes)

''Logo no começo de ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'', os diretores recuperam um depoimento em que Clouzot, o próprio, diz ter percebido a impossibilidade da realização de L’Enfer logo depois de escrever o roteiro. Segundo o diretor, era inviável passar um sentimento paranóico, desenvolvido pela personagem ao longo de anos, em algumas poucas horas de projeção. E, de fato, L’Enfer nunca chegou a existir. Como um caso de exceção na história do cinema, Clouzot recebera, em 1964, carta branca do estúdio para a realização do filme. O diretor investe tempo e dinheiro em uma série de experimentos visuais, de efeitos à época inéditos, baseados na op art, na música eletroacústica e na arte cinética. Embora muito material tenha sido produzido, o filme permanece não terminado, sem o registro sonoro que acompanharia as imagens. Trinta anos mais tarde, Claude Chabrol compraria o roteiro da viúva de Clouzot, e realizaria o seu L’Enfer. As imagens produzidas em 1964, porém, permaneciam inéditas até Serge Bromberg (um importante restaurador de filmes francês) e Ruxana Medrea retomarem as 185 latas de material filmado para contar a história deste suposto fracasso, desta operação abortada. A necessidade de recontar os eventos históricos que motivam ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' poderia indicar que a vocação do filme não iria além de um bem realizado extra de um dvd. Esse dvd, porém, nunca poderia existir. Como L’Enfer não é finalizado, o making of se torna o filme possível – não diferente de Lost in La Mancha para o Quixote, de Terry Gilliam; ou It’s All True para o filme brasileiro de Orson Welles. Mas há uma ironia ao longo de ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' que parece nascer daquele primeiro depoimento, da suposta consciência de um artista que se joga em um labirinto do qual ele sabe não existir saída. O acerto primordial dos diretores está não só no posicionamento da fala de Clouzot na montagem, mas também da percepção de o quanto ele é determinante para a estruturação do filme. Pois toda a apoteose visual dos takes originais das sequências coloridas de L’Enfer ganha, com isso, um novo sentido no filme de Bromberg e Medrea: antes a frontalidade daquelas alucinações zombava da situação do protagonista; agora, aquelas assombrações olham diretamente para nós e para a história. ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' é marcado por esse desconforto, essa sensação de termos sido arrastados para um golpe previamente calculado e arranjado cuidadosamente por todos os envolvidos. Para um documentário a partir de fatos reais, ele está surpreendente próximo de um mockumentary. Pois L’Enfer é o filme que não podia ser feito, mas que, mesmo inviável, deixaria rastros suficientemente impressionantes para lamentarmos sua inexistência. A sensação conspiratória deixa de ser do ciumento protagonista, e passa a ser nossa: fomos arrastados para dentro de um filme-fantasma, com planos que sobrevivem feito esfinges, nos atraindo para a sua própria impossibilidade. L’Enfer é uma espécie de canto de sereia, onde conhecemos a lenda ou a artificialidade que nos seduz, mas ainda assim nos sentimos tragados por seu magnestismo. Se Romy Schneider ri; somos nós o alvo da piada. Há, é claro, um valor intrínseco na abertura de arquivos que permite, enfim, que parte do material de Clouzot seja vista pelo público. Mas o que eleva ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' além da mediocridade providencial é a percepção, dos diretores, de que a história se encarrega de completar um sentimento que o filme, sozinho, não soube produzir. Pois se Clouzot filmava algo que acreditava ser irreprodutível, é justamente o recuo permitido pelo documentário em terceira pessoa que restaura essa possibilidade. Pois L’Enfer só pode ser a representação do inferno enquanto um filme inacabado, acessível em seu fracasso. O inferno só passa a existir com a reinserção do diretor no próprio filme, pairando sobre os planos desmontados, ecoando de um lugar onde as pessoas falam, mas não ouvimos qualquer som; onde a inversão de cores não foi feita pelo laboratório, e a maquiagem que compensaria essa inversão é apresentada em sua estranhíssima naturalidade. Há, nessa restauração, um trabalho valioso de montagem e de escritura de cinema, afastando as críticas mais apressadas de que todo o valor do documentário advém das filmagens originais de Clouzot. A articulação central entre o arquivo e os depoimentos captados para o documentário visa quase sempre possibilitar esse mistério que atravessaria o filme original – e a exceção lamentável está nos momentos em que dois atores reencenam trechos do roteiro, tentado esclarecer o que é naturalmente inesclarecível. É um recurso ineficaz, pois o inferno só é infernal enquanto permanece desconhecido. Em todo seu trabalho de pesquisa e reconstituição factual, ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' tem como maior trunfo a sua própria falha, que permite que as imagens desse inferno sobrevivam como a única coisa que elas podem realmente ser: um absoluto e impenetrável enigma." (Fabio Andrade)

Uma sequência de decisões erradas.

''Em 1964, Henri-Georges Clouzot (O Corvo, O Salário do Medo) recebe sinal verde, 150 pessoas à sua disposição e um orçamento ilimitado para filmar L’Enfer, suspense psicológico sobre um homem de meia idade (Serge Reggiani) que desenvolve um ciúme doentio por sua jovem esposa (Romy Schneider). Após 3 semanas de testes estafantes, brigas e desistências que culminaram em um ataque cardíaco do diretor, o filme é arquivado e fica sem ser visto por ninguém durante 45 anos, até que um encontro ocasional num elevador com a viúva do diretor dá origem à idéia para um documentário sobre as lendárias filmagens. O motivo para ''O Inferno de Henri-Georges Clouzot'' falhar em quase tudo que se propõe talvez esteja lá no início do projeto, quando Bromberg e Medrea tomaram a ingênua decisão de respeitar a cronologia das filmagens de 64 na estrutura da narração (primeiro a fase de testes, depois as tomadas no lago), o que termina agindo como antítese dessa mesma narrativa. Porque o objetivo de O Inferno... é contar duas histórias: de um lado, os mitos e os pormenores por trás das fabulares filmagens; de outro, o próprio filme jamais visto pelo público. E isso ao mesmo tempo. O problema é que já há um molde natural que se impõe sobre qualquer malabarismo que os diretores poderiam realizar para alternar estes dois contos do “Inferno de Clouzot” de forma orgânica. Deste modo, o documentário segue engessado por uma narrativa imaleável que o divide nitidamente em duas partes. A primeira delas é recheada de entrevistas cheias de informações ou irrelevantes ou que pouco agregam ao objeto de maior curiosidade para o espectador: o próprio Clouzot. Falta o que há de mais básico, uma noção de cotidiano, qual era o comportamento do diretor, de Reggiani, de Schneider; qual a dinâmica entre Clouzot e a equipe, quais as histórias, os fatos notórios, as lendas, as brigas? A impressão que fica é de que todos os entrevistados tinham muito mais para falar do que efetivamente é dito diante da câmera; em caso contrário, significa que não havia então, por trás de toda a fama da produção de L’Enfer, material suficiente para justificar um documentário. Talvez pelo deslumbramento do acesso a um material tão precioso, Medrea e Bromberg tenham julgado que qualquer pesquisa mais meticulosa ou qualquer maior cuidado na hora das entrevistas seria mero capricho diante do tesouro de 185 latas e 13 horas de imagens inéditas (que, também pela negligência, terminam mesmo como único objeto de interesse). A segunda parte (e esta quebra de ritmo é sentida com clareza em torno dos 50 minutos) supre um pouco do interesse despertado pelo próprio filme inacabado de Clouzot. Os diretores dispõem cenas inteiras e em ordem, abrindo passagem para um outro mundo em que o L'Enfer tivesse acontecido enquanto filme, porém preenchendo as lacunas deixadas pelas cenas não filmadas com dois atores que reinterpretam em estúdio os diálogos originais, e este é outro sério problema. Talvez por terem sido julgados de igual importância texto e imagem em L’Enfer (já que os diálogos foram escritos por Clouzot), ou então por uma tentativa fútil de evitar que o espectador se perca na trama de um filme que sequer existe, cada linha de texto que sirva de conexão entre uma cena e outra e que não foi filmada por Clouzot, é por sua vez filmada por Bromberg e Medrea. São pelo menos uma meia-dúzia de cenas que nada podem interessar a um espectador que busca no documentário uma janela primeiro para o processo de produção de L’Enfer, depois para o trabalho de direção de Clouzot (ou seja, apenas o que Clouzot dirigiu, não o que dirigiram dois documentaristas quaisquer, com todo o respeito). A importância dada ao texto é algo injustificável e fora de proporção, até porque Claude Chabrol tratou de filmar o roteiro deixado por Clouzot em 1994, em Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo (fato que é cuidadosamente ocultado pelo doc). Não há um senso de unidade em O Inferno.... Além de os dois objetivos do documentário não funcionarem juntos, acabam entrando em conflito e praticamente anulando um ao outro, exterminando todas as chances de mérito para qualquer trabalho exposto no documentário que não tenha sido - e isso é até engraçado de se dizer - do próprio Clouzot. Fique claro: é válido assistir a Inferno única e exclusivamente pela recuperação do material deixado pelo diretor francês, e que é belíssimo. Há uma que outra tolice (afinal eram testes), mas o saldo final é deslumbrante. Principalmente se você pensar em termos de Romy Schneider. Semi-nua. Do auge dos seus 26 anos, mesmerizante, doce mas erótica ao mesmo tempo, de uma beleza objetiva, inacreditável, Schneider é das paisagens mais sobrenaturais já captadas pelas lentes de uma câmera. E é quando até a loucura fica plausível. Porque se Clouzot gastou rios de dinheiro, tempo de 150 profissionais, desenvolveu novas técnicas de iluminação, de manipulação das formas e das cores, e terminou sofrendo um infarto apenas para tentar deixar Romy Schneider um pouco mais bonita (e falhando miseravelmente, por óbvio), então L’Enfer - com seus excessos, a obsessão, a total falta de contato com a realidade - passa de repente a fazer todo o sentido do mundo.'' (Luis Henrique Boaventura)

2010 césar

Lobster Films France 2 Cinéma Canal+ (participation) CinéCinéma (participation) Canal+ Horizons France 2 (FR2) Région Ile-de-France Région Auvergne Media Programme of the European Community Fondation Groupama Gan pour le Cinéma

Diretor: Serge Bromberg / Ruxandra Medrea

938 users / 143 face

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Date 03/07/2014 Poster -

25. The Long, Hot Summer (1958)

Not Rated | 115 min | Drama

Accused barn burner and conman Ben Quick arrives in a small Mississippi town and quickly ingratiates himself with its richest family, the Varners.

Director: Martin Ritt | Stars: Paul Newman, Joanne Woodward, Anthony Franciosa, Orson Welles

Votes: 12,413

[Mov 06 IMDB 7,2/10 {Video}

O MERCADOR DE ALMAS

(The Long, Hot Summer, 1958)


''Ben Quick (Paul Newman) deixa uma cidade após suspeitarem, sem provas, que é um incendiário. Ele põe o pé na estrada e consegue carona com Eula Varner (Lee Remick) e Clara Varner (Joanne Woodward). Eula é casada com Jody Varner (Anthony Franciosa), cujo pai, Will Varner (Orson Welles), é "dono" de Frenchman's Bend, uma pequena cidade do Mississipi. Já Clara, a filha solteira de Will, trabalha como professora. Ben se estabelece lá e logo consegue um ascensão meteórica, indo morar na casa do seu patrão, Will. Ele se torna um sério candidato para casar-se com Clara, pois Will não tolera a idéia que ela não lhe deixe herdeiros.'' (Filmow)

1958 Palma de Cannes

Jerry Wald Productions

Diretor: Martin Ritt

5.669 users / 803 face

Check-Ins 119

Date 27/02/2013 Poster - ##########

26. The End of Violence (1997)

R | 122 min | Drama, Thriller

Mike is a successful Hollywood producer of violent movies. Then he himself experiences extreme violence, goes missing, joins some Latino gardeners and reviews his life.

Director: Wim Wenders | Stars: Traci Lind, Rosalind Chao, Bill Pullman, Andie MacDowell

Votes: 5,181 | Gross: $0.28M

[Mov 08 IMDB 5,5/10 {Video/@@@@}

O FIM DA VIOLÊNCIA

(The End of Violence, 1997)


''Wim Wenders é um diretor mais cultuado pelas obras que fez no passado - como os fundamentais Asas do Desejo e Paris Texas - do que pelo cinema realizado nos últimos anos. Em ''O Fim da Violência'', Wenders continua a não agradar a crítica, que o vaiou no ano passado no Festival de Cannes, mas o diretor continua alheio à matilha e parece, até mesmo, estar à deriva. Com este filme, Wenders defende sua visão particular contra a violência e realiza uma reflexão sobre a sociedade, para ele em franca decadência. ''O Fim da Violência'' é baseado em três histórias. A principal mostra a deterioração do casamento de um produtor de filmes sanguinolentos, Mike Max (Bill Pullman) e sua esposa, Paige (Andie MacDowell). Mergulhado no trabalho, sempre com celulares e lap-tops à volta, ele quase não repara na existência de Pagie, que decide abandoná-lo. Outra ponta da história envolve a atriz Cat (Traci Lind) e o Detetive Doc Brock (Loren Dean). Eles se aproximam na tentativa explicar o sumiço de Mike Max, e acabam se apaixonando. As cenas são uma clara homenagem ao cinema noir da décadas de 40 e 50, com figurinos e diálogos próprios da época.'' (Cássia Borsero )

1997 Palma de Cannes

CiBy 2000 Kintop Pictures Road Movies Filmproduktion

Diretor: Wim Wenders

3.893 users / 73 face

Soundtrack Rock = Spain + Los Lobos + Whiskeytown + Tom Waits + Kraftwerk + Sam Phillips + Roy Orbison + The Eels + Bono + Sinéad O'Connor + Ry Cooder

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Date 28/02/2013 Poster - #######

27. High Plains Drifter (1973)

R | 105 min | Drama, Mystery, Western

69 Metascore

A gun-fighting stranger comes to the small settlement of Lago and is hired to bring the townsfolk together in an attempt to hold off three outlaws who are on their way.

Director: Clint Eastwood | Stars: Clint Eastwood, Verna Bloom, Marianna Hill, Mitchell Ryan

Votes: 64,539 | Gross: $15.70M

[Mov 07 IMDB 7,6/10] {Video/@@@@}

O ESTRANHO SEM NOME

(High Plains Drifter, 1973)



Sinopse

''Um homem totalmente desconhecido chega em uma vila chamada Lago e, nos primeiros vinte minutos de estadia, mata três pessoas que atormentavam a cidade. Os homens importantes da cidade o escalam para proteger todo mundo de três bandidos que acabam de sair da prisão. O estranho aceita o serviço e começa a implantar uma nova estratégia.''
"Quem acha que o melhor faroeste dirigido por Clint Eastwood é Os Imperdoáveis (1992) deve assistir a "O Estranho sem Nome" High Plains Drifter. É seu segundo longa como diretor, de 1973, e ele interpreta o personagem descrito no título brasileiro. Um tipo que Eastwood conhece bem. De poucas palavras (como sempre) e misterioso (mais do que nunca), é o pistoleiro nômade contratado pela população de uma cidade para livrá-la de um punhado de bandidos que aterrorizam o lugar. Depois de algum tempo, os moradores vão ter motivos para pensar que talvez estivessem em melhor situação na mão dos malfeitores. O mistério do pistoleiro tem várias interpretações, passando pelo sobrenatural. O final impressiona. Clint Eastwood dava então sinais de seu enorme talento." (Thales de Menezes)

"Eastwood muda algumas constantes do faroeste em um de seus primeiros trabalhos na direção. O clima predominante de suspense e o final deixado em aberto foram revolucionários. Mais tarde ele faria outra releitura do gênero em Os Imperdoáveis." (Heitor Romero)

''O céu azul se funde no horizonte com a terra seca e quente do deserto da Califórnia (EUA). Ao longe, surge a silhueta de um cavaleiro solitário. Ele vence alguns quilômetros no lombo empoeirado de um cavalo e entra na pequena cidade de Lago. Os moradores olham, surpresos. A aparição de gente desconhecida não é comum por aquelas bandas. Logo, o cavaleiro vai demonstrar a todos que comum é a última palavra que deveria ser aplicada a ele. A abertura de “O Estranho Sem Nome” (High Plains Drifter, EUA, 1973), inclusive a música melancólica, o ritmo lento e os enquadramentos incomuns, sugere um faroeste spaghetti. O segundo filme dirigido pelo então astro Eastwood bebe dessa fonte, mas possui um toque autoral e é um excelente exemplo de como os westerns reconstruíram a mitologia clássica do gênero, nos anos 1970. Todo o filme gira em torno da figura misteriosa do pistoleiro sem nome, interpretado pelo próprio Clint. O arquétipo do personagem já era um velho conhecido dos fãs do ator, que o viram interpretar, por três vezes, pistoleiros semelhantes, nos filmes de Sergio Leone: rápido no gatilho, poucas palavras, senso de humor mórbido, passado desconhecido. Não custa lembrar, contudo, que esse arquétipo é uma constante nas centenas de filmes passados no Velho Oeste que a Itália produziu. “O Estranho Sem Nome”, de fato, descende diretamente de Django, o filme de Sergio Corbucci que aumentou a dose de violência e adicionou um elemento sobrenatural ao homem sem nome que Eastwood já havia imortalizado. Aliás, as aberturas dos dois filmes são bem parecidas. O momento em o público vê pela primeira vez os dois personagens em ação também. Nos dois casos, eles mantêm os olhos escondidos embaixo do chapéu, são importunados no bar da cidade por malfeitores, reagem com velocidade e mandam todos para o caixão. A diferença é que o implacável personagem de Eastwood age com atitudes ambíguas. Com os moradores de Lago, é cruel e misógino, chegando mesmo a estuprar uma mulher em plena luz do dia. Com os outros, é bondoso e gentil (às crianças índias que perambulam pelo lugar, ele distribui doces). Esse comportamento, é claro, tem uma explicação – e ela é a melhor coisa do filme, o elemento que transforma “O Estranho Sem Nome” em um longa-metragem diferente e especial. Eastwood, ainda que não exiba a segurança de trabalhos posteriores, já é esperto o suficiente para evitar explicações em demasia. Seguindo a cartilha do faroeste psicológico, a chave para entender as motivações do “estranho sem nome”, bem como o elemento sobrenatural do filme, está no sonho repetitivo que o personagem tem todas as noites, e que o filme mostra em flashbacks eventuais. Todos os demais moradores de Lago são caracterizados como os arquétipos clássicos do faroestes: a prostituta, o xerife, o barbeiro, o barman, os malfeitores, o pastor, o comerciante. Qualquer apreciador do gênero vai reconhecer o que faz um personagem apenas olhando as suas roupas. Em resumo, Clint Eastwood utilizou as ferramentas tradicionais do faroeste para construir uma obra que as distorce. Ele soube até mesmo convencer o estúdio que bancou o filme a atender alguns caprichos típicos dos grandes autores, algo que ele ainda não era. O cineasta, que também produziu a película, fez a Universal construir um pequeno vilarejo de treze construções, inclusive com interiores completos e mobiliados, para filmar “O Estranho Sem Nome”, à beira de um lago na Califórnia. Foi uma excelente decisão, pois dessa forma ele pôde filmar todas as cenas na seqüência correta, inclusive aquelas que se passam dentro das casas. Por outro lado, a cidade cenográfica comete um dos poucos pecados do filme, pois todos os prédios parecem novos demais quando o pistoleiro adentra a cidade pela primeira vez. Claro: eles era, de fato, recém-construídos, o que não deixa de ser um defeito. A construção do falso vilarejo deu liberdade ao fotógrafo Robert Surtees para caprichar nas composições estranhas, bizarras, bem ao estilo do grande Sergio Leone. O personagem de Eastwood, por exemplo, é freqüentemente filmado de baixo para cima, o que lhe empresta uma aura ameaçadora. Surtees também tem a chance de elaborar cenas noturnas arrojadas, com uso de contrastes violentos e muitas sombras, bem na linha do que Gordon Willis estava fazendo na série “O Poderoso Chefão”, na mesma época. Tudo isso faz de “O Estranho Sem Nome” um faroeste de visual incomum. Para espectadores desacostumados aos faroestes italianos, o longa-metragem de Clint Eastwood pode parecer um tanto lento na primeira parte, quando os habitantes de Lago contratam o misterioso pistoleiro para proteger o vilarejo da ação de bandidos sedentos de vingança. A partir da metade, no entanto, o filme ganha um senso de humor mórbido e peculiar, e se transforma em uma sucessão de grandes cenas, como aquela em que Clint manda os habitantes do lugar pintarem todas as construções de vermelho e rebatiza a cidade de Inferno. Além disso, o confronto final é absolutamente antológico e também assustador. Para neófitos, “O Estranho Sem Nome” poderia ser descrito como uma mistura do horror O Corvo com o clássico western Matar ou Morrer." (Roberto Carreiro)

Universal Pictures Malpaso Company, The

Diretor: Clint Eastwood

32.287 users / 1.815 face

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Date 08/07/2014 Poster - ########

28. Captain Horatio Hornblower (1951)

Not Rated | 117 min | Action, Adventure, Drama

During the Napoleonic wars, a British Navy Captain has adventures in Central American waters.

Director: Raoul Walsh | Stars: Gregory Peck, Virginia Mayo, Robert Beatty, Moultrie Kelsall

Votes: 7,513

[Mov 07 IMDB 7,3/10 {Video}

FALCÃO DOS MARES

(Captain Horatio Hornblower R.N., 1951)


''Em 1807 o Lídia, um pequeno navio da marinha real, partiu da Inglaterra com destino secreto. Com cinco milhões de soldados franceses e espanhóis mobilizados no continente por Napoleão, nada poderia salvá-los da invasão, exceto trezentos navios. O Lídia logo se distanciou da Europa em conflito. Cumprindo ordens das mais secretas, navegou velozmente em direção ao sul, circundou o Cabo Horn e rumou para o norte, novamente indo em direção ao Pacífico. Por sete meses ficou no mar sem avistar terra. Durante as calmarias sua tripulação, já deprimida, remava com afinco tentando encontrar uma brisa. Com fome e sede, eles se perguntavam para aonde estavam indo e o que fariam quando lá chegassem. Isso era de conhecimento de apenas um homem, Horatio Hornblower (Gregory Peck), o capitão do navio. Quando enfim chegaram em uma fortaleza na América Central, Hornblower cumpre sua missão, que era entregar um suprimento de armas para um líder megalomaníaco, Don Julian Alvarado (Alec Mango), que se auto-denominava El Supremo. A razão desta ajuda é que ele iria liderar uma insurreição contra a Espanha, que era inimiga dos ingleses. Além disto Hornblower capturou um grande navio de guerra espanhol e o deixou com El Supremo. No entanto, ao regressar, descobre que a Espanha e a Inglaterra eram outra vez aliados e El Supremo tinha se tornado inimigo do reino. Hornblower e seus homens são forçados a aceitar como passageira Lady Barbara Wellesley (Virginia Mayo), irmã do Duque de Wellington, que estava tentando escapar de uma epidemia de febre amarela. Além disto teve de lutar contra El Supremo que, usando a nau espanhola que Hornblower tinha capturado, atacou o Lídia." (Filmow)

Warner Bros. Pictures

Diretor: Raoul Walsh

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Date 02/03/2013 Poster - ####

29. The Black Windmill (1974)

PG | 106 min | Action, Crime, Thriller

50 Metascore

A British agent's son is kidnapped and held for ransom.

Director: Don Siegel | Stars: Michael Caine, Donald Pleasence, Delphine Seyrig, Clive Revill

Votes: 3,346

[Mov 05 IMDB 6,3/10 {Video}

O MOINHO BRANCO

(The Black Windmill, 1974)


''Um agente que investiga o contrabando internacional de armas tem seu filho seqüestrado, com um resgate estipulado que deve ser pago em diamantes brutos. Porém, como a polícia não acredita muito na sua história e até o considera suspeito, ele decide agir sozinho.'' (Filmow)

Universal Pictures

Diretor: Don Siegel

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Date 17/03/2013 Poster - ####

30. Winged Creatures (2008)

R | 100 min | Crime, Drama

A group of strangers form a unique relationship with each other after surviving a random shooting at a Los Angeles diner.

Director: Rowan Woods | Stars: Kate Beckinsale, Forest Whitaker, Guy Pearce, Dakota Fanning

Votes: 7,426

[Mov 03 IMDB 5,7/10 {Video/@@@}

O EFEITO DA FÚRIA

(Winged Creatures, 2008)


"Numa lanchonete americana (tinha que ser lá), um indivíduo aparentemente normal entra e começa a atirar em que está lá. Este drama depressivo ao extremo conta a história dos efeitos que o episódio teve nos sobreviventes. E só sobreviventes do primeiro escalão de Hollywood: da garçonete (Kate Beckinsale de Temos Vagas) que perde os cuidados com o filho, criando uma obsessão pelo médico que também estava lá (Guy Pearce de Um Faz de Conta que Acontece), o qual quer dar uma de Deus e coloca sua esposa como cobaia para novos experimentos; do azarado (Forest Whitaker de Os Reis da Rua) que pensa ter muita sorte por ser sobrevivente e abandona a filha para ir aos cassinos de Las Vegas; da garotinha (Dakota Fanning de Heróis) que perdeu o pai no tiroteio e se transforma numa subida devota da religião. E por aí vai. A produção tem dois problemas crônicos: o primeiro é que por mais chocante que seja a situação e por mais diferente que sejam os seres humanos, é muito, mas muito difícil imaginar reações tão adversas e quase tão sem sentido dos personagens. Porque a garotinha ficou religiosa? A resposta no final passa longe de ser convincente. Porque o azarado deixa os agiotas o machucarem quase no desfecho? Impossível de saber. E porque o menino que emudeceu após o crime (Josh Hutcherson de Viagem ao Centro da Terra) faz tudo o que a garotinha manda? O outro problema são as atuações artificiais: Fanning força uma barra da intelectualidade do espectador pra convencê-lo de uma conversão religiosa absurda; Whitaker com sua cara depressiva por natureza parece estar mais bêbado do que propriamente entorpecido com o choque; Beckinsale não muda o disco. Quem se salva é mesmo Pearce com uma interpretação mais contida (por mais que o roteiro não ajude a justificar seus atos) e Jackie Earle Haley de Watchmen, este sim que tem apenas uma ponta, mas que é marcante pela intensidade. Jeanne Tripplehorn (Os Maiorais) também se destaca como mãe da recém fanática religiosa, menos pela atuação e mais pelo personagem, o qual parece ser o único que também não engole essas reações amalucadas. Os melhores momentos da narrativa ficam pela decisão acertada de mostrar o que realmente aconteceu na lanchoete aos poucos. Infelizmente o resultado é frustrante e deve gerar um impacto inverso ao que seus realizadores previram. Talvez toda essa loucura pode realmente acontecer. E ela até se torna um pouco mais digerível pela boa trilha sonora de Marcelo Zarvos, o qual, pasmem, trabalhou na trilha do brasileiro Última Parada 174. Ainda sim, o espectador com um pouco mais de senso analítico não deve se deixar levar pelas lágrimas e constatar que o roteiro escrito foi extremamente burocrático transformando o que poderia ter sido um curioso estudo da psique humana, num amontoado dramático com muita depressão e pouca explicação." (Cine Criticas)

Peace Arch Entertainment Group RGM Entertainment Artina Films Unruly Films

Diretor: Rowan Woods

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Date 21/03/2013 Poster - ##

31. Oliver Twist (2005)

PG-13 | 130 min | Crime, Drama

65 Metascore

An adaptation of the classic Dickens tale, where an orphan meets a pickpocket on the streets of London. From there, he joins a household of boys who are trained to steal for their master.

Director: Roman Polanski | Stars: Barney Clark, Ben Kingsley, Jeremy Swift, Ian McNeice

Votes: 34,288 | Gross: $1.99M

[Mov 07 IMDB 6,9/10] {Video/@@@@} M/65

OLIVER TWIST

(Oliver Twist, 2005)



Sinopse

''Oliver Twist (Barney Clark) é um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, ele sofre com a crueldade da família deste e acaba fugindo para Londres. Lá ele é recolhido das ruas por Artful Dodger (Harry Eden), um ladrão que o leva até Fagin (Ben Kingsley), um velho que comanda um exército de prostitutas e pequenos marginais. Quando Oliver conhece um bondoso homem em quem finalmente enxerga um possível pai, Fagin teme que ele denuncie seu esquema. Para evitar isso Fagin planeja um assalto à casa do rico Sr. Brownlow (Edward Hardwicke), o pai desejado por Oliver.''
"Polanski encontra no clássico de Charles Dickens um espelho para momentos de sua própria infância, e por isso parece haver uma proximidade tão grande do diretor com uma história que destoa tanto do resto de sua filmografia." (Heitor Romero)

Polanski desaponta após receber o Oscar de Melhor Diretor por O Pianista: Twist é vazio e sem graça.

Ok! Roman Polanski ganhou, surpreendentemente, em 2004, um Oscar de Melhor Diretor, pela obra-prima O Pianista. Nada mais do que justo, afinal, a carreira do sujeito já era fenomenal, e ele conseguiu fazer um filme que superou todos os seus anteriores. Seu próximo filme, infelizmente, foi uma tentativa segura de refilmar, mais uma vez nos cinemas, uma velha história de Charles Dickens, tantas e tantas vezes já contada. Embora o filme possua características que demonstrem, ainda que de forma relâmpago, a capacidade de Polanski em criar cinema, num todo este é um filme altamente dispensável e, porque não dizer, aborrecido. Muitos de seus adoradores defenderão as qualidades originais do texto de Dickens; outros ficarão do lado da produção de arte, que visivelmente se esforçou para trazer realismo ao enredo, talvez mais do que qualquer outra versão do filme o tenha feito anteriormente, aproveitando-se do fato do avanço tecnológico, é claro. Ora, eu sou um dos adoradores do diretor e não conseguiria utilizar esses nem quaisquer outros argumentos para defender o filme. Oliver Twist pode até ter algum valor artístico, mas é um filme bastante dispensável e sem graça. O que é um choque depois da perfeição que Polanski proporcionou em O Pianista. Acredito que seu principal problema esteja no seu núcleo, ou seja, no roteiro. Além de já ser uma história bem conhecida, ele é incrivelmente previsível. Todos os passos dos personagens, sobretudo os do pequeno Twist, são adivinháveis tempos antes de eles ocorrerem. Isso dá ao filme uma sensação de constante aborrecimento, que o transforma em uma peça de cinema simplesmente monótona, o que contrasta demais com a filmografia de Polanski. O elenco é razoável, não há grandes estrelas com exceção talvez de Ben Kingsley, e o garoto que interpreta Oliver Twist é, no máximo, ordinário, o que também não ajuda a dar créditos ao filme. Não há um grande personagem. Oliver não sabe fazer as coisas por si mesmo, e também fica complicado definir quem é o vilão do filme – provavelmente não há um vilão na história, embora haja um monte de pessoas se aproveitando do garoto o tempo todo. Também é complicado descobrir as motivações dos personagens de forma coesa, já que o filme não consegue se focar corretamente em explicar o comportamento da maioria de seus personagens, nem mesmo sabe explicar o que, afinal de contas, quer Oliver da vida, por ser ele um personagem tão irritantemente passivo às pessoas e aos acontecimentos ao seu redor. Por outro lado, a parte técnica é evidentemente o ponto forte do filme – quando isso acontece, nunca é um bom sinal, pois a técnica nunca deveria se sobrepor ao conteúdo, no máximo igualá-lo. O filme possui um cuidado com recriações de época quase fascinante. Uma pena que a maior parte dele se passe à noite ou em cenários cheios de névoa. Quando a fotografia investe no contraste verde-campo com cinza-cidade, ela consegue provocar reações maravilhosas, mas isso acontece muito pouco, não conseguindo, dessa forma, inspirar poesia, mesmo que visivelmente se esforce um bocado tentando. A pergunta que pode atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo: “Oliver Twist” tem a cara de Polanski? Absolutamente não! O filme possui traços quase imperceptíveis da filmografia do diretor, mas não é um Polanski legítimo. É bem mais comercial que sua média de filmes e, embora a direção não seja um ponto fraco para o filme, tampouco pode ser considerada metódica ou especialmente inspirada. Longe disso! Seus defensores mais fanáticos podem atirar pedras à vontade, mas ao analisar o filme de uma perspectiva puramente racional, Twist é um filme absolutamente dispensável, e sua avaliação baixa não é exatamente por ser necessariamente ruim (pois é), mas sim por ter sido feito por alguém que, em algumas partes de sua carreira, pode ser chamado de gênio, mas resolveu dar um tempo em seu último filme. Tudo isso é uma pena. Está aí um filme que não pode ser recomendado." (Alexandre Koball)

''Antes de tudo, gostaria de iniciar este texto parabenizando o senhor Pedro Martins, organizador do Cinema de Arte em Fortaleza, por disponibilizar “Oliver Twist” em sua programação. É uma imensa vergonha que o novo filme de um cineasta como Roman Polanski não tenha chegado aos cinemas da cidade. Deixando as lamúrias um pouco de lado (mas não por muito tempo) e resumindo o filme em uma pequena sinopse, Oliver Twist é um órfão entre muitos que sofrem com o trabalho escravo na Inglaterra do século XIX. Depois de ser encaminhado para a casa de um coveiro, agente funerário, algo dessa “estirpe”, o menino não agüenta os maus-tratos e prefere fugir e ir caminhando à gigante Londres. Lá, arrasado de cansaço e fome, é recolhido por Fagin (Bem Kingsley), um homem de aparência bizarra que mantém um enorme grupo de pequenos ladrões. Oliver já está se adaptando àquela vida quando um bom homem aparece dando-lhe a chance de lhe proporcionar a ótima vida que ele jamais teve. Mas é claro que nem tudo são flores, pois os vilões são muitos. O que mais me agradou em “Oliver Twist” foi o retorno à maravilhosa Literatura infantil que o filme nos proporciona. Os créditos, tanto os iniciais, quanto os finais, são repletos de gravuras típicas dos livros mais antigos. Os personagens são extremamente caricatos, o que pode incomodar a algumas pessoas, mas que me remetem a mais pura idéia de fábula, ao mesmo tempo em que carnavaliza com a sociedade da época. Os humanos muito se assemelham a animais, tanto fisicamente, quanto em suas atitudes, extremamente cavalescas, principalmente em se falando de suas relações para com as crianças, que parecem já estar anestesiadas e amadurecidas com tanta dureza e tão pouco tempo de vida. Essa é uma das caras da infância desvalida na Literatura de Charles Dickens, integrante do Realismo inglês e um dos maiores escritores da Literatura Mundial. Provavelmente muitos se deixaram enganar pelo trêiler de “Oliver Twist”. Este é água-com-açúcar o suficiente para deixar marcada a impressão de que propagandeia apenas mais um filme de aventura juvenil. A realidade é diferente: estamos falando de Charles Dickens, antes de tudo, e de Roman Polanski, um dos maiores nomes entre o cinema de autor. O velho Polanski, apesar de afirmar que sua intenção ao filmar “Oliver Twist” foi, primeiramente, criar um filme para famílias, não abandona o seu velho estilo (e talvez nem seja capaz de fazê-lo; ainda bem). O que acontece é que nos deparamos com uma triste estória de um órfão, ao mesmo tempo em que somos aterrorizados com vilões sanguinários, o que pode ser encarado de várias maneiras, mas que não deixa de ser uma vantagem, toda essa mescla de gêneros. Em sua visita badalada ao 2o Amazonas Film Festival, o cineasta deu mais uma justificativa para ter filmado a obra de Dickens, já adaptada por diretores de teatro e cinema mais de vinte vezes, e na qual Polanski encontrou ingredientes para adicionar um quê de sua triste experiência da infância, nos guetos da Segunda Guerra Mundial: Eu queria contar uma estória pra todo tipo de público, mas principalmente para as crianças, sem precisar recorrer a lasers, explosões, efeitos visuais e sonoros que nos deixam cegos e surdos. Queria que as crianças entendessem o que emoção significa e não só o choque momentâneo dos efeitos visuais. Os jovens estão vendo filmes como fazem com McDonald’s e Pizza Hut. Hoje em dia a maioria é incapaz de engolir qualquer coisa sem catchup. Estas são as palavras indignadas de um senhor cineasta de 73 anos, que nos deixam um questionamento: quando iremos parar de consumir cinema; quando irão parar de vender cinema? Quando os nossos jovens irão aos cinemas cientes de que estão indo assistir a um filme de Roman Polanski e sentir esse filme, ao invés de rir sem parar e soltarem ruídos de insinuações libidinosas? É triste e duvidoso, e é nessa sociedade em que vivemos." (Central Rapaduriana)

''O menino órfão, de posse de um sobrenome inventado, abandonado à mercê da Londres vitoriana, foge do sistema cruel da orfandade governamental, em busca da redenção da família desaparecida. Em Londres, se filia a um grupo de moleques punguistas do submundo, liderado por um velho judeu esquizofrênico, antes de ser salvo por um bom samaritano da burguesia da cidade. O enredo de ''Oliver Twist'', o clássico inglês escrito por Charles Dickens, mais citado do que propriamente lido, faz parte do inconsciente literário do último século, e é invariavelmente reverenciado aqui e ali em toda produção cultural. No cinema não é diferente, e a história já foi contada nos mais diferentes formatos, desde os tempos dos filmes mudos. Na lista, sempre se destacam a versão de David Lean - de 1948, com Alec Guinness no elenco - e o musical Oliver!, dirigido por Carol Reed em 1968, que abocanhou uma série de Oscars. As traduções mais recentes fogem do original - como os independentes Twist, de 2003, que transportou o conto para Toronto, com prostituição gay e drogas, e Boy called Twist, que encarnou o personagem num garoto de rua da África do Sul. Faltava, até agora, um olhar fiel do cinema moderno à história. A missão foi assumida por Roman Polanski - ressuscitado após a aclamação de O pianista em 2002 - com a desculpa de que queria produzir um filme para seus filhos. Mas o Oliver Twist do diretor franco-polonês foge do tatibitate infantil, mostrando um mundo que realmente não se divide só entre o bem e o mal. E esse talvez seja o maior trunfo do filme. Oliver é um guri que não quer mais do que travar contato com o básico do ser humano, o sentimento de família que nos reúne em grupos. Depois da longa e irregular introdução, quando ele chega a Londres e está longe da vida fria dos orfanatos, Oliver se filia à primeira realidade que lhe dá zelo. E, estereótipo da inocência, vai fazer parte do grupo de moleques, liderado pelo decrépito Fagin, que passa os dias cometendo pequenos furtos nas ruas. Apesar do ambiente degradado, a primeira família de Oliver é ambígua. Enquanto ele é forçado a entrar no jogo dos jovens ladrões de Fagin, também é afagado com um certo carinho pelo velho. O jogo de sentimentos adversos tem sua melhor tradução na última cena antes do epílogo, quando Oliver, já adotado pelo rico Brownlow, vai visitar o seu velho mestre na prisão. Condenado à forca e enlouquecido por isso, Fagin esperneia e é acalentado pelo menino, no seu último momento de semi-rendição. O resultado da inusitada escolha de Polanski pelo conto de Dickens é uma boa adaptação, a mais fiel possível a um livro que não se pode resumir a duas horas de tela. Alguns personagens e enredos se perderam, como o meio-irmão de Oliver e a desconfiança de que ele é filho da sobrinha de Brownlow. Ele teve grande ajuda para elevar o saldo final de ''Oliver Twist''. A equipe técnica - do roteirista à figurinista - é praticamente a mesma que produziu O pianista ao seu lado, já afinada à lâmina de Polanski. O trabalho de recriação da negra Londres da época, suja e degradada, baseado em gravuras da época, é um primor. No elenco, o menino Barney Clark é ótimo como o herói-mirim, em seu primeiro trabalho significativo no cinema. Mas o destaque máximo é mesmo Ben Kingsley, excelente e irreconhecível nas carnes do velho Fagin. Porém, a vontade do diretor de seguir quase letra a letra o enredo original também acaba sendo seu maior tropeço. A carga de relacionamento humano que existe em Dickens se perde na inquietação de fazer a história seguir seu rumo de acontecimentos. O Oliver Twist polanskiano é uma ótima acomodação do enredo original, mas lhe falta um punhado de emoção, para além do tom farsesco que o filme se força a dar. Assim como faltava comida no pote de Oliver, ainda no orfanato. E aí Polanski encarna a figura do mestre-cozinheiro, vigia das panelas de onde só sai uma porção de mingau ralo, nada mais." (Eduardo Viveiros)

''Há duas formas de se abordar cinematograficamente uma história clássica: ou inova-se completamente, brincando em cima de contextos exaustivamente trabalhados anteriormente, ou não se arrisca, fazendo uma adaptação quadradinha. Em ambos os casos, o cineasta corre riscos. O que é natural em se tratando de cinema. Depois de pisar no delicado e pesado território do nazismo em seu filme anterior (O Pianista), o diretor Roman Polanski resolveu ficar com a segunda opção a fazer esta adaptação certinha e extremamente competente (o que já era de se esperar, em se tratando de Polanski) do clássico literário de Charles Dickens, Oliver Twist, personagem que já ganhou as telas (tanto as grandes quanto as menores) dezenas de vezes. O ''Oliver Twist'' do título é vivido pelo adorável Barney Clark. A história é sobre o órfão mais notório da literatura inglesa que, depois de perder os pais, vai parar em um orfanato que explora mão-de-obra infantil. Oliver consegue fazer com que uma família que fabrica caixões o adote, mas os maus tratos não têm fim. Assim, o menino resolve ir à pé mesmo para Londres. Com os pés em carne viva, logo ele conhece Artful Dodger (Harry Eden), um verdadeiro trombadinha. Mas nosso pequeno herói não tem nem onde dormir, muito menos onde comer, e é o velho Fagin (Ben Kingsley) que o abriga. Artful e mais alguns meninos vivem na casa de Fagin, que mantém um verdadeiro time de trombadinhas que vive pelas ruas de Londres furtando. Logo, Oliver aprende os ofícios de seus colegas. Grande parte do encanto de Oliver Twist vem da escolha do protagonista. Mirrado, de olhar doce e desprotegido, Barney Clark encarna com perfeição a inocência do personagem, que perde os modos na grande cidade, mas não o coração. Outro destaque no elenco vai para Ben Kingsley, irreconhecível sob muita maquiagem para viver o velho larápio Fagin. ''Oliver Twist'' não pode ser considerado um marco cinematográfico, ou mesmo revolucionário. Muito pelo contrário: trata-se de uma adaptação certinha desta clássica história. O filme não mostra inovações, mas tem a talentosa direção de Polanski, o que já conta muito. Afinal, além das interpretações, outro ponto forte do longa é como o cineasta polonês constrói as cenas de forma tão perfeita e correta." (Angelica bito)

R.P. Productions Runteam II Ltd. ETIC Films Medusa Film Runteam

Top República Tcheca #13

Diretor: Roman Polanski

23.616 users / 10.82 face

Check-Ins 621 36 Metacritic

Date 13/07/2014 Poster - #####

32. The Flavor of Corn (1986)

93 min | Drama

Lorenzo, a handsome first-year professor in an isolated Italian village, falls under the spell of his most beguiling pupil, a dark-haired, starry-eyed 12-year-old named Duilio. As Lorenzo's... See full summary »

Director: Gianni Da Campo | Stars: Lorenzo Lena, Marco Mestriner, Alba Mottura, Egidio Termine

Votes: 481

[Mov 07 IMDB 7,1/10] {Video}

O SABOR DO GRÃO

(Il Sapore del Grano, 1986)



Sinopse

''Lorenzo é um professor recém-formado que vai ensinar num vilarejo rural da Itália. Após fazer amizade com o seu aluno Duilio, ele se vê envolvido em situações complexas que colocarão em cheque suas certezas sobre identidade e sentimentos.''
Antea Cinematografica RAI 3

Diretor: Gianni Da Campo

240 users / 12 face

Check-Ins 630

Date 13/07/2014 Poster -

33. The Soloist (2009)

PG-13 | 117 min | Biography, Drama, Music

61 Metascore

A newspaper journalist discovers a homeless musical genius and tries to improve his situation.

Director: Joe Wright | Stars: Jamie Foxx, Robert Downey Jr., Catherine Keener, Tom Hollander

Votes: 55,401 | Gross: $31.67M

[Mov 03 IMDB 6,6/10 {Video/@@} M/61

O SOLISTA

(The Soloist, 2008)


"É todo correto, mas em uma história que deveria ser tão humana, há pouca emoção, ou a emoção que há soa fabricada demais, apesar das interpretações boas." (Alexandre Koball)

"Surpreende o fato de que nem mesmo todo o talento presente consegue construir um filme envolvente. A relação entre os personagens jamais se torna crível ou real e o roteiro se constrói sobre uma estrutura esquemática. Nathaniel é uma caricatura." ( Silvio Pilau)

"Até sua metade, "O Solista" é um ótimo filme, que mescla emoção com sequências muito bem trabalhadas pelo diretor Joe Wright. Algumas cenas proporcionam grande experiência sensitiva, mas, depois de um tempo, o longa fica arrastado e pouco conta de novo." (Emilio Franco Jr)

"Essa primeira tentativa de Joe Wright em dirigir um filme que não seja de época é decepcionante. Toda previsível, caricata, e surpreendentemente impessoal." (Heitor Romero)

"O primeiro trabalho de Joe Wright nos Estados Unidos é superficial e maniqueísta. Joe Wright saiu de aclamadas adaptações literárias britânicas para tentar sua grande chance nos Estados Unidos, fazendo o que muitos no início de 2008 consideravam o mais forte candidato ao Oscar para o ano seguinte, ''O Solista''. Fazia sentido: Robert Downey Jr. e Jamie Foxx em um drama sobre esquizofrenia, música e superação, baseado numa história real. Parecia a fórmula certa para os membros da Academia. Infelizmente, Wright perdeu completamente a linha, fazendo um longa-metragem chato, simplista e maniqueísta. A história tenta ser comovente: Downey Jr. vive Steve Lopez, um jornalista do L.A. Times com urgência na busca de uma boa matéria. Ele parece encontrá-la ao descobrir Nathaniel Ayres (Foxx), um sem-teto que toca violino na frente do jornal. A entrevista com Ayres resulta numa série de artigos premiados, e eles viram amigos. Em nenhum momento encontramos motivos convincentes para Steve prosseguir em sua relação com Nathaniel; não que ele seja uma pessoa sem caráter ou sem coração, mas do jeito que Wright nos apresenta a trama, a relação de Steve com Nathaniel parece ser uma normal de jornalista com o sujeito de uma história. É compreensível que Lopez tenha visto nele um assunto interessante para seus artigos e transformá-lo em livro, mas não que se tenha criado uma relação de cumplicidade e aprendizado mútuo como o filme insinua. Ajudar ele a arrastar seus pertences até o local dos ensaios parece apenas um modo de conseguir uma boa matéria do que realmente uma tentativa de ajudar o próximo. E é exatamente o oposto que o longa-metragem nos tenta empurrar. O filme se arrasta em tentar nos convencer da transformação que Steve teria realizado em sua relação com Nathaniel, sua família, os outros e consigo mesmo após o convívio com o músico. E seus interesses jornalísticos são sempre tratados como supérfluos, uma barreira contra os sentimentos que deveriam ser verdadeiros, do coração. O roteiro não consegue oferecer nada aos atores, que ligam o automático. Robert Downey Jr. conquista com seu carisma habitual, mas falha em nos apresentar uma personagem interessante, que consiga segurar o filme. Não é questão de ter motivos especiais ou passar por transformações edificantes. É simplesmente ter uma caracterização convincente com motivos reais. Downey Jr. vive, ao contrário, alguém que somente passa pela tela, um fantasma de alguma personagem real. Ao menos, o ex-intérprete de Chaplin não chega ao nível vergonhoso de Jamie Foxx, que parece compor sua personagem como um homem sem-teto que usa roupas estranhas, tem um cabelo todo peculiar e sai por aí carregando coisas e gritando alto. Em nenhum momento parece que vemos alguém que existiu, apenas uma caricatura mal feita. Já a sempre competente Catherine Keener aparece completamente apagada da trama. A sub-trama da família Lopez, aliás, é completamente mal aproveitada, e suas cenas soam vazias, provavelmente tendo partes eliminadas na versão final da edição. Falando ainda em família, as cenas de flashback nunca funcionam, não nos explicando nada sobre Nathaniel, sua doença e seu passado. O final, remediador, é mais triste ainda. Aliás, as coisas só pioram quando Wright ainda nos informa em uma cartela que existem tantos milhares de sem-teto na cidade de Los Angeles, transformando aquele drama que poderia ter sido interessante e humano em um mal da sociedade, o que só agrava o aborrecimento com um discurso tão maniqueísta, mas que acaba complementando perfeitamente o resto do filme." (Mateus Nagime)

Filme paternalista chama atenção para o drama de um gênio incompreendido: o jornalista.

''O Solista'' começa de madrugada. O jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) sai de casa para andar de bicicleta, ao mesmo tempo em que a picape de distribuição de jornais começa a circular por Los Angeles. Os cortes cruzados dão a impressão de que a picape vai acabar atropelando o ciclista, mas isso não acontece. O personagem que dá nome ao filme - e cuja história real, contada por Lopez em sua coluna no jornal Los Angeles Times, serve de base a O Solista - surge dias depois, tocando violino aos pés de uma estátua de Ludwig van Beethoven. Nathaniel Anthony Ayers Jr. (Jamie Foxx) mora na rua, mas já foi aluno da prestigiada escola de arte Julliard. Quem descobre isso é Lopez, e logo toda a cidade descobre Nathaniel também. Acompanhamos flashbacks com o passado do músico mais por uma questão de protocolo - é o lado clínico de O Solista aflorando, para nos mostrar com ciência e em detalhes como sofre uma pessoa com esquizofrenia, como é o caso de Nathaniel. Mas o que interessa de verdade ao filme é Steve Lopez. O solista de fato é ele, o jornalista, dedilhando o seu dom em extinção para uma platéia desatenta, o povo de Los Angeles. Repare, antes de mais nada, como o diretor Joe Wright (Desejo e Reparação) emparelha a genialidade de Nathaniel ao ofício de Lopez. São dois solitários - um trocou a família pelas ruas, outro chega em casa e não há mensagens na secretária eletrônica. São dois obcecados - um trabalha sozinho no jornal até altas horas, o outro toca o próprio braço como se fosse um violoncelo - e essa obsessão os impede de executar qualquer outra coisa. Nathaniel toca as sinfonias de Beethoven de cabeça mas não consegue terminar sentenças. Lopez escreve muito bem, mas mal consegue acertar o potinho para o teste de urina. Acima de tudo, Lopez e Nathaniel são solistas porque parecem ser os últimos de suas espécies. Outro instrumentista que aparece no filme coloca a sua religião acima da música, e Nathaniel vê na música um meio e um fim. Já Lopez resiste em meio a uma imprensa em mutação, inconformado que Lindsay Lohan ainda seja notícia, assistindo às demissões em massa de seus amigos de LA Times. É de um proselitismo atroz essa primeira metade de ''O Solista'', com a mão pesada de Wright tratando jornalismo como arte para poucos e a cidade como uma orquestra, fazendo pombas voar sobre as vias sinfônicas de Los Angeles, conclamando todos a olhar para o Katrina de cada dia, os miseráveis que dormem na rua mas têm, cada um, a sua bandeira dos EUA - como o diretor nos mostra com planos grandiloquentes de grua. O paternalismo que segue até o fim do filme, pontuado pelo overacting dos protagonistas, pode convencer muito espectador de coração bom, mas não se engane com a aparente benevolência: o drama de Nathaniel só existe, no fim das contas, para elevar o drama maior de Lopez. Porque o jornalista foi, sim, metaforicamente, atropelado pela picape dos jornaleiros, e filmes como ''O Solista'' tentam estender a mão a esse tipo em crise existencial, carente de socorro ou pelo menos de atenção." (Marcelo Hessel)

''Joe Wright estreou na direção de um longa-metragem em 2005 e, com Orgulho e Preconceito, já mostrou que pretendia fazer o que muitos cineastas não conseguem: trazer frescor ao cinema norte-americano. Depois de dois filmes de época (Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação), Wright volta-se a uma história contemporânea real e segue mostrando representar um suspiro de alívio em meio à mesmice. Uma série de reportagens escrita pelo colunista do jornal Los Angeles Times Steve Lopez serve como base para o roteiro de O Solista, escrito por Susannah Grant (indicada ao Oscar em 2001 pelo roteiro de Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento). Robert Downey Jr. atua como Lopez, que descobre o sem-teto Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), que, por conta da esquizofrenia não-medicada, saiu de casa e abandonou o curso de música na conceituada escola de artes Julliard, preferindo viver nas ruas de Los Angeles tocando seu violino de duas cordas. As reportagens de Lopez despertam a atenção da comunidade numa época em que o jornalismo impresso começa a entrar em crise com a crescente popularização da internet. Mas esta não é a principal questão de ''O Solista'', mas sim a forma degradante e miserável que sem-tetos vivem nas ruas de uma metrópole na proporção de Los Angeles, mas que poderia ser São Paulo. Uma história como a de Ayers poderia surgir sob um viaduto ou numa esquina próxima a você. Da mesma forma que Ayers tira beleza de seu miserável violino, Wright é capaz de encontrá-la numa história triste como esta. Fugindo da armadilha de abusar do tom piegas ao explorar esta história, armadilha fácil por aqui, o filme aborda essa amizade improvável desenvolvida entre os dois protagonistas, ao mesmo tempo em que desenvolve um drama conduzido pelo problema mental de Ayers que, como tantos outros sem-teto reais que fazem figuração no filme, é incapacitado de seguir com seus planos de ser músico profissional, ou mesmo viver em sociedade, por conta da esquizofrenia não-medicada, comprometendo qualquer tipo de relação, até com seus familiares. Mas ainda é capaz de se relacionar com a música. Aliás, uma das mais belas cenas de O Solista está no momento quando Ayers assiste ao ensaio de uma orquestra. O coração acelera e, por meio de luzes coloridas, Wright traduz em imagens o que o protagonista poderia estar visualizando com os olhos fechados e o estímulo da poderosa música que ouve. Mesmo abordando a beleza da arte e a forma como ela tem impacto na vida dos protagonistas, ''O Solista'' também não tem pudores para mostrar a crueldade da vida miserável nas ruas de Los Angeles, mais precisamente no Skid Row, que, além de nomear banda de hard rock que costumava ser liderada por Sebastian Bach e fez sucesso no início dos anos 90, também é o bairro onde os sem-teto vivem na cidade. As filmagens, aliás, realmente ocorreram por lá. Para conseguir realizar um filme emocionante e consistente como O Solista, Wright conta com as atuações magistrais de Downey Jr. e Foxx. Aliás, se ele ganhou o Oscar pela atuação em Ray (2004), nada mais justo e coerente do que levar a estatueta para casa novamente por este trabalho, que, no mínimo, receberá uma indicação aos prêmios da Academia." (Angelica Bito)

DreamWorks SKG Universal Pictures Studio Canal Participant Media Krasnoff Foster Productions Working Title Films

Diretor: Joe Wright

38.494 users / 4.562 face

Soundtrack Rock = Neil Diamond + The Temptations

Check-Ins 145

Date 23/03/2013 Poster - ##

34. The Saint (1997)

PG-13 | 116 min | Action, Adventure, Romance

50 Metascore

Simon "The Saint" Templar (Val Kilmer), is a thief for hire, whose latest job to steal the secret process for cold fusion puts him at odds with a traitor bent on toppling the Russian government, as well as the woman who holds its secret.

Director: Phillip Noyce | Stars: Val Kilmer, Elisabeth Shue, Rade Serbedzija, Valeriy Nikolaev

Votes: 72,264 | Gross: $61.36M

[Mov 05 IMDB 6,1/10 {Video/@@} M/50 O SANTO

(The Saint, 1997)


''Um garoto órfão recusa o nome dado a ele por um sacerdote e resolve chamar a si mesmo de Simon Templar. Já adulto (Val Kilmer), ele se torna um conhecido ladrão internacional que é um mestre nos disfarces e que assume nomes associados a santos. Desta vez ela foi contratado por Ivan Tretiak (Rede Serbedzija), um magnata e mafioso russo, que quer que ele roube a formula de fusão a frio desenvolvida por Emma Russell (Elisabeth Shue), uma bela e jovem cientista inglesa. Teoricamente falando, a fusão a frio permite uma nação aquecer seus cidadãos com apenas alguns litros de água, e Tretiak espera se tornar dentro deste contexto o grande líder que a Rússia precisa. Quando Simon terminar este serviço terá 50 milhões de marcos em sua conta na Suíça e vai então se aposentar, mas o notório ladrão não contava que iria se apaixonar por Emma Russell." (Filmow)

Paramount Pictures Rysher Entertainment Mace Neufeld Productions

Diretor: Phillip Noyce

45.838 users / 1.372 face

Sountrack Rock = David Bowie + Daft Punk + Smashing Pumpkins + Moby + Fluke + The Chemical Brothers + Underworld + Everything But The Girl + Orbital + Duran Duran

Check-Ins 148

Date 06/05/2013 Poster - ####

35. Love in the Time of Cholera (2007)

R | 139 min | Drama, Romance

43 Metascore

Florentino, rejected by the beautiful Fermina at a young age, devotes much of his adult life to carnal affairs as a desperate attempt to heal his broken heart.

Director: Mike Newell | Stars: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, Benjamin Bratt, Gina Bernard Forbes

Votes: 24,134 | Gross: $4.61M

[Mov 03 IMDB 6,2/10 {Video/@} M/43

O AMOR NOS TEMPOS DE CÓLERA

(Love in the Time of Cholera, 2007)


"Uma bonita história de uma vida dedicada ao amor não correspondido de uma única mulher. Locações belíssimas. De negativo, excesso de melodrama em alguns momentos e maquiagem fraca, muito artificial." (Alexandre Koball)

Constrangedor festival de caricaturas faz filme parecer novela da Globo.

''O Amor nos Tempos do Cólera'' é uma película com uma quantidade erros tão grande que chega a ser tarefa difícil enumerá-los todos. Em primeiro lugar, é importante salientar que esta análise é feita apenas a partir do filme, ou seja, deixa de lado o livro de Gabriel García Márquez para se deter nos 139 minutos da (descuidada) produção cinematográfica. É impressionante a capacidade que se teve de conseguir passar emoção nula e, em vez disso, trazer à tela apenas uma quantidade de tipos rasos e insípidos. Para falar dos erros grosseiros, há pelo menos dois que saltam aos olhos como se o filme fosse em 3D. O primeiro deles é o idioma. Claro que será sempre um dilema essa escolha em produções que se passem em países que não falam inglês. Afinal, há três opções: usar atores locais falando o próprio idioma (no caso, latinos falando espanhol), dispor dos mesmos atores falando inglês ou, ainda, escolher um elenco que fale inglês fluente. A primeira opção, sem dúvida, seria a mais indicada para esse filme, se fosse o objetivo manter o clima latino e contar uma história passional e desesperada – em vez de fria e caricata. A terceira opção, por sua vez, teria como vantagem, sendo falado em inglês, a universalidade e, tudo bem, seria possível conseguir um elenco de bons atores de origens latinas (ou com esse traço) que fosse fluente no idioma anglo-saxão. No entanto, a escolha foi pela opção mais pavorosa das três, que faz o espectador se sentir numa sala de aula do Yázigi. Uma italiana, um espanhol, uma brasileira e muitos outros latinos falando um inglês tenebroso é algo que traz prejuízo sério à experiência de assistir ao filme – não só soa falso como, de fato, incomoda –, é abusar da paciência do público. Somado a isso, uma segunda escolha infeliz contribui para esse clima artificial que há no filme: a lógica da idade dos personagens é mandada para o espaço. Primeiro, um Javier Bardem ridiculamente velho para a idade que representa. Depois, um elenco que intercala pessoas que não envelhecem nada com algumas em que é aplicada uma maquiagem constrangedora para exibir alguns anos a mais. Sim, a maquiagem é de um grau de pobreza que chega a parecer que se trata de (mais uma) piada dos produtores. Com essas duas fraquezas sérias, o filme já começa comprometido desde o início. Aí que vem mais um elemento a jogar junto das outras duas (e contra o público): a quantidade de cenas caricatas é (in)digna de novela de tevê. A primeira delas, quando o personagem morre ao tentar pegar, sabe-se lá por que motivo, um papagaio, já prepara para o pior que está por vir. Depois, são dezenas delas, com grande destaque negativo para a cena com a viúva Nazaret, com humor pobre e artificial como os piores momentos de uma novela das sete. Aí surge outro ponto que só pode gerar incredulidade: em que estavam pensando ao tentar substituir um possível texto sério, com altas doses de drama e desespero, por uma história contada de maneira superficial e caricata, beirando o ridículo, com piadas constrangedoras e de uma pobreza inaceitável para uma produção que carrega tantos nomes de respeito? Por que motivo foi escolhido deixar de lado a carga dramática da imensa dor que o personagem Florentino carregava em troca de uma série de piadas ruins que o tornam superficial e afastam qualquer possibilidade de que o público se compadeça de sua agrura? Pois isso seria fundamental para o filme funcionar: que o espectador se visse tomado pela aflição do homem. No entanto, a quantidade de escolhas infelizes garante a impossibilidade de que isso aconteça e proporciona o certo naufrágio do que poderia ter sido (e acredita-se que fosse esse o objetivo) uma bela história de amor. Para comprometer ainda mais, o roteiro tem problemas sérios. Há personagens que não se explicam, que somem da história, subtramas sem sentido e totalmente desnecessárias. A própria figura da mãe de Florentino, em interpretação bizarra de Fernanda Montenegro, jamais acrescenta algo, jamais consegue se justificar. O momento que poderia trazer alguma riqueza e tom dramático – sua morte – só serve para fazer uma piadinha no funeral. E nada mais. Assim, toda a possibilidade de paixão é alijada. É desesperador ver uma personagem tão mal construída, tão vazia de sentido como a Fermina – que deveria ser responsável por mover a trama e não passa de um bibelô, pois jamais é explorada uma emoção sua sequer, um momento que mostre o que ela sentia, que a fizesse humana. Com isso, na cena em que ela despreza Florentino, tudo soa gratuito e sem motivo. Afinal, a essência da personagem foi sonegada. Assim, restam apenas marionetes, figuras caricatas e totalmente destituídas de humanidade. Exatamente como em uma novela de tevê. Em tempos de premiações e listas, ''O Amor nos Tempos do Cólera'' seria um perfeito candidato à Framboesa de Ouro." (Rodrigo Rosp)

Faltam entranhas à adaptação do belo romance de Gabriel García Márquez.

"Quando li pela primeira vez ''O Amor nos Tempos do Cólera'', um amigo que me emprestou o romance avisou categórico: "Cem Anos de Solidão é incrível, mas o próprio Gabriel García Márquez disse que este é o livro que ele escreveu com as entranha. Se o colombiano prêmio Nobel de literatura realmente declarou isso ou não, não sei - e a história é boa demais para ser desmentida por uma eventual busca no Google. Gosto dela assim. De qualquer forma, o que falta ao filme que adapta o livro é justamente isso... entranhas. Mike Newell (O sorriso de Mona Lisa, Harry Potter e o cálice de fogo) é um diretor razoável, mas a passagem da apaixonada obra, supostamente inspirado pela história real do amor dos pais do escritor, às telonas é burocrática. World Movie demais. Talvez até assustada com a responsabilidade de transformar um dos maiores romances de todos os tempos em filme. Numa primeira análise, salva-se a fotografia de Affonso Beato, que, como já era esperado, é linda, brilhante, com uma reconstituição de época competente (as tomadas externas de Cartagena são especialmente belas). Mas mesmo ela cai no lugar-comum dos papagaios, bananas e trepadeiras. Coisa pra inglês ver. Literalmente. Afinal, o filme é todo falado em inglês exótico, com sotaque carregado, em detrimento do espanhol - língua falada por boa parte do elenco, como John Leguizamo (Terra dos Mortos), Hector Elizondo (O Diário da Princesa 2), Benjamin Bratt (O lenhador) e Catalina Sandino Moreno (Maria cheia de graça), todos em papéis secundários. E mesmo quem não fala espanhol tem nas línguas latinas seu idioma, como a brasileira Fernanda Montenegro (Casa de Areia), que consegue brilhar em algumas pequenas cenas como a mãe do personagem principal. Espanhol mesmo só na decente trilha sonora, especialmente composta pela conterrânea de Garcia Márquez Shakira, num tom completamente distinto de sua obra pop/rock habitual. No papel do casal de protagonistas - Fermina Daza, amor perdido do apaixonado Florentino Ariza, que dedica 50 anos de sua vida a resgatá-la - estão Javier Bardem (Segunda-feira ao Sol) e a italiana Giovanna Mezzogiorno (O último beijo). A atriz não faz feio, convence em todas as fases da vida da personagem. Mas Bardem, pela primeira vez em sua carreira, parece deslocado, um pouco constrangido até. O homenzarrão que fez chorar em Mar adentro, que assusta em Onde os Fracos Não Têm Vez e causa repulsa em Sombras de Goya, aqui simplesmente não encontra o tom. O choro é fingido, o alento do sexo com estranhas é mal explorado e a dor de amor não é sentida, o que tira a força de todo o filme. O amor, força motriz da história, dessa forma parece mero capricho. Garcia Márquez relutou por anos em ceder os direitos para a adaptação. Foi finalmente convencido depois dos produtores jurarem fidelidade à obra. Mas fidelidade em Hollywood não significa necessariamente entendimento à proposta. A adaptação de Ronald Harwood (O Pianista) mantém os elementos principais (supostamente o próprio Márquez revisou o texto) mas a falta de personalidade e sensibilidade do diretor limou todas as sutilezas, o erotismo, a trama intrincada e a profundidade dos personagens. O resultado é um mingauzinho leve... bem mastigadinho, coisa pra quem não tem entranhas mesmo." (Erico Borgo)

"O crítico paraense de cinema, jornalista e meu amigo Ismaelino Pinto disse certa vez uma frase que guardei fundo na minha memória. Sempre bem-humorado e sarcástico, ele afirmou que a gente sabe quando um filme brasileiro de época é bom prestando atenção nas perucas. Se as perucas estão mal-feitas, cuidado com o filme: tudo vai sair errado. Lembrei-me imediatamente desta divertida citação logo na primeira cena de O Amor nos Tempos do Cólera. O filme, obviamente, não é brasileiro, mas a frase cabe perfeitamente. Que perucas são aquelas? E a maquiagem de envelhecimento? Parece produção barata do SBT. Como uma produção norte-americana como estas, de orçamento estimado em US$ 45 milhões, pode ser iniciada com uma cena típica de A Paixão de Jacobina? Resolvi relaxar e dar um desconto. Talvez algo tenha dado errado nesta primeira cena e a partir daí o filme decole. Que engano! Quanto mais a longa (138 minutos) projeção avança, mais se percebe que a peruca era o menor dos problemas. O diretor inglês Mike Newell (de Quatro Casamentos e um Funeral) mostra a cada minuto que não tem a mínima intimidade com o universo cultural latino-americano, muito menos com a obra de Gabriel García Márquez, que só não está bufando em seu túmulo porque ainda não morreu. O que ele deve ter desejado após ver o filme. Tudo é tristemente caricato, falso, com um elenco no qual atores latinos e não-latinos nivelados são por baixo em interpretações dignas de um novelão mexicano. As falas são solenes, os movimentos teatrais e o timming dos mais sonolentos. De nada adiantou a produção se deslocar até a Colômbia, terra natal de Márquez, se foram perdidos completamente a magia e o encanto do texto original. A história? Ah, sim, a história: o poeta e telegrafista Florentino Ariza (Javier Bardem, tadinho) apaixona-se fulminantemente e à primeira vista pela bela Fermina Daza (Giovanna Mezzogiono) e passa a lhe escrever intensas cartas de amor. Mas, sob pressão do pai, Fermina acaba se casando o médico aristocrata Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), o que provoca em Florentino uma dor de cotovelo de várias décadas. Para se distrair, ele passa a colecionar casos de amor. Mais uma vez, o cinema anglo-saxão reduz a pó a riqueza da cultura latino-americana. Um desastre." (Celso Sabadin)

65*2008 Globo

New Line Cinema Stone Village Pictures Grosvenor Park Media

Diretor: Mike Newell

16.710 users / 3.700 face

Check-Ins 151

Date 08/05/2013 Poster - ######

36. Exorcist II: The Heretic (1977)

R | 117 min | Horror

39 Metascore

A teenage girl once possessed by a demon finds that it still lurks within her. Meanwhile, a priest investigates the death of the girl's exorcist.

Directors: John Boorman, Rospo Pallenberg | Stars: Richard Burton, Linda Blair, Louise Fletcher, Max von Sydow

Votes: 28,379 | Gross: $30.75M

[Mov 03 IMDB 3,6/10 {Video/@}

O EXORCISTA 2 - O HEREGE

(Exorcist II: The Heretic, 1977)


''Anos depois de ter sido libertada pelas forças do mal, a jovem Regan (Linda Blair) volta a ouvir vozes e ter delírios. Com a ajuda de uma psicanalista, tenta se curar, mas só mesmo com a ajuda de um exorcista poderá afastar de vez o demônio.'' (Filmow)

"Há belas imagens e boas idéias, mas tudo se perde em meio a muitas pretensões e bobagens, nessa sequência que, se comparado ao filme original, é um verdadeiro fiasco." (Vlademir Lazo)

"Guilty pleasure?" (David Campos)

Warner Bros

Diretor: John Boorman

13.592 users / 546 face

Check-Ins 152

Date 08/05/2013 Poster - ###

37. The Internship (2013)

PG-13 | 119 min | Comedy

42 Metascore

Two salesmen whose careers have been torpedoed by the digital age find their way into a coveted internship at Google, where they must compete with a group of young, tech-savvy geniuses for a shot at employment.

Director: Shawn Levy | Stars: Vince Vaughn, Owen Wilson, Rose Byrne, Aasif Mandvi

Votes: 215,131 | Gross: $44.67M

[Mov 03 IMDB 6,3/10] {Video/@@@} M/42

OS ESTAGIÁRIOS

(The Internship, 2013)


TAG SHAWN LEVY

{cansativo / esquecível}


Sinopse

''Dois vendedores tiveram suas carreiras destruídas pela era digital. Para provar que não estão obsoletos, a dupla vai participar de um estágio no Google, ao lado de inúmeros estudantes brilhantes que buscam uma carreira na empresa. Mas entrar para o estágio é apenas a metade do caminho. Agora, eles vão precisar competir com os inteligentes e tecnológicos jovens para provar que a necessidade é, realmente, a mãe da reinvenção.''
"Apesar de ser basicamente uma grande propaganda do Google (que é simpático como empresa, apesar de ter um leve ar de arrogância), Os Estagiários é muito divertido se você simpatiza com a dupla Vaughn e Wilson." (Alexandre Koball)

"Não dá para negar que é um grande e caro comercial da Google, mas tem toda a pinta de um filme da Sessão da Tarde, daqueles que divertem pela inocência, sem a pretensão de te dar algo a mais. Os créditos, que mostram os serviços da empresa, são ótimos!" (Rodrigo Cunha)

"O problema não é nem o fato de ser formulaico e repleto de clichês, mas que simplesmente não há um único momento genuinamente engraçado. A dinâmica entre Vaughn e Wilson já cansou na metade de 'Penetras Bons de Bico'. Só quem sai ganhando é o Google." (Silvio Pilau

Uma longa campanha marqueteira.

''Por parte da parceria entre Owen Wilson e Vince Vaughn, que já nos castigaram tanto em seus trabalhos individuais e agora se unem mais uma vez depois de Penetras Bons de Bico (Wedding Crashers, 2005) para provar a eficiência infalível da lei de Murphy, já era de se esperar algo no máximo chato. Ou talvez não esperar nada, tanto faz. Por parte da sinopse sobre dois quarentões abestados que disputam uma vaga nos paradisíacos acomodamentos de trabalho da gigante Google (como tobogãs, restaurantes diversos, redes para descanso) dava para esperar algo ao menos dinâmico. Na balança, o lado ruim obviamente pesou, mas o mais frustrante de ''Os Estagiários ''(The Internship, 2013) é ver que Wilson e Vaughn são o menor dos problemas da equação, por incrível que pareça. Na era digital, da internet e das redes sociais, o cinema vem timidamente fazendo sua parte em documentar a vida moderna, seja David Fincher com o seu aclamado A Rede Social (The Social Network, 2010), ou mesmo Ashton Kutcher procurando se afirmar como ator sério ao interpretar o fundador da Apple em jOBS (idem, 2013), passando por Brian De Palma e seu Guerras Sem Cortes (Redacted, 2007), até os obrigatórios trabalhos didáticos sobre as maleficências do uso indevido dos recursos modernos, como Confiar (Trust, 2010). Mesmo no terreno do terror, Wes Craven já se aventurou pelo tema ao ressuscitar, repaginar e adaptar sua famosa cine-série para a nova geração com Pânico 4 (Scream4, 2011), em que o psicopata desta vez escolhe matar suas vítimas em tempo real, ao vivo na internet. Claro que cedo ou tarde pessoas como Vince Vaughn e sua trupe de amigos que amam fazer filmes juntos para se divertir e ganhar rios de dinheiro logo se interessaria pelo tema. Em seus filmes recentes, Vaughn sempre interpreta o trintão/quarentão que não soube crescer e se adaptar à vida adulta, assim como Owen, Adam Sandler, Luke Wilson, Will Ferrell e cia. No caso de Os Estagiários, temos o acréscimo da discussão de um tema bastante relevante, sobre os profissionais que não conseguiram acompanhar o avanço da tecnologia e hoje ralam para se manter no mercado de trabalho, ou sobre a nova geração de trabalhadores jovens a atuar em cargos importantes de grandes empresas, apesar da relativa inexperiência de vida, ou sobre a competitividade cada vez mais acirrada para a conquista de bons cargos empresariais. Principalmente, rodear o tema mais pertinente, sobre a estratégia de muitas empresas em tornar o ambiente de trabalho extremamente confortável e prazeroso para assim manter seus funcionários por mais tempo em serviço. Mesmo fadado ao excesso de piadinhas idiotas e a inerente falta de timing cômico de seus atores principais, Os Estagiários poderia se mostrar uma obra interessante – obviamente, não ao nível de discussão de um A Rede Social, mas com certeza o suficiente para não avacalhar com tudo. No entanto, a ideia de ambientar um filme dentro da empresa mais cobiçada por quase todo mundo do ramo, é aproveitada apenas para puro marketing e se transforma num projeto institucional. Seria inocente pensar que as propagandas seriam evitadas, mas não há uma única piada entre toda a produção que se atreva a cutucar a Google, ou satirizar saudavelmente com o poder da marca. Tudo ali é claramente controlado para não ofender ninguém e propagandear o mais famoso site de buscas do mundo e todas as suas marcas filiadas, tanto que o roteiro foi revisado clinicamente pela empresa antes de ser aprovado. Não tendo com o que fazer piada, a dupla recorre aos velhos truques e macaquices que não arrancam mais que um sorriso amarelo, e o mote volta a se resumir na já desbotada, surrada, esgotada e apodrecida retratação da geração de adultos que não souberam amadurecer e crescer, vide Gente Grande (GrownUps, 2010). Ninguém melhor do que Vince Vaughn e Owen Wilson para falar disso, por serem autoridades e exemplos absolutos de caras que passam a vida atrás de farra, se divertindo e relembrando os momentos de glória do colegial e da faculdade. E para quem não aguenta mais assistir a essa reciclagem, e só está curioso em conhecer um pouco mais sobre o interior de uma das maiores empresas do mundo, ''Os Estagiários'' garante o serviço completo e nos apresenta uma interminável propaganda de duas horas sobre as maravilhas de se trabalhar no paraíso.'' (Heitor Romero)

Merchandising do Google chega com piadas 10 anos atrasadas.

''Owen Wilson e Vince Vaughn conquistaram as bilheterias em 2005 com a comédia Penetras Bons de Bico. Sete anos depois, ''Os Estagiários'' (The Internship, 2013) tenta repetir a fórmula de sucesso, colocando ambos para mais uma rodada de diálogos rápidos, muita química e improviso. A trama os acompanha como vendedores encarando a triste realidade de um país em recessão. Sem habilidades além de sua lábia, os dois são mandados embora de seus empregos como distribuidores de relógios de luxo e precisam se reinventar - decidem ingressar em um dos mais difíceis e concorridos programas de estágios, o do Google. Em seu caminho, porém, além das limitações óbvias, está um grupo de jovens brilhantes e ambiciosos. Cabe aos dois buscar uma aliança com os nerds mais nerds entre os nerds todos para tentar vencer e obter as cobiçadas vagas de emprego no Vale do Silício. Diferente do longa anterior, porém, este economiza no tom adulto e aposta na abrangência familiar. Trata-se, afinal, do maior merchandising que o cinema já viu. A corporação Google, a mais desejada por todos os.jovens que trabalham.com tecnologia, é central à trama e apoiou toda a produção. No caso dos merchans, issos ignifica não apenas algum aporte de capital, mas também uma extensa lista de do's and dont's que certamente deve ter amputado do filme muita de sua acidez ou espontaneidade. O Google precisa manter sua imagem, afinal - e para o estúdio, não é sábio morder a mão que alimenta. Mas o resultado é demasiadamente formulaico, insosso e criado para agradar. As piadas entre analógico e digital e as referências aos anos 1980 ficam velhas rápido e o filme não sabe extrair o humor do parque de diversões que é o Google, insistindo no que parecem ser piadas internas da empresa. E pontua tudo isso com comédia física e exageros fora de contexto, como na visita à casa de strip tease. Fica confusa a intenção dos realizadores. Seria a de um Porky's light para a geração YouTube ou um novo A Vingança dos (mais) Nerds? De qualquer maneira, a sátira aos quarentões que não sabem o que é um aplicativo é simplesmente datada demais. Independente das limitações do texto, Wilson e Vaughn saem-se bem, como esperado. A química e os diálogos rápidos estão ali. Mas o subtexto da empresa de tecnologia salvando a economia através da criatividade e felicidade de seus funcionários é inocente demais em tempos de recessão econômica. Não é por acaso que o público dos EUA ignorou por completo o filme. Enquanto assistentes sociais, revistas e consultores clamam por reciclagem - e pessoas perdem seus empregos para posições do outro lado do planeta - ''Os Estagiários'' insinua que charme, perseverança e uma boa dose de decoreba são a chave para todos os problemas. Quem precisa de reciclagem quando o trabalho duro, mas sem esquecer a diversão entre amigos, é a tônica que lhe garantirá uma posição no finado Sonho Americano?" (Erico Borgo)

Twentieth Century Fox Film Corporation Regency Enterprises Wild West Picture Show Productions 21 Laps Entertainment TSG Entertainment

Diretor: Shawn Levy

143.983 users / 21.808 face


Soundtrack Rock

The Hives / War / Locksley / House of Pain / Alanis Morissette / The Cataracs
Check-Ins 635 36 Metacritic

Date 17/07/2014 Poster - #

38. Lord of War (2005)

R | 122 min | Crime, Drama

62 Metascore

An arms dealer confronts the morality of his work as he is being chased by an INTERPOL Agent.

Director: Andrew Niccol | Stars: Nicolas Cage, Ethan Hawke, Jared Leto, Bridget Moynahan

Votes: 336,986 | Gross: $24.15M

[Mov 03 IMDB 7,6/10 {Video/@@} M/62

O SENHOR DAS ARMAS

(Lord of War, 2005)


"Narrado em off demais, o filme atropela alguns pontos importantes para o entendimento de como o império foi construído, principalmente no começo da carreira e quando começou o acúmulo de dívidas. Apesar disso, tem bom humor e uma ótima mensagem." (Rodrigo Cunha)

"A sequência de abertura, com a câmera seguindo o caminho de uma carga de munição contrabandeada, praticamente vale o filme. O roteiro também é repleto de bons diálogos. E Nicolas Cage consegue a proeza de não atrapalhar. Bom filme." (Regis Trigo)

Um filme elucidativo sobre um tema que está trazendo cada vez mais caos a nosso mundo.

"Andrew Niccol é um cineasta que merece muito mais atenção do vem recebendo. Roteirista extremamente talentoso, ele não se limita a criar tramas originais com personagens bem construídos. Mais do que isso, Niccol é corajoso: basta assistir a filmes como O Show de Truman, Gattaca – Experiência Genética e até S1m0ne para verificar que ele não se acovarda diante de discussões sobre temas de alta relevância no mundo atual. Eis que chegamos ao seu último trabalho, "O Senhor das Armas". Dessa vez, Niccol conta a história da vida de Yuri Orlov, um ucraniano que imigra para os EUA com toda a família. Após presenciar um assassinato, ele decide ingressar no mundo de venda de armas. Em poucos anos, torna-se um dos maiores traficantes do planeta e, enquanto tenta escapar dos policiais que o perseguem, deve evitar que suas atividades influenciem sua família.Supostamente baseado em fatos reais (Niccol afirmou que Yuri Orlov é um amálgama de cinco traficantes existentes), O Senhor das Armas começa de maneira magistral. Parado sobre milhares de cartuchos usados, o personagem de Nicolas Cage dispara algumas frases que já deixam clara a moralidade de seu personagem: Existem mais de 550 milhões de armas de fogo em circulação no mundo. É uma para cada doze pessoas no planeta. A única pergunta é: como armar as outras 11? Em seguida, o espectador é apresentado a uma das melhores seqüências de créditos de abertura nos últimos anos. Andrew Niccol acompanha toda a trajetória de “vida” de uma bala, desde a sua fabricação até o seu destino final na cabeça de uma criança em algum país de terceiro mundo. É um momento brilhante e forte, tanto visual quanto conceitualmente. Se em seus trabalhos anteriores Niccol havia se demonstrado melhor roteirista do que diretor, em O Senhor dos Armas o realizador consegue atingir um equilíbrio entre as duas funções. Não obstante alguns problemas, que explicitarei mais adiante, o roteiro é inteligente o bastante para evitar as soluções fáceis e não resvalar em clichês. O ponto alto da trama é a forma como ele disseca o mundo do tráfico de armas. Muito mais do que um projeto com carga dramática, a força de O Senhor das Armas vem do fato de ser altamente elucidativo a respeito de um assunto sobre o qual o espectador pouco sabe. Além de mostrar a mecânica do tráfico, o roteiro é ousado para criticar as relações de poder entre os países, inclusive com a hipocrisia que as domina. A conversa final entre o personagem de Nicolas Cage e o policial interpretado por Ethan Hawke é emblemática nesse sentido, com o traficante acabando com qualquer ilusão que seu perseguidor tinha a respeito de justiça. Niccol também merece destaque como roteirista por não julgar o seu protagonista. Evitando o previsível arco dramático de fazer o personagem passar por uma redenção ao final, o cineasta opta por não apresentá-lo como mocinho ou como vilão, deixando esta decisão para o espectador. Isso engrandece a obra, uma vez que foge do melodrama e aumenta a verossimilhança da trama. O aspecto moral de Yuri Orlov, aliás, leva a outro ponto exemplar de O Senhor das Armas: os diálogos. Os momentos nos quais o personagem tenta justificar suas ações contêm frases de pura sagacidade de Niccol, como quando Yuri afirma que cigarro e carros matam muito mais pessoas do que armas. Mas o roteiro ainda oferece diversas outras pérolas, por exemplo, o momento no qual o traficante interpretado por Ian Holm diz: É mais garantido mudar governos com balas do que com votos. E já que falei da amoralidade do protagonista, é necessário destacar também que a escolha do intérprete de Yuri Orlov não poderia ter sido mais acertada. Além de ser um ator talentoso, Nicolas Cage possui uma imagem extremamente benévola com o público. Este fato é fundamental para que o espectador não sinta repulsa pelo personagem, o que seria fatal para O Senhor das Armas. O roteiro, no entanto, não é feito só de acertos. Talvez para condensar a história em apenas duas horas, a trajetória de Yuri é prejudicada por certos pulos. Senti falta, por exemplo, de mais detalhes sobre o início de sua carreira, especialmente na forma de como ele foi fazendo seus contatos. Se Niccol tivesse optado por começar sua trama quando o personagem já tivesse estabelecido na atividade, isso não seria problema. No entanto, como a intenção foi mostrar a jornada desde o início, estas lacunas acabam deixando questões sem respostas na mente do espectador. Da mesma forma, a história também enfraquece na abordagem da relação entre Yuri e sua família. Apesar de Bridget Moynahan ser linda, falta-lhe química com Cage, além de ser frustrante ver um roteiro tão corajoso apelar para cenas que caem no lugar-comum quando a esposa e o filho de Yuri entram em cena. Isso sem contar a inexplicável revolta da personagem de Moynahan quando descobre sobre as atividades do marido, uma vez que ela mesma havia demonstrado saber que ele estava envolvido em alguma atividade ilegal. Como já havia afirmado antes, a direção de Niccol é outro destaque de O Senhor das Armas. O cineasta imprime grande energia ao filme, não deixando o ritmo cair em momento algum. Ainda que o roteiro sofra com algumas falhas (já citadas), a produção mantém o dinamismo, fluindo de uma cena a outra se grandes percalços. Um dos exemplos do bom trabalho de Niccol, além da cena dos créditos de abertura, são as seqüências que envolvem os confrontos entre Yuri e Valentine, sempre ágeis e com ótimos diálogos, estabelecendo um interessante antagonismo entre os dois personagens. Outro fato a ser ressaltado é o tom descontraído com o qual Niccol conta o filme. Ainda que esteja longe de ser uma comédia, O Senhor das Armas tem momentos de cinismo e ironia que poderiam classificá-lo como uma espécie de sátira (como quando Yuri diz que nunca vendeu a Osama Bin Laden porque seus cheques sempre voltavam). Essa opção pela leveza resulta em uma dualidade que traz certa estranheza ao filme, pois, ao mesmo tempo em que torna a obra mais agradável de assistir, acaba amenizando o impacto que essa história poderia ter. No geral, ''O Senhor das Armas'' é um filme acima da média. Possui dois diferenciais: coragem e inteligência. Se já é difícil encontrar um deles na grande maioria do que sai de Hollywood hoje, é ainda mais raro achar essas duas características juntas na mesma obra. E só o fato de fazer o espectador pensar sobre um assunto tão importante já é um excelente motivo para assistir a este último trabalho de Andrew Niccol. Sabe quem vai herdar o mundo? Os traficantes de armas. Porque todo mundo está muito ocupado matando uns aos outros." (Silvio Pilau)

''Para Yuri Orlov (Nicolas Cage), protagonista de O Senhor das Armas, seu trabalho não é muito diferente do exercido por um homem que vende cigarros ou bebidas alcoólicas. Afinal, seu sustento é tirado da venda de armas, não ao apertar o gatilho e atirar nas pessoas mortas por uma ou algumas balas. A discussão ética que permeia todo o filme é pertinente especialmente em tempos de desarmamento e possível proibição da venda de armas. O protagonista de ''O Senhor das Armas'' é bom de lábia e sabe como faturar com isso. Não somente dinheiro, mas também a vida de seus sonhos, incluindo a garota que sempre desejou. Trabalhando como traficante de armas, Orlov abastece guerras em países do Terceiro Mundo com a ajuda de seu irmão Vitaly (Jared Leto). Entre balas e crianças empunhando metralhadoras, o negociante conta bolos de dinheiro e diamantes sem a moral para atrapalhar sua consciência. De uma forma cínica e tragicômica, o diretor Andrew Niccol (S1m0ne) conta a história desse traficante, que se confunde com a história mundial na medida em que ele encontra ditadores africanos, compra armas de uma Rússia recém-capitalista e abastece o Afeganistão para a luta contra os EUA. O grande destaque de ''O Senhor das Armas'' não está na discussão que pode levantar sobre o desarmamento - trazendo o contexto para nossa realidade. Afinal, tudo é visto de uma forma cínica e amoral demais. Mas a condução do filme é muito bem-feita, desde a primeira cena, quando a câmera acompanha a trajetória de uma bala desde a fábrica até a cabeça de um menino, até a última, quando vemos Orlov no meio de um chão forrado de balas. O roteiro, muito bem escrito, abre mão do moralismo para dar lugar à história em si, baseada nos fatos reais acontecidos na vida de cinco traficantes de armas que realmente existiram. Outro destaque fica na escalação do elenco. Nicolas Cage está em um daqueles papéis que não poderiam ter sido dados a outra pessoa. Jared Leto, que interpreta seu irmão, é outro que caiu como uma luva no personagem - que lembra o vivido pelo ator em Réquiem Para Um Sonho (2000), ponto alto de sua carreira. Para quem acha que ''O Senhor das Armas'' levanta alguma questão moral quanto a essa cultura armamentista - arraigada principalmente na sociedade americana, como já mostrou Michael Moore em seu Tiros em Columbine (2002) -, pense duas vezes. Com um protagonista tão carismático, é possível que o espectador tenha lapsos de loucura e realmente acredite que ele não tem nada a ver com guerras civis na África, por exemplo. O filme é cínico demais para querer levantar alguma questão e essa amoralidade chega a ser seu charme, para alguns, e seu maior defeito, para outros. Independente disso, trata-se, principalmente, de uma experiência muito bem-sucedida na questão da condução de uma história intrigante e chocante. Niccol encontra soluções na sua direção que tornam O Senhor das Armas uma bela peça cinematográfica." (Angelica Bito)

''Há muita coragem no lançamento do ''O senhor das Armas'' (Lord of war, 2005) às vésperas de um referendo histórico que pode proibir a venda e porte de armas de fogo no Brasil. Logo no início do filme, em uma rua coberta por balas dos mais diversos calibres, Yuri Orlov (Nicolas Cage) começa a despejar dados sobre a indústria na qual trabalha, a armamentista. Existem mais de 550 milhões de armas de fogo em circulação no mundo. Isso significa uma arma para cada 12 pessoas. A única pergunta é: como armar as outras 11?, diz ele sem demonstrar qualquer tipo de ressentimento. Para entender como ele chegou àquele estágio, um flashback nos leva aos anos 80. Sempre com uma locução em off, Yuri conta que imigrou da Ucrânia para os Estados Unidos com seus pais. Um dia, em um restaurante, ele tem uma epifania: matar faz parte da natureza humana, como comer, e assim começa a lucrar com esta necessidade, vendendo armas ilegalmente. Junto com seu irmão mais novo, Vitaly (Jared Leto), ele logo está negociando com pessoas de todos os tipos de ilicitude, do tráfico de drogas, ao maior de todos, o tráfico de influências da politicagem. Escrito e dirigido por Andrew Niccol (Gattaca, S1m0ne), o filme mostra detalhes da máfia controladora de uma indústria bilionária. Quem compra armas ilegais são os bandidos, os traficantes, os guerrilheiros, os tiranos, mas quem as fabrica são geralmente pessoas e conglomerados de muito poder entre as classes dominantes, não importa o país. Em Tiros em Columbine (2002), Michael Moore mostra detalhes da cultura belicista norte-americana. Niccol afasta sua câmera e mostra casos mundiais de generais corruptos roubando armas de seu próprio batalhão, traficantes armando seu próprio exército e líderes africanos colocando crianças armadas nas ruas. Embora os personagens pareçam formas caricatas do que já foi mostrado inúmeras vezes no cinema, na TV e nos jornais, todos os fatos foram pesquisados a fundo por Niccol. Os números são atirados como balas saindo de uma semi-automática, como por exemplo: Entre 1982 e 1992 foram roubados na Ucrânia mais de 32 billhões de dólares em armamento, no que acreditam ser o maior assalto do século 20. Ninguém foi condenado, ou investigado. A diferença do filme ficcional de Niccol com o documentário de Moore é que este último era tão maniqueísta ao falar da indústria que acabava deixando o tema irônico, afinal é cômico ver como os armamentistas tentam defender algo feito para matar. Já o personagem de Nicolas Cage é uma contradição ambulante. Méritos ao ator, que consegue transformar um vendedor de armas em um cara frágil e do qual você até pode nutrir algum sentimento positivo, quase um carinho. Yuri sabe que o que faz é errado, mas não consegue parar, pois ele é realmente bom no seu trabalho, estando sempre à frente dos seus adversários, sejam eles outros vendedores, ou a polícia. Seu azar/maldição é que este ramo é ilícito e, pior, responsável pela morte de milhares de pessoas por ano. Talvez o grande defeito de ''O senhor das Armas'' seja seu excesso de zelo. O filme mostra muito cuidado com toda a parte gráfica do filme, que apresenta um dos pôsteres mais bem trabalhados do ano e uma seqüência de créditos iniciais que mostra a vida de uma bala, desde o seu nascimento, até o seu objetivo final, entrando na cabeça de uma criança. Ao mostrar cenas bem filmadas, trilha sonora pop e até bom uso de computação gráfica, o longa corre o risco de cair na prateleira dos filmes-pipoca, perdendo assim seu selo de filme-denúncia. Ajuda também o texto escrito por Niccol, que transforma Yuri em um grande cínico. Há muita ironia no texto, como na citação de que após o fim da Guerra Fria, a AK-47 se tornou o maior ítem de exportação da Rússia. Seguido pela vodca, caviar e escritores suicidas, ou quando Yuri diz que não vendeu armas para Osama Bin Laden. Não por razões morais, mas porque ele só dava cheques sem fundos." (Marcelo Forlani)

Entertainment Manufacturing Company VIP 3 Medienfonds Ascendant Pictures Saturn Films Rising Star Copag V Endgame Entertainment

Diretor: Andrew Niccol

212.446 users / 8.642 face

Soundtrack Rock = Stephen Stills + David Bowie + The Flying Lizards + Eric Clapton + Grace Jones + Louis Armstrong + Quake + Isaac Hayes + Mazzy Star + Jeff Buckley

Check-Ins 153

Date 009/05/2013 Poster - ####

39. Look Who's Talking Too (1990)

PG-13 | 81 min | Comedy, Family, Romance

This time, a new baby is on the way, and it's a girl. Wrapped together with the standard conflict between mother and father, Mikey engages in a bit of sibling rivalry with his new sister.

Director: Amy Heckerling | Stars: John Travolta, Kirstie Alley, Olympia Dukakis, Elias Koteas

Votes: 48,840 | Gross: $47.49M

[Mov 03 IMDB 4,2/10 {Video/@}

OLHA QUEM ESTÁ FALANDO TAMBÉM

(Look Who's Talking Too, 1990)


''Mikey (Lorne Sussman) consegue fazer com que sua mãe (Kirstie Alley) se case com James Ubriacco (John Travolta), o motorista de táxi boa praça que luta para sustentar sua família. Ele ainda quer se tornar um piloto de linha aérea, mas enquanto isso continua dirigindo um táxi. Molly Ubriacco, sua esposa, também trabalha arduamente como contadora. A tensão é refletida no casamento deles, mas Molly fica grávida e dá à luz a uma filha, Julie. Quando Julie chega em casa, Mikey tem que aceitar a nova irmã, uma menina tão endiabrada e que pensa tão alto quanto ele." (Filmow)

TriStar Pictures Big Mouth Production

Diretor: Amy Heckerling

31.782 users / 376 face

Sountrack Rock = Elvis Presley + The Dave Clark Five + Living Colour + George Harrison + Sonny & Cher + The Marvelettes + Billy Idol + Cheap Trick

Check-Ins 156

Date 26/05/2013 Poster - #

40. Le Havre (2011)

Not Rated | 93 min | Comedy, Drama

82 Metascore

When an African boy arrives by cargo ship in the port city of Le Havre, an aging shoe shiner takes pity on the child and welcomes him into his home.

Director: Aki Kaurismäki | Stars: André Wilms, Blondin Miguel, Jean-Pierre Darroussin, Kati Outinen

Votes: 23,576 | Gross: $0.61M

[Mov 10 Fav IMDB 7,2/10 {Video/@@@@} M/82

O PORTO

(Le Havre, 2011)


"Kaurismäki toca em temas delicados sem que para isso precise perder o bom humor, compondo uma encenação bem peculiar. Como destaca a crítica de Rafael Ciccarini, um filme que vive entre Robert Bresson e Jacques Tati com uma leveza encantadora." (Daniel Dalpizzolo)

"O minimalismo da cenografia, a iluminação centrada em um elemento do quadro, a interpretação robótica, e o humor bizarro: todo o cinema de Kaurismäki está em "O Porto". Para o meu gosto, contudo, o estilo me afasta da obra e a sensação geral é de frieza." (Regis Trigo)

"Há uma atmosfera bastante particular construída por Kaurismäki, em uma espécie de comédia contida, mas a história simplesmente não funciona - não há desenvolvimento na relação entre os personagens, o que faz tudo soar vazio e desinteressante." (Silvio Pilau)

"A bandeira humanista contra barreiras polí­ticas entre os países e o problema da imigração em nações cada vez mais xenófobas como a França são o mote de Aki Kaurismäki. Mas as artimanhas percorridas para o final desejado nem sempre são eficientes." (Emilio Franco Jr)

A frontalidade habitual de Aki Kaurismaki é ideal, neste filme sobre imigrantes, para enxergar o outro, o diferente.

"A questão da imigração ilegal na Europa não deixa de ter um componente estético. Árabes, africanos, caribenhos e ciganos do Leste carregam no rosto os traços fortes de suas culturas, com quem a Europa branca teme a miscigenação. A pureza racial é um dos delírios inconfessos desses ex-impérios em negação; ninguém tem coragem de olhar nos olhos dos outros e aceitar a diferença. ''O Porto'' (Le Havre), comédia dramática do diretor finlandês Aki Kaurismaki (O Homem sem Passado, Luzes na Escuridão), seu segundo filme falado em francês depois de La Vie de Bohème, de 1992, passa-se em Le Havre, na França. É mais uma humilde região portuária como a Helsinque de Kaurismaki, populada por operários beberrões, cães largados e mulheres de boa vontade, seu tipo favorito de personagens e de cenário. Paisagens enferrujadas que, apesar do trânsito constante, não parecem mudar com o tempo. A França, porém, ao contrário da Finlândia, está na rota dos imigrantes ilegais, como Idrissa (Blondin Miguel), garoto negro do Gabão que chega a Le Havre num contêiner e consegue fugir do inspetor local (Jean-Pierre Darroussin). Idrissa é um anacronismo ali, parece ser a única criança no Velho Continente. Ele acaba acolhido pelo engraxate Marcel Marx (André Wilms) - que mal ganha para se sustentar com sua mulher finlandesa (Kati Outinen) mas ainda assim decide juntar dinheiro para ajudar Idrissa a encontrar sua família, em Londres. Esse tom de inocência e humanismo característico dos melodramas de Kaurismaki - mais leve que o humanismo severo de Terraferma, também de 2011 e que trata do mesmo assunto - ganha em O Porto uma outra dimensão, pela própria atualidade do tema, e é possível perceber alguns comentários irônicos que o cineasta faz sobre o estado das coisas na Europa Ocidental. A forma como ele retrata a Igreja e o Estado (as entidades mais velhas de um mundo velho), por exemplo, é engenhosa: quando o inspetor vai se consultar com o prefeito, parece que está entrando em uma sacristia. Igreja e Estado se equivalem na altivez e na omissão diante da realidade. Sem aparo, só resta aos personagens uns aos outros. O estilo de filmar de Kaurismaki, sempre frontal, como se os atores estivessem posando para um retrato 3x4, reforça ao mesmo tempo o desamparo e o senso de coletividade. É uma tradição de proscênio, de teatro, que vem do cinema mudo (aliás, nestes tempos de O Artista, vale procurar o filme mudo e preto-e-branco de Kaurismaki, Juha, de 1999, que é muito melhor que o vencedor do Oscar) e que casa bem com a perplexidade que as situações de O Porto provocam. Essa frontalidade é o que define o humanismo de Kaurismaki, e é esse olhar nos olhos - enxergar o outro diante do próprio nariz - que torna O Porto um filme tão direto e claro no tratamento dessa questão europeia dos imigrantes, um filme também sobre a estética da diferença.'' (Marcelo Hessel)

**** ''Mais que um filme recente, "O Porto é um filme atual, pois gira em torno de um garoto africano encontrando num contêiner no porto de Le Haver. E, claro, existe a polícia de olho no menino, pois para ela o que conta é a presença de um imigrante ilegal em solo europeu (francês, no caso). Mas o filme terá por protagonista um disiludido Marcdel Marx (André Wilms), ex-escritor que se exillou no Havre, onde é engraxate. Daí talvez seu nome: Marcel como Proust e Marx como Karl. A arte e o proletariado estão por perto. Ele ainda sofrerá com os problemas de sua mulher, Arletty (como atriz), mas sua simpática boemia levará a comunidade local a ajudá-lo. Em suma, um filme bem Kiurismaki: a defesa de uma tradição boemia, simpática e anárquica, contra o mundo novo, policial e neoliberal. Não genial, não desinteressante.'' (* Inácio Araujo *)

*** ''Se já era interessante quando foi feito, em 2011, que dizer de "O Porto" agora que a imigração da Ásia ou do norte da África se tornou um drama europeu (já para não dizer universal). No filme do finlandês Aki Kaurismaki, o jovem Idrissa consegue permanecer num contêiner, e escapar das garras da polícia francesa, quando o navio em que viaja chega ao porto de Le Havre. Depois que consegue entrar em território europeu, é localizado e protegido por um antigo artista, hoje engraxate. Apesar de acolhido, Idrissa enfrentará dificuldades, e não poucas. A vida, o tratamento recebido, o olhar suspeitoso do europeu, a rejeição e, sobretudo, o risco de ser deportado pela polícia estão presentes aqui.'' (** Inácio Araujo **)

Entre Monet e Tati, menos é mais.

''Le Havre é o nome de uma pequena comuna francesa, onde se passa a ação deste novo filme de Aki Kaurismäki, diretor finlandês cujo universo já conhecemos, mas cujo frescor parece não se esgotar. Por engano, um garoto africano cujo destino seria a Inglaterra aporta na comuna, onde encontra, por acaso, Marcel Marx, um peculiar e simpático engraxate que irá fazer tudo para proteger o garoto das garras da lei, que, na figura do detetive Monet, fará de tudo para prendê-lo e deportá-lo. Uma história simples, como habitual em Kaurismäki, cuja preciosa e singular mise-en-scène se mostra aqui bastante afiada, construindo calorosa e economicamente todo um universo próprio: a decupagem de cena é lindamente econômica, os enquadramentos precisamente pensados para que neles se dê a presença igualmente concisa dos movimentos dos corpos. Já é lugar comum trazermos Robert Bresson ao lidarmos com a encenação de Kaurismäki, e a aproximação é obviamente pertinente já que ambos, em certa medida, lidam com os atores como modelos buscando certo efeito de teatralidade – efeito que em Kaurismäki encontra par em outra de suas refências: Jacques Tati e sua absoluta integração entre espaço, objetos e corpos. A partir dessa articulação, pois, Kaurismäki cria esse micro universo levemente suspenso, como se assistíssemos a um pequeno e irônico conto de fadas que, no entanto, nunca abandona seu lastro provocativo, irônico e político. Esse jogo entre sério e não sério é parte decisiva do cinema do finlandês: aqui, ao mesmo tempo em que o tema da imigração ilegal aparece com inegável intenção crítica, o tom geral é de uma comédia de costumes descompromissada, que se interessa em percorrer a curiosa geografia humana composta pelos personagens de Le Havre. Mas mesmo esse olhar traz algo de libertário consigo: sempre dispostos a ajudar o garoto, representam como que uma pequena fraternidade anárquica, que saberá defender a liberdade da sanha do Estado. Mas tudo sob um clima de humor ameno e levemente surtado de Kaurismäki: o personagem do detetive, por exemplo, se chama Monet – uma brincadeira com o gênio impressionista, nascido efetivamente em Le Havre. Pintar a aldeia é pintar o mundo?" (Ricardo Ciccarini)

2011 Palma de Cannes / 2011 César

Top Finlândia #5

Sputnik Pyramide Productions Pandora Filmproduktion arte France Cinéma ZDF/Arte Finnish Film Foundation Canal+ Nordisk Film- & TV-Fond Centre National de la Cinématographie (CNC) Yleisradio (YLE) CinéCinéma Arte France Région Haute-Normandie Pôle Image Haute-Normandie

Diretor: Aki Kaurismäki

11.930 users / 4.371 face

Check-Ins 157

Date 24/05/20113 Poster - ########

41. Look Who's Talking Now (1993)

PG-13 | 96 min | Comedy, Family, Romance

26 Metascore

The dogs can talk at a family of 4, where mom loses her job the same day dad gets a job as pilot for a cute, single boss.

Director: Tom Ropelewski | Stars: John Travolta, Kirstie Alley, David Gallagher, Tabitha Lupien

Votes: 30,959 | Gross: $10.34M

[Mov 03 IMDB 3,9/10 {Video}

OLHA QUEM ESTÁ FALANDO AGORA

(Look Who's Talking Now, 1993)


''Perto do Natal Mollie Ubriacco (Kirstie Alley) é despedida, mas em compensação James Ubriacco (John Travolta) consegue emprego como piloto do avião particular de Samantha D'Bonne (Lysette Anthony), uma empresária muito rica que também está interessada em James, que sem desconfiar trabalha em dobro para impressioná-la. Paralelamente os Ubriacco adotam dois cachorros: o primeiro é Rocks, uma cão de rua que estava prestes a ser sacrificado, e o outro é Daphne, uma poodle esnobe, que foi dada de presente por Samantha. Esta por sua vez fez um plano para ficar sozinha com James na véspera de Natal em uma cabana nas montanhas, onde pretende seduzi-lo." (Filmow)

TriStar Pictures

Diretor: Tom Ropelewski

19.356 users / 364 face

Soundtrack Rock = Elvis Presley + The Surfaris + The Chipmunks + Hoodoo Gurus

Check-Ins 159

Date 16/05/2013 Poster - #

42. The Wiz (1978)

G | 134 min | Adventure, Family, Fantasy

53 Metascore

An adaptation of "The Wizard of Oz" that tries to capture the essence of the African-American experience.

Director: Sidney Lumet | Stars: Diana Ross, Michael Jackson, Nipsey Russell, Ted Ross

Votes: 17,045 | Gross: $21.05M

[Mov 03 IMDB 4,7/10 {Video}

O MÁGICO INESQUECÍVEL

(The Wiz, 1978)


''Nesta versão da clássica história do Mágico de Oz, baseada no espetáculo musical da Broadway The Wiz, Dorothy, interpretada aqui pela cantora Diana Ross, é uma tímida professora do jardim de infância do Harlem, que é levada por uma tempestade de neve para a misteriosa Terra de Oz. Lá, ela se vê em um universo perigoso, decadente e obscuro, cujas características físicas lembram a cidade de Nova York. Além de se cercar de um clima de extrema tristeza e melancolia, a releitura do conto inclui diversos cenários urbanos e discute temas como superação e amizade. Dirigido por Sidney Lumet e roteirizado por Joel Schumacher, THE WIZ ainda conta com o eterno astro do pop, Michael Jackson, no elenco.'' (Filmow)

"Aberração.''(Heitor Romero)

51*1979 Oscar

Universal Pictures Motown Productions

Diretor: Sidney Lumet

9.063 users / 3.256 face

Soundtrack Rock = Diana Ross + Michael Jackson + Nipsey Russell

Check-Ins 160

Date 29/05/2013 Poster - #

43. No Country for Old Men (2007)

R | 122 min | Crime, Drama, Thriller

92 Metascore

Violence and mayhem ensue after a hunter stumbles upon the aftermath of a drug deal gone wrong and over two million dollars in cash near the Rio Grande.

Directors: Ethan Coen, Joel Coen | Stars: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson

Votes: 1,060,452 | Gross: $74.28M

[Mov 03 IMDB 8,2/10 {Video/@@@} M/91

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ

(No Country for Old Men, 2007)


"Com uma direção segura, que subverte expectativas e impõe um nervoso clima realista, o filme realiza uma melancólica reflexão sobre a degradação da sociedade, onde valores perdem espaço para a desumanização e violência que crescem a cada novo dia." (Silvio Pilau)

"Um trabalho de maior maturidade na carreira dos Coen, embora o certo seria que todo o reconhecimento que tem hoje fosse dividido com outros trabalhos mais interessantes, mas não tão aclamados." (Heitor Romero)

"Funciona como western, noir, comédia (!), sendo brilhante em qualquer gênero que tente se convencionar pertencer (sem sucesso) essa obra-prima dos irmãos Coen, com diálogos arrebatadores, sequências de tirar o fôlego e um dos melhores vilões do Cinema." (Rodrigo Torres de Souza)

Atuações memoráveis, grande ambientação e textos inspirados. Um grande filme.

Logo nas primeiras cenas de ''Onde os Fracos Não Têm Vez'', uma enorme sombra negra avança sobre a paisagem seca do Texas. É uma imagem alusiva do próprio filme e suas personagens que tem as vidas, de repente, devassadas por uma tempestade de violência em diferentes graus. Marcando o retorno do brilhantismo dos irmãos Ethan e Joel Coen (que assinam direção, edição, produção e roteiro – adaptado do romance de Cormac McCarthy) após alguns questionáveis exercícios de estilo (vide O Amor Custa Caro e Matadores de Velhinha), esse novo filme é um thriller western incisivo e eficiente, como só os grandes filmes o são. Josh Brolin é Llewelyn Moss, soldador e ex-combatente da Guerra do Vietnã, homem comum que depara-se, em um dia de caça no deserto, com o que parece ser uma chacina resultante de uma negociação falida de vendas de drogas. Ao averiguar o local, Moss encontra uma valise contendo alguns milhões de dólares. O que, de início, parece ser a sua glória, em pouco tempo se tornará a sua tragédia, pois, no seu encalço estará Anton Chigurh (Javier Bardem), uma figura psicótica e com um grau de persistência e crueldade muito, mas muito acima de qualquer normalidade. Essa perseguição é o motor do filme, incrementada com a presença do desencantado xerife local Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), que tem de encontrar Moss antes que o pior aconteça. Porém, mais que uma peça extra num jogo de gato e rato, Tom Bell é o olhar arguto e fatalista sobre os tempos negros que começam a se instalar. É ele que coloca, às claras, o discurso do filme. Sim, porque mais que um thriller, ''Onde os Fracos Não Têm Vez'' é um ensaio sobre a violência. Logo no início, o filme já deixa delimitada a sua ambivalência. Ao começar com uma narração em off de Tom Bell que mais é uma divagação acerca dos novos dias, tão diferentes daqueles de outrora, em que nem ele, o xerife, precisava carregar uma arma, o filme exala reflexão, embalado por imagens belas e calmas, mas um tanto agourentas, do amanhecer no deserto. Logo em seguida, de imediato, Javier Bardem explode em cena durante um assassinato explícito e atordoante, daqueles que de tão naturalistas, fazem o espectador quase sentir as dores da vítima. É nesse momento rápido, direto e nauseante que se demarca o outro compasso do filme: a perseguição que se iniciará alguns minutos a frente não teria tanto poder se esse algoz não fosse tão incisivamente escancarado. E a atuação de Javier, quase em êxtase, segurando e esgoelando a vítima enquanto ela se debate, é fundamental para isso. É a personificação da violência insana que vai se abater sobre aquele lugar. As cartas estão, pois, na mesa: violência e reflexão. Mas antes de continuar falando do filme em si, cabe retornar um pouco mais a Javier Bardem e seu Anton Chigurh que já figura, sem a menor sombra de dúvida, entre os vilões máximos do cinema. É indiscutível a competência da interpretação de Javier – e suas premiações às pencas são justas –, mas, além disso, deve-se ressaltar o trabalho de concepção mais amplo da personagem. Vale frisar desde a caracterização de início engraçada de tão peculiar de Chigurgh com sua arma de ar comprimido e seu penteado bizarro (o que só reforça o assombro ao lhe conferir um tom meio mítico, irreal, anormal) até sua ética e princípios próprios, colocados em uma cena ameaçadora cujo diálogo foi escrito de modo brilhante exatamente por não deixar transparecer esses tais princípios, mas apenas mostrar que eles existem e que, de tão subversivos e extremos, não são possíveis de chegar de maneira lógica ao espectador. E também aí está embutida certa incompreensão pela violência que permeará todo o filme. São, portanto, uma série de fatores, além de Javier, que carimbam Chigurgh em quem assiste ao filme. No entanto, assim como Chigurgh está além de Javier Bardem, Onde os Fracos Não Têm Vez também está acima de Chigurgh. É evidente que ele é seu símbolo maior, mas esse não é o filme de um vilão. O trabalho dos Coen na concepção e desenvolvimento do filme é formidável. Mais que a soma de partes e idéias (apesar de incontáveis momentos singulares e inspiradíssimos), Onde os Fracos Não Têm Vez é um todo coeso alcançado através de uma visualização prévia global que o impede de se transformar em uma mera performance de gênero, como alguns filmes anteriores dos irmãos, carregados de virtuosismos fragmentários. Há cenas brilhantes, especialmente as de perseguição, com quase zero de música e totalmente desapressadas, mas que transbordam tensão e expectativa, denotando maturidade e conhecimento sobre o gênero. Porém essa tensão não cessa e é fruto de um tom e uma cadência constantes, o que só aumenta os seus ápices. É claro que além da direção talentosa, o roteiro aqui faz toda a diferença – roteiro, como já dito, também assinado pelos Coen. Seria esse controle sobre todas as etapas de elaboração do filme, o responsável por tamanho entrosamento? O fato é que esse entrosamento é evidente em vários aspectos, desde a afinação do elenco ao arrancar dos atores emoções das mais viscerais às mais sutis (Woody Harrelson tem um momento fantástico, em que toda sua aparente fortaleza e segurança, se esfacelam frente ao inevitável) passando pela funesta iluminação e fotografia das cenas e (repetindo...) pela tensão impregnada no filme. Existem certos furos, como fato de Moss estar caçando no deserto e não ter levado consigo sequer uma garrafa de água (!) e, depois de ter roubado a valise, voltar de madrugada ao local da chacina (!). Mas enfim, se aquela máxima de que a exceção só confirma a regra for verdadeira, aqui é um momento oportuno de se utilizá-la. É, portanto, por toda uma série de fatores, das falas inspiradíssimas ao vilão emblemático, das atuações memoráveis à ambientação, que Onde os Fracos Não Têm Vez já faz parte dos grandes títulos do cinema americano. Mesmo se valendo de uma violência pontual e até caricata, o filme extrapola esse aspecto e coloca em pauta discussões complexas. Tom Bell vê a violência como um trem que, de repente, se descarrilou (Você não pode parar o que está vindo..., sentencia o xerife a certa altura do filme), como se antes esse trem (a sociedade) andasse quase integralmente nos trilhos. É um olhar nostálgico e atemporal. Toda geração tende a dizer que a seguinte é pior talvez por não entendê-la: associar jovens de cabelo verde com a escalada da violência é, no mínimo, temerário e minimizador. A tempestade que o filme anuncia no começo, sempre pairou sobre a humanidade. Só nos resta desvencilhar de suas tormentas para não ser engolido por ela ou cooptado a ela. O final vago é uma reiteração disso." (Wander Cabral)

Pra que continuar sem ter mais lugar em seu próprio lar?

''Não sei se concordo com o título em português, porque ninguém me parece fraco nesse filme. Viver 50, 60 anos no mesmo lugar, absorvendo e moldando seu caráter através da movimentação social de uma comunidade e depois não conseguir entender quem são e de onde vieram aqueles alienígenas que subvertem cruel e diariamente a velha realidade, e ainda ter que admitir pra si próprio que teu lar não tem mais um lugar pra ti, dói até no mais forte dos homens. Cormac McCarthy ganhou vários prêmios pelo livro Onde os Velhos Não Têm Vez, (lançado no Brasil pelo selo Alfaguara, ligado à Editora Objetiva) cuja história foi adaptada pelos próprios Irmãos Coen e que antes mesmo do Oscar já faturou vários prêmios como Melhor Direção, Melhor Elenco e Ator Coadjuvante, para Javier Bardem. Quem conhece o anti-convencionalismo que permeia os trabalhos dos Coen pode imaginar que Onde os Fracos Não Têm Vez não pode ser taxado como um faroeste moderno ou qualquer título desses. O filme nos faz pensar exatamente na subversão de valores da ética do faroeste, da vida em uma região fronteiriça que sempre conheceu a violência, mas que não consegue compreender a banalização em torno dela, pois até mesmo os homens maus têm seu código de honra. Apesar de tudo, até Anton Chigurh (Javier Bardem) tem seu código. Aproveitando a deixa do Bardem, falemos do elenco e comecemos por ele. Interpretando o inadjetivavél Anton Chigurh, seu também enigmático corte de cabelo é apenas uma outra forma de demonstrar visualmente que aquele homem não é comum, e de chamar a atenção logo de cara. E logo de cara sabemos que ele é um assassino, personagem tão sui generis que costuma matar usando um tubo de ar comprimido. O pior é que ele está só fazendo o seu trabalho e é extremamente metódico, por isso cuidado ao atravessar o seu caminho. Melhor desviar ou a sua única chance de escapar é ganhar um cara/coroa com ele. Bardem merece nosso respeito, independente do que digam sobre ele parecer caricato no papel. Caricato, não. Talentoso o suficiente pra tirar de dentro de si um homem sem adjetivos. Já Josh Brolin teve um ano cheio: Planeta Terror, O Gângster... Para o papel de Llewelyn Moss ele inclusive pediu ajuda para a dupla Tarantino/Rodriguez no seu vídeo de audição. Apesar dessa ajudinha dos amigos, Brolin mostrou-se competente, com sotaque e tudo. Mesmo usando a casca de durão, Llewelyn se mete no caminho de Chigurh sem querer, e depois não consegue mais sair. O que surge daí é uma perseguição aflita e inusitadamente bem construída. Mas falando ainda em sotaques, foi engraçado reconhecer Kelly Macdonald (aquela mesma menina que passa a perna no personagem Mark Renton de Trainspotting) na pele de uma moça bem texana, no caso Carla Jean Moss, a esposa durona de Llewelyn, que é excluída de todas as decisões, mas sabe que por pior que seja o inimigo, seu marido também não entregará os pontos. É interessante que Woody Harrelson apareça numa participação, no papel de Carson Wells, encarregado de tentar dar um freio na fervorosa atuação de Chigurh na tarefa de reaver a maleta. É claro que ele falha. E Woody saí do filme sem fazer a menor falta. E completando a lista de protagonistas, Tommy Lee Jones. E é ele o velho homem sem lugar, aquele que não consegue entender o crime que narra, nem porque os garotos de hoje pintam os cabelos de verde e não usam mais palavras como senhor e senhora. Em algumas cenas é possível sentir a confusão no olhar do Xerife Bell, aquele cujo pai e cujo avô foram xerifes como ele, numa época em que policiais nem usavam armas. É ele quem personifica o choque de gerações. Veja bem, não um choque entre gerações. Mas o choque particular de um homem simples que não entende a crueldade pura e simples da mudança dos tempos. A sinopse vocês já devem conhecer: Em 1980 na fronteira do Texas com o México, Llewelyn caça veados na planície, quando de repente cai no meio de uma cena de crime e encontra um carregamento de heroína, alguns corpos e carros, um mexicano com sede e uma maleta com 2 milhões de dólares. Quem não se arriscaria por reaver essa quantia? É o que ele pergunta a Carla Jean, já se preparando para fugir e sabendo que seria perseguido. Então entra em cena Anton Chigurh, assassino sarcástico que não mata apenas por dever, encarregado em trazer de volta o dinheiro. Em meio às confusões que o assassino vai aprontando, Xerife Bell segue seu rastro, tentando proteger Llewelyn não só por ele pertencer a sua comunidade, mas por saber de cara que ele se meteu nisso sem nenhuma noção do problema que tinha criado pra si. O massacre se desenrola engolindo a gente, mas é fácil perceber a mão dos Coen, seja na maneira como Llewelyn consegue encontrar o dinheiro, seja na primeira conversa que vemos entre ele e Carla Jean. Ou no posicionamento e ingenuidade burra do parceiro do xerife, Wendell (Garret Dillahunt), como no posicionamento da câmera na primeira crueldade de Chigurh, que inclusive é um personagem com certo humor. Um humor que saiu de dentro da cartola dos irmãos. É daqueles filmes que se você pudesse assisti-lo sem saber nenhuma informação sobre sua produção, no final diria: isso é coisa de Joel e Ethan Coen. E é um trabalho realmente guiado por eles, que além de dirigirem e adaptarem o romance de Cormac McCarthy, foram também os responsáveis pela edição do filme sob o pseudônimo de "Roderick Jaynes". Ainda falando na presença invisível deles dentro da história, será possível que tenha existido mesmo uma farmácia em Minneapolis chamada Mike Zoss Pharmacy? Aquele nome me chamou a atenção, mas agora eu sei que foram eles que deram a pista para que nós nos lembrássemos da Mike Zoss Productions, a produtora dos irmãos. É como deixar um espaço para dizer claramente: Você conseguiu ver aquilo?. Então conseguiu ver quem é que gira o guidom dessa história. Realmente estou dividida. Ainda bem que não sou eu quem deve escolher entre entregar o Oscar para eles ou para o P.T. Anderson. Antes de terminar falta ainda dizer que a trilha sonora sem trilha só fortalece a angústia de algumas cenas. Aquele suspense que vai crescendo no fundo do silêncio. Qualquer barulho e Chigurh aparece! Até eu sei disso. Alguns críticos – até onde pude ler – não gostaram da cena final. A mim pareceu bem emocionante ver aquele xerife velho e agora aposentado dizendo que seu pai morreu aos vinte e por isso sempre será mais novo que ele, e que tudo que ele sonha, agora que tem tempo pra isso, é ter um ponto imutável no tempo onde possa se segurar. Mesmo que ele ande e ande, é só olhar pra trás e lá estará o homem. O homem cujos padrões e autoridade ele reconhece e aceita, e o único para qual ele se curvaria. Pois, fraco é uma coisa que ele não é. Tampouco esse filme." (Geo Euzebio)

Faroeste devolve a dignidade ao cinema dos irmãos Coen.

''Saiu do clássico O Homem que Matou o Facínora (1962), de John Ford, a frase que define o Velho Oeste: Entre a verdade e a lenda, publique-se a lenda. Não importa se o personagem de James Stewart matou ou não matou Liberty Valance de verdade - enquanto houver alguém para contar a história, o mito do tiro certeiro viverá. Da mesma forma, quando um pistoleiro entra num saloon, é a imagem que fazem dele, e não sua eventual rapidez no gatilho, que vale mais.Llewelyn Moss (Josh Brolin) tem contra si um Liberty Valance em ''Onde os Fracos não Têm Vez'' (No Country for Old Men): Anton Chigurh, o matador interpretado pelo espanhol Javier Bardem no faroeste que devolve a dignidade ao cinema dos irmãos Joel e Ethan Coen (Fargo, O homem que não estava lá). Os tempos são outros, a fronteira empoeirada com o México mudou, mas as lendas permanecem. Ao mesmo tempo em que desconstrói o herói do western, ''Onde os Fracos não Têm Vez'' constrói em Anton Chigurh um mito. O filme abre com a prisão do matador. Entre seus pertences, um cilindro de ar comprimido, que não demora para entendermos como funciona, e para quê. Paralelamente, acompanhamos Llewelyn no descampado texano, caçando cervos. O fato de Llewelyn errar o tiro e não conseguir abater o animal ao mesmo tempo em que Chigurh vara o cérebro de sua vítima sem deixar provas é o primeiro dado que o filme nos dá para evidenciar o abismo que separa os dois personagens. Temos o assassino perfeito versus o errante sujeito sem dons, e o suspense começa quando o primeiro passa a perseguir o segundo. Há um MacGuffin aí no meio, uma mala com 2 millhões de dólares, mas, como todo MacGuffin, ela vale tudo para os personagens e não significa absolutamente nada para o espectador. O que vale para nós é o embate de Chigurh com Llewelyn, o homem-mito contra o homem-real. O xerife interpretado por Tommy Lee Jones entra aí como mediador. A ele cabe não apenas hiperbolizar a lenda de Chigurh como manter no chão o mundano Llewelyn. A questão da oralidade é fundamental na construção das lendas de faroeste, e Onde os Fracos não Têm Vez respeita essa lógica - no mais, a oralidade, frequentemente expressa na figura de um narrador, é ponto importante na filmografia dos Coen. Nas cenas na delegacia e no café, o xerife e seu subalterno trocam histórias tão sangrentas e bizarras quanto essa que estamos acompanhando na tela - o que é uma forma de mitificá-la ainda mais. Que o clímax do filme nos seja apresentado em uma elipse anti-climática (o desfecho do embate visto pelos olhos do xerife) é o ponto máximo da construção da lenda. Para a posteridade ficará somente a versão das testemunhas, como em O Homem que Matou o Facínora. No mais, há por trás do jogo de versões e perspectivas todo um contexto de época. O filme é uma adaptação do romance homônimo de 2005 do estadunidense Cormac McCarthy, que ambienta a história no Texas de 1980. Não é, vale repetir, o mesmo Velho Oeste dos colonizadores. James Stewart representava em 1962 a vitória do civilizador sobre o selvagem - o tema da superação do homem sobre o ambiente, enfim, que percorre todo o faroeste em seu período clássico. Já Onde os Fracos não Têm Vez é a desconstrução niilista do herói mítico porque hoje a civilização perdeu, os heróis perderam, o ambiente venceu. Boa sorte a Llewelyn Moss contra o seu Liberty Valance.'' (Marcelo Hessel)

"Filmes podem enganar. A primeira visão, e também a segunda, de "Onde os Fracos Não Têm Vez" me impressionaram vivamente: o filme dos Coen parecia vibrar a cada cena e, embora a situação central (sujeito acha dinheiro que não lhe cabe e é perseguido implacavelmente) seja banal, a figura de Javier Bardem, o demoníaco perseguidor, é memorável. Com o tempo, no entanto, as virtudes se distanciaram. A memória me restitui um filme bem à moda dos Coen: reciclagem oportunista de um cinema antigo, sem nada de novo em especial a dizer. Já seu filme seguinte, a comédia Queime Depois de Ler, me impressionou muito menos, mas com o tempo cresce na lembrança e na estima, e a situação central (mulher arma um grande golpe apenas para fazer as mil plásticas a que a induz seu médico) parece dizer muito mais sobre o mundo de hoje do que o outro. É uma experiência absolutamente subjetiva, mas talvez nem tanto: quem chega hoje ao cinema mal pode acreditar no prestígio que um dia teve William Wyler e nem desconfia que Hitchcock era, para todos os efeitos, só um cineasta comercial. Hoje a publicidade é agressiva na busca da mitificação de autores. Mas muita água vai rolar antes que saibamos qual o lugar dos Coen nessa história (a do cinema)." (* Inácio Araujo *)

''Desde pelo menos os anos 1980, a referência principal das imagens não é mais a realidade, mas as próprias imagens. É isso, no mais, que o público espera. É isso que funda, em boa parte, o cinema dos irmãos Coen. Em "Onde os Fracos Não Têm Vez", um homem se apossa de grande quantia em dinheiro, sem saber que pertence a mafiosos. Esses reagem e vão atrás. Nada, até aqui, destoa dos clichês mais batidos. Mas algo precisa acontecer de diferente. E isso é a intervenção de um xerife. Sintomaticamente, o ator é Tommy Lee Jones, famoso por ser durão. É outra imagem manjada que entra na roda. Mas o xerife logo descobrirá que a velha equação mudou: a lei é frágil diante da enormidade das atividades criminais. O mundo do clichê entra em campo, mas é quando se desvia que o filme ganha força e sentido.'' (** Inácio Araujo **)

80*2008 Oscar / 65*2008 Globo / 2007 Palma de Cannes

Top 250#130

Top 200#195 Cineplayers (Usuários)

Paramount Vantage Miramax Films Scott Rudin Productions Mike Zoss Productions

Diretor: Ethan Coen, Joel Coen

451.952 users / 16.639 face

Check-Ins 163

Date 30/05/2013 Poster - #####

44. The Last Hurrah (1958)

Approved | 121 min | Drama

Frank Skeffington is an old Irish-American political boss, running for re-election as mayor of a U.S. town for the last time.

Director: John Ford | Stars: Spencer Tracy, Jeffrey Hunter, Dianne Foster, Pat O'Brien

Votes: 4,157

[MOV 07 IMDB 7,3/10 {Video/@@@@}

O ÚLTIMO HURRAH

(The Last Hurrah, 1958)


''John Ford (1895-1973) é considerado por grande parte do público cinéfilo como o mestre dos Westerns e de sua parceria com seu compadre John Wayne (1907-1979), com quem se associou em diversas produções da História da Sétima Arte, como sua trilogia da Cavalaria americana: Sangue de Heróis (Fort Apache, 1948); Legião Invencível(She Wore a Yellow Ribbon, 1949); Rio Bravo (Rio Grande, 1950), e o hiper clássico Rastros de Ódio (The Searchers, 1956), considerado não somente um dos dez maiores westerns de todos os tempos como também um dos 50 filmes mais badalados de acordo com os críticos americanos. Entretanto, este grande mestre da cinematografia mundial não realizou apenas westerns. Ao longo de sua carreira, que se iniciou desde os primórdios quando o cinema ainda era mudo, ele realizou também comédias, épicos, aventuras, e dramas. É sobre um destes dramas que este artigo vai abordar, um drama político (as vezes com pontas de humor) pelo qual considero, de certa forma, superior a Cidadão Kane de Orson Welles, não menosprezando evidentemente este grande alicerce do cinema. Trata-se de ''O Último Hurrah'' (The Last Hurrah), produzido em 1958. Aproveitando o embalo deste dia de eleições em que escolheremos nossos representantes (???), achei mister falar deste filme que prega muitos valores que parecem que estão esquecidos, como o idealismo, a camaradagem, e o altruísmo. The Last Hurrah é um romance de 1956 escrito por Edwin O'Connor (1918-1968). É considerado a mais popular das obras de O'Connor, em parte devido a produção do filme homônimo. A novela foi de imediato um best-seller nos Estados Unidos por 20 semanas, e também nas listas de mais vendidos daquele ano. The Last Hurrah ganhou o Prêmio Atlântico, e foi destacado pelo Book-of-the- Month Club e Reader's Digest, além de receber resenhas críticas muito positivas, incluindo um “êxtase”do New York Times Book Review. Não demorou muito para o lendário cineasta Ford, que leu o romance, projetá-lo para as Telas. Para isto, a Colúmbia Pictures comprou os direitos do livro. A trama centra-se numa eleição para prefeito em uma pequena cidade de Bostom, EUA. O veterano político irlandês do Partido Democrata Frank Skeffington, interpretado pelo magistral Spencer Tracy (1900-1967), amigo de Ford, é um dos candidatos a prefeito desta cidade. Como um ex-governador, ele é normalmente chamado pelo título honorífico "Governador". Cercado por fiéis partidários que estão com ele por mais de 30 anos, Skeffington tenta se reeleger em um mundo que anda em transições. Para começar, a televisão que estava dando seus primeiros passos, começa desempenhar um papel maior na política. Os ideais de Skeffingnton, como a igualdade e o auxílio para os menos favorecidos e oprimidos, parecem pensamentos pueris por grande parte da Sociedade Americana. E isto sem contar a idade do personagem central, que de acordo com o romance de O’ Connor tem 72 anos (Tracy quando fez o papel tinha 58, mas parecia mais envelhecido, talvez devido aos exageros do álcool), isto é, sua idade seria um empecilho para sua reeleição, sem que a hipocrisia da sociedade visse nele um homem com idealizações e experiências adquiridas. Entretanto, nosso maduro herói não esta só. Ele conta com a ajuda de um inteligente jornalista que também é seu sobrinho, Adam Caulfield, com uma interpretação magnífica do ator Jeffrey Hunter (1925-1969), que já havia trabalhado para o Diretor John Ford em Rastros de Ódio/The Searchers dois anos antes. Caulfield é de um pensamento tão liberal e humanista quanto o tio. Outrora um jornalista esportivo, se dedica ao jornalismo político quando entra em atrito com seu chefe de redação, o corrupto Amos Force (John Carradine, 1906-1988), inimigo declarado de Skeffignton e republicano fanático. Ao visitar seu tio, Adam fica, a saber, dos sérios motivos que levam Amos a odiar Skeffignton, quando o pai de Amos, um burguês autoritário, na verdade humilhou publicamente a mãe de Skeffignton, que era sua empregada doméstica, pelo fato dela pegar sobras de comida, acusando-a de ladra. Deste encontro entre tio e sobrinho, nasceria daí um ideal em comum, e Caulfield se dedicaria a ajudar Frank em sua empresa. Adam é casado com Mave (interpretada por Dianne Foster), filha de Roger Sugrue (Willis Bouchey, 1907-1977, outro ator proeminente nos filmes de John Ford), que também detesta Skeffignton, e começa a ter diversos atritos com o genro, sem contudo abalar a relação em seu casamento, já que Mave também simpatiza com as idéias de Frank. Frank Skeffignton tem um dom surpreendente. O único político que é verdadeiramente capaz de manipular os poderosos para defender os oprimidos. Ele é o líder indiscutível da cidade, ele controla a cidade com punho de ferro, mas ele sabe que seu show está quase no fim. O dia de compromissos em almoços e comícios políticos está dando lugar à televisão, que quase faz a máquina política do outrora tempo de Frank obsoleta. Frank Skeffington é o tipo de político que realmente se preocupa com seus eleitores. Ele muitas vezes ajuda-os pessoalmente (como na cena de um enterro, em que uma de suas eleitoras não tinha dinheiro para enterrar seu marido, e Frank pressiona o dono da funerária, ligado ao Partido Republicano,a fazer o enterro de graça). Mas há alguns problemas com a regra de Skeffington. Primeiro de tudo, ele muitas vezes muda vários negócios, obrigando mesmo aqueles que trabalham para ele a ter salários reduzidos para ajudar os eleitores. Skeffington e seus aliados, muitas vezes, transformam os funerais em reuniões políticas. Analisemos que Skeffington não é nenhum santo, mas em nome de seus ideais vale quase tudo, mesmo mexer com os alicerces da Religião Católica. Apesar de o próprio Skeffignton ser um católico (a moda dele. No início do filme, ele faz o sinal da cruz perante o quadro da esposa, já falecida), ele mesmo entra em atrito com a ideologia da Igreja, muito embora o Arcebispo da cidade, Cardeal Burke Martin (Donald Crisp, 1882-1974) simpatize com Frank.Na vida particular, Skeffignton tem problemas de relacionamento com seu filho único, Frank Skeffington Jr (Arthur Walsh, 1923-1995). Este é um imaturo e irresponsável, que só pensa em mulheres e badalações, ignorando por completo as idealizações do pai. Frank surpreende a todos ao anunciar o que ele sempre pretendeu, concorrer para outro mandato para prefeito. O corpo principal do filme dá uma visão detalhada e criteriosa da política urbana, e o controle de Skeffington e de seu sobrinho Adam através de rodadas de aparições nas campanhas e eventos. Kevin McCluskey (Charles B. Fitzsimons,1924-2001), um jovem candidato com um rosto bonito e os bons costumes norte-americanos, com uma excelente ficha e registro da II Guerra Mundial, mas sem experiência política e nenhuma habilidade real para a política ou governo, acaba derrotando Skeffington nas eleições. É Importante aqui analisar uma situação que anda sempre em voga em qualquer eleição ou em qualquer situação política: que não importa sua experiência, suas propostas sérias, ou suas intenções sinceras e idealistas em prol da sociedade, pois esta sempre vai pender para a imagem de um candidato, afinal as aparências e os feitos de um herói ou celebridade é o que mais contam, e o que somente contam. A verdade crua e nua, seja na ficção ou não. Um dos amigos de Adam, John Gorman (interpretado pelo simpático Pat O’ Brian, 1899-1983) explica que a eleição foi "Um Último Hurrah" para o estilo de máquina política de Skeffington. Mudanças na vida pública americana, incluindo as consequências do New Deal, mudou tanto a face da política norte-americana que Skeffington já não pode sobreviver. Imediatamente após sua derrota, Skeffington sofre um ataque cardíaco. Quando ele morre, ele deixa para trás uma cidade de luto por uma figura crucial na sua história, mas uma cidade que não tem mais espaço para ele ou o seu tipo. Não obstante em todos estes desafios, Frank Skeffignton é um personagem interessante, que leva o espectador do filme a refletir se seria bom que tal personagem saísse das telas da ficção ou de um livro para se expor na vida real, ou se mesmo é possível resgatar alguns sonhos e ideais há muito esquecidos. Por falar nisso, o personagem foi de fato baseado em um político real, chamado James Michael Curley (1874-1958), que foi Governador de Massachusetts, e era um político democrata. John Ford, ele mesmo um irlandês-americano, leu e gostou do livro de O’Connor e resolveu adaptá-lo para o cinema. Muito do sucesso do filme deveu-se ao respeitável e bom desempenho do elenco que incluiu muitos veteranos que geralmente eram amigos do diretor (só Jeffrey Hunter, Dianne Foster, e Arthur Walsh compunham o set mais jovem), como o próprio Tracy, Pat O'Brien, John Carradine, Wallace Ford, Basil Rathbone (quem diria, o Sherlock Holmes!), Jane Darwell, Anna Lee, e Willis Bouchey. A Columbia Pictures comprou os direitos para fazer este filme de O ' Connor por US $ 150.000. E decerto que cada centavo valeu à pena." (Paulo Telles)

Columbia Pictures Corporation

Diretor: John Ford

1.792 users / 112 face

Check-Ins 165

Date 26/05/2013 Poster - #####

45. The Lone Ranger (2013)

PG-13 | 150 min | Action, Adventure, Western

37 Metascore

Native American warrior Tonto recounts the untold tales that transformed John Reid, a man of the law, into a legend of justice.

Director: Gore Verbinski | Stars: Johnny Depp, Armie Hammer, William Fichtner, Tom Wilkinson

Votes: 244,504 | Gross: $89.30M

[Mov 03 IMDB 6,5/10] {Video/@@@@} M/37

O CAVALEIRO SOLITÁRIO

(The Lone Ranger, 2013)


TAG GORE VERBINSKI

{esquecíve}


Sinopse

''A trama acompanha John Reid (Armie Hammer), um homem-da-lei deixado para morrer após uma emboscada ao lado de cinco patrulheiros do Texas. Encontrado e tratado pelo índio Tonto (Johnny Depp), Reid passa a usar a máscara do Cavaleiro Solitário para vingar o assassinato de seus companheiros e aplicar a justiça nas terras sem lei.''
''Criado no começo dos anos 1930 como personagem de novela radiofônica, o Cavaleiro Solitário virou um mito da cultura popular norte-americana e teve versões em séries de televisão, cinema, HQs, desenhos e jogos. Mascarado e dono de excelente pontaria, o Cavaleiro é um policial do Texas que faz justiça no Velho Oeste, acompanhado de Tonto, um índio cheio de excentricidades. Como a legenda perdeu força ao longo das décadas, esta versão da Disney tenta fazê-la brilhar outra vez. Infelizmente, isto é alcançado pela via mais previsível: a overdose de cenas de ação. Narrado em flashback por Tonto (Johnny Depp), que ganha importância na história, o filme tem contornos burlescos. Dado por morto depois de uma emboscada do fora da lei Butch Cavendish (William Fichtner), o Cavaleiro (Armie Hammer) é socorrido por Tonto, que o incita a se tornar um justiceiro mascarado. Enojado pela corrupção reinante, o Cavaleiro resolve se tornar um fora da lei para melhor combater o crime, renunciando a uma vida aparentemente respeitável. O diretor Gore Verbinski imprime um ritmo trepidante à história, como fez na série Piratas do Caribe, escolha diretamente relacionada à fraqueza do roteiro. Sem interesse em desenvolver questões com ressonâncias morais e políticas, Verbinski e os roteiristas preferem rechear a história de ação, cujo corolário é a longa cena de perseguição dos trens, embalada pela abertura da ópera Guilherme Tell, de Rossini." (Alexandre Agabiti Fernandez)

"Não, de novo não!" (Alexandre Koball)

"Tudo o que há de errado no cinema comercial norte-americano está aqui: falta de autenticidade, excesso de auto-indulgência (duas horas e meia?), humor forçado e estupidificação do público. Sem contar que Hammer não tem carisma e Depp é mais do mesmo." (Silvio Pilau)

"As referências são uma salada, e é estranho que homenageie tanto filmes que marcaram a época derradeira do faroeste, como Era Uma Vez no Oeste, sendo que os personagens originais remetem ao início da popularização do gênero. Desfocado e chato." (Heitor Romero)

Pastiche do Oeste.

"A linha entre elegante homenagem e pastiche grosseiro é tênue, e pode ser medida por bom senso, bom gosto, enfim, pela qualidade íntegra da obra que se propõe a tal. Exemplo recente é o Tabu (idem, 2012) de Miguel Gomes, a imprimir uma linha narrativa temática e visualmente inventiva, a despeito das inúmeras semelhanças com o homenageado homônimo Tabu (Tabu: A Story of the South Seas, 1931), de F. W. Murnau. E se esse tributo a um clássico for realizado de maneira óbvia e em forma de paródia, falhando miseravelmente neste propósito por não ser bem-sucedido enquanto um faroeste, comédia ou aventura de cunho unicamente comercial? Bem, aí o resultado é "O Cavaleiro Solitário". John Reid (Hammer) é um burocrata que retorna da capital para o Velho Oeste, onde seu primeiro contato é com Rebecca (a bela Ruth Wilson), cuja aproximação imediatamente denuncia uma tensão amorosa. No entanto, o casal nunca existiu; ela é esposa de seu irmão mais velho, Dan (James Badge Dale, competente) um homem destemido que lidera os policiais rurais do Texas de sua cercania e é o completo oposto do almofadinha John. A subtrama melodramática que envolve esse triângulo amoroso se desenrola durante todo um “ato preliminar” (muito longo para ser um prólogo, muito inócuo para compreender o que realmente consiste no primeiro ato da história) que acompanha o protagonista desde o momento em que conhece Tonto até sua transformação em ranger, e é bem distinto em claras referências ao western Rastros de Ódio (The Searchers, 1956). Eis a primeira bola fora de Gore Verbinski. Na tentativa de emular um épico grandioso, o diretor alcança um filme grande, apenas. A trama evolui com morosidade e não transforma em conteúdo sua longa duração. Se, em Rango (idem, 2011), Verbinski acertava enquanto homenagem e paródia, western e comédia, e, durante bem aproveitados 107 minutos, explorava organicamente referências temáticas e visuais e desenvolvia protagonista e narrativa com coesão e maturidade, aqui ele esgota 2 horas e meia em um filme sem identidade própria, tomando pra si a abordagem crítica do clássico de John Ford sem jamais ampliá-la. Talvez fosse um modo de legitimar seu filme como um western, ou quase. Essa apropriação também é feita de maneira excessivamente expositiva, até mesmo vulgar, como ao travestir mercenários de índios – fato este que nem surpreende, uma vez que a postura da Disney em relação a seu público já tivera sido estabelecida nos primeiros minutos de projeção: Will, um garoto de olhar inocente e trajado de caubói, é o interlocutor de Tonto, narrador da história (abordagem que torna qualquer similaridade com Pequeno Grande Homem [Big Little Man, 1970] mais que mera coincidência) . Logo nota-se que nós somos o pequeno Will, um menino curioso, entretido com a história de um velho nativo americano e que a todo tempo faz perguntas para o pleno entendimento das histórias que ouve. Tal artifício é a personificação do ato de subestimar o espectador, além de permitir flashbacks e saltos que facilitam o desenvolvimento da narrativa. A despeito da obviedade impressa no subtexto, é positivo perceber que o estúdio se proponha a refletir sobre o nascimento da nação americana em um filme comercial. O valor que a sociedade americana dispensa ao índio é muito bem ilustrado por um octagenário (ou nonagenário!) Tonto explorado como mera atração de um parque temático. No início do extenso clímax que toma o filme, um vagão batizado Constitution surge desgovernado, ameaçando atropelar a todos, enquanto o Liberty mantém Rebecca refém. Eis um exemplo de elegância digno de John Ford, reprisado apenas no modo como o diretor de fotografia explora a beleza e a imensidão do Monument Valley. O breve e positivo furto da consciência histórica e política dos westerns clássicos aponta para um caminho (de sobriedade pontual e superiores criatividade e sutileza) pelo qual o filme poderia ter se saído melhor sem afetar sua verve comercial - muito pelo contrário, seria algo a conferir profundidade a uma experiência escapista. Como Rango comprova, o pastiche só é ruim quando adotado de maneira preguiçosa, e Disney, Verbinski e o produtor Jerry Bruckheimer não têm a mínima intenção de disfarçar que pretendiam reprisar a "fórmula infalível" de Piratas do Caribe. No entanto, o tiro sai pela culatra e a única herança da franquia bilionária é maldita: seu desgaste. Isso porque a recepção positiva de Piratas do Caribe: A Maldição de Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, 2003) deve-se, em grande parte, à magnífica composição de Jack Sparrow. Além de os filmes subsequentes terem ficado progressivamente inferiores, Johnny Depp esgotou o personagem em si e em outros de seus trabalhos, inclusive no completamente distinto O Turista (The Tourist, 2010). Como Tonto, não é diferente, e o piloto automático com que o ator conduz sua mais nova caracterização afetada (em português claro, irritante) é maximizado pela ausência de um ator competente que lhe sirva como "escada". Armie Hammer não peca por falta de esforço, porém mostra-se um ator limitado sempre que exigido, seja como ator cômico, seja enquanto astro de ação (ele é meio desengonçado, talvez por sua estatura), ou até mesmo por sua incapacidade de convencer na transição do advogado almofadinha para um justiceiro valente. Em se tratando de elenco, aliás, é penoso perceber que também Helena Bonham Carter esteja mais preocupada com o cachê do que em exercitar seu grande talento em um papel equivalente. Barry Pepper é outro ator subaproveitado, ao passo que Tom Wilkinson e William Fichtner, especialistas na arte de compor antagonistas, interpretam Cole e Butch Cavendish com os pés nas costas. A péssima estrutura de "O Cavaleiro Solitário" redunda em um filme estranhamente dividido em quatro atos, cansativo, que investe muito em supostas frases de efeito, humor pueril e influências indiscriminadas (por se tratar de uma aventura genérica, a sequência final em ferrovias pelo deserto gritam As Loucas Aventuras de James West [Wild Wild West, 1999] a todo momento), quando, na verdade, poderia ter estendido a última e bem encaixada gag por toda a adaptação, focando em levar a série original ao cinema de acordo com os novos tempos. Assim, não haveria o risco de incorrer em pretensão ou heresia ao fazer referências pobres e paródias nada inspiradas de Rastros de Ódio." (Rodrigo Torres de Souza)

Maníaco do pastiche, Gore Verbinski almeja os mitos do faroeste mas segue refém da fórmula Piratas do Caribe.

''Texas, 1869, expansão ferroviária Velho Oeste adentro. Depois de sofrer uma emboscada quando acompanhava um grupo de patrulheiros, o oficial de justiça John Reid (Armie Hammer) é largado à morte. O índio Tonto (Johnny Depp) se prepara para enterrá-lo, quando recebe um sinal: Reid vive e está destinado a ser um justiceiro mascarado. Muito depois desse início, quando Reid finalmente para de resmungar e deixa a função de alívio cômico de ''O Cavaleiro Solitário'' (The Lone Ranger), para então cavalgar triunfantemente ao som do prelúdio de Guilherme Tell de Rossini, dá uma pena que Gore Verbinski tenha errado a mão. Havia ali potencial para uma aventura decente de matinê, mas o problema é que o diretor não sabe direito que filme quer fazer. As referências à história do faroeste, por exemplo, vão do óbvio clássico (o vigilante mascarado com seu cavalo branco foi criado nos anos 1930, época de ouro do gênero), passando pelo período revisionista (o ponto de vista do índio em busca de justiça) até o faroeste-delírio (o close-up nos escorpiões à moda Sam Peckinpah), sem esquecer a flautinha que imediatamente remete aos spaghetti westerns. A obsessão com que Verbinski filma as Montanhas Rochosas não deixa dúvidas: é para o clube dos mitos que ele quer tanto entrar, nem que para isso tenha que atirar em todas as direções. aleiro Solitário para virar cenário de fato, da mesma forma que tudo é disposto em cena mais como diorama do que como espaço de ação de verdade, como o bêbado na delegacia que dorme teatralmente segurando uma garrafa inclinada - meio museu de cera, meio parque temático. O irônico é que, no papel, a intenção aparente era desfazer o teatral para chegar ao mito (o filme é narrado em flashbacks pelo índio idoso, em uma feira de variedades em 1933) mas Verbinski não consegue resolver na imagem esse processo de resgate. Talvez o principal empecilho seja menos a necessidade de fazer um filme-família da Disney (O Cavaleiro Solitário é mais violento do que Guerra Mundial Z, aliás) do que a obrigação de seguir a estrutura de Piratas do Caribe, o sucesso que permitiu que Verbinski e Depp gastassem US$ 250 milhões num faroeste de duas horas e meia. Para um filme que almeja tocar os clássicos, ''O Cavaleiro Solitário'' é terrivelmente derivativo de uma fórmula que, mesmo recente, já soa esgarçada - todos os personagens, desde os capangas imundos ao militar que apoia o vilão, encontram um correlato na saga de Jack Sparrow, e toda a pretensão épica resulta aqui tão inchada quanto os roteiros de Ted Elliott e Terry Rossio na franquia bucaneira. Limar uma hora e uns seis personagens deixaria ''O Cavaleiro Solitário'' melhor? Provavelmente. Ainda assim, a indecisão sobre quem é o protagonista de fato (Hammer não pode se dar ao luxo de ser eclipsado por Depp como foi Orlando Bloom) e a mania de emendar toda cena de impacto com uma piadinha - o drama não pega e o humor não funciona - parecem sabotar o filme na sua própria espinha dorsal. O que fica, já durante os créditos finais, é a imagem das montanhas: uma caminhada que soa determinada, mas num passo curto que pode durar para sempre. E Gore Verbinski agora se parece mais com o seu camaleão pistoleiro de Rango, trocando de cor na eterna torcida de que, uma hora, ele consiga se misturar ao Velho Oeste." (Marcelo Hessel)

"Parece que os envolvidos com a produção de “O Cavaleiro Solitário” resolveram colocar a culpa nos críticos pela bilheteria ruim do filme. Encabeçados por Johnny Depp, Armie Hammer e o produtor Jerry Bruckheimer, os envolvidos começaram a querer apontar dedos em relação ao fracasso da superprodução, que custou aos estúdios Disney $250 milhões, sendo assim um dos filmes mais caros da história. A obra arrecadou um pouco menos de $90 milhões somente nos EUA, estando em cartaz há pouco mais de um mês. É claro que a culpa não é dos produtores por tentarem reciclar Piratas do Caribe para o velho oeste. É claro que a culpa não é dos roteiristas por apresentarem personagens com a profundidade de um pires, humor inexistente, e diálogos nem um pouco inspirados. É claro que a culpa não é do diretor Gore Verbinski, que mais uma vez prefere confiar em cenas ensurdecedoras de efeitos especiais do que em seus personagens, e é claro, entregar um filme longo demais e cansativo. É claro que a culpa não é de Johnny Depp por se repetir mais uma vez, e de Armie Hammer por fazer um herói com carisma de um manequim. É claro que a culpa é dos críticos, jornalistas e profissionais especializados em cinema, que massacraram a produção. Ah, se o mundo fosse tão simples assim Sr. Depp. Queriam os críticos que a palavra deles fosse lei. Queriam os críticos que bobagens como Transformers, Crepúsculo e outros mais, cuja falta de qualidade artística é perceptível não apenas aos jornalistas especializados, mas a todos os indivíduos com um pouco mais de idade e experiência, não se tornassem fenômenos de público e rendessem intermináveis sequências. Se a palavra dos críticos fosse lei, superproduções elogiadas como Círculo de Fogo e Scott Pilgrim Contra o Mundo não teriam passado despercebidos junto ao grande público. E o que dizer de filmes de cineastas como Woody Allen, Pedro Almodóvar, Roman Polanski, Abbas Kiarostami, Sofia Coppola, Zhang Yimou, entre outros, seriam sempre os filmes mais rentáveis de cada ano. Mas não, a opinião dos críticos não influencia o grande público. Críticos nada mais são do que pessoas como grande parte do público, apenas tem como trabalho conhecer e entender um pouco do universo da sétima arte. E para isso precisam conhecer desde as grandes produções de Hollywood que lotam as salas de cinema dos shoppings, mas principalmente os filmes menores, de artistas de diversas nacionalidades, não muito conhecidos do grande público. Em qualquer profissão quanto mais conhecimento melhor. Então é interessante para a imprensa especializada saber sobre o cinema europeu, asiático, americano independente, é claro os latino-americanos também. Todos possuem uma opinião formada sobre tudo. E sobre o cinema não é diferente. Os críticos, assim como o público muitas vezes não concordam sobre variados filmes, mas quando um é unânime significa que vai ser muito bom ou muito ruim. É claro também que existem pessoas que irão gostar até mesmo dos filmes mais execrados e defende-los de alguma forma (vide Batman & Robin, Mulher-Gato e X-Men Origens Wolverine), e também pessoas que irão afirmar que filmes proeminentes não estão com tudo isso, vide “Titanic”, Avatar, A Origem e Os Vingadores. A afirmação de Johnny Depp é uma micro declaração de guerra. Está certo que a imprensa, não apenas americana, como no Brasil também, detonou a produção. É claro que existem muitos defensores do filme também. Mas o caso aqui é que os defensores não foram o suficiente para garantir o sucesso dessa caríssima investida. Depp e os envolvidos talvez tenham ficado mimados demais com o sucesso inexplicável da franquia Piratas do Caribe, e agora realmente acreditam que tudo o que tocarem será ouro. Talvez isso demonstre que o público esteja se cansando de produções gigantescas e pouco esforçadas. Ou quem sabe pode ser qualquer outro motivo, já que tenho certeza de que muitos filmes piores do que “O Cavaleiro Solitário” continuarão a render verdadeiros rios de dinheiro nas bilheterias. O caso com Depp não é uma grande novidade, no entanto. Ao longo dos anos diversos artistas declararam guerra contra a imprensa ao invés de se esforçarem para entregar obras satisfatórias. Existem artistas que não ligam para o que dizem os críticos, como é o caso com o comediante Adam Sandler, que continua fazendo filmes a sua maneira, e enriquecendo muito com eles, não importa o que digam os jornalistas. De vez em quando um bate na trave, como foi o caso com Esse é o Meu Garoto (2012), lançado direto para vídeo no Brasil. Recentemente o diretor Michael Bay (que também não é popular com os críticos) proibiu a entrada do jornalista Peter Travers (famoso detrator do cineasta), da revista Rolling Stone, na cabine de imprensa de seu último trabalho, “Sem Dor, Sem Ganho”. Parece que na próxima Bay terá que barrar mais profissionais, já que a produção não foi bem com os especialistas. O fato é que não existe uma máfia disposta a detonar uma produção. E mesmo que existisse ela jamais seria eficiente. As pessoas são espertas demais para não confiarem em seus próprios gostos. E uma pessoa decidida a ver o próximo Os Vingadores, Superman, “Transformers” ou o próximo filme caro de Johnny Depp não irá deixar de fazê-lo mesmo que todos os veículos do mundo digam que a produção é a pior coisa já feita no terreno da sétima arte. É claro que os críticos querem que os filmes sejam bons. É claro que pessoas que fizeram de sua profissão ver filmes desejam que todos sejam excelentes. Nada dá mais prazer a um entusiasta da sétima arte, um verdadeiro apaixonado, do que assistir a um filme irretocável. Quando o boca a boca se espalha em relação a uma produção problemática, nem sempre ela será a palavra final em relação a tal obra. Casos recentes como Guerra Mundial Z e até mesmo o próprio Titanic (que quase faliu a Fox) são claros exemplos. É o papel de um profissional consciente promover o filme que ache merecedor. É claro que “O Cavaleiro Solitário”, personagem querido de todos os conhecedores da cultura popular em geral, merecia um bom filme, que fosse sucesso. E isso vale para todos os fracassos do cinema, como o adorado personagem “Besouro Verde” também (cujo filme falhou). Mas quem determina o sucesso ou o fracasso de um filme desse porte ainda é o público. Não foi dessa vez que o herói do velho oeste ganhou um tratamento adequado nas telonas, e quem disse isso foram justamente os fãs." (Pablo Bazarello)

Walt Disney Pictures Jerry Bruckheimer Films Blind Wink Productions Infinitum Nihil Classic Media Silver Bullet Productions (II)

Diretor: Gore Verbinski

163.543 users / 47.551 face

Check-Ins 639 45 Metacritic

Date 24/07/2014 Poster - #####

46. Ai no yokan (2007)

102 min | Drama

Coincidence and the aftermath of violence. A man's middle-school daughter has been murdered. His wife is already deceased. He tells a counselor he wants to live in anonymity, working with ... See full summary »

Director: Masahiro Kobayashi | Stars: Masahiro Kobayashi, Makiko Watanabe

Votes: 265

[Mov 05 IMDB 6,4/10 {Video/@@}

O RENASCIMENTO

(Ai No Yokan, 2007)


''Quando uma estudante de Tóquio é condenada por ter esfaqueado uma colega de sala até a morte, sua mãe, Noriko, decide se mudar para o lugar mais longe possível de sua cidade natal. A mesma decisão é tomada pelo pai da vítima, Junichi.'' (Filmow)

{A disciplina é vista como um bom remédio para o desespero} (ESKS)

Monkey Town Productions

Diretor: Masahiro Kobayashi

201 users / 23 face

Check-Ins 168

Date 28/05/2013 Poster - ####

47. People I Know (2002)

R | 100 min | Crime, Drama, Mystery

53 Metascore

A New York press agent must scramble when his major client becomes embroiled in a huge scandal.

Director: Daniel Algrant | Stars: Al Pacino, Téa Leoni, Ryan O'Neal, Kim Basinger

Votes: 11,765 | Gross: $0.12M

[Mov 08 IMDN 5,5/10 {Video/@@@} M/53

O ARTICULADOR

(People I Know, 2002)


"O Articulador " entra em cartaz em São Paulo antes de estrear em Nova York, sua cidade-cenário. Por lá, o lançamento está previsto para 2003, quem sabe. O motivo do desprezo é misterioso, mas talvez tenha alguma coisa a ver com algumas das melhores qualidades do filme. Este segundo longa de Dan Algrant (de "Nu em Nova York", 1994) traz uma honestidade muito rara no cinema americano hoje, principalmente no cinema dito independente, que de modo geral se encontra num estado ainda mais pobre que o hollywoodiano. Cada vez mais filmes corajosos como esse são postos de lado pelas regras do próprio mercado. Não por acaso, a distribuição de "O Articulador" nos EUA está a cargo da Miramax. Mas não se trata de um típico filme Miramax, diga-se de passagem. O roteiro quase primoroso de Jon Robin Baitz acompanha algumas horas da vida de Eli Wurman (Al Pacino), um relações-públicas da velha guarda nova-iorquina. Durante o tempo em que a câmera acompanha Eli, despontam temas delicados como tráfico de influências, uso de drogas, chantagem e abuso de poder. Mas o motivo da censura branca talvez seja uma visão extremamente crítica da Nova York pós-Giuliani, principalmente em relação à política repressiva aos imigrantes ilegais. "O Articulador" lembra os filmes da melhor fase de Sidney Lumet. Certamente não tem o impacto de Um Dia de Cão nem a precisão de Serpico, para citar dois filmes estrelados pelo mesmo Al Pacino. Mas tem a mesma vontade de falar, com carinho, de um personagem não-óbvio da grande Nova York, sem se deter apenas nesse personagem, buscando um painel mais amplo. Pacino tem neste filme seu melhor trabalho nos últimos anos. Ele dá nuanças mis à figura do relações-públicas homossexual, dilacerado pela corrupção inerente ao seu trabalho e o idealismo que ainda alimenta. Quando o filme começa, Eli está organizando um jantar de adesão à causa de dois imigrantes africanos que estão para ser deportados. Pretende, ainda, selar a paz entre as comunidades negra e judaica da cidade, que trocam acusações e alimentam ressentimentos mútuos. Mas Eli tem seu trabalho interrompido pelo pedido (que ele não pode negar) de um velho amigo, o astro de cinema Cary Elner (uma participação surpreendente de Ryan O'Neal). Cary aparece de madrugada, solicitando mais um trabalhinho a Eli: ele deve pagar a fiança de uma jovem atriz em ascensão (interpretada por Tea Leoni), presa por posse de drogas, e acompanhá-la até um jatinho, que vai levá-la de volta a Los Angeles. Mas ele acaba testemunhando o assassinato da atriz. Nesse momento, o roteiro parece tomar um rumo perigoso (o de um filme de suspense banal). Mas logo retoma seu curso, concentrando-se novamente na figura de Eli. Sem deixar de resolver o quesito policial, "O Articulador" não se distancia de seus objetivos primeiros, que é contar a história da figura fascinante do relações-públicas decadente. O personagem de Eli Wurman vive num mundo onde não há espaço para ele. Sua cunhada (outra participação surpreendente, de Kim Basinger) tenta convencê-lo a se aposentar, mas, quando ele aceita sua proposta, é tarde. Eli já foi tragado pelo abismo. Uma figura comovente, enfim." (Pedro Butcher)

"Não deixa de ser estranho, e até mesmo agradável, o fato de uma fita pequena e pouco famosa como "O Articulador" estreiar em diversas salas do Brasil antes mesmo de ter uma data marcada para chegar às salas norte-americanas. O motivo, provavelmente, é um só: Al Pacino. Muito admirado por estas terras ao sul do Equador, o ator é capaz de levar milhares de brasileiros aos cinemas simplesmente porque seu nome aparece nos créditos (casos semelhantes ocorrem por aqui com Robert de Niro, que, assim como Pacino, já não funciona mais como chamariz de bilheteria nos EUA, infelizmente...). A pergunta é: o que seria de "O Articulador" sem a presença de um grande astro no elenco ? A resposta mais óbvia seria um nada, já que, sem Pacino, esta pequena produção ficaria restrita ao circuito de arte e sumiria das poucas salas num curto espaço de tempo. O fato dela também não ter nenhuma grande sacada que possa justificar um maior interesse por parte do público só complica sua situação. "O Articulador" conta a história de um relações públicas chamado Eli Wurman (Pacino), que cuida da carreira de alguns astros da TV e do cinema, e que ainda arranja tempo para promover eventos beneficientes em Nova York. À pedido de seu maior cliente, o famoso ator Cary Launer (vivido por Ryan O'Neil), Eli vai até uma cadeia pagar a fiança de uma atriz de TV que acabou de chegar à Big Apple (Jili, interpretada por Tea Leoni.). Eli então leva a moça para um hotel, e, num convite dela, os dois acabam abusando das drogas. Deitado na banheira e completamente chapado, Eli vê um homem se aproximar da jovem atriz para matá-la, mas ele não se levanta, já que seu estado naquele momento o impede sequer de distinguir a realidade de alucinações. No dia seguinte, Eli sai do hotel sem perceber que Jilli estava morta, e acaba se envolvendo numa conspiração que envolve diversos setores da alta sociedade nova-iorquina, tendo como pano-de-fundo a campanha política que pretende lançar Cary Launer ao Senado. "O Articulador" equilibra o drama pesado e extremamente cansativo do personagem com o thriller (nunca menos do que interessante) dos acontecimentos em que ele se envolveu. Por vezes, a lentidão do drama pessoal vivido por Eli Wurman acaba se sobrepondo. Por estar constantemente dopado (já que usa drogas para dormir), Eli leva uma vida modorrenta, arrastada, trôpega. Mal tem tempo para descansar e cuidar de sua saúde. É exatamente esse ritmo de vida estressante do personagem que faz do filme uma experiência difícil e depressiva. O cansaço de Eli, em alguns momentos, sai da tela e atinge o público, que acaba compartilhando das mesmas sensações, goste ou não. Mas mais interessante (apesar de pouco original) é o enfoque crítico que o filme dá aos bastidores da fama e do showbizz. Todos os atos das estrelas parecem ser friamente calculados, aparições em jornais e festas são negociadas à exaustão, envolvimento em escândalos são encobertos à todo custo. É exatamente esse o papel de Eli: ele transforma o sujeito aproveitador e mercenário no cordeirinho inofensivo que dá dinheiro à Hollywood. Por ser semi-independente, pode-se dizer que o filme tem uma liberdade maior para expor todas as maracutaias que acontecem por trás do pano da fama com uma maior carga de acidez e rispidez. Há uma cena-chave que, apesar de ser um gigantesco clichê, resume a posição que "O Articulador" parece tomar: Eli, depois de ter vomitado no banheiro da festa que organizou, encontra-se com um aspirante à astro, deslumbrado por ter avistado o famoso Cary Launer na mesma festa. Depois de olhar para a cara do sujeito, que ainda está feliz por ter encontrado seu ídolo, Eli diz: Que você continue sendo esse jovem ingênuo, sempre. É a ingenuidade que o impede de enxergar toda a podridão e a corrupção existentes além dos sorrisos e da maquiagem do ator que admira. O filme ao menos tem a coragem de manter essa mesma postura em toda a sua duração, e passa longe de ser uma bobagem que não critica ninguém. Pelo contrário: algumas estrelas de Hollywood certamente se sentirão retratadas na tela, e não ficarão nada felizes com isso. Mesmo assim, há alguns problemas bastante primários na fita. A personagem de Kim Basinger, por exemplo, não tem uma função específica, resumindo-se a aparecer nas vezes em que o personagem de Al Pacino encontra o fundo do poço. Há também uma certa dose exagerada de pretensão por parte do diretor, que na meia hora final acaba pesando um pouco a mão em cima da condução do filme, extendendo desnecessariamente cenas que poderia ser mais curtas. A cena que fecha a trama , por exemplo, é ridícula: Dan Algrant (o diretor) vira a câmera de ponta-cabeça, e filma Manhattan desta maneira, como se isso fosse a coisa mais revolucionária e genial do mundo. Mas o que vale realmente a pena em "O Articulador", além de suas interessantes (porém nada originais) idéias sobre o showbizz, é a fabulosa atuação de Al Pacino. Cansado, envelhecido, e até um pouco efeminado, Pacino dá ao seu personagem uma profundidade inesperada, e acaba envolvendo a platéia no drama pessoal e profissional de Eli Wurman. O filme é dele, e de mais ninguém." (Diego Sapia Maia) {Algumas pessoas cansam. Elas partem mais cedo} (ESKS)

Myriad Pictures South Fork Pictures Galena GreeneStreet Films Chal Productions In-Motion AG Movie & TV Productions World Media Fonds V (WMF V)

Diretor: Dan Algrant

8.818 users / 169 face

Soundtrack Rock = Rickie Lee Jones

Check-Ins 177

Date 02/06/2013 Poster - ####

48. Heaven's Gate (1980)

R | 219 min | Adventure, Drama, Western

57 Metascore

During the Johnson County War in 1890 Wyoming, a sheriff born into wealth does his best to protect immigrant farmers from rich cattle interests.

Director: Michael Cimino | Stars: Kris Kristofferson, Christopher Walken, John Hurt, Sam Waterston

Votes: 17,153 | Gross: $3.48M

[Mov 01 IMDB 6,6/10 {Video}

O PORTAL DO PARAÍSO

(Heaven's Gate, 1980)


"Um filme-monstro, ao mesmo tempo abençoado e maldito." (Vlademir Lazo)

''Não se conhece em Hollywood maior exemplo de fracasso do que "O Portal do Paraíso". Estourou o orçamento várias vezes, não rendeu um tostão furado, levou a United Artists à falência e enterrou viva a carreira então promissora do diretor Michael Cimino. Sabe-se que se trata de um faroeste ambientado no Wyoming, por volta de 1890, envolvendo conflitos com imigrantes. Sabe-se que não é dos mais movimentados, mas que é, em compensação, belíssimo.Por que voltar a ele? Porque um Tribunal de Contas agora quer saber da viabilidade dos projetos cinematográficos financiados com recursos estatais (como renúncia fiscal). Pode ser ou não um gesto de censura. O certo é que essa história não acaba por aqui." (* Inácio Araujo *)

** "O Portal do Paraiso", de 1980, é um dos maiores e mais deslumbrantes fracassos de história de Hollywood. Depois de O Franco Atirador, com o qual ganhou cinco estatuetas no Oscar, o diretor Michael Cimino teve carta branca para fazer qualquer projeto. Escolheu então uma espécie de anti-westem, com pouca ação, ao dramatizar conflitos reais ocorridos em 1980 entre proprietários de terra no Wyoming e imigrantes europeus. Gastou 44 milhões em um filme longo (216 Minutos), que fez apenas US$1,5 milhão de bilheteria. O fiasco matou a carreira de Cimino, mas "O Portal do Paraiso fica como obra-prima desprezada. É o grande momento como ator do cantor Kris Kristofferson, em um bom elenco que tem também Christopher Walken, Jeff Bridges e john Hurt," (Thales de Menezes)

''O Texto abaixo não é uma resenha ou crítica, pois ainda não tive a oportunidade de assistir ao filme. Trata-se apenas de um texto que busca as curiosidades sobre a produção, além de traçar, de forma superficial, a sua temática. Uma vez advertido(a), acompanhe as linhas se assim o desejar. Esta semana, Avatar atingiu o status de longa-metragem de maior bilheteria de todos os tempos, ultrapassando o sucesso anterior de James Cameron, Titanic (mesmo que, para isto, se valha de artifícios como ingressos mais caros para salas de projeção em 3D e valores não atualizados para a arrecadação de Titanic). Mas, talvez muita gente se faça a pergunta: Se Avatar é o maior sucesso, qual seria o filme que resultou no maior fracasso da indústria cinematográfica?. Provavelmente, a resposta que muitos críticos e especialistas darão será “O Portal do Paraíso” (Heaven’s Gate), filme do diretor Michael Cimino lançado em 1980, e o mais caro realizado até então. Custou cerca de US$ 45 milhões aos cofres da United Artists o que, em valores atualizados, resultaria em uma produção de aproximadamente US$ 200 milhões, cara até para os padrões perdulários do cinema atual. A verdade é que o longa teve resultados catastróficos nas bilheterias, arrecadando apenas US$ 1 milhão, o que redundou em um prejuízo de 98%, levando a United à falência. Desde então existe uma aura de maldição que paira sobre o longa, não tendo passado por processo de reabilitação nem mesmo nesta era de DVD-Blu Ray (muito embora exista a disponibilidade em DVD nos USA). O mais curioso é que o filme tem em sua direção e elenco nomes consagrados que jamais fariam prever tamanho desastre. O diretor, Michael Cimino, vinha da láurea do Oscar, recebida em 1979 pelo seu O Franco Atirador (1978), filme sobre as sequelas da guerra do Vietnã sobre um grupo de amigos operários recrutados para o conflito. Tanto o filme quanto Cimino foram oscarizados, além da produção ter ido muito bem nas bilheterias. Além disso, no elenco de “O Portal do Paraíso” estavam nomes como John Hurt, Isabelle Hupert (sim, uma das musas do cinema francês), Christopher Walken (que havia trabalhado com Cimino em O Franco Atirador e levado o Oscar de coadjuvante por esse trabalho), Kris Kristofferson, entre outros. Mas, então, o que deu tão errado? Muito provavelmente, o fracasso teve como principal fator uma inadequação ao momento pelo qual passavam os EUA e seu público, que já estava se cansando de ver nas telas expiações do Vietnã, além de acompanhar, ao longo dos anos 70, casos de corrupção como o de Watergate dominando os noticiários. Ou seja, o ambiente estava propício para produções de tom escapista como as de Steven Spielberg e George Lucas com seus contatos com extra-terrestres e guerras estelares. E a temática de “O Portal do Paraiso” era exatamente o contrário disto que o público estava esperando. O longa trata de um episódio um tanto obscuro da história dos EUA, um conflito ocorrido no Condado Johnson, no Estado do Wyoming, por volta de 1890, onde rancheiros contrataram exércitos de mercenários para conter os avanços dos imigrantes que vinham em grandes caravanas para a região. Devido aos conflitos surgidos entre fazendeiros e colonos e a incapacidade do Estado de exercer seu poder, além de prover a manutenção de serviços básicos como água e saneamento, uma verdadeira faxina demográfica foi realizada para restabelecer a ordem e o “progresso” (parece o lema da nossa bandeira). Cimino, desta forma, aproveitou o tema para realizar fortes críticas à formação e hipocrisia da sociedade americana, desmistificando a conquista do Oeste. Tamanha autocrítica nunca costumou render muitos pontos com o público estadunidense (essa não é, vale frisar, uma virtude que lhe seja frequente). Ademais, os críticos torceram o nariz para a obra, talvez influenciados pelos inúmeros boatos que rondaram a produção. Um deles falava que Cimino teria gastado horrores construindo uma verdadeira cidade no meio do nada apenas para filmar uma única sequência, além de fazer todo elenco esperar horas somente para bater uma foto que constaria em uma das cenas. Reza a lenda que muitos da equipe o chamavam pelas costas de O Aiatolá. Ridicularizado até em programas de TV, Cimino caiu do seu pedestal de gênio (recentemente conferido pelo citado O Franco Atirador). E o seu ambicioso projeto se transformou em um monumental fracasso.Alguns cineastas, como Martin Scorsese e Francis Ford Copolla, consideram o filme uma obra-prima incompreendida. Talvez seja. Infelizmente, até hoje ainda não tive a oportunidade de assistir e comprovar se tão prestigiosos diretores estão com a razão. É provável que estejam. Vale lembrar que durante anos, Cidadão Kane foi relegado pela crítica e nunca chegou a ser sucesso de público. Obras geniais costumam ser incompreendidas em seu tempo. De qualquer forma, obra-prima ou porcaria monumental, resta a curiosidade para os cinéfilos em descobrir um filme que pode ser taxado de o maior fracasso comercial de todos os tempos. Fica a dica." (Fabio Henrique Carmo)

''Na entrevista coletiva para promover Bastardos Inglórios no Festival de Cannes, em maio de 2009, Quentin Tarantino se declarou um apaixonado pela atriz francesa Isabelle Huppert, que presidia o júri. Palavras dele: “Ninguém a ama mais do que eu. Perdi a conta de quantas vezes revi O Portal do Paraíso, de Michael Cimino”. Despercebida e pouco divulgada, a citação de Tarantino ao filme de Cimino não apenas reforçou a profunda cultura cinéfila do realizador de Kill Bill como deu o brevíssimo holofote a um filme e a um realizador que a indústria de Hollywood tratou de apagar. Sim, Michael Cimino se transformou numa nódoa, um câncer extirpado, um vilão derrotado, um monstro derretido dentro da engrenagem cruel do cinema americano. Se no passado fora celebrado como novo queridinho, capaz de arrematar uma penca de Oscars logo em seu segundo longa (O Franco Atirador), não precisou de uma década para que Cimino se tornasse o enfant terrible, o filho que deu errado na geração setentista capitaneada por ele, Francis Ford Coppola, William Friedkin, Martin Scorsese e Brian De Palma. De todos estes, Cimino é o único a ter largado o cinema, e também o único a, numa determinada fase de sua carreira, não contar com mais nenhum tipo de apoio. Numa ironia que talvez encantasse a Tarantino, se ela não fosse tão trágica, Michael Cimino é, hoje, um bastardo inglório. Mas quem diabos é Michael Cimino à geração pós-anos 80 que não tomou contato com seus filmes? Pode soar palavreado sem sentido defender, em plena primeira década do século XXI, realizador de tantas camadas e complexidades, que soube como poucos falar sobre seu país sem jamais deixar de falar sobre o próprio ato de fazer cinema. Cimino nunca foi metalinguístico (à exceção do segmento comandado por ele para a antologia Cada Um com Seu Cinema, último registro de sua atividade de cineasta). Porém, suas empreitadas atrás das câmeras eram, por si só, o atestado do que ele acreditava que o cinema tinha potencial para ser. Ora o espaço do mito construído, ora do mito desconstruído; fosse o espaço de tensões claustrofóbicas, ou o de aventuras errantes pelas estradas sem rumo da América. Sob qualquer aspecto que decidisse abordar, Cimino manteve a profunda crença na capacidade do cinema funcionar como arte do corpo – da representação do corpo como propulsor da ação – e do olhar sendo a instância máxima da manutenção de relações invariavelmente destrutivas. Pois Cimino, em apenas sete longas-metragens realizados ao longo de 22 anos, marcou-se como um narrador de relações esfaceladas. Quase sempre foi pessimista, e é curioso que os dois extremos de sua obra se aproximem do otimismo: da irreverência de O Último Golpe (1974) à esperança de Na Trilha do Sol (1996), e ainda que nada de tangível permaneça do contato criado entre os personagens, ao fim há lampejos de novos rumos, olhares outros a um universo de possibilidades até então desconsideradas. Mas que ninguém se engane: o cinema de Cimino é, por definição, baseado na destruição do contato humano, ou na decadência da própria humanidade enquanto representante de sentimentos de pureza. O Franco Atirador (1978) já expressava isso da maneira mais cruel possível: lançando três amigos no meio da selva vietnamita, através de um dos cortes de montagem mais brutais que se tem notícia. De um instante de contemplação e olhares trocados ao som do piano, o plano seguinte nos lança na loucura da guerra e vai desembocar no episódio deflagrador da perda da ingenuidade que toda a primeira hora anterior de filme tão bem construiu para os protagonistas (Robert De Niro, Christopher Walken e John Savage). A aleatoriedade da roleta russa que traumatiza o trio é também a aleatoriedade de suas vidas a partir dali: não mais seres que definem os espaços onde vão ocupar; agora, são os espaços que os acolhem (o retorno à comunidade, a internação na clínica para deficientes, a permanência no Vietnã) do jeito que eles, homens, são – ou, mais corretamente, o que se tornaram. A noção de destruição interior ganha nas imagens de Cimino encenações sempre muito precisas, quase nunca óbvias e, na maior parte das vezes, de um incômodo atroz. O espaço é o mesmo na segunda caçada de O Franco Atirador, mas o personagem está modificado pela experiência na guerra; a câmera ainda valoriza seu corpo, mas com bem menos ênfase, porque ele agora é um corpo estilhaçado. Esse estilhaço será a base de ''O Portal do Paraíso'' (1980), filme seguinte de Cimino e provável (mas não único) culpadode sua derrocada. Projeto grandioso, custou o equivalente hoje a US$ 100 milhões. Não arrecadou mais que 2% disso nas bilheterias e foi responsável pela falência do estúdio United Artists. Maldita a sociedade moderna que valoriza o lucro como legitimador de qualidade: sem sucesso e com pose e fama de arrogante, Cimino foi achincalhado, teve o filme mutilado em mais de 100 minutos para ser relançado no mercado sem sua autorização, virou alvo de deboche e piadas e amargou um forçado ostracismo que o levou à depressão. O Portal do Paraíso, por conta disso, ficou abandonado à própria sorte e se tornou uma espécie de lenda e símbolo do quanto Hollywood é capaz de torrar seus dólares e desvalorizá-los se o público não embarcar na viagem. Do filme, mesmo, pouca lembrança restou, ainda que haja um Tarantino aqui, um crítico ali, um espectador acolá, que insistem em trazer na memória a força de ''O Portal do Paraíso''. É, com toda a sua grandiosidade mastodôntica (3h35m de duração, cenários gigantescos construídos no set, centenas de figurantes, direção de arte e fotografia repletos do mais alto padrão de suntuosidade), um trabalho autêntico de autor. Apesar do enredo se situar historicamente antes de O Franco Atirador, o filme dá sequência à ambição de Cimino de falar das dores que afligiam a América. O Vietnã era apenas uma lembrança ruim, mas o novo filme, ambientado no vasto território do Wyoming de 1890, trazia à baila lembranças do conflito (não diretamente) e cutucava as feridas sem piedade e com álcool ardente de doses puras e genuínas. Se os espectadores não queriam saber de assistir às chagas da nação, imagine se iriam atentar para a beleza da construção cinematográfica levada a cabo por Cimino. Novamente o esfacelamento dá o tom, desta vez sem construção prévia (diferente de O Franco Atirador): bastam 20 minutos de filme para o cineasta nos apresentar seu protagonista (o xerife interpretado por Kris Kristofferson) como decalque do estudante que foi no passado. Em meio a um conflito por território e às voltas com a paixão pela meretriz local (Isabelle Huppert), o xerife vai precisar se dividir entre a guerra que se aproxima e a disputa pelo amor da moça com um pistoleiro (Christopher Walken). A sustentação de Cimino para as mais de três horas de filme vai muito além desses pontos de partida narrativos. Interessa, aqui, que os corpos estejam sempre em contato, que as danças sirvam de confraternização, que a pele seja o receptáculo ora da paixão mais delicada (a valsa a dois no salão), ora da violência mais brutal (os tiroteios que não poupam ninguém). A grande questão de reconstituição e olhar histórico está lá, como estava em O Franco Atirador. Porém, ela pouco importa a Cimino diante das possibilidades permitidas pelo contato humano – o olhar atravessado, a palavra agarrada na garganta, o sorriso tímido, o toque discreto, o presente de aniversário. O pessimismo vai se concretizar quando tudo isso deixar de existir diante da violência que bate à porta – ou melhor, que derruba a porta – e faz todos figuras ativas de suas destruições. Enquanto fazem a história do país andar, os personagens de ''O Portal do Paraíso'' põem fim às suas próprias histórias. O espaço aberto é o espaço por excelência no cinema de Michael Cimino. Se as relações – de afeto ou de fissão – só se realizam no contato com o corpo, os corpos apenas farão sentido se colocados em ambientes onde possam transitar livremente. Daí o uso do formato de tela scope com tanta propriedade: ao abrir o plano para a errância dos corpos, Cimino também está libertando o olhar do espectador para o espaço e permitindo que os personagens se abram a esse espaço. Em O Siciliano (1987), o rebelde Salvatore (Christopher Lambert) é apelidado de “o senhor das montanhas” por escolher viver e montar seu exército nas alturas – e é para onde ele leva o aristocrata sequestrado, permitindo que este ande livremente pelo ambiente ilimitado. Os amigos de O Franco Atirador vivem autêntica liturgia quando saem à caça de cervos no meio da mata; e, ao reencontrar o velho colega, é sobre caçadas a primeira pergunta do ex-combatente que teve as pernas amputadas. O garoto de Na Trilha do Sol busca a cura do câncer num lago escondido no meio da infinitude das montanhas. Só num filme de Cimino para um bandido silenciar diante do cerco da polícia, respirar fundo e olhar a paisagem ao redor antes de ser executado. O filme é Horas de Desespero (1990); o bandido é vivido por David Morse; e a tensão da cena é toda construída para culminar num lirismo inesperado: sabendo estar se despedindo do mundo, o criminoso – o único a pedir ao chefão, encarnado por Mickey Rourke, para ir embora da casa onde eles mantêm uma família refém – tem a liberdade cerceada e, antes de se entregar, absorve o que a natureza ainda pode lhe proporcionar, dá um último suspiro e se entrega aos tiros derradeiros. É uma cena ciminiana como nenhuma outra. Não porque seja a melhor de sua obra, mas porque é a que mais emula essa mesma obra. Realizado no ocaso da carreira do diretor, Horas de Desespero foi uma última tentativa de redenção plena para Cimino (o que o título cruelmente parece ironizar), e ele se permitiu inserir pequenos momentos que falavam muito mais de suas crenças artísticas do que poderia permitir o remake de um antigo sucesso de William Wyler (o filme homônimo de 1955 com Humphrey Bogart). Apesar de quase inteiramente ambientado nos limites das paredes de uma casa, Horas de Desespero só se completa quando vai para o exterior – tanto na cena citada com David Morse quanto no desfecho, em que o dono do lugar (Anthony Hopkins) literalmente enxota o bandido Rourke, deixando-o ser alvejado pela polícia no lado de fora da mansão. Se parece um final feliz dos mais tradicionais em Hollywood (família a salvo e bandido morto), o desfecho de Horas de Desespero guarda mais uma noção de Cimino de que a América está calcada na violência sob qualquer aspecto, o que o aproxima de cineastas como Arthur Penn, Sam Peckinpah, William Friedkin e Don Siegel – e não apenas no olhar para o mundo destes diretores, mas principalmente na forma de representar esse mundo. O Ano do Dragão (1985), realizado cinco anos depois da catástrofe comercial de O Portal do Paraíso (e sob rigorosíssimo controle de custos e cronograma do produtor Dino De Laurentiis), guarda profundas semelhanças com a visão de determinados filmes – Perseguidor Implacável e Os Impiedosos (Siegel), Os Implacáveis (Peckinpah), Caçada Humana (Penn) e Viver e Morrer em Los Angeles (Friedkin): todos acreditam no corpo como o resumo do mundo, o receptáculo da violência, o fim de qualquer chance de transcender a existência para além dos limites permitidos pela natureza da carne. E, portanto, o corpo só fará parte do enquadramento quando se mostrar ativo, artífice, dono do espaço, mesmo que esse espaço lhe sirva de jazigo. Só que Cimino, talvez mais que o quarteto acima citado, implode com maior selvageria o universo que retrata: o policial vivido por Mickey Rourke, detestável como talvez só o seja o de William Petersen no filme de Friedkin, mergulha mais e mais no inferno criado por (e para) si mesmo. Praxe em Cimino, quase ninguém sobrevive ao fim de O Ano do Dragão, e tudo é retratado com visão suja, demonstração do quanto o mundo pode ser mau se assim o homem (o cinema?) o permitir ser. Longe de ser gerada por maniqueísmos, a dor provocada por Cimino é deflagrada na pele – e, claro, se dá a céu aberto, com ou sem a luz do dia.No cinema de Michael Cimino, os mitos podem crescer e sucumbir diante de sua própria natureza gigantesca (O Siciliano), ou podem se enterrar junto com a história de um país (''O Portal do Paraíso''); podem se tornar verdade (Na Trilha do Sol) ou serem renovados (O Último Golpe); talvez se dissipem num jantar de amigos depois da guerra (O Franco Atirador) ou provoquem o fim do mundo como se conhece (O Ano do Dragão), ou pelo menos o fim de um único mundo (Horas de Desespero). O que jamais vai faltar para Cimino é a existência desse mito fundamental, dessa fonte primária de onde a ação ocorre e que é responsável por toda a construção de um olhar atento ao que permite cada movimento. Se é de mitos, afinal, que falam os filmes de Cimino, nada mais coerente que ele mesmo, na incompreensão ainda a rodeá-lo, tornar-se apropriadamente um. Numa modesta tentativa de trazer Michael Cimino à baila, pedi a alguns críticos que me encaminhassem breves palavras sobre a obra do cineasta. Seguem os comentários de colegas que muito admiram os filmes de Cimino. Foi um caso único (e último) de cineasta que reviu os mitos sem, no entanto, tripudiar a falência desse repertório. Diferente de seus colegas Coppola e Scorsese, Cimino foi um historiador que preferiu – como os antigos mestres americanos – olhar a América e seus conflitos por dentro sem recorrer à cômoda estratégia de fazer os filmes responderem a uma agenda progressista que diagnosticava, de antemão, a grande chaga americana dos anos 70 causada, entre outras coisas, pela guerra do Vietnã. Isso lhe custou a pecha de reacionário, rótulo de má fé criado por uma crítica pseudo-progressista americana que não entendeu patavinas de O Franco Atirador, filme que eu mesmo pichava. Ainda bem que o tempo faz com que nos desapeguemos de ideias pré-fabricadas. Filmes como O Ano do Dragão, O Portal do Paraíso, O Franco Atirador, O Siciliano e Horas de Desespero encerram o sentido da Nova Hollywood. Cimino foi o seu começo, o seu meio e o seu fim." (Francis Vogner dos Reis)

54*1981 Oscar / 1980 Palma de Cannes

Top Década 1980 #19 Top Faroeste #7 Top Histórico #3

Partisan Productions

Diretor: Michael Cimino

8.114 users / 637 face

Check-Ins 182

Date 03/06/2013 Poster - ###

49. The Misfits (1961)

Not Rated | 125 min | Drama, Romance, Western

77 Metascore

A divorcée falls for an over-the-hill cowboy who is struggling to maintain his romantically independent lifestyle.

Director: John Huston | Stars: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter

Votes: 23,425 | Gross: $8.94M

[Mov 03 IMDB 7,3/10 {Video/@@@}

OS DESAJUSTADOS

(The Misfits, 1961)


''Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não vê nada demais. No meio de tudo isto nasce uma paixão entre os dois. Ultimo filme por completo de Marilyn Monroe e Clark Gable.'' (Filmow)

"Em seu trabalho final, Marilyn Monroe encara seu autorretrato, quando enfim a justiça foi feita e lhe entregaram um papel que exigisse mais do que apenas um rosto bonito, e que se conectou diretamente com a vida da atriz. Grandiosa despedida." (Heitor Romero)

Seven Arts Productions

Diretor: John Huston

11.023 users / 1.118 face

Check-Ins 184

Date 04/06/2013 Poster - ########

50. The Stepfather (1987)

R | 89 min | Horror, Thriller

72 Metascore

After murdering his entire family, a man marries a widow with a teenage daughter in another town and prepares to do it all over again.

Director: Joseph Ruben | Stars: Terry O'Quinn, Jill Schoelen, Shelley Hack, Charles Lanyer

Votes: 18,193 | Gross: $2.49M

[Mov 03 IMDB 6,7/10 {Video/@@}

O PADRASTO

(The Stepfather, 1987)


“Ele só quer uma família perfeita. Nem que para isso ele tenha que matar. Não, não é um drama destes exibidos no Supercine aos sábados, apesar de baseado em fatos reais. E sim, é um dos primeiros trabalhos do ator Terry Locke O’Quinn, o careca mais famoso da ilha de Lost. "O Padrasto", que carrega uma injusta fama de trash e se destacou nos anos 80 como um dos clássicos da saudosa era do VHS, permanece inédito em DVD por aqui até hoje (na época foi lançado em fita pela também falecida VTI). Ao contrário do que possa pensar a princípio, O Padrasto é um thriller de suspense psicológico muito bem elaborado e marcado por um clima tenso resultante da aparente sobriedade do personagem interpretado por Terry O’Quinn. Já nos primeiros minutos de filme a identidade do personagem Jerry Blake é revelada. Esta sequência mostra Jerry (com aparência de psicopata) se limpando em um banheiro. Seu rosto, suas roupas e suas mãos estão ensanguentadas. Após retirar o sangue, o homem faz a barba e arruma suas as malas. Jerry parece agora um respeitável e comum pai de família. Enquanto desce as escadas rumo à porta, vemos marcas de sangue pelas paredes. A câmera então não nos poupa do perturbador cenário: vários corpos espalhados por uma sala toda destruída. Entre os corpos está o de uma mulher e o de uma criança segurando um ursinho de pelúcia coberto de sangue. Jerry, indiferente, recolhe o jornal e parte, como um pai responsável no início de mais um dia de trabalho. Algum tempo depois, Jerry já tem uma nova família: a encantadora Susan e a enteada Stephanie. A garota ainda não superou a morte do pai e não tem uma boa relação com o novo namorado da mãe. Stephanie resolve investigar o passado do padrasto e Jerry vê suas chances de construir a família ideal ameaçadas. Aos poucos sua identidade-psicopata começa a se manifestar de maneira violenta e mortal. "O Padrasto" é um dos melhores trabalhos do diretor americano Joseph Rubem, responsável por longas conhecidos como Dormindo com o Inimigo (Sleeping With the Enemy, 1991) e Os Esquecidos (The Forgotten, 2004). Em O Padrasto, a sua direção é extremamente segura. O cineasta usa inteligentemente as panorâmicas externas, algumas mostrando as casas de família dispostas geometricamente lado a lado, as ruas vazias, o jovem entregador de cartas, criando uma atmosfera melancólica de perfeição (a mesma idealizada pelo personagem Jerry Blake). Surpreendentemente, as poucas cenas de maior violência são explícitas. O vilão também é muito bem desenvolvido e apresentado como um homem comum, fugindo do estereótipo oitentista assassino imortal, usado a exaustão nos slashers da época. O roteiro é uma adaptação de Carolyn Lefcourt e Donald E. Westlake para a novela homônima escrita por Brian Garfield. Ele se inspirou no caso real de John List, que matou sua família na década de setenta e só foi capturado dezoito anos depois, quando a tragédia foi mostrada no programa de televisão America’s Most Wanted. Garfield é famoso por ter escrito os livros Death Wish e Death Sentence, filmados como Desejo de Matar (com Charles Bronson) e o recente Sentença de Morte (dirigido pelo criador da franquia Jogos Mortais, James Wan). Mas o ponto máximo de "O Padrasto" é a interpretação vigorosa e intensa de Terry O’Quinn, que consegue convencer e impressionar tanto quanto o pai dedicado quanto como o serial killer de famílias. O bom desempenho do ator compensa as fracas atuações do resto do elenco. Entre eles Shelley Hack (do seriado televisivo As Panteras) interpretando a viúva Susan e a jovem Jill Schoelen - que ganha um pequeno desconto graças a uma bela cena de chuveiro – no papel da enteada problemática. Futuramente, Jill protagonizaria o ótimo Popcorn – O Pesadelo Está de Volta (Popcorn, 1991). A trilha sonora composta pelo ex-tecladista da banda de rock progressivo Yes, Patrick Moraz, soa muitas vezes incomoda e não acrescenta nada ao suspense da trama. A trilha, constituída quase exclusivamente por efeitos de teclado, acabou datada e hoje parece mais trilha sonora de vídeo-game antigo. Curiosidade: Moraz já viveu no Brasil. Quando em terras tupiniquins, tentou montar uma banda com a nata da música brasileira. A banda, que deveria tocar rock progressivo chamou-se Vimana e contava com Lobão e Lulu Santos. Dizem as más línguas que o Lobo Mau roubou sua namorada e abandonou o grupo. A banda acabou e Moraz foi embora do Brasil. "O Padrasto" obteve relativo sucesso nos festivais onde foi apresentado. Terry O’Quinn foi indicado para melhor ator no Saturn Award de 1988 e Independent Spirit Awards, melhor filme e roteiro” no Edgar Allan Poe Awards, melhor atriz no Young Artist Awards e melhor filme no Fantasporto de 1990. Ganhou os prêmios de “melhor atriz (Jill Schoelen) no Sitges – Catalonian International Film Festival e prêmio da crítica no Cognac Festival du Film Policier. Estreou nos Estados Unidos em 105 salas no dia 25 de Janeiro de 1987. A bilheteria bruta (gross box), em solo americano, foi de míseros 2,5 milhões de dólares. No entanto, O Padrasto saiu-se muito bem quando lançado mundialmente no mercado de vídeo, viabilizando a produção de mais duas continuações (inferiores, lógico): A Volta do Padrasto (The Stepfather 2, 1989, ainda com Terry O’Quinn no papel do psicopata) e O Padrasto – Ele Voltou para Ficar (The Stepfather 3: Father’s Day, 1991, agora com Robert Wightman no papel do padrasto). Além do remake recente lançado pela Sony Pictures/ Screen Gems. Enfim, "O Padrasto" é um inteligente e inquietante suspense que faz parte da safra de bons filmes produzidos na década de 80. Merece ser conhecido e relembrado." (João Pires Neto)

Incorporated Television Company (ITC)

Diretor: Joseph Ruben

7.798 users / 507 face

Soundtrack Rock = The Divinyls + Pat Benatar + Patrick Moraz

Check-Ins 185

Date 04/06/2013 Poster - #

51. The Nutty Professor (1996)

PG-13 | 95 min | Comedy, Romance, Sci-Fi

64 Metascore

Grossly overweight yet good-hearted professor Sherman Klump takes a special chemical that turns him into the slim but obnoxious Buddy Love.

Director: Tom Shadyac | Stars: Eddie Murphy, Jada Pinkett Smith, James Coburn, Larry Miller

Votes: 123,680 | Gross: $128.81M

[Mov 03 IMDB 5,5/10 {Video/@} M/62 O PROFESSOR ALOPRADO

(Nutty Professor, 1996)


''Um professor universitário sobre muito preconceito por ser gordo, mesmo sendo um grande conhecedor da área de genética. Quando passa a ser bem tratado por outra professora resolve tomar um experimento ainda em testes. Consegue então ficar magro, mas tem que conviver com sua nova vida dupla e com as reações que o produto pode causar em sua vida. Um dos primeiros filmes onde Eddie Murphy faz metade dos personagens existentes no roteiro. Além do professor, ele é também toda a família do personagem - e manda bem. O remake é divertido, dá pra dar bastante risada, mas ainda prefiro o original com Jerry Lewis, Professor Aloprado - 1963. Mesmo Murphy sendo um dos maiores humoristas da nossa geração, não consegue superar o mestre Lewis, que transformava suas feições - sem ajudas de efeitos eletrônicos - a cada momento de seus filmes. É um ótimo passatempo, mas tire a prova assistindo o original. Depois volte aqui e me conte qual sua opinião." (Nathalia Rangel)

69*1997 Oscar / 54*1997 Globo

Imagine Entertainment

Diretor: Tom Shadyac

70.658 users / 823 face

Soundtrack Rock = The Village People + James Brown + The Pointer Sisters + Backstreet Boys + Teddy Pendergrass

Check-Ins 190

Date 07/06/2013 Poster - ##

52. Soldier of Fortune (1955)

Approved | 96 min | Adventure, Crime, Drama

After Jane Hoyt's journalist husband disappears, she arrives in Hong Kong determined to find him but instead meets shady shipping magnate Hank Lee.

Director: Edward Dmytryk | Stars: Clark Gable, Susan Hayward, Michael Rennie, Gene Barry

Votes: 1,722

[Mov 07 IMDB 6,1/10 {Video}

O AVENTUREIRO DE HONG KONG

(Soldier of Fortune, 1955)


"O filme passado na China dos anos 50 conta a história do resgate de um preso americano dentro de uma prisão comunista. Um jornalista tenta ser salvo por sua mulher, que contratou um homem para realizar a operação. No entanto, com o passar do tempo, o salvador e a moça acabam se encantando." (Filmow)

Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Edward Dmytryk

719 users / 17 face

Check-Ins 194

Date 08/06/2013 Poster - #####

53. The Specialist (1994)

R | 110 min | Action, Drama, Thriller

A woman entices a bomb expert she's involved with into destroying the mafia that killed her family.

Director: Luis Llosa | Stars: Sylvester Stallone, Sharon Stone, James Woods, Rod Steiger

Votes: 69,791 | Gross: $57.36M

[Mov 03 IMDB 5,2/10 {Video/@@@}

O ESPECIALISTA

(The Specialist, 1994)


''Ray Quick (Sylvester Stallone) é um perito em explosivos que trabalhava para a C.I.A. e se aposentou, indo viver em Miami, Flórida, após o horrível fracasso de uma operação contra um grande traficante de drogas latino-americano, que teve como trágica conseqüência a morte de uma criança. Ray é persuadido a sair da sua aposentadoria quando a obcecada May Munro (Sharon Stone) lhe pede ajuda para conseguir se vingar de uma poderosa família do crime organizado, que é chefiada por Joe Leon (Rod Steiger) e seu filho Tomas Leon (Eric Roberts), que há alguns anos atrás, quando era jovem, foram os responsáveis pela morte dos pais dela. Paralelamente, Ned Trent (James Woods), o ex-parceiro de Ray que após a fracassada operação se tornou seu inimigo, está na folha de pagamento da família Leon. Ned busca uma vingança pessoal contra Ray, que gradativamente está executando os capangas de Leon." (Filmow)

Warner Bros. Jerry Weintraub Productions Iguana Producciones

Diretor: Luis Llosa

40.356 users / 930 face

Check-Ins 200

Date 11/06/2013 Poster - ###

54. Vagabond (1985)

Not Rated | 105 min | Drama

A young woman's body is found frozen in a ditch. Through flashbacks and interviews, we see the events that led to her inevitable death.

Director: Agnès Varda | Stars: Sandrine Bonnaire, Macha Méril, Stéphane Freiss, Setti Ramdane

Votes: 13,664

[Mov 09 IMDB 7,5/10 {Video}

SEM TETO, NEM LEI

(Sans toit ni loi, 1985)


"Nome menos conhecido da turma ligada a nouvelle vague, Agnes Varda foi a primeira a dar uma chance a Alains Resnais como montador em seu primeiro longa. La Pointe Courte. Como Resnais em Marienbad, ela presta uma homenagem ao nouveau roman em "Sem Teto Sem Lei", filme sem trama ou retrato psicológico, Leão de Ouro em Veneza. Mona (Sandrine Bonnaire) é uma andarilha sem-teto que erra pelas estradas da França, cruzando com todo tipo de gente, pedindio comida e cigarros. A diretora entremeia as andanças da moça com os depoimentos das pessoas que a conheceram, mas mantém intacto o mistério em torno dela. Sua figura rebelde e sem origem fixa-se estranhamente no inconsciente dos outros personagens e do espectador. Na ressaca do feminismo e da era hippie, Varda se indaga sobre o sentido da liberdade da mulher e da utopia dos desapegos material e emocional. Seu filme não traz uma resposta, mas desdobra muitas outras questões." (Thiago Stivaletti)

"Com "Sem Teto Nem Lei", Varda encara o desafio de perguntar o que é ser livre. Curiosamente, para fazer isso cria uma estrutura de absoluto controle em sua mise-en-scène. Não há aqui nenhum sinal de improviso: cada travelling tem seu início e fim marcados. Como acontece com a trajetória da protagonista, o trajeto da câmera também está sempre definido de antemão. Mona está morta. O fim da linha está dado. É deste dado que o filme parte. No fundo do plano há solos áridos, galhos retorcidos, máquinas enferrujadas, portas invariavelmente fechadas e troncos decepados. Todo o caminho de Mona é uma dança da morte. É a morte que vemos agir no rosto, nos trajes, na terra seca e nas mãos calejadas. É sua ação, seu trabalho, que nos é dado a ver nos galhos, nas paredes, nas máquinas e nos corpos. Entretanto, Mona não é a única morta, mas a única viva. É somente ela quem pode renunciar a tudo, inclusive a si mesma, a sua existência. Sua liberdade é essa: não ter identidade, objetivo ou causa. Não ter nada é a única forma de poder ter tudo, de poder ser tudo, de manter vivas as possibilidades. O que o filme busca é tentar apreender algo dessa força sem nome que emana da protagonista, interpretada por Sandrine Bonnaire. E apreender é solidificar, é dar nome. Varda decide pelas impressões, pelo que fica nos personagens pelos quais Mona passa, por suas narrações. A opacidade da personagem funciona como um espelho desses olhares. Assim, acaba revelando uma espécie de inventário de submissões e prisões pelas quais cada um daqueles personagens optou no seu esforço de solidificação, de se tornar estático, de fundar suas raízes num espaço específico, de conformação a alguma forma de status quo. É o oposto do que acontece com a protagonista, cuja morada é somente o movimento, o tempo em toda sua possibilidade. Mona representa o que é inapreensível. Varda nos coloca dentro desde jogo onde, a cada segmento, achamos que Mona se apaixonou, se afeiçoou, escolheu uma causa ou uma casa. Mas ela sempre escapa, seja num sorriso fora de hora, ou numa moeda que não vai para o pão mas para a jukebox. A liberdade da protagonista coloca em questão todos os laços, compromissos e objetivos de quem passa por ela. Mona põe qualquer tentativa de imobilização, de retenção, em xeque – seja ela o trabalho de estudar árvores mortas, ou a decisão do ex-hippie de se fixar e “deixar a estrada”, a aceitação das regras pelo seu amigo tunisiano, ou mesmo a vagabundagem aproveitadora de seus últimos companheiros. Ela nunca se insere por completo, nunca se conforma ou ajusta. Seu compromisso é exatamente não ter nenhum. Nem mesmo com a estrada. Mona é o vazio como potência. O vazio que nós e todos os narradores de Sem Teto Nem Lei preenchemos, a cada novo movimento, com espanto renovado. Não é vítima, vagabunda, hippie ou niilista. Ela representa justamente a falência de todas as narrações que estruturam o filme. Varda coloca estes registros em curto-circuito: seja ele o discurso da lógica, da busca racional pelas causas dos atos de Mona, de começos e fins; todos se deparam com um objeto que impõe seu limite. Mona é seu reverso. Não tem causas, nem objetivos, ela somente está. Presente em cada momento. Seu (não) compromisso é com a possibilidade como forma de existência. A cada cena, é isso que ela exerce, sem ter isso como meta. Trata-se então de uma espécie de falso filme de desencanto. A política, que em toda a obra de Varda ocupa um lugar de destaque, tem aqui um dos seus ápices mais visíveis. Ela cria uma estrutura de conflito entre os personagens narradores e Mona, colocando justamente duas formas políticas em xeque: a da representação, da equivalência e da lógica, e outra absolutamente anárquica, sem causa, porém não niilista. Esta segunda é uma política do presente, da presença, da insubmissão do corpo, da não sujeição absoluta que prega a liberdade dos corpos em relação às identidades ou a qualquer outro tipo de pertencimento. O que é ser livre? Em Mona, a resposta parece começar a partir do momento em que para ela essa pergunta inexiste. É sê-lo indiferentemente, sem ter que optar por isso, para além desta palavra ou ideia." (Juliano Gomes)

“Você escolheu a liberdade total, mas você tem a solidão total. Estas palavras de um dos personagens de Sem Teto Sem Lei podem servir como definição de quem é Mona Bergeron, a protagonista deste filme profundo, forte e um pouco perturbador, da diretora belga Agnès Varda, uma das precursoras da nouvelle vague francesa dos anos sessenta. Sem Teto Sem Lei'' é a história das últimas semanas de vida de uma jovem andarilha. O filme é como se fosse um círculo: começa com o descobrimento do corpo da jovem, morta pelo frio do inverno no sul da França, jogada numa vala, e termina mostrando como ela morreu. Sans Toit ni Loi - ''Sem Teto Sem Lei'' - Mona morrendo de frio. No final da história, o espectador não sabe nada da vida passada de Mona; só seu nome. Não temos nenhum dado pessoal da vida dela até o momento em que ela chegou ao povoado onde morre. Os únicos dados que sabemos são as impressões das pessoas que se relacionaram com ela nessas últimas semanas da sua vida e é com essas impressões que Varda constroi a história de Sem Teto Sem Lei: um filme objetivo, mas sensível. Com certeza há muitas respostas teóricas, filosóficas e críticas; porém, um dos méritos de Sem Teto Sem Lei (leia-se Agnès Varda) é que em momento nenhum ela tenta dar “a resposta” que, de fato, é do filme. O filme acompanha os últimos passos da vida de Mona que se nega a responder quando questionada do por quê ela está na rua. Numa na conversa com uma das pessoas que conhece na estrada, uma mulher acadêmica lhe pergunta: Por que abandonou tudo? - pergunta uma das pessoas que ela conhece na estrada. Porque o champanhe na estrada é melhor” Mona responde ironizando. Mona é um ser anônimo e as suas ações, com suas respectivas consequências, são os elementos com os quais se constroem a história objetiva do filme; a subjetividade é o que pesam os outros personagens, que também não sabem nada dela. Para manter essa objetividade, Agnès Varda dirige seu filme como se fosse um documentário. Ao longo dos 105 minutos misturam-se as imagens dos últimos passos de Mona com os depoimentos de certas pessoas que mantiveram algum tipo de contato com ela. As testemunhas falam para a câmera como se ela fosse um repórter que vai recolhendo a informação dispersa. Desta forma, Varda consegue fazer uma história o mais perto possível da objetividade porque é impossível fazer uma narrativa sem um pouco “da alma” do narrador. E o narrador de ''Sem Teto Sem Lei'' é uma voz feminina em off que apresenta a personagem na segunda tomada geral do filme: Como ninguém reclamou o corpo, ele foi para uma vala comum. Ela teve morte natural. Imagino se quem a conheceu quando criança ainda pensa nela. Mas as pessoas que ela tinha conhecido recentemente se lembravam dela. Essas testemunhas ajudaram-me a contar as últimas semanas de seu último inverno. Ela conseguiu deixar nelas uma marca. Eles falavam dela sem saber que tinha morrido. Não disse nada para eles. Nem que o nome dela era Mona Bergeron. O que sabemos de Mona? Que gosta de música. Tem um fascínio pela música e aonde vai, sempre quer ouvir música, seja em uma lanchonete, no carro quando vai de carona, na casa onde está hospedada. Ela gosta tanto de música que, até mesmo, um dos vagabundos com quem compartilhou uma casa abandonada e uma cama temia que ela roubasse seu rádio. Mona tem um fascínioi pela música. Mas, o que sabemos mesmo é que ela não gosta de falar dela e ela vive um dia de cada vez. Não planeja sua vida. Não tem nenhum vínculo com ninguém e também não quer ter nenhum. Simplesmente está na estrada e anda por onde haja um caminho. Não tem um destino para chegar. Veste suas roupas velhas e sujas; não se incomoda com a forma como que as pessoas a olham. Ela simplesmente caminha de um lugar para outro e qualquer lugar é bom para ela. Convive com todos os tipos de pessoas que aparecem no seu caminho; chega até mesmo trabalhar quando tem necessidade, mas se afasta e afasta as pessoas do seu redor. Porém, o contraditório da personalidade de Mona é que essas pessoas parecem conhecer um pouco dela e ficam impressionadas de uma ou de outra forma. O primeiro depoimento sobre ela é um exemplo. Quando o seu corpo aparece jogado na vala, uma pessoa idosa diz: Ela tinha um olhar vazio, como um mendigo. Da maneira como ela olhou para mim, achei que ela foss ume. (Este depoimento é significativo porque é misturado com imagens de pessoas limpando paredes manchadas de vermelho em algum lugar. É uma cena que desconcerta, mas que no final fará sentido. É mais um elemento da história circular de Mona. O filme começa mostrando o cenário onde está o corpo da jovem andarilha. A primeira imagem é uma tomada geral de um campo. Na distância se vê uma fumaça e os galhos de uma árvore que se mexem. No início, a imagem está parada, mas pouco a pouco a câmera se aproxima, com uma música suave de violino, numa melodia melancólica, até se ver com claridade um trabalhador; em seguida, a câmera mostra o perfil do camponês que encontra o corpo da mulher jogada numa vala. O homem joga as suas coisas e sai correndo para falar do achado. Depois que um dos policias afirma que parece que a mulher morreu de frio, escutamos a voz em off, já reproduzida nas linhas anteriores, e que apresenta o eixo de filme: “Imagino se quem a conheceu quando criança ainda pensa nela. Mas as pessoas que ela tinha conhecido recentemente se lembravam dela”. Desde o começo o espectador já sabe que não conhecerá nada da vida passada da andarilha e, embora não seja a temática do filme, fica no ar uma sensação de abandono e desesperança: Quem a conheceu quando criança ainda pensa nela? À medida que a voz em off termina a sua apresentação, começa a história linear das últimas semanas de Mona, com os intervalos dos depoimentos já mencionados. Conhecemos a Mona quando ela está na praia numa manhã fria de inverno, tomando banho. Depois pede carona para um caminhão e, a partir desse momento, ela passará por diferentes situações de encontros e desencontros com muitos tipos de pessoas que são fundamentais na construção da história; porém, destacamos dois em especial. Mona chega em um sítio onde mora um ex-professor de filosofia com sua esposa e seu filho pequeno. O lugar é pobre, mas o casal é trabalhador. Por onde passa Mona há uma paisagem vazia, de abandono, triste e esta é uma constante no filme. É como se esta paisagem formasse um todo com Mona. O casal permite que Mona fique uma noite, mas depois lhe oferece um pedaço de terra para que cultive o que ela disse que gostaria de cultivar se tivesse uma terra: batatas. Não obstante, o tempo todo a jovem andarilha não faz nada: deixa o tempo passar e o casal pede para ela ir embora. Mas, nos monólogos do professor com Mona, pois só ela o escuta, ele lhe diz: Você escolheu a liberdade total, mas você tem a solidão total. Sua hora irá chegar se continuar assim, irá se destruir. Sua direção é a destruição. Se tiver que viver, tem que parar. Meus amigos que ficaram na estrada estão mortos agora ou então se acabaram: alcoólatras ou dragados. Porque a solidão acabou com eles, no fim de tudo. Você escolheu a liberdade total, mas você tem a solidão total. Este discurso não é moralista e sem a reflexão de um homem que consegue ver o que acontece com Mona, porém, ela não pode ou não quer fazer nada. Ou, talvez, as preocupações dos outros não são as suas preocupações. O ex-professor fala pausadamente; não há amargura nas suas palavras, mas sem frustração. Mona escuta, mas não discute e, no final das contas, vai embora. Ela é livre! Ela é livre? Mona escolheu a liberdade total e vive na solidão total. Este encontro é o anúncio do que o espectador já sabe desde os primeiros minutos do filme: ela está morta. E só ela não sabe ainda que está morta: mas caminha para isso. Sem pressa. Não há como confundir esta fala como um discurso pessimista do filme. Varda deixa simplesmente uma pergunta sem resposta: o que é ser livre? O segundo encontro importante é quando Mona conhece a Sra. Landier, uma acadêmica que um dia lhe oferece carona e ficam vários dias juntas. Como sempre, Mona é de poucas palavras e o discurso todo é feito com as perguntas da Sra. Landier quem, depois, quando Mona já foi embora, quer saber o que aconteceu com ela e pedirá ajuda a um dos seus colaboradores para tentar descobrir o destino da jovem. Deste jeito é construída a odisséia de Mona. Encontro após encontro, dormindo em casas em ruínas, em mansões abandonadas, em sua barraca instalada até mesmo em um cemitério, até o encontro final com um grupo de vagabundos que a leva ao seu destino final. A imagem de ''Sem Teto Sem Lei'' é uma experiência fascinante pela sua qualidade e por ser um elemento narrativo tão importante quanto os depoimentos dos que conheceram Mona. Podemos destacar três tipos de imagens: O uso que Varda faz do travelling (A câmera é montada sobre um carrinho que se move por trilhos enquanto a tomada é realizada. A técnica é empregada para se aproximar ou se afastar da ação) tem um efeito especial em Sem Teto Sem Lei: a câmera é como um olho que está percorrendo a estrada e encontra Mona por casualidade, como poderia encontrar qualquer pessoa, e continua seu caminho. Ou Mona fica para trás ou vai embora que o “olho” (a câmera) segue seu curso natural. Há duas cenas marcantes neste estilo que, além de mostrar a solidão de Mona, é a reafirmação de que ela caminha por onde tiver que ir, sem destino. No minuto 13:59, a câmera mostra um campo e vai se movimentando para esquerda. Ela para quando encontra Mona que está sentada no chão concertando as suas botas. Há um corte e a câmera mostra um trator e muito devagar no começo, caminha para esquerda, mostrando uma parede de pedra, com manchas até chegar a um portão por onde está saindo Mona. A câmera não se detém e Mona se esconde atrás do muro quando um carro da polícia passa por lá. A câmera continua com seu movimento constante, o carro da polícia “ultrapassa” a câmera e esta continua mostrando o muro, até que aparece Mona novamente, caminhando mais rápido que a própria câmera e ela também a ultrapassa. A cena dura quase dos minutos e é acompanhada por uma música forte, triste, com instrumentos de corda. No minuto 56.36, há outra cena com o mesmo recurso. Ela aparece em um terreno baldio. No começo, é uma tomada geral. No fundo, há construções diversas e ela caminha brincando com um cachorro. Enquanto ela caminha, a câmera se movimenta para direita e Mona vai sumindo da cena e a câmera continua seu caminho até ficar parada frente a uma casa onde há vários pedreiros trabalhando. Há um corte e logo aparece Mona sentada frente a uma fogueira. Parece triste. Os pedreiros estão trabalhando atrás dela e a jovem permanece quieta, com seus pensamentos. Há imediatamente um primeiro plano. Parece que Mona está com frio. Segundos depois escutamos o depoimento de um dos pedreiros que viu Mona: “Ela surgiu do nada e sentou perto do fogo. Ela parecia estar com frio. Eu ousaria falar com ela? Eu não sabia se deveria. Meninas que vagueiam é algo raro. Por estar completamente sozinha desse jeito, deveria ter falado com ela". ... deveria ter falado com ela... Os outros dois tipos de imagens constantes do filme são os primeiros planos e algumas tomadas poéticas, líricas, quase como uma pintura. "Sem Teto Sem Lei" é um grande filme que não perde nada em sua qualidade e em sua profundidade com o passar do tempo. É uma olhar triste, mas não pessimista." (Patricio Miguel Trujillo Ortega)

{Se são mortos, são feias, se estão dormindo, são bonitas} (ESKS)

1985 Lion Veneza / 1986 César

Ciné Tamaris Films A2 Ministère de la Culture

Diretor: Agnès Varda

3.497 users / 515 face

Soundtracck Rock = The Doors + Les Rita Mitsouko + Passion Fodder

Check-Ins 296

Date 04/09/2013 Poster - ########

55. That Most Important Thing: Love (1975)

R | 109 min | Drama, Romance

Servais Mont, a photographer, meets Nadine Chevalier who earns her money starring in cheap soft-core movies. Trying to help her, he borrows the money from the loan sharks to finance the ... See full summary »

Director: Andrzej Zulawski | Stars: Romy Schneider, Fabio Testi, Jacques Dutronc, Claude Dauphin

Votes: 4,650 | Gross: $0.02M

[Mov 08 IMDB 7,2/10 {Video}

O IMPORTANTE É AMAR

(L'important c'est d'aimer, 1975)


"Três décadas após sua morte aos 43 anos, o brilho de Romy Schneider é o que mais impressiona neste drama pesado feito pelo polonês Zulawski na França em 1975. Schneider faz Nadine, bela atriz cuja carreira desandou e que sobrevive atuando em filmes eróticos. Um personagem avesso a imperatriz rococó Sissi, que na juventude a colocaram no céu das estrelas e a manteve refém do ideal de beleza. O papel da intérprete decadente funciona como negativo dessa imagem , ao qual se mescla um repertório de sofrimentos pessoais que Schneider viveu - e que ela integra ao personagem como se fosse um drama sobre o tema da atriz e seu duplo. Em torno dela, um marido submisso e uma paixão platônica reúnem amores impossíveis e violências emocionais. A opção por um cinema de excessos pode causar indigestão." (Cassio Starling Carlos)

{A solidão é o alimento da alma} (ESKS)

1976 César

Albina Productions S.a.r.l. Rizzoli Film TIT Filmproduktion GmbH

Diretor: Andrzej Zulawski

1.611 users / 183 face

Check-Ins 205

Date 14/06/2013 Poster - ######

56. The Three Musketeers (1993)

PG | 105 min | Action, Adventure, Romance

43 Metascore

France, 1625: Young d'Artagnan heads to Paris to join the Musketeers but the evil cardinal has disbanded them - save 3. He meets the 3, Athos, Porthos and Aramis, and joins them on their quest to save the king and country.

Director: Stephen Herek | Stars: Charlie Sheen, Kiefer Sutherland, Chris O'Donnell, Oliver Platt

Votes: 59,378 | Gross: $53.90M

[Mov 03 IMDB 6,2/10 {Video}

OS TRÊS MOSQUETEIROS

(Three Musketeers, The, 1993)


''Um por todos, todos por um. Os três mosqueteiros estão prontos para defender o rei Luiz XIII. Athos, Porthos e Aramis enfrentam todos os perigos para impedir que o demoníaco Cardeal Richelieu destrua o rei da França. Enquanto isso, o jovem D´Artagnan que sonha ser um Mosqueteiro, coloca sua vida em risco quando resolve agir sozinho e apaixona-se pela Condessa de Winter, a bela espiã de Richelieu. Se D´Artagnnan conseguir escapar das armadilhas da Condessa e tornar-se um Mosqueteiro, ainda assim terá que provar sua lealdade e habilidade de grande espadachim." (Filmow)

Walt Disney Pictures Caravan Pictures Wolfgang Odelga Filmproduktion GmbH Vienna Film Financing Fund One for All Productions

Diretor: Stephen Herek

35.661 users / 2.172 face

Sountrack Rock = Bryan Adams + Rod Stewart + Sting

Check-Ins 206

Date 14/06/2013 Poster - ##

57. Give Us This Day (1949)

Passed | 120 min | Drama

One of the few (if any at the time this film was made) films shot in England with New York City's 'Little Italy" as the locale. This was Edward Dmytryk's first film after he had refused to ... See full summary »

Director: Edward Dmytryk | Stars: Sam Wanamaker, Lea Padovani, Kathleen Ryan, Bonar Colleano

Votes: 391

[Mov 05 IMDB 6,7/10 {Video}

O PREÇO DE UMA VIDA

(Give Us This Day, 1949)


''Adpatação da novela de Pietro Di Donato, O Preço de uma Vida conta a vida de imigrantes italianos nos EUA durante a depressão americana. Filme neo-realista que retrata de maneira ímpar e corajosa, a vida dura numa cidade urbana estrangeira, dirigido pelo mestre Edward Dmitryk. Com este filme o seu diretor foi vítima do macartismo. Uma obra-prima redescoberta agora pela Lume Filmes." (Filmow)

{O maior tirano era um escravo} (ESKS)

1950 Lion Veneza

Plantagenet

Diretor: Edward Dmytryk

191 users / 30 face

Check-Ins 207

Date 15/06/2013 Poster - #####

58. Oslo, August 31st (2011)

Not Rated | 95 min | Drama

84 Metascore

One day in the life of Anders, a young recovering drug addict, who takes a brief leave from his treatment center to interview for a job and catch up with old friends in Oslo.

Director: Joachim Trier | Stars: Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava, Malin Crépin

Votes: 29,652 | Gross: $0.10M

[Mov 10 Favorito IMDB 7,6/10] {Video/@@@@@} M/84

OSLO - 31 DE AGOSTO

(Oslo, 31. August, 2011)


TAG JOACHIN TRIER

{intenso / inteligente}


Sinopse

''Anders está prestes a sair de um centro de reabilitação de drogas na Noruega. Como parte do programa, ele tem o direito de ir a Oslo para uma entrevista de emprego. Mas ele aproveita o dia fora e resolve ficar, andar pelas ruas da cidade e se encontrar com pessoas que não via há tempos. Com 34 anos, ele é um homem inteligente, bonito e de boa família, mas profundamente atormentado pelas oportunidades que desperdiçou e pelas pessoas a quem decepcionou. Apesar de jovem, ele sente que sua vida já acabou. Durante o dia e no decorrer daquela noite, fantasmas de erros do passado entram em conflito com a possibilidade de um amor, de uma vida nova e da esperança de ver algum futuro até o amanhecer.''
''Já nas primeiras cenas de "Oslo, 31 de Agosto", vemos coisas que normalmente pensamos ao ouvir sobre a Noruega: neve (ainda que só no começo), frieza nas relações entre as pessoas, a banda de pop rock A-Ha e uma melancolia profunda e bem nórdica. O filme de Joachim Trier conta a história de Anders, viciado em drogas que tira um dia fora do tratamento de desintoxicação para uma entrevista de emprego e para reencontrar velhos amigos. Quem conhece o romance que serviu de base ao filme, Le Feu Follet, de Pierre Drieu La Rochelle, sabe que a história é triste. Mas esta nova versão não chega perto do amargor da mais famosa adaptação da obra: Trinta Anos Esta Noite (1963), dirigida pelo francês Louis Malle. Diferentemente de Malle, Trier mergulha o personagem num clima primaveril que contrasta com o desencanto interior responsável pelo vício. Anders sai da clínica e logo pensa em comprar heroína. Para ele, essa é uma fuga possível em meio ao mais profundo nada. Mas há uma outra fuga. O melhor momento, por exemplo, se dá quando o protagonista senta à mesa de um café, observa o mundo ao seu redor e constrói mentalmente pequenas histórias sobre as pessoas que vê passar pela calçada. É uma sequência construída com extrema delicadeza, que nos faz atentar para as coisas simples da vida, pequenas cenas do cotidiano que permanecem escondidas, restritas à intimidade alheia ou à mente de um demiurgo." (Sergio Alpendre)

"Câmera propositalmente solta, narrativa calculadamente seca, autopiedade em excesso: Tudo em "Oslo" cheira ao chamado "filme de festival". E nos minutos finais o diretor ainda perdeu a chance citar o último plano de "Passageiro: Profissão Repórter"..." (Régis Trigo)

"O mérito do primo pobre de Von Trier é fugir de clichês manipulativos de superação e autocomplacência, estudando e pondo em xeque um homem que, refém da depressão, se coloca na penosa condição de pária – o que o torna mais complexo, trágico e humano." (Rodrigo Torres de Souza)

{Nunca me contaram como a amizade se dissolve. Enquanto somos estranhos, amigos apenas no nome} (ESKS)

Primo distante de Lars von Trier mostra quem é que entende de depressão.

''Sim, o diretor Joachim Trier é parente de Lars von Trier, e faz questão de dizer em entrevistas que os dois são primos distantes e que nunca recebeu dicas ou ajuda do famoso cineasta dinamarquês. Joachim Trier vem de uma família inteira de gente envolvida em cinema e faz em ''Oslo, 31 de Agosto'' um retrato da depressão bem melhor que o Melancolia de Von Trier. Adaptação do romance Le Feu Follet, de Pierre Drieu La Rochelle, o filme acompanha Anders (Anders Danielsen Lie), norueguês de 34 anos que está saindo, por um dia, da clínica de reabilitação no campo onde está internado, para fazer uma entrevista de emprego em Oslo. Antes disso, o filme começara com depoimentos em off de pessoas contando as reminiscências que guardam da capital, sejam cheiros, barulhos ou locais. Anders também tem lembranças de Oslo, e nesse dia livre decide revisitá-las. ''Oslo, 31 de Agosto'' transcorre em 24 horas por ruas, casas e parques sem uma trilha sonora muito perceptível, com exceção de algumas canções. Na juventude, Anders também deve ter vivido de música em música, de festa em festa. Ele conta a um amigo que está limpo há 10 meses de seus vícios em bebida e drogas, mas rapidamente reencontra os círculos e as pessoas com quem dividia seus anos perdidos. O suspense, obviamente, é esperar para ver se Anders cederá à recaída. Trier talvez esteja mais interessado, porém, em descobrir o que pode impedir o protagonista de se drogar novamente. A cidade está cheio de cor, de jovens, de vida, de oportunidades. A escolha pela data de 31 de agosto não é por acaso. O verão está chegando ao fim - e a cidade esvaziará suas piscinas públicas, como lembra um personagem - mas ainda conserva aquela luz purificadora da alta estação. Anders tem tudo para começar uma nova vida ao nascer do sol. Mas algo falta, algo não se encaixa, e é esse senso de inadequação - um traço da depressão - que não deixa Anders seguir adiante. Desde a primeira vez em que apareceu no filme, uma silhueta diante do movimento de uma via expressa na janela, Anders é um espectro à deriva. Com sua jaqueta preta, destoa da paisagem, e à noite seus companheiros de balada relembram histórias que Anders não sabe contar, como se nunca as tivesse vivido. Então não seria diferente: o filme termina repassando os lugares que visitou, e o impacto é maior porque, agora vazios, eles parecem todos ainda muito idílicos, muito convidativos, espaços perfeitos de ocupar e conviver, e ao mesmo tempo dolorosamente claustrofóbicos." (Marcelo Hessel)

2011 Palma de Cannes / 2012 César

Top Noruega #6

Don't Look Now Motlys

Diretor: Joachim Trier

12.181 users / 3.137 face


Soundtrack Rock

Daft Punk / Youth Brigade / Kung Fu Girls / Desire / The Apricot / Deaf Center


Check-Ins 653 23 Metacritic

Date 18/08/2014 Poster - ##########

59. The Counselor (2013)

R | 117 min | Action, Adventure, Crime

48 Metascore

A lawyer finds himself in over his head when he gets involved in drug trafficking.

Director: Ridley Scott | Stars: Michael Fassbender, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Javier Bardem

Votes: 105,918 | Gross: $16.97M

[Mov 01 IMDB 5,4/10] {Video/@} M/48

O CONSELHEIRO DO CRIME

(Counselor, The, 2013)


TAG RIDLEY SCOTT

{cansativo / esquecível}


Sinopse

''Um advogado (Michael Fassbender) está prestes a se casar com sua noiva (Penélope Cruz), e decide juntar dinheiro participando de um dos esquemas ilegais organizados por seus clientes. O plano envolve o tráfico de centenas de quilos de droga, no valor de 20 milhões de dólares. Apesar de hesitar no início, ele aceita. Mas a execução do esquema não ocorre como planejado, e logos todos serão visados pelos chefes de um cartel mexicano. Enquanto os outros parceiros têm experiência no crime e sabem como desaparecer, o advogado não sabe como agir, e teme pela segurança de sua noiva. Sem escapatória, este homem perturbado começa a refletir sobre seus atos, tendo que aceitar as consequências brutais de seu envolvimento no crime.''
"Considerado um dos melhores escritores norte-americanos vivos, Cormac McCarthy fez sucesso no cinema com filmes adaptados de romances seus. Daí a grande expectativa gerada por este "O Conselheiro do Crime". A história tem vários aspectos caros ao universo do escritor, como dilemas morais, violência, narrativa ágil e descrições cruas. Como nos romances, McCarthy mostra habilidade para manipular o suspense e instalar desconforto no espectador. O conselheiro do título é um bem-sucedido advogado (Fassbender), que pretende se casar com Laura (Cruz). Ele se envolve com um cartel de traficantes mexicanos que distribui cocaína nos EUA para ganhar uma pequena fortuna. Muito mais experientes no assunto, seus parceiros na empreitada - o fanfarrão Reiner (Bardem) e o enigmático Westray (Brad Pitt) - o advertem sobre os riscos que corre, mas o conselheiro sempre afirma que pode pular fora do negócio assim que quiser. Quem realmente dá as cartas nesse jogo é Malkina (Cameron Diaz), figura oposta a Laura. Ela é a típica mulher fatal: cheia de apetite sexual, age com frieza para conseguir o que quer. Com essa galeria de tipos marcados pela cupidez e pela corrupção, McCarthy poderia ter ido mais fundo em um estudo sobre a ganância. Mas acabou escrevendo um thriller vazio, cheio de inverossimilhanças. Nesse quesito, brilham a espantosa ingenuidade do advogado, que o coloca dentro de um pesadelo cujas consequências ele é incapaz de antever, o gritante descompasso entre a aparência fútil de Malkina e a perversidade de suas maquinações, e os inúmeros diálogos pouquíssimo convincentes sobre sexo ou decisões morais.'' (Alexandre Ababiti Fernandez)

"Ridley Scott fez um filme de ação para adultos, com trama complicada, mulheres bonitas e muita demonstração de machismo dos protagonistas. "O Conselheiro do Crime" foi esculhambado pela crítica, mas agora, em uma versão estendida do filme, ganha crédito numa releitura. Michael Fassbender está bem no papel que dá título ao filme, um advogado que vive com Penélope Cruz e se mete em um golpe milionário com o casal de traficantes formado por Javier Bardem e Cameron Diaz. O elenco estelar tem ainda Brad Pitt. O roteiro é um original de Cormac McCarthy, autor do livro que deu origem ao filme Onde os Fracos não Têm Vez (2007), dos irmãos Coen. Erra feio quem diz que Scott desperdiçou esses famosos. "O Conselheiro do Crime" diverte e vale conferida em sua versão estendida, melhor do que a original." (Thales de Menezes)

"É um tanto deprimente começar uma crítica já apontando para uma falha colossal de tradução de título, mas chamar este The Counselor de “O Conselheiro do Crime” é tão imbecil quanto chamar “Memento de Amnésia. Counselor é como os advogados são chamados nos EUA, mais ou menos como o nosso proverbial “doutor”, adotado inclusive pela legenda. Ademais, o advogado sem nome vivido por Michael Fassbender não possui nenhuma condição de aconselhar nenhum dos seus colegas no crime, ao contrário, está sempre pedindo orientações e conselhos, especialmente por conta da espiral rumo ao inferno que sua vida se torna no decorrer da narrativa. Dirigido por Ridley Scott, o filme é o roteiro de estreia de Cormac McCarthy, experiente romancistas cujas obras Onde os Fracos Não Têm Vez e A Estrada renderam belíssimos filmes. No entanto, mesmo com a produção tendo um saldo positivo, os estilos de Scott e McCarthy entram em conflito várias vezes, fazendo-nos pensar qual seria o resultado caso o roteiro caísse nas mãos de um diretor mais intimista, como Andrew Dominik (“O Homem da Máfia“). A trama é deveras simples: um advogado resolve entrar no ramo de tráfico de drogas através de seus contatos, o extravagante Reiner (Javier Bardem) e o mais sossegado Westray (Brad Pitt). Mas quando o negócio dá errado, os três se tornam alvos do violento cartel mexicano. Em paralelo, o texto de McCarthy ainda aborda os relacionamentos do advogado com a bela e pura Laura (Penélope Cruz) e de Reiner com a lasciva Malkina (Cameron Diaz), ambos cruciais para o plot principal. O modo capitalista com o qual os atos de barbárie do cartel são abordados aqui tornam a fita quase uma continuação natural do recente O Homem da Máfia, inclusive com os discursos dos personagens de Brad Pitt nos dois filmes soando bastante parecidos neste ponto. O modo prosaico com que carnificinas são marcadas e discutidas mostram uma desumanização daqueles indivíduos que choca quem não está acostumado com aquele mundo – no caso, o público e o próprio advogado. Vivido por um adequadamente fragilizado Michael Fassbender, o advogado resolve entrar neste mundo perigoso por motivos que nos são alheios. Ele afirma ser por questões financeiras e ganância, mas o próprio filme refuta esta afirmação por diversas vezes, algo que nos remete à série Breaking Bad e seu Walter White (e a participação especial de Dean Norris certamente não é mera coincidência). O advogado é um personagem deveras passivo. Suas duas únicas ações para o plot geral são triviais, quase que insignificantes. Quaisquer que tenham sido os motivos originais do protagonista – dinheiro, tédio ou ânsia por poder –, ele jamais poderia prever as consequências de tal empreitada, mesmo tendo sido alertado delas reiteradas vezes. Ao lidar com os resultados indesejados de seus atos, ele nada pode fazer além de observar sua desconstrução em um farrapo humano. É aí que reside a força da interpretação de Fassbender, que nos conecta com esse homem, outrora bom e feliz (termos relativos, aliás) e nos carrega em uma jornada de autodestruição e penúria, algo que até a própria paleta de cores faz questão de ressaltar. Ao contrário do que acontece com o advogado, os demais personagens jamais causam qualquer impacto ou conexão pessoal. O Westray de Brad Pitt tem uma postura deveras profissional e jamais se deixa levar pelo que ocorre ao seu redor, somente sendo lembrado pelo público por ser vivido por Brad Pitt. Cameron Diaz e Javier Bardem, como o casal Malkina e Reiner, como seus próprios visuais já denunciam, funcionam apenas na base do choque e, mesmo assim, os excessos das situações que acontecem com e por conta deles, acabam por alienar a plateia (vide a famigerada cena do carro, que arrancará risos incrédulos de qualquer um). Por sua vez, Penélope Cruz se vê limitada a ser a personificação da pureza naquele universo, algo ressaltado por uma cena em especial que divide com Diaz. As origens literárias de Cormac McCarthy e sua falta de tato quanto à linguagem cinematográfica se mostram claras no excesso de óbvios foreshadowings (situações que referenciam eventos futuros da narrativa) e a exposição excessiva de alguns plot points. No entanto, a característica mais óbvia de sua escrita, que é a falta de misericórdia dentro dos mundos que ele cria continua presente, bem como o brilho de boa parte dos diálogos – que devem ser referenciados por anos pelos mais diversos cinéfilos – quase que compensam os deslizes. O que não pode ser dito é que houve química entre a grandiloquente direção de Ridley Scott e o espírito do roteiro de McCarthy. Sim, podemos admirar a beleza técnica dos planos rebuscados criados pelo cineasta e seu diretor de fotografia recorrente, Dariusz Wolski, mas o fato é que a megalomania já habitual do realizador britânico acaba por aumentar ainda mais o abismo que separa emocionalmente o público dos personagens, diminuindo o impacto catártico das tragédias que os acometem. Além disso, Scott e o montador Pietro Scalia parecem hipnotizados demais (eventualmente de maneira justificada) pelos devaneios verborrágicos de Cormac McCarthy para sequer cogitarem cortar alguns diálogos que, pelo bem do ritmo do filme, precisariam sim ser aparados, fazendo com que a produção se arraste desnecessariamente e canse o espectador. Usando ainda nomes como o grande Bruno Ganz, o já citado Dean Norris, John Leguizamo e Natalie Dormer em meras pontas, é fácil sim reconhecer que há um grande filme dentre de “O Advogado do Crime”, mas que o diretor e seu roteirista não conseguiram desenterrá-lo completamente." (Thiago Siqueira)

Filme-ensaio de Cormac McCarthy e Ridley Scott descreve o choque de duas realidades em linha reta.

''Nos romances de fronteira do escritor Cormac McCarthy, como Meridiano de Sangue e Onde os Velhos Não têm Vez, as explosões de violência são uma forma de meditar sobre a morte, porque quando um evento moral se inicia, mesmo ao acaso, não há nada que impeça seu desfecho violento - tentar evitar essas explosões seria como tentar driblar a própria morte. ''O Conselheiro do Crime'', filme dirigido por Ridley Scott a partir de um roteiro original de McCarthy, funciona sob o mesmo raciocínio. O tal conselheiro é um advogado (Michael Fassbender) seduzido pelo extravagante Reiner (Javier Bardem) a entrar num negócio milionário de drogas que estão chegando ao Texas pela fronteira com Juárez, cidade mexicana com uma das maiores taxas de homicídio do mundo. É curioso que chamem o personagem de conselheiro, porque quem mais recebe conselhos é justamente o advogado: todos avisam do perigo que é mexer com tráfico, cartéis, empresários exuberantes etc. A decisão do conselheiro - aceitar ou não uma participação na encomenda - é o evento moral que McCarthy coloca no caminho dos protagonistas, e o desfecho é de um fatalismo antevisto e esperado, desde o diálogo da primeira cena do filme. ''O Conselheiro do Crime'' soa muito estranho para os padrões dos suspenses hollywoodianos porque o seu miolo não envolve viradas constantes de roteiro. McCarthy descreve o encontro de duas linhas retas rumo à ruína, e desconcerta o espectador o fato de, pelo caminho, termos pouco mais de meia-dúzia de monólogos sobre moral e perversão, cheios de gravidade, como se os personagens já estivessem, sem saber, conversando durante um funeral. O elenco estrelado (Cameron Diaz dá um show) e a premissa de thriller talvez não sugiram, mas O Conselheiro do Crime é basicamente um filme-ensaio sobre o valor da morte e as decisões que levam a ela. Então boa parte da graça é identificar o que diferencia essas duas retas destinadas a se cruzar: os mandantes do golpe de um lado, com seus hobbies, seus diamantes e seus drinques, e os executores do golpe do outro, a gente suada da fronteira, anônimos de uma grande família cor de poeira, literalmente cobertos de fezes até a tampa. McCarthy sempre foi conhecido pela sua capacidade de descrever um cenário, desde a origem geológica das rochas do deserto texano. ''O Conselheiro do Crime'' pode até dever em termos de ação, mas é um filme nitidamente mccarthyano no sentido em que pinta - sob o perfeccionismo cenográfico que caracteriza os filmes de Scott - com detalhes uma paisagem de tons tão distintos quanto aquela que divide os EUA e o México. E ao espectador (a quem McCarthy obviamente entende que não tem contas a prestar) resta a desconfortável posição de testemunha da explosão de violência, como as pessoas borrifadas de sangue enquanto assistem a uma morte lenta no filme. No mais, ''O Conselheiro do Crime'' daria uma ótima sessão dupla com o documentário Narco Cultura, que também compara a realidade em Juárez com as cidades americanas de população mestiça, ao Sul do país. Ambos os filmes ilustram bem como o mundo de mimos consumistas e mitos masculinos dos EUA (o gangsta rap no documentário, os veículos de grife e os garanhões de McCarthy/Scott) influencia o que acontece nos dois lados da fronteira." (Marcelo Hessel)

"Existe mais de um Ridley Scott. O primeiro é o craque da ficção científica, o segundo é o fiasco que se encontra em Gladiador e afins. Aqui o segundo prevalece, em um filme ridículo, lotado de frases de efeito constrangedoras e elenco em péssima forma." (Heitor Romero)

"O desprezo geral para com a obra recente de Scott é injustificado, e ele cria aqui um thriller moderno e envolvente, sem a profundidade de seus grandes filmes, é verdade, mas tem estilo e sensualidade." (Alexandre Koball)

Blá, blá e mais um pouco de blá.

''O Conselheiro do Crime'' (The Counselor, 2013) é um verdadeiro mistério da natureza. Trata-se de um filme criado e realizado por pessoas de inegável talento: um dos diretores mais consagrados da história do Cinema, responsável por grandes clássicos lembrados até hoje; um roteirista considerado um dos grandes escritores vivos, cujas obras literárias acumulam prêmios e elogios da crítica; e um elenco irrepreensível, com alguns dos maiores nomes da indústria. No entanto, em algum lugar do caminho, algo aconteceu e essa união de talentos – que, no papel, deveria ter sido infalível – simplesmente não encontrou a sinergia necessária para funcionar de maneira adequada. As expectativas se tornaram uma imensa decepção. Dirigido por Ridley Scott a partir do roteiro de Cormac McCarthy, O Conselheiro do Crime é um verdadeiro equívoco do início ao fim (a começar pelo nome nacional, mas aí já não se pode culpar os realizadores). Logo em seus primeiros minutos, o filme já apresenta suas cartas ao espectador, em duas longas cenas nas quais os personagens falam sem parar, de forma vazia e sem nada a dizer. A sequência entre Michael Fassbender e Hitl... Bruno Ganz é sintomática: os dois atores envolvem-se em uma longa conversa sem sentido sobre diamantes, com diversas frases pretensiosas que deixam claro o fato de que o filme vai se supor mais inteligente do que realmente é (As pedras têm seu próprio conceito sobre si, sério?). Ridley Scott perde a atenção de seu público logo aí, e não a recupera até duas horas depois, quando as luzes finalmente se acendem. Essas intermináveis digressões sobre o nada e o menos ainda, disfarçadas de reflexões existencialistas sobre a natureza do ser humano, repetem-se por toda a produção. Frases como Não se conhece alguém até saber o que ele quer, A vida é estar na cama com você, o resto é espera e A verdade não tem temperatura, apenas para citar algumas, podem até soar interessantes quando lidas, mas simplesmente não se encaixam no roteiro e naqueles personagens. A impressão que fica, na verdade, é a de que os longos diálogos de O Conselheiro do Crime poderiam funcionar muito bem em um livro, porém surgem apenas pretensiosos e nada orgânicos em um filme, como se cada uma daquelas pessoas encarnasse o Arquiteto de Matrix Reloaded (idem, 2003) – vale lembrar que McCarthy sempre foi um romancista, não um roteirista, e as dificuldades dessa transição ficam claras no resultado visto em tela, assim como também ocorreu no telefilme The Sunset Limited (idem, 2011). Aliás, essas dificuldades também podem ser estendidas às demais questões do roteiro, tanto em relação ao desenvolvimento dos personagens quanto à própria trama em si. O primeiro caso, na verdade, é praticamente nulo. Nenhuma daquelas pessoas surge como se fosse alguém interessante, de carne e osso, com personalidade e suas motivações bem definidas. Todos entram e saem do filme da mesma forma que iniciaram: como verdadeiros estranhos à plateia, que não consegue estabelecer qualquer forma de identificação emocional com eles. São personagens de cartolina, ocos, que parecem inseridos na trama sem propósito algum a não ser discorrer os extensos diálogos criados por McCarthy. Talvez seja leviano, porém, afirmar que os personagem são inseridos na trama sem propósito algum quando ela mesma é repleta de problemas. A estrutura adotada pelo roteirista e por Scott não deixa de ser, de certo modo, interessante e ousada, conscientemente evitando entregar ao espectador uma história mastigada e com tudo em seu lugar. É algo semelhante ao que os irmãos Coen fizeram em Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007), onde as informações fornecidas eram apenas as necessárias e a plateia era convidada a completar as lacunas e a entender o significado por trás daquilo tudo. Aqui, porém, as informações não são suficientes e, para piorar, são entregues de forma enfadonha e pretensiosa, fazendo de ''O Conselheiro do Crime'' um filme simplesmente confuso, praticamente impossível de ser acompanhado. Afinal, qual o papel de cada um na história? Como funcionava todo o processo? Quem era cada um dos personagens e por que decidiram entrar naquilo tudo? Se peca em questões mais básicas como estrutura narrativa e construção de personagens, não há muito o que esperar em relação ao significado da história. A presença dos leopardos, por exemplo, justificada tematicamente no discurso final de Cameron Diaz, tenta trazer ao filme alguma reflexão sobre o ser humano como um caçador, enquanto outros momentos buscam levantar questões sobre ganância e a consequência de nossas escolhas. Porém, tudo é tratado de forma superficial e desconexa, em um caos narrativo que arruína também as possíveis metáforas presentes em ''O Conselheiro do Crime''. Personagens aparecem e desaparecem sem o menor objetivo (Dean Norris? John Leguizamo? Quem diabos era aquele homem com quem Fassbender teve uma longa e pernóstica conversa pelo telefone no terceiro ato?), cenas embaraçosas se revelam totalmente descartáveis (Diaz se confessando) e a verborragia vazia domina cada segundo da produção. Como se não bastasse, Ridley Scott parece conduzir tudo no piloto automático, como se já estivesse com a cabeça em seu próximo projeto – ou, quem sabe, ainda sofrendo com a morte de seu irmão Tony. Não há a menor tentativa de estabelecer uma lógica visual ao filme, algo que é característico do diretor, e ele sofre para realizar as cenas que envolvem longos diálogos, cansando o espectador assim que o primeiro personagem expele uma frase de auto ajuda que poderia muito bem ter sido escrita por Paulo Coelho. O grande problema de ''O Conselheiro do Crime'' não é a presença das extensas conversas, mas sim o fato de que as palavras de McCarthy soam falsas e Scott não consegue torná-las interessantes – a termos de comparação, vale lembrar o recente Lincoln (idem, 2012), no qual Steven Spielberg deu uma aula de como filmar diálogos. Nem mesmo o estrelado elenco consegue salvar ''O Conselheiro do Crime''. Prejudicados pelo material fraco, atores do calibre de Michael Fassbender, Javier Bardem e Brad Pitt nada podem fazer, perdidos em meio ao caos narrativo de um filme bagunçado, pretensioso e, acima de tudo, enfadonho. Romance? Thriller? Suspense? Ação? Erótico? Alguns filmes conseguem ser de tudo um pouco, outros não. O Conselheiro do Crime, mesmo com todo o talento envolvido, faz parte do segundo grupo." (Silvio Pilau)

Fox 2000 Pictures Scott Free Productions Nick Wechsler Productions Chockstone Pictures TSG Entertainment Ingenious Media Big Screen Productions Kanzaman (Spain) Translux

Diretor: Ridley Scott

73.411 users / 23.655 face


Soundtrack Rock

Beirut
Check-Ins 652 42 Metacritic

Date 17/08/2014 Poster - ##

60. The Concert (2009)

PG-13 | 119 min | Comedy, Drama, Music

60 Metascore

Thirty years ago Bolshoi Orchestra conductor Andreï Filipov was fired for hiring Jewish musicians. Now a lowly janitor, an opportunity arises to gather his old musicians to go and pose as the official Bolshoi orchestra in Paris.

Director: Radu Mihaileanu | Stars: Aleksey Guskov, Mélanie Laurent, Dmitriy Nazarov, François Berléand

Votes: 18,649 | Gross: $0.66M

[Mov 08 IMDB 7,4/10 {Video/@@@} M/60

O CONCERTO

(Le Concert, 2009)


"O filme abraça o absurdo e, com isso, acaba sendo perdoado pelos exageros das situações criadas. De quebra, é uma produção divertida e bem realizada, inclusive com momentos capazes de comover." (Silvio Pilau)

"O cineasta romeno Radu Mihaileanu conseguiu de novo. Depois de escrever e dirigir um dos melhores filmes dos anos 90 – O Trem da Vida – Radu apresenta seu genial ''O Concerto'', filme coproduzido por nada menos que cinco países: França, Itália, Bélgica, Rússia e Romênia. Um verdadeiro tour de force europeu que traz como tema exatamente as aventuras, desventuras, ironias, dramas e comédias de tornar a União Europeia uma efetiva... união. A idéia original é de Héctor Cabello Reyes e Thierry Degrandi, praticamente dois desconhecidos no mercado cinematográfico. Eles desenvolveram a incrível história de Andrey (Alekesey Guskov), famoso maestro da antiga União Soviética que, por motivos que só saberemos ao final do filme, caiu em desgraça com o então todo-poderoso premiê Leonid Brejnev, e hoje é apenas um faxineiro do Teatro Bolshoi, em Moscou. Tudo caminha melancolicamente na vida de Andrey, até o dia em que acidentalmente intercepta um fax encaminhado ao diretor do Teatro, solicitando a contratação da orquestra do Bolshoi para uma apresentação de gala no conceituado Teatro Châtelet de Paris. É a chance de sua vida! Sem imaginar as consequências, o ex-maestro decide enganar o verdadeiro Bolshoi e ele próprio se apresentar na capital francesa. Mas, para isso, terá de montar uma orquestra inteira... em 15 dias. Assim tem início uma louca, divertida e satírica empreitada bastante parecida por sinal com a doce maluquice da proposta básica de O Trem da Vida: criar uma grande farsa para iludir e tirar proveito dos aproveitadores do poder. Em ambos os casos, de ambos os filmes, o humor e o imponderável estão a cargo do sarcasmo social. Mais do que formar uma orquestra de Brancaleone, o grande maestro na verdade rege aqui a própria identidade europeia, multifacetada, fragmentada, mas com talento e garra suficientes para criar uma união que - talvez - traga benefícios a todas estas pequenas e enraizadas culturas que se convencionou chamar de Europa. Uma fragmentação que encontra na perfeita sintonia obtida num concerto erudito sua mais fiel analogia. E mais: o filme é um verdadeiro resgate da dignidade russa pós-esfacelamento da União Soviética. Num primeiro momento, a título de comédia, ''O Concerto'' parece até exagerar na dose de preconceitos contra os eslavos, pintando-os como embriagados e irresponsáveis. Aos poucos, porém, percebe-se que Mihaileanu está apenas carregando de forma proposital nas tintas da maquiagem do palhaço, para nos momentos finais revelar toda a beleza e o poder de recuperação desta cultura tão grandiosa que foi por décadas ridicularizada pela Guerra Fria, pelos donos da mídia ocidental, e pela incompetência de vários de seus próprios dirigentes políticos. Tudo isso com um humor encantador, um ótimo ritmo de comédia, e um belo roteiro que guarda boas surpresas para o final. Indicado a quatro prêmios César (ganhou os de Som e Trilha Sonora) e ao Globo de Ouro de Melhor Filme em língua não inglesa, O Concerto é uma das melhores produções que vimos no circuito comercial brasileiro em 2010." (Celso Sabadin)

''O Concerto é um filme que começa com uma abordagem kafkaniana sobre a vida teimosa pós-arte majestosa. E continua depois com a sua estranheza divertida, que alia um humor negro à situação absurda em que vivem os ex-integrantes de uma orquestra russa, desmantelada pelos mandos de premiê Leonid Ilitch Bréjnev (1906 - 1982), para culminar numa redenção emocionante. Uma trágica e romântica peça musical do princípio ao fim, feito o belíssimo Concerto para Violino em Ré Maior, Op. 35, de Tchaikovsky (1840 - 1893). ''O Concerto'' (Le Concert, França, Itália, Romênia, Bélgica, Rússia - 2009), dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, que tem por base a história original de Héctor Cabello Reyes e Thierry Degrandi, narra a catarse triunfal do russo Andreï Filipov (Alexeï Guskov), um maestro da famosa Orquestra do Bolshoi que, por desavença com o ditador neo-stalinista Bréjnev, perde seu cargo e, da noite pro dia, é rebaixado a faxineiro no mesmo teatro das suas grandes apresentações. Perdoar já é difícil, esquecer traições é muito pior. Porém, se o Regime é madrasta, o Destino pode ser um pai cauteloso e cheio de artimanhas, ao preparar o prato da vingança servido ao ponto. Nem quente e nem frio, apenas arrebatador. Certo dia, ao limpar a sala do diretor, Andreï intercepta um convite, via fax, para a Orquestra do Bolshoi tocar no suntuoso Théâtre du Châtelet, em Paris. Ele decide dar uma rasteira no Bolshoi, montar uma orquestra e se apresentar, como se fosse a própria. Bem, pensar é uma coisa, montar uma orquestra com ex-músicos (em curtíssimo tempo) é outra bem diferente e mais difícil. Andreï Filipov começa uma saga espetacular, por lugares inusitados, em busca da mão de obra esquecida. Não sei se tudo que ouvimos e lemos, por aqui, sobre a abertura e fim da União Soviética (esfacelamento do regime comunista, domínio da máfia, custo de vida e da vida etc) é tudo verdade. Mas (sendo ou não) a forma tragicômica como isso é retratado é um espanto. Singular na sua pluralidade ''O Concerto'' mostra uma Rússia de ontem, hoje e amanhã, numa Europa que ainda cose com preocupação a união que se avizinha. A narrativa engana os olhos do espectador que se perde na passagem (e na paisagem) do século 20 ao 21, até ser desperto pelo trinar de um celular ou pelo insignificante tremular de uma bandeira comunista, na boca do túnel do tempo via internet. Pois o passado só se torna presente quando são expiadas todas as culpas. É um filme que surpreende e encanta o espectador com a sua anárquica crônica musical sobre o burocrático preconceito artístico e social russo e francês, mas que, com certeza, também atravanca muita arte mundo afora. Ele ainda nos lembra que um bom nome (de peso!) pode fazer uma farsa durar bem mais que meros quinze minutos de fama." (Joba Trindade)

68*2010 Globo / 2010 César

Top Bélgica #16 Top Romênia #7

Oï Oï Oï Productions Les Productions du Trésor France 3 Cinéma EuropaCorp Castel Film Romania Panache Productions Radio Télévision Belge Francophone (RTBF) BIM Distribuzione Canal+ CinéCinéma France 3 (FR 3) Eurimages Région Ile-de-France Belgacom TV Tax Shelter ING Invest de Tax Shelter Productions Fonds d'Action de la Sacem, Le Wild Bunch

Diretor: Radu Mihaileanu

12.860 users / 7.026 face

Check-Ins 222

Date 23/06/2013 Poster - #######

61. The Aviator (2004)

PG-13 | 170 min | Biography, Drama

77 Metascore

A biopic depicting the early years of legendary director and aviator Howard Hughes' career from the late 1920s to the mid 1940s.

Director: Martin Scorsese | Stars: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, John C. Reilly

Votes: 384,128 | Gross: $102.61M

[Mov 06 IMDB 7,5/10 {Video/@@@} M/77

O AVIADOR

(The Aviator, 2004)


"Visualmente muito belo, mas oco e mentiroso. Scorsese buscava um Oscar desesperadamente. Triste." (Demetrius Caesar)

"Um dos mais sem graça de Scorsese. Fora o visual, não sobra muita coisa." (Heitor Romero)

Scorsese conta a história real do magnata da aviação americana, em um belo trabalho psicológico em cima do protagonista.

''Depois de derramar sangue pelas ruas de Nova York, Martin Scorsese resolveu fazer um filme completamente diferente do que está acostumado, mas tão bom quanto seus últimos trabalhos. É a volta do desenvolvimento complexo dos personagens em um filme que, aparentemente, nem parece seguir a tradicional linha característica do diretor. Fica fácil entender todo o glamour por trás de O Aviador quando se tem o conhecimento de que Minha Bela Dama, um dos mais luxuosos filmes da história, é também um dos preferidos de Scorsese. O filme conta a complexa história real de Howard Hughes, que se tornou magnata da aviação mundial após a herança milionária dos pais. Fascinado por aviões, ainda na era muda do cinema filmou um épico que impressiona pelo realismo mesmo nos dias atuais, chamado Hell's Angels. Depois das intermináveis filmagens finalmente se encerrarem, Howard decidiu regravar o filme apenas para incluir o som, novidade no cinema com o primeiro filme falado da história, O Cantor de Jazz (que faz uma pequena aparição no filme). O perfeccionismo e planejamento eram tantos que ele chegava a deixar uma equipe monstruosa parada apenas por não ter 26 câmeras para filmar uma seqüência, e sim 24. Ela afirmava que, com duas a menos, não poderia realizar o que tinha em mente. Não era apenas com filmes milionários que Howard gastava sua fortuna. Por tanto amar e conhecer as máquinas voadoras, ele passou a investir na tecnologia das mesmas. Pensando sempre no futuro, descobrir novos avanços na área, conseguiu boas proezas, como aviões transportadores de grande porte e outros recordistas de velocidade. Em tudo o que sua empresa envolvia, havia o seu ousado 'dedo' por trás. Dinheiro não era problema, era solução. Pensando assim, gastava milhões em poucos segundos, sem pensar nas conseqüências que um erro poderia trazer à sua empresa. Ele chega a comprar 18 milhões de dólares em aviões em poucos segundos, antes mesmo de você poder pensar no monte de dinheiro que este valor representa. No amor, esteve sempre acompanhado das mais belas mulheres. Cate Blanchett constrói uma caracterização mais do que perfeita para Katharine Hepburn, uma das maiores estrelas do cinema, de filmes como Uma Aventura na África e Núpcias de Escândalo, com quem Howard fora casado por alguns anos. Todo o jeito de ser, independente, charmosa e, em vários momentos, arrogante, foram colocados juntos com o sotaque carregado da atriz. Enquanto isso, Kate Beckinsale faz uma atuação bastante discreta para Ava Gardner, que merecia uma interpretação bem mais inspirada e que causasse impacto, assim como Cate fez com Hepburn. John C. Reilly, que vem participando de várias produções importantes nos últimos anos, como As Horas e Chicago, é o braço direito de Howard, sempre fiel e tentando deixá-lo com os pés no chão com relação às finanças da empresa. Protagonizando tantos momentos engraçados (quando, aos berros no telefone, contraria os milhões gastos por Howards) quanto dramáticos (seu brilhante comentário quanto à transfusão de sangue), o ator rouba a cena do elenco secundário, encobrindo até participações de grandes nomes do cinema, como Jude Law, Alec Baldwin e Willem Dafoe. Leonardo DiCaprio, que aos poucos retorna à um grande número de produções, evitando a super exposição causada por Titanic, parece ser o novo apadrinhado do diretor. Depois de protagonizar Gangues de Nova York, ele já está no promissor elenco de The Departed, próximo trabalho do diretor, que contará com nomes de peso como Jack Nicholson e Matt Damon. Ele já está em seu terceiro longa com Scorsese, mas ainda longe do antigo queridinho do diretor, Robert De Niro. Juntos, fizeram oito filmes, produzindo algumas obras-primas, como Touro Indomável e Taxi Driver. Porém, em ''O Aviador'', Leonardo DiCaprio consegue a melhor atuação de toda a sua carreira. Encarando um personagem complexo e cheio de manias, DiCaprio não deixa a peteca cair um segundo sequer, tornando-se o grande nome do filme. Com a voz alterada, ele concede uma perfeita ambigüidade à Howards. Um paradoxo gerado pela inteligência abusiva do rapaz, capaz de pensar e realizar verdadeiras proezas, até sua fragilidade quanto à pequenas coisas do dia-a-dia, resultados de um trauma de infância após a morte da mãe. O modo delicado com que Scorsese expõe o seu personagem é genial. Propositalmente frio, afasta o público casual do personagem ao não dramatizar algumas seqüências que, em mãos erradas, poderiam virar verdadeiras novelas mexicanas. Ao mesmo tempo que vemos Howards em hangares completamente tomados por poeiras, óleos e as mais diversas sujeiras comuns do local, ele não consegue sair de um banheiro de classe alta com medo de se infeccionar com a maçaneta, por mais luxuoso que seja o ambiente. Isso não soa, em nenhum momento, ridículo. Pelo contrário, sabemos exatamente porque o personagem está reagindo devido à excelente construção que, a cada segundo, Scorsese faz em seu personagem. Cuidadosamente o moldando ao longo de quase três horas de produção, o filme não tem uma história fixa, de início, meio e fim. É um filme de situações e construções psicológicas, com belíssimas seqüências e, o maior defeito do filme, sofre pela falta de um clímax na história. A melhor seqüência de todas, aquela que fica mais marcada ao final da exibição, é o acidente em que Howards se envolve. Uma seqüência absurdamente bem feita, de bons efeitos e editada de uma maneira bastante especial, confere um pouco de tensão a lenta e desenvolvida trama. É, por poucos minutos, o momento mais claro que nos remete à um filme de Scorsese. Mas essa falta de clímax, que se mostra preocupante ao sairmos do cinema sem uma cena marcante específica, não é culpa do excelente roteiro de John Logan. O roteirista, que alterna momentos de brilhatismo, como em Gladiador, com algumas bombas atômicas, como em A Máquina do Tempo, desta vez escreve o melhor roteiro de sua vida e retrata longos e complicados anos da vida de um homem de maneira mais que correta sem deixar a passagem de tempo transparecer à história. Esse problema é ocasinado pela opção mesmo de Scorsese, de não tentar nos emocionar. Ele se concentra, a cada cena de seu filme, em mostrar a complexidade da personalidade de Howards. E, pensando por esse caminho, consegue ser bastante feliz. O julgamento de Howards é outro ponto que, pela falta da emoção básica de uma seqüência decisiva, acabou por deixar o acontecimento bem menos interessante do que ele deveria ser. Em momento algum sentimos a gravidade das acusações em cima de Howard, simplesmente porque ele parece estar preparado até demais para o momento, sempre com um contra-argumento na ponta da língua para seus opositores. Tudo é resolvido muito fácil, exceto a obsessão por limpeza. Se é possível comprar com dinheiro, suas ações se limitam a isso, o que tira muito da graça do filme. Não dá para ter boa noção dos riscos que Howard corre porque, por mais milhões que ele gaste com suas loucuras, a fonte parece inesgotável e ter sempre outros muitos milhões a mais prontos para serem torrados. ''O Aviador'' eleva Scorsese de volta aos holofotes com um profundo trabalho psicológico em torno do lendário Howard Hughes e tudo o que contornou sua vida. Junte a bela composição da história com bons efeitos, um inspirado Scorsese, um luxo nunca visto antes em seus trabalhos e um ritmo bastante incomum à Hollywood que a falta de clímax se torna um defeito a ser superado com o tempo. A obra, neste período, só tende a amadurecer e ficar cada vez melhor. Dê uma chance a ele. Não tire conclusões precipitadas, discuta o conteúdo com amigos e perceba que ''O Aviador'' é muito mais completo do que pode parecer à primeira vista. Só não espere sentimentalismo por parte de Scorsese. Disso ele passa longe, mas muito longe mesmo." (Rodrigo Cunha)

"Se eu fosse apostar no Oscar, colocaria minhas fichas no filme O Aviador. Não, não foi o que eu mais gostei (meu preferido é Em Busca da Terra do Nunca), mas o trabalho de Scorsese é, sem dúvida, aquele que mais tem a chamada cara de Oscar. Grandioso, eloqüente e épico, O Aviador traz todas aquelas características típicas que a Academia de Hollywood prefere premiar. Entre elas, a grande duração (já repararam como é muito difícil um filme com menos de duas horas levar os prêmios principais?), a produção esmerada (se for de época, então), um personagem sofrido, muita riqueza na direção de arte, narrativa clássica sem grandes inventividades e, claro, nada que possa chocar o público médio com muita intensidade. Neste sentido, considero O Aviador o franco favorito. E com o chamado plus: tudo se passa nos bastidores da própria produção cinematográfica. E Holywood adora se auto-reverenciar (e referenciar também). Gostei bastante de ''O Aviador''. A direção sempre eficiente de Scorsese não deixa o espectador olhar no relógio pra ver quanto tempo ainda falta para acabar o filme. Ela envolve, constrói com firmeza os personagens (que não são poucos), extrai mais uma convincente interpretação de Leonardo Di Caprio e - vez por outra- brinda o público com um chacoalhante momento cinematográfico de impacto, como é o caso do acidente de avião. Sua câmera leve traça panorâmicas fluídas sobre sets e personagens, como que num vôo visual rasante absolutamente coerente com o tema enfocado. Scorsese segue - sem esconder - a linha das grandes biografias clássicas do cinema, no melhor estilo Cidadão Kane, e realiza mais um filme digno de sua extensa biografia. Não é profundo, e nem se propõe a isso, mas é um trabalho que não decepciona quem vai ao cinema em busca de algumas horas de entretenimento de qualidade. E o que o Oscar busca premiar, se não o entretenimento de qualidade?" (Celso Sabadin)

"Produzir filmes é um atalho que vários atores vêm tomando para fazer os papéis que realmente lhe interessam sem ter de ficar esperando bons roteiros caírem em seus colos. Isso funciona tanto para talentos em ascensão como para quem já circula com uma certa facilidade pelos corredores de Hollywood. É o caso, por exemplo, de Leonardo DiCaprio, que batalhou para transformar a biografia do milionário texano Howard Hughes em filme. Sua primeira opção para dirigir o longa era Michael Mann, que chegou inclusive a escolher o roteirista John Logan (Gladiador, O último samurai) para escrever a história, mas acabou pulando fora. O motivo era simples: após filmar duas biografias seguidas - O informante (1999) e Ali (2001) -, ele queria partir para algo diferente e optou por Colateral (2004). Mas Mann continuou no projeto, como produtor, e ajudou tanto a conseguir os 150 milhões de dólares que garantiriam a viabilidade do filme como a conseguir um substituto, no caso, Martin Scorsese. Tecnicamente, a escolha não poderia ser melhor. Scorsese é tão perfeccionista quanto foi Hughes e cuidou para que tudo estivesse no seu devido lugar, desde a ambientação à iluminação, que remete aos filmes feitos naquela época. Porém, ao pegar um trabalho que havia sido desenvolvido por outros e para outros, o cineasta não acrescenta muito à história. Se os personagens estão muito bem caracterizados, falta um pouco mais de profundidade, falta aquela câmera que mostra os distúrbios que estão acontecendo dentro da cabeça do protagonista, como em Taxi Driver (1976). O que se vê é o exterior, como por exemplo o transtorno obssessivo-compulsivo, a surdez e a germofobia de Hughes, mas em um estado ainda controlável, longe dos patamares que o levaram a se enclausurar até a sua morte. O período retratado, dos anos 20 aos 40, começa com o jovem Hughes (DiCaprio), então aos 18 anos, dirigindo o épico Anjos do Inferno (1930) - uma homenagem aos pilotos da Primeira Guerra Mundial. Órfão há pouco tempo, o jovem brigou na justiça para herdar, antes de atingir a maioridade, a empresa e a fortuna deixada por seus pais - donos de uma empresa que inventou e patenteou uma broca que furava rochas e facilitava a extração do petróleo. Ao contratar seu braço direito, Noah Dietrich (John C. Reilly), Hughes explica que vai precisar de mais dinheiro para terminar seu filme e manda uma mensagem aos acionistas da empresa: Fale para eles pararem de me chamar de Júnior. Nada mais justo para quem, aos 11 anos, construíra o que provavelmente foi o primeiro estúdio de transmissão sem fio de Houston, demonstrando perícia em matemática e engenharia. Não foi à toa que nos anos seguintes ele quebrou recordes de velocidade nos aviões que ele mesmo projetou e fez questão de testar. Sua paixão pela aviação e crença de que esta era a indústria do futuro fez com que comprasse uma companhia aérea, a TWA, que incomodou a gigante Pan Am e fez com que seu dono, Juan Trippe (Alec Baldwin), mexesse seus pauzinhos para tentar tirar Hughes e sua empresa do ar. Tudo isso e a inquisição comandada pelo Senador Ralph Owen Brewster (Alan Alda) estão no filme, que como se pode imaginar é realmente longo (170 minutos), mas sem ser cansativo, afinal história para contar é o que não falta. Porém, na ânsia de jogar todas estas informações e façanhas conseguidas por Hughes, muitos fatos acabam sendo mostrados superficialmente. Alguns eram importantes, como seus problemas, e outros, no mínimo curiosos, como a invenção do sutiã meia-taça, criado para sustentar seu segundo filme, The Outlaw (1943), que tem como principal atração os seios de Jane Russel. Há também o que se pode chamar de desperdício de estrelas. Com exceção à ótima performance de Cate Blanchett como Katharine Hepburn, passam quase desapercebidas aparições de Jude Law (Errol Flynn), Willem Dafoe (como o jornalista Roland Sweet), Ian Holm (Professor Fitz), Gwen Stefani (vocalista do No Doubt como Jean Harlow), entre outros. E até mesmo os que ganham um pouco de mais de tempo de tela, caso de Kate Beckinsale interpretando Ava Gardner, não passam de adornamento. Antes de DiCaprio, vários outros figurões tentaram fazer um filme sobre a vida de Hughes, entre eles Warren Beaty, John Malkovich, Jim Carrey e Brian De Palma, que viu seu projeto ser brecado porque o orçamento de 80 milhões de dólares foi considerado muito alto. O que diferencia este projeto dos demais é que desde o começo DiCaprio queria focar-se no auge da criatividade de Hughes, que além de dirigir dois longas-metragens, produziu outros tantos, criou aviões, brigou com a Pan Am contra um monopólio dos vôos internacionais e, o que talvez mais aparecia na mídia, saiu com as mais belas mulheres de Hollywood. A opção é controversa, pois por um lado deixa o filme leve, com grandes chances de agradar muita gente. Porém, esta alternativa esconde os últimos dias da vida do magnata, que foi bastante reclusa e, dizem por aí, cheia de paranóias. Seria sem dúvida um prato cheio para DiCaprio mostrar ainda mais suas capacidades como ator dramático. Assim, o filme decola e mostra com muito brilho vários fatos da vida de Howard Hughes, mas deixa de fora o trecho mais turbulento de todos, os anos de reclusão que duraram até sua morte. Usando a mesma comparação já feita pelo jornalista Peter Bradshaw no jornal inglês The Guardian: Um filme sobre Howard Hughes que não mostra sua vida em um quarto de hotel, com cabelos desgrenhados, unhas mais longas que hashis e pés calçados em caixas de lenço de papel, é como fazer um filme da vida de Mané Garrincha e não mostrar seus problemas com bebidas. Sem dúvida é algo que pode ficar até bonito na tela, mas é incompleto." (Celso Forlani)

72*2005 Oscar / 67*2005 Globo

Forward Pass Appian Way IMF Internationale Medien und Film GmbH & Co. 3. Produktions KG (copyright owners) Initial Entertainment Group (IEG) (in association with) Warner Bros. (presented by) Miramax Films (presented by) Cappa Productions

Diretor: Martin Scorsese

208.835 users / 5.274 face

Soubdtrack Rock = Al Jolson + The Ink Spots + Leadbelly

Check-Ins 225

Date 29/06/2013 Poster - #

62. The Monk (2011)

R | 101 min | Drama, Mystery, Thriller

56 Metascore

Madrid, in the seventeenth century. Abandoned at the doorstep of a monastery, Ambrosio has been brought up by the Capucin Friars. After becoming a friar himself, he becomes an unrivaled ... See full summary »

Director: Dominik Moll | Stars: Vincent Cassel, Sergi López, Jordi Dauder, Joséphine Japy

Votes: 4,128 | Gross: $0.01M

[Mov 04 IMDB 5,7/10 {Video/@@} M/56

O MONGE

(Le moine, 2011)


Mais um filme monótono sobre a vida monástica.

''Não são poucos os filmes que tratam da vida monástica e clausural. De clássicos recentes como O Nome da Rosa (The Name of The Rose, 1986) até outros mais antigos, como A Religiosa (La Religieuse, 1966) e Marcelino Pão e Vinho (Marcelino, Pan y vino, 1955) com direito a passagens no cinema exploitation como A Noite do Terror Cego (La Noche Del Terror Ciego, 1972) e Satanico Pandemonium (idem, 1975) e o polêmico Os Demônios (The Demons, 1971) de Ken Russell, várias obras já exploraram um pouco sobe a vida dessas pessoas que vivem dedicadas a uma entidade superior, negando o contato com o mundo exterior em nome de um único ideal. A repressão constante costuma ser origem do conflito da maioria desses filmes: mesmo filmes produzidos sob a mão pesada de Hollywood, como Uma Cruz à Beira do Abismo (The Nun’s Story, 1959), tratavam desse embate constante entre vontade e rigidez. Os anos sessenta e setenta foram especialmente dramáticos nesse filão ao acentuar o lado sexual da questão – e os filmes sobre devotos que enfrentavam o desejo foram produzidos tão freqüentemente que inspirou até uma hilária paródia em um dos trailers falsos da comédia Trovão Tropical (Tropic Thunder, 2008), onde Robert Downey Jr. e Tobey Maguire estão impagáveis como dois monges que sentem uma forte atração um pelo outro. A citação ao filme de Ben Stiller pode parecer, mas não é gratuita: ''O Monge'' concentra, justamente, todos os clichês que eram satirizados no início do filme. Vincent Cassel interpreta Ambrosio, um monge que cresceu na vida monástica após ter sido abandonado ainda bebê na porta do mosteiro. Portanto, ele não conhece outra vida e é um modelo de inspiração para seus colegas e o favorito dos sacerdotes mais velhos, por sua dedicação, inteligência e talento na oratória. A cena inicial já define o resto de todo o filme: um homem do qual não vemos o rosto confessa as maiores sujeiras para ele, sobre manter relações sexuais com uma sobrinha bem mais nova. O monge apenas as ouve. Ambrosio então é questionado se ele está tão acima dos outros, se não é, ele mesmo, um pecador. Mas mantém-se em silêncio. Após a rápida apresentação – e é impressionante conseguirem fazer na Velha Europa uma misé-en-scene tão pouco naturalista – esclarecida pela narração em voice over para que não restem dúvidas que aquele menino deixado à porta do convento é, de fato, o homem de tantos anos depois, o conflito logo se mostra em torno da culpa acerca da delação de uma freira que escondia um segredo da madre superiora de seu convento, da entrada de um noviço misterioso no monastério e na obsessão que tem por um sonho onde sempre vê uma mulher de véu. Sem fio narrativo consistente, ''O Monge'' logo se perde em todos os clichês esperados nesse tipo de filme – os padres mais velhos que minimizam a angústia dos reclusos protagonistas, os símbolos crescentes de tentação, os personagens que são agentes provocadores. A trama esquemática demora para engrenar de vez – a revelação de uma surpresa e a materialização do sonho na vida real demoram para entrelaçar-se, mas logo deixam, de vez, exposto o conflito de origem sexual que Ambrosio está enfrentando. O monge descobre logo que também é carne. A direção de Dominik Moll perturba por uma indecisão na unidade de linguagem do filme. Há cortes articulados feitos em determinadas elipses por meio de máscara (o famoso círculo que se fecha) que não se repetem por grande parte do filme. Os cenários naturalistas encontram obstáculo em cenas com uma computação gráfica obviamente falsa. Alguns momentos de tensão são resolvidos com incrível rapidez enquanto outros são dilatados além da conta. O timing truncado e a perdição entre cosméticas de pós-produção, filmagem com filtros e tantos recursos acabam produzindo uma obra disforme e desconfortável. É óbvio que dada a temática, abordagem adulta e roupagem para um nicho de mercado específico, destinam o filme a um tipo determinado de público. Mas atirar para tantos lados acaba criando uma obra, no final, facilmente esquecível, frente a tantas obras sobre o assunto tão mais relevantes – tanto esteticamente quanto dramaturgicamente. No arco final, uma relação forçada com a primeira cena admite a entrada da possibilidade de um tom sobrenatural que não existira o filme inteiro – e que acaba, assim, suspenso no ar. Com poucos méritos a serem realmente destacados – a atuação de Cassel empresta certo vigor à obra, com o seu trabalho atento à voz e postura e certas seqüências no final que poderão agradar quem gosta de possibilidades estéticas mais orgânicas, feitas no set, do que digitais, feitas na sala de montagem – ''O Monge'' definitivamente não se destaca entre os lançamentos desse ano. Mas, para quem acha o tema interessante, vale pela curiosidade." (Bernardo D.I. Brum)

''Ao entrevistar Vincent Cassel por seu personagem em À Deriva, de Heitor Dália, pude ver o carisma e o charme que esse ator francês exala. Não é à toa que o galã é casado com uma das mulheres mais bonitas do mundo: Monica Bellucci. E já trabalhou com a esposa em Irreversível. Mas o meu filme preferido com o ator é O Ódio. Em ''O Monge'', Cassel interpreta Frei Ambrósio, um religioso que atrai multidões com seus sermões rigorosos. Na trama, o personagem acredita estar acima do mal e julga-se imune à qualquer tentação. Porém, suas convicções são abaladas com a chegada de Valério, jovem desfigurado que esconde um segredo. No meio desse mistério, começa uma estranha parceria que leva a história a sinistros acontecimentos. O filme, terceira adaptação para o cinema do romance gótico de Matthew Lewis, foi dirigido pelo alemão Dominik Moll e traz também no elenco Geraldine Chapln, Déborah François e Sergi López. A fotografia, a direção de arte, o figurino e a trilha, aliados à escolha de tomadas de câmera mais tranquilas, fazem o filme paracer realmente antigo, de outra época. Claro que as locações na Espanha também ajudaram a criar o clima soturno e nebuloso da Idade Média. Em ''O Monge'', você é apresentado a mais uma das facetas de Vincent Cassel, com seu personagem rígido, sério, denso. Não posso deixar de mencionar que Cassel, além de um ótimo ator, é mais um francês que se apaixonou pelo Brasil. Dizem que até está pensando em morar no Rio de Janeiro. Bom… falar português não será um problema para o ator. E vê-lo pelo Leblon tomando chope com amigos no famoso Bar Jobi, não é mais uma novidade.'' (Antoniela Canto)

''O Monge'', de Dominik Moll, é um suspense que joga com a fé e a relação de religiosos com a tentação e o pecado. Um filme que mostra os limites da virtude de um monge da Madri católica do século XVII. Para isso, faz-se uso de efeitos sonoros fortes, contendo algumas composições com tom wagneriano. As fotografias, especialmente de regiões áridas, são bonitas e bem cuidadas. As linhas gerais do roteiro são interessantes e ele é executado bem seca e objetivamente, mesmo que algumas vezes as passagens de um momento a outro até parecem um pouco abruptas. De qualquer forma, é um bom filme e também pode agradar a um público maior, especialmente daqueles que estão acostumados com filmes de ação ou hollywoodianos. ''O Monge'' traz Vincent Cassel no papel do irmão Ambrosio, que foi abandonado quando bebê nas portas de um mosteiro e criado pelos monges. Ele cresce e torna-se um capuchinho de fé, virtude e rigor muito elevados, atraindo grande número de fiéis para assistir aos seus sermões. No entanto, sua vida toma novo rumo com a chegada de um noviço, pondo sua fé e integridade à prova. Aqui, todo pecado é retratado como sendo derivado da mulher. Na trama, são quatro as mulheres que enredam Anselmo: a irmã Agnès (Roxane Duran), Valerio (Déborah François), Antonia (Joséphine Japy), Elvire (Catherine Mouchet). Assim, a principal e grande tentação em ''O Monge'' é a da carne. Cada uma dessas mulheres tem uma função específica no enredo do filme, nãohavendo sobreposição ou conflito de papéis. Característica que também se verifica com relação aos demais personagens. O roteiro praticamente não contém pontos de descanso ou distração, o que dáum ritmo mais acelerado ao filme e também um clima de objetividade,evidenciando uma trama com um único clímax. Perguntado sobre quando a mentira é admitida, Anselmo afirma que se pode mentir quando o mal causado pela verdade é maior que aquele causado por ela. Essa postura pode ser a chave para o caráter do monge e o ponto a partir do qual os limites de sua virtude seriam testados. Quais questionamentos morais podem ser feitos acerca da virtude de Anselmo? Quais os seus limites? Qual o grau de dificuldade para corromper um homem virtuoso? Anselmo é um monge consciente de sua imagem, atento ao poder de suas palavras e influência sobre os outros. No púlpito, age como um ator, avaliando e questionando sua própria performance. O que ele é capaz de fazer para preservar sua imagem? O que ele sabe sobre a verdade? Tendo isto em mente, muitos de seus atos tornam-se mais compreensíveis. ''O Monge'' trabalha com o mal materializado nas pessoas,afastando o recurso constante a eventos sobrenaturais. Assim, são poucas as situações que se afastam da verossimilhança. Mesmo assim, as cenas são sombrias o suficiente para denunciar a sensação do mal que se afirma estar presente e as encenações sobrenaturais são mais em benefício da história do que da exibição de efeitos especiais enquanto tais." (Cinema Na Rede)

''O diretor francês Dominik Moll não é um cineasta para todos os gostos. Seus filmes Lemming - Instinto Animal e Harry, que Veio Para Ajudar causam certo estranhamento na plateia ao arrancar o que há de mais bizarro na superfície da classe média em seus thrillers psicológicos. Razão pela qual foi comparado -- por críticos mais entusiasmados em 2005 - a nomes como Alfred Hitchcock e Claude Chabrol. Desta vez o francês, de origem alemã, roteirizou e dirigiu "O Monge", baseado em uma das mais transgressoras novelas góticas do século 18, escrita pelo inglês Matthew Gregory Lewis (1775 - 1818). Moll extrai muito pouco do livro, atitude bem diferente das adaptações cinematográficas do diretor espanhol Francisco Lara Polop (El Fraile, de 1990) e do surrealista grego Adonis Kyrou (El Monje, de 1972, com roteiro de Luis Buñuel). O filme estreia nesta sexta-feira nos cinemas de São Paulo. O cineasta desprezou o conteúdo crítico e antipapista da história de Lewis para focar no drama vivido pelo monge capuchinho Ambrosio (Vincent Cassel, de Cisne Negro). Abandonado na porta de um mosteiro espanhol ainda bebê, no início do século 17, o protagonista torna-se, quando adulto, o mais fervoroso e penitente monge de sua congregação. Com ares de santo, as virtudes que prega em inflamados sermões servem de exemplo para todo o vilarejo, que o enxerga com admiração histérica. Apegado a suas crenças, não sente nenhuma piedade mesmo quando descobre a gravidez de uma freira e a entrega à madre superiora (participação especial de Geraldine Chaplin) para um sabido infortúnio. No entanto, a chegada do monge mascarado Valerio ao seu mosteiro, faz a abnegação e devoção de Ambrosio serem colocadas em xeque. Trata-se, na verdade, de uma mulher (Déborah François, de A Criança), que tentará Ambrosio. Em um efeito dominó que levará a história a um desfecho trágico, Ambrosio passará por uma transformação provocada pelo próprio demônio. Tentação, luxúria, culpa e penitência estão no caminho do monge, com espaço até mesmo para um matricídio. Superficial, embora o próprio texto-base também tenha sido assim considerado, o filme contém um pouco das bizarrices tão caras a Dominik Moll. O diretor monta uma história repleta de peças soltas e um tanto enigmáticas que, no fim, se encaixam, mas não de forma hermética. Os efeitos visuais concebidos pelo competente Jérôme Fournier, de Watchmen, e fotografia de Patrick Blossier (de "Amém") enobrecem o filme, que ainda conta com a destreza de Alberto Iglesias, conhecido compositor das trilhas sonoras dos filmes de Pedro Almodóvar e de Lúcia e o Sexo (2001). No final da projeção de "O Monge" também é possível lembrar um pouco de Anticristo (2009), de Lars von Trier. Afinal, mesmo as visões mais agnósticas e ateias podem aceitar o poder do sobrenatural, mesmo que seja apenas como uma força psicológica." (Rodrigo Zavala)

Diaphana Films Morena Films El Monje La Pelicula AIE Estrategia Audiovisual France 3 Cinéma Canal+ France Télévision CinéCinéma Televisió de Catalunya (TV3) Coficup Backup Films Soficinéma 6 Banque Postale Image 4 Uni Étoile 8 A Plus Image 2 Eurimages Centre National de la Cinématographie (CNC) Région Languedoc-Roussillon Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales (ICAA) Instituto de Crédito Oficial (ICO) Memento Films International 120 Films Navarra Film Commission

Diretor: Dominik Moll

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Date 26/06/2013 Poster - ####

63. The Delinquents (1957)

Not Rated | 72 min | Drama

A frustrated young man, separated from his younger girlfriend, gets involved in a juvenile gang.

Director: Robert Altman | Stars: Tom Laughlin, Peter Miller, Richard Bakalyan, Rosemary Howard

Votes: 669 | Gross: $1.00M

[Mov 05 IMDB 5,6/10 {Video}

OS DELINQUENTES

(The Delinquents, 1957)


''Em Kansas City um jovem de 19 anos, Scotty White (Tom Laughlin), é apaixonado por Janice Wilson (Rosemary Howard) e é correspondido. Mas como ela tem apenas 16 anos, os pais de Janice acham que ela é ainda muito nova para namorar já pensando em casamento. Eles proíbem Scotty de vê-la, pois querem que ela conheça outros rapazes. Scotty acaba conhecendo uma gangue de jovens arruaceiros, que são liderados por Cholly (Peter Miller). Desesperado para ver Janice, Scotty pede que Cholly se faça passar como um novo namorado de Janice e que, quando ela supostamente sair com ele, Janice e Scotty possam se ver. Mas nenhum dos dois poderia imaginar com qual tipo de gente estavam lidando.'' (Filmow)

Imperial Productions Inc. (III)

Diretor: Robert Altman

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Date 26/06/2013 Poster #####

64. The Pornographer (2001)

Unrated | 108 min | Drama

Jacques Laurent made pornographic films in the 1970s and '80s, but had put that aside for 20 years. His artistic ideas, born of the '60s counter-culture, had elevated the entire genre.

Director: Bertrand Bonello | Stars: Jean-Pierre Léaud, Jérémie Renier, Dominique Blanc, Catherine Mouchet

Votes: 2,636

[Mov 09 IMDB 5,5/10 {Video/@@@@}

O PORNOGRAFO

(Pornographe, Le, 2001)


"O que é mais pornográfico: os filmes de sexo explícito ou a política oficial, a publicidade, a imprensa que vive de escândalos? De certo modo, essa é a questão colocada por "O Pornógrafo", de Bertrand Bonello. Mas, por estar concentrado na figura do cineasta Jacques Laurent (Jean-Pierre Léaud), é apenas de maneira lateral, quase sub-reptícia, que o filme ilumina esses aspectos cruciais da sociedade contemporânea. Em primeiro plano, o drama de Laurent, obrigado, por razões financeiras, a voltar à realização de filmes pornográficos, atividade da qual se afastou há 20 anos. Ao mesmo tempo, o cineasta se separa da mulher e tenta se reaproximar do filho de 17 anos, Joseph, que se vê dividido, por sua vez, entre a namorada e a militância política num grupo que escolheu a greve de silêncio como forma de protesto. Mas, à frente disso tudo, destacando-se como a imagem em relevo de uma holografia, há a figura de Jean-Pierre Léaud. Ator notável que consegue estar ao mesmo tempo dentro e fora de seu personagem, Léaud carrega sobre os ombros curvados o peso das vidas que viveu para Truffaut e Godard. Se Laurent porta o estigma da pornografia, Léaud porta o da modernidade, tal como desenhada pelo cinema francês. Essa circunstância, que enche de sombras o rosto do ator, multiplica também as camadas de significação de "O Pornógrafo". Há uma pequena sequência, aparentemente descolada do resto do filme, que reforça essa impressão. É quando Laurent, sem mais nem menos, segue uma desconhecida na rua, entra furtivamente em seu apartamento e, descoberto, limita-se a dizer, candidamente: Perdão, senhora. Não sei o que me deu na cabeça. É impossível deixar de lembrar de Antoine Doinel, o personagem que Léaud interpretou em filmes memoráveis de Truffaut. A solidão de Laurent, caminhando como um fantasma por um mundo em que tudo se tornou pornográfico (salvo, talvez, a pornografia), espelha a solidão de Léaud, espectro que passeia por um cenário em que tudo virou mercadoria, espetáculo, clichê. Nos dois casos (o do personagem e o do ator), trata-se da afirmação trágica de uma individualidade em tempos de padronização do pensamento e do espírito. Quem diz tudo isso é o rosto de Léaud." (Jose Geraldo Couto)

"Sem entusiasmos! Nem tudo no moderno cinema francês é O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, conforme a mídia martelou nas últimas semanas. Dentro do mais tradicional estilo da terra de Danton (leia-se lento, reflexivo, falado, existencial, melancólico, neurótico e triste) estréia neste final de semana o drama ''O Pornógrafo'', estrelado por Pierre Léaud. Pierre foi um dos atores preferidos de Truffaut, que o descobriu nos anos 50 para viver o personagem Antoine Doniel numa série de filmes. Aqui, ele vive o papel de Jacques, cineasta que fez muito sucesso com filmes pornográficos durante os anos 70, mas que agora amarga dificuldades financeiras. Para dar a volta por cima, ele decide retomar sua atividade de pornógrafo, mas os tempos são outros e sua jornada não será nada fácil. Principalmente porque sua mente continua presa à lembrança de seu filho, Joseph (Jérémie Rénier), que três anos antes se revoltou ao descobrir a profissão do pai. ''O Pornógrafo'' é o segundo longa de Berthand Bonelo. Seu primeiro trabalho, Quelque Chose d´Organique, permanece inédito no circuito comercial brasileiro. Apesar do título, ''O Pornógrafo'' não é um filme sobre sexo (embora traga uma cena mais forte sobre o tema), mas sim sobre crises existenciais e reflexões psicológicas. Tipicamente francês, diga-se de passagem." (Celso Sabadin)

''Exibido na Semana da Crítica do último Festival de Cannes, o segundo longa-metragem de Bertrand Bonello (de quem o primeiro, Quelque Chose d'Organique, permanece inédito no Brasil) recebeu lá o prêmio da crítica internacional (representada pelo júri da Fipresci). Julgamento acertado dos críticos, que souberam premiar um talento que se destaca na conjuntura do jovem cinema francês com um filme verdadeiramente questionador e com grande poder de reflexão, algo na linha da melhor tradição do cinema moderno francês. Para o diretor de ''O Pornógrafo'', porém, aderir à tradição não é um gesto gratuito ou até, na melhor das hipóteses, ativo em sua pretensa positividade. É uma aproximação difícil, consciente e crítica, em que se problematiza a natureza e os valores (morais, instrumentais, formais) contidos na herança da tradição, assim como se questiona a própria natureza da aproximação, uma complicada relação estabelecida entre o recipiente e o representante último, originário e fundador deste legado. Que esta aproximação esteja tematizada no filme como um conflito de gerações - especificamente entre pai e filho -, uma solução até certo ponto convencional em sua tentativa de resolver o impasse da representação inserindo-a numa matriz psicológica, não tira nenhum mérito de Bonello. Pelo contrário, propõe uma leitura deveras intrigante ao mesmo tempo que revela um comentário histórico agudo. E isto se deve, em boa parte, às escolhas dos atores que compõem o elenco. Bonello, em depoimento ao Le Monde há alguns meses atrás, dizia pensar em Maurice Pialat ou Philippe Garrel para o papel de Jacques Laurent, a personagem-título, antes de encontrar em Jean-Pierre Léaud o intérprete ideal. Nada mais acertado. Pialat ou Garrel poderiam até dar conta do recado, mas eles não comportam a dimensão mítica, única, de resgate do imaginário da Nouvelle Vague e de toda a trajetória do moderno cinema francês (e porque não, da cultura francesa contemporânea). A simples presença de Léaud, cujo rosto envelhecido traz as marcas físicas da efervescência cultural dos anos 60 e 70; cuja expressão melancólica revela a nostalgia das atividades de outrora; cujas reações musculares involuntárias, tiques nervosos, são um índice incontestável de quem lançou o corpo e a mente na aventura de toda uma geração; sua simples presença eleva O Pornógrafo a uma nova categoria discursiva. Por sua vez, Joseph, a personagem do filho, é interpretada por Jerémie Régnier, jovem ator revelado em La Promesse, dos irmãos Dardenne. Do Antoine Doinel órfão rebelde de Os Incompreendidos, passando pelo jovem revolucionário de A Chinesa e pelo Alexandre de La Maman et la Putain, ao pai rejeitado em busca da compreensão filial em ''O Pornógrafo'', mais de quatro décadas se passaram. Ao cabo desta trajetória encontramos, segundo Bonello, um homem atormentado por um passado dedicado a alimentar utopias frágeis, já desaparecidas, em busca de um recomeço. Para isto, seria necessário reencontrar suas raízes burguesas e reestabelecer vínculos há muito perdidos, talvez inalcançáveis: realizar o projeto da obra máxima inédita, compreender e aceitar o suicídio da esposa, construir uma casa, reencontrar o filho, trabalhar. Jacques é esta personagem introspectiva e melancólica que internaliza numa crise pessoal permanente sua incapacidade de abraçar os valores tradicionais burgueses e seu desapego a tradições de qualquer espécie, falhando miseravelmente no papel de pai, de profissional, de chefe de família, de pornógrafo. Neste sentido, lembra bastante uma personagem emblemática de um filme dos irmãos Taviani, Alonsanfan (Marcello Mastroianni). Joseph, o filho que abandonou o pai, percorre um trajeto semelhante ao de Jacques em sua paródica mobilização juvenil em prol do silêncio como forma de contestação. O seu desapego, por sua vez, aos valores burgueses e sua recusa ao pai, representação engessada de um conflito mal resolvido, são as duas faces de uma mesma moeda: o desconforto com a vida contemporânea, cujos signos já não são tão evidentes quanto os da modernidade opressora presentes em Antonioni. A melancolia urbana, o corpo cansado e a alienação daquele são substituídos por um retorno ao romantismo bucólico do campo, pela descoberta do amor (atenção à bela sequência que homenageia Monteiro e sua Comédia de Deus) e pela expressão do corpo histérico. É numa personagem estrangeira a todos estes conflitos, no entanto, que Bonello deposita alguma positividade, uma última reserva de otimismo: é o semblante plácido, distante e misterioso de Dominique Blanc que nos anuncia o nascimento de uma nova criança e uma possível redenção para todos." (Fernando Veríssimo)

2001 Palma de Cannes

Haut et Court In Extremis Images Ministère de la Culture et de la Communication Centre National de la Cinématographie (CNC) TPS Cinéma Téléfilm Canada

Diretor: Bertrand Bonello

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Soundtrack Rock = Les Rita Mitsouko

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Date 15/07/2013 Poster - ##########

65. Kiss Them for Me (1957)

Approved | 105 min | Comedy, Romance

In 1944, three Navy pilots stationed in Hawaii and a P.R. officer go on a 4-day leave to San Francisco where they party with a good crowd in the executive suite of a busy hotel.

Director: Stanley Donen | Stars: Cary Grant, Jayne Mansfield, Leif Erickson, Suzy Parker

Votes: 2,178

[Mov 05 IMDB 5,7/10] {Video/@@@@}

O BEIJO DE DESPEDIDA

(Kiss Them for Me, 1957)


TAG STANLEY DONEN

{divertido / simpático}


Sinopse

''Nessa comédia leve e bem-humorada sobre os tempos de guerra, três marinheiros da 2ª Guerra Mundial planejam uma licença de 4 dias em São Francisco. Assim que chegam a terra, eles imediatamente se dedicam a transformar o evento em uma festa. E se esforçam para que ela dure o máximo possível. Um dos mais entusiasmados para a diversão é o Comandante Andy Crewson (Cary Grant). Desesperado para manter os homens na linha, o Tenente Walter Wallace (Werner Klemperer) leva o trio para falar em um estaleiro local, de propriedade de um poderoso armador. Mas não demora muito para o inquieto Crewson começar a cortejar a voluptuosa filha (Jayne Mansfield) do armador... E o resultado é hilário.''
Twentieth Century Fox Film Corporation Jerry Wald Productions

Diretor: Stanley Donen

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Date 22/08/2014 Poster - #####

66. Get Carter (2000)

R | 102 min | Action, Crime, Drama

24 Metascore

A Las Vegas mob enforcer travels back to his hometown to investigate his brother's mysterious death.

Director: Stephen Kay | Stars: Sylvester Stallone, Rachael Leigh Cook, Miranda Richardson, Rhona Mitra

Votes: 36,601 | Gross: $14.97M

[Mov 05 IMDB 4,8/10 {Video/@@} M/24

O IMPLACÁVEL

(Get Carter, 2000)


''Michael Caine é uma figura que transmite elegância, serenidade e sabedoria. Em filmes como Regras da Vida (filme de 1999, pelo qual ganhou seu segundo Oscar), O Grande Truque e a trilogia Batman de Christopher Nolan, o ator construiu personagens paternais, figuras carinhosas e dedicadas àqueles que ama. Daí o impacto diante da brutalidade do papel que interpreta em Carter – O Vingador, pequeno longa de ação inglês de 1971 que ganhou, quase trinta anos depois, uma malfadada refilmagem hollywoodiana protagonizada por Sylvester Stallone (e com uma participação breve, mas importante para a trama, do próprio Caine). Ambos os filmes narram basicamente a mesma história: um capanga da máfia retorna à sua cidade natal para o funeral de seu irmãos mais novo, cuja morte misteriosa passa a intrigá-lo e se torna objeto de sua obstinada investigação. No entanto, suas respectivas abordagens não poderiam ser mais diversas. Impressiona muito a ousadia do original, dirigido por Mike Hodges. Carter – O Vingador é um filme carregado de nudez, sexo e incorreção política, a começar por seu protagonista, sujeito violento que não pensa duas vezes em esfaquear um homem indefeso, atirar outro ainda menos ameaçador do alto de um edifício e levar para a cama a dona da pensão em que está hospedado somente para impedi-la de entregá-lo à polícia. O Jack Carter de Michael Caine é daqueles anti-heróis inesquecíveis que o cinema vez ou outra produz, uma figura para a qual o espectador não encontraria maiores dificuldades em torcer mesmo que sua “missão” na história narrada não fosse suficientemente nobre. Afinal, como não se encantar com um personagem que, para expulsar de seu quarto dois antagonistas, não tem nenhum pudor de sair à rua totalmente nu e de espingarda na mão? Hodges é também ousado nas sequências de sexo: numa delas, por exemplo, Carter surge incentivando que sua namorada (com os seios à mostra, claro) se masturbe ao telefone; noutra, o protagonista pega carona com a amante de um bandido local, que se insinua para ele enquanto o diretor sobrepõe imagens dos dois transando às mãos da personagem passando as marchas (numa clara referência fálica) em seu carro. Infelizmente, toda a safadeza presente em Carter – O Vingador inexiste em “O Implacável”, o tal remake produzido em 2000 com Stallone no papel principal. Trata-se de um filme insosso, de um longa de ação genérico que ainda falha feio ao tentar dar alguma profundidade dramática ao seu protagonista. Dirigido pelo desconhecido Stephen Kay, “O Implacável” já seria um trabalho medíocre por si só, com sua montagem descabidamente frenética e confusa e seu drama rasteiro, mas colocado lado ao lado com a primeira versão dessa história, a existência do filme se torna ainda mais injustificável. Sobretudo pelo fato de apagar quase todos os traços da encantadora ousadia do longa de 1971: além de se tornar quase um pai para sua sobrinha vivida por Rachael Leigh Cook (encontrando nela uma redenção impossível de ocorrer em Carter – O Vingador), o Jack Carter de Sylvester Stallone passa longe de levar sua namorada à masturbação na rápida conversa que mantêm pelo telefone e, mais grave, decide, num momento chave da narrativa, poupar a vida de um determinado personagem simplesmente para lhe dar uma “segunda chance”. E é no mínimo curioso que um brutamontes como Stallone soe muito menos ameaçador que o esguio e elegante Michael Caine. Por essa, nem Bruce Wayne esperava… “O Implacável” é, em suma, um filme covarde que, ao amenizar a ousadia de Carter – O Vingador, falha vergonhosamente em sua tentativa de homenagear o trabalho de Mike Hodges. E pouco adianta trazer Michael Caine (subaproveitado, em papel no mínimo tolo) no elenco ou realizar algumas releituras interessantes do tema musical do original." (Wallace Andrioli)

Morgan Creek Productions Franchise Pictures Canton Company, The Epsilon Motion Pictures Carter Productions

Diretor: Stephen Kay

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Soundtrack Rock = Moby + Soma Sonic + The Accidentals + Delerium

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Date 28/07/2013 Poster - #

67. The Circle (2000)

Not Rated | 90 min | Drama

85 Metascore

Various women struggle to function in the oppressively sexist society of contemporary Iran.

Director: Jafar Panahi | Stars: Maryiam Palvin Almani, Nargess Mamizadeh, Mojgan Faramarzi, Elham Saboktakin

Votes: 6,682 | Gross: $0.67M

[Mov 05 IMDB 7,3/10 {Video} M/85

O CIRCULO

(Dayereh, 2000)


''O cineasta Jafar Panahi foi o pioneiro – e talvez o principal – responsável pela introdução e popularização do cinema iraniano no Brasil. Em 1995, seu filme O Balão Branco conquistou a crítica e o público brasileiro graças à extrema simpatia e à simplicidade de seu roteiro e direção. Cinco anos depois, Panahi conseguiria a consagração internacional com o drama ''O Círculo'', o grande vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2000. Chegando agora aos nossos cinemas neste fim de semana, ''O Círculo'' é uma inteligente e contundente denúncia contra os preconceitos sofridos pela mulher iraniana. A primeira cena já dá o tom da narrativa: uma voz feminina anuncia, através de uma minúscula janela, que acaba de nascer uma menina. As mulheres que ouvem a notícia parecem abaladas. Deveria ter sido um menino. O plano fechado, sufocante, ainda não deixa claro se aquela janela é de uma maternidade ou de um presídio. Na medida em que a história se desenvolve, o espectador percebe que, para a mulher iraniana, não existe muita diferença entre estas duas instituições: num mundo dominado pelos homens, maternidade e presídio são a mesma coisa para o sexo feminino. O título do filme se deve principalmente à forma circular como a história é contada. Aliás, não apenas a história, mas sim as histórias. O episódio inicial da pequena janela se amarra a vários outros, todos envolvendo personagens femininas em situações de grande tensão. Há a jovem foragida da polícia, a menina grávida expulsa de casa, a mãe angustiada. Não são, como tem acontecido no cinema ocidental, histórias que se entrelaçam, mas sim que se fecham num grande círculo. Uma estrutura circular que exibe com clareza o painel de denúncias citado no início deste texto. ''O Círculo'' é um exercício narrativo dos mais criativos. Um belo filme co-produzido entre Irã e Itália que merece ser conferido mesmo por quem costuma torcer o nariz para o chamado estilo iraniano de se fazer cinema." (Celso Sabadin)

"O Círculo" é um filme no qual o diretor Panahi retrata a repressão que as mulheres islâmicas sofrem por parte da sociedade em que vivem. Ele discute tabus como aborto, prostituição e abandono de crianças. Partindo dessa tese, ele usa sua câmera para, através de seus personagens, mostrar todo o sofrimento estampado em suas fisionomias. O maior problema do filme reside, entretanto, na própria tese, uma vez que ele procura explorar apenas um pequeno segmento da população feminina iraniana. Por outro lado, embora seja um depoimento vigoroso, Panahi não oferece qualquer resposta para o problema abordado." (70 Anos de Cinema)

2000 Lion Veneza

Direction du Développement et de la Coopération (DDC), Département Fédéral des Affaires Etrangères Foundation Montecinema Verità Jafar Panahi Film Productions Lumière & Company Mikado Film Tele+

Diretor: Jafar Panahi

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Date 21/07/2013 Poster - ####

68. The Cousins (1959)

Not Rated | 112 min | Drama

A pair of cousins share a flat, but animosity begins to build between the two when a woman gets involved.

Director: Claude Chabrol | Stars: Gérard Blain, Jean-Claude Brialy, Juliette Mayniel, Guy Decomble

Votes: 3,246

[Mov 08 IMDB 7,2/10 {Video/@@@@}

OS PRIMOS

(Cousins, Les, 1959)


''O francês Claude Chabrol morreu em setembro passado, aos 80. Foi o mais prolífico diretor da nouvelle vague. O lançamento em DVD de seus dois primeiros longas, Nas Garras do Vício (1958) e "Os Primos" (1959), joga luz sobre sua primeira fase. Seu segundo filme é "Os Primos", que parece um espelho invertido de "Nas Garras do Vício": se este falava da volta para a província, "Os Primos" trata das promessas e sonhos da cidade grande. Chabrol usa os mesmos atores, mas em papéis invertidos: Blain é um rapaz interiorano que encontra um amigo (Brialy) em Paris e acaba perdido na metrópole. Não tem a força dramática de Nas Garras do Vício, mas vale como introdução ao estilo cáustico de Chabrol." (Andre Barcinski)

''O segundo longa de Chabrol, ''Os Primos'', lançado em 1959, é bem paradigmático do que seria a Nouvelle Vague, pois é ambientado no meio urbano da sociedade burguesa que ele tão bem explorou na maior parte de sua carreira. Charles (Gérard Blain) é o interiorano introvertido que vai para a capital prestar vestibular, e fica hospedado na casa do primo, Paul, playboy afetado vivido por Jean-Claude Brialy. Charles passa o tempo todo estudando, enquanto Paul, que também fará vestibular, passa o tempo todo na gandaia, muitas vezes atrapalhando o pobre primo. A ironia pode ser antecipada pelo espectador em algumas cenas: Paul passará nos exames, Charles não. Alguma moral envolvida? Aparentemente não. Mas Chabrol não deixa de dar sua habitual cutucada nas instituições francesas, nesse caso, a universidade. O olhar voltado para a burguesia é capaz de nos apresentar a comportamentos verdadeiramente animalescos, numa aproximação do retrato feito por Luis Buñuel em diversos filmes, com destaque para 'O Anjo Exterminador', de três anos depois. Em determinadas situações, reagindo a impulsos que não são correspondidos, esses burgueses viram selvagens. É o que nos mostra Chabrol, principalmente durante uma festa movida a bebidas e mulheres fáceis - o que provoca a revolta em um barulhento executivo italiano que ficou sem companhia. Os atores estão ótimos, principalmente Brialy e Blain, que parecem guiar de alguma forma o processo de encenação de Chabrol, já que trabalhavam em filmes de prestígio desde meados dos anos 1950. Em uma participação discreta podemos ver Stéphane Audran, que se tornaria esposa do diretor cinco anos depois, e uma das atrizes mais respeitadas do cinema francês, intérprete ideal de um certo tipo de mulher, urbana, burguesa e infiel. A câmera leve percorre os ambientes de Paris com a destreza de um veterano, e o filme é prejudicado apenas por um final apressado e um tanto desleixado. Chabrol iria trabalhar melhor seus desfechos em filmes posteriores, e sua direção se aprimoraria sensivelmente. Mas rever ''Os Primos'' atualmente nos remete ao princípio de um dos momentos mais ricos do cinema moderno, um cinema feito principalmente por jovens muito talentosos (ainda que esse talento, na maioria das vezes, precisasse ser ainda lapidado), e por isso este lançamento é mais do que bem-vindo, é essencial." (Sergio Alpendre)

1959 Urso de Ouro

Ajym Films Société Française du Cinéma pour la Jeunesse

Diretor: Claude Chabrol

1.202 users / 68 face

Check-Ins 252

Date 22/07/2013 Poster - #####

69. Claire's Knee (1970)

GP | 105 min | Drama, Romance

On lakeside summer holiday, a conflicted older man is dared to have a flirt with two beautiful teenage half-sisters despite his betrothal to a diplomat's daughter and the fact that the girls have boyfriends.

Director: Éric Rohmer | Stars: Jean-Claude Brialy, Aurora Cornu, Béatrice Romand, Laurence de Monaghan

Votes: 12,498 | Gross: $0.04M

[Mov 09 IMDB 7,5/10 {Video/@@@@@}

O JOELHO DE CLAIRE

(Genou de Claire, 1970)


"Acho que eu deveria ter vergonha em confessar que só agora, em 2009, vi pela primeira vez um filme de Eric Rohmer. E provavelmente deveria ter mais vergonha ainda em confessar que ''O Joelho de Claire'', um de seus filmes mais famosos, não me disse absolutamente nada.Ainda bem que não sou crítico de cinema. Se fosse um dos 334 críticos de cinema da Folha, certamente perderia o emprego.''O Joelho de Claire'' é um filme bonito de se ver. O visual é estupendo: afinal, tudo se passa num verão, às margens de um belo lago, cercado por belas montanhas; as casas são belas, os gramados são imaculados. Os atores são belos, as roupas são belas, e o diretor de fotografia é ninguém menos que Nestor Almendros, um mestre, um dos maiores fotógrafos da história. Ah, sim, e o joelho de Claire é lindo. O diplomata Jérôme (Jean-Claude Brialy, belo aos 37 anos de idade, barba cerrada, cabelo longo) está passando três semanas de férias junto ao Lago d’Annecy, perto dos Alpes; quer vender a casa que tem ali, e em seguida embarcará para a Suécia, onde vive e onde se casará enfim com Lucinde. Reencontra ali Aurora (Aurora Cornu), uma velha amiga que não via fazia muito tempo; Aurora, uma escritora, havia alugado um quarto na casa de uma outra antiga conhecida de Jerôme, Madame Walter (Michèle Montel), e ele passa a visitá-la constantemente. Primeiro fica conhecendo a filha adolescente da dona da casa, Laura (Béatrice Romand); a garotinha demonstra fascinação pelo homem mais velho, e Aurora o incentiva a aproximar-se da garota, e relatar para ela seus sentimentos. Mais tarde chega Claire (Laurence de Monaghan), meia-irmã de criação de Laura, e é a vez de Jérôme se fascinar pela lolitinha em flor. Tudo muito bonito, tudo muito suave, tudo perfeito para um curta-metragem de 20 minutos. Confesso: o filme não me tocou. Ficamos ele lá, eu cá, sem compreender por que tantas loas, tanto incenso, ouro e mirra para Eric Rohmer. Será que é uma questão de tempo, de época? Será que se eu tivesse visto ''O Joelho de Claire'' na época em que ele foi feito, 1970, eu com 20 anos, teria me encantado, visto profundos significados nessa historinha banal? Não dá para saber. Tenho a dizer que não fugi de Rohmer – e há coisas das quais eu fujo, quase como o diabo da cruz. Fujo de filmes de alguns cineastas cults que para mim são apenas chatos, como Hal Hartley ou Peter Greenaway, por exemplo. Vi filmes de praticamente todos os cineastas franceses importantes da geração de Rohmer – mas ele me escapou, sem que, repito, eu tivesse conscientemente tentado fugir dele. Digo isso apenas a bem verdade – não porque meu crime de não ter gostado de ''O Joelho de Claire'' possa ter algum atenuante. Por uma dessas coincidências da vida, vi O Joelho de Claire poucos dias depois de ver o primeiro filme de Philippe Claudel, Há Tanto Tempo que Te Amo/Il y a Longtemps que Je t’aime – um dos melhores filmes dos últimos muitos anos. Botei de novo para tocar o DVD de Há Tanto Tempo para rever a seqüência em que se fala de Eric Rohmer. Transcrevi os diálogos. É uma seqüência bem no meio do filme; as irmãs Juliette (Kristin Scott Thomas) e Léa (Elsa Zylberstein), com o marido de Léa e as duas filhas, vão passar o fim de semana numa grande casa de fazenda, junto com diversos amigos e suas famílias. Vários dos amigos são, como Léa, professores na faculdade de Nancy. À noite, à mesa, diante de taças de vinho, conversam sobre assuntos diversos. Bem, pelo menos não estou sozinho. Léa, professora de literatura em Nancy, não gosta de Rohmer. Léa, que não gosta, e eu, que não me toquei por um filme dele, somos exceções. Crítico dos Cahiers du Cinéma, co-autor com Chabrol de um Hitchcock que cultivava o paradoxo, foi levado, no início de sua carreira, com Le Signe du Lion, pela nouvelle vague, diz Jean Tulard, no seu Dicionário. Mas ele não se impõe, contudo, do mesmo modo que um Truffaut, um Godard, ou um Chabrol. Mais discreto, mais austero, foi obrigado a esperar longos anos antes de ser consagrado pela crítica. Seu ciclo dos contos morais, belas histórias dentro da tradição de um século XVIII modernizado nos quais a sedução, senão a libertinagem (especialmente em ''O Joelho de Claire'' e na obra-prima do autor, Les Nuits de la Pleine Lune) ocupa um lugar de importância. (…) Rigor, elegância, mas também frieza são as características de filmes que ocupam um lugar à parte no cinema francês. Vamos a Dame Pauline Kael, a crítica americana que via todos os filmes europeus: A atmosfera está carregada de verão e ócio na serena história de Eric Rohmer sobre um diplomata em férias (Jean-Claude Brialy), que diz interessar-se apenas pela mente das mulheres, e depois sente o desejo indefinido de alisar um joelho de mulher. Uma romancista meio enigmática assume o lugar do diretor e faz observações densas, mas o discreto e complacente jogo filme-romance de Rohmer é agradável, e uma cativante atriz adolescente desajeitada, Béatrice Romand, que faz um papel secundário, parece uma princesa de Pisanello. Mestre Georges Sadoul: É talvez num instável ponto de equilíbrio que se situa, na obra de Rohmer, ''O Joelho de Claire'': o rigor clássico de um diálogo sempre prestes a descambar na afetação e a sensualidade estival da fotografia de Nestor Almendros formam uma liga rara, produto de duas tensões, e esta história de um homem de 35 anos , perturbado por uma adolescente, adquire assim um colorido de melancólica interrogação sobre a morte futura. Já o livro 501 Movie Directors diz que Léa, a professora de Literatura do belo filme de Philippe Claudel, não está sozinha: Seus filmes produzem fãs enamorados e irritados detratores, mas nada no meio.” Mas derrama-se: Com profunda simpatia por seus personagens excepcionalmente sensíveis, seus filmes permitem que a audiência acompanhe a maturação do protagonista, e a revelação da natureza fundamental das pessoas. Bem. Não vou desistir. Ainda vou ver mais filmes de Rohmer. Ou descubro que o bicho é realmente genial, ou passo a ter a certeza de que não é, e pronto." (50 anos de Cinema)

"A simplicidade do cinema de Rohmer encontra as belas paisagens do interior da França e, neste refúgio, seu protagonista discute as relações entre homens e mulheres até que toda intelectualidade seja rompida por um desejo dos mais adolescentes. Brilhante." (Daniel Dalpizzolo)

''O fetiche sexual ascendeu ao título. Nenhum dos outros cinco Contos Morais de Éric Rohmer, filmados entre 1963 e 1972, se impregna tanto de erotismo quanto este longa de 1970. Claire: beldade loura de 16 anos, atlética e bronzeada, moralmente proibida a Jerome (Jean-Claude Brialy), o protagonista de meia-idade. O joelho dela: pura fruição estética e sentimento de sublime, um erotismo por assim dizer matemático. Tem-se outro enredo rohmeriano situado nas férias estivais, com seus encontros casuais e afaires de temporada. Personagens fora da rotina e dos relacionamentos sérios se misturam em jogos de desejo, vaidade e ciúme. Tudo sob a lente do moralista, no sentido de examinador das paixões humanas. O homem-branco-burguês se relaciona com quatro mulheres. A bela noiva na cidade, que só aparece numa fotografia. Claire e seu joelho. A romancista Aurora, instigante e amiga contemporânea de Jerome, que o incita a aventuras amorosas. A falante Laura (Béatrice Romand), outra adolescente, aquém do esplendor de Claire, mas que se interessa pelo tiozinho. Incapaz de ficar com a mulher do título (totalmente inacessível) ou Aurora (dribla-o), Jerome consuma (mas sem consumar) a sua despedida de solteiro com Laura, num inocente passeio pela montanha. Feito com um apuro visual que remete à pintura figurativa, não poucas associações foram feitas pela crítica entre alguns de seus planos artesanais e telas conhecidas. De fato, é o mais abstrato do sexteto de contos morais. Seu erotismo sequer roça o sexo e não chega perto de realizar-se. Menos por repressão (como em Minha noite com ela), do que por causa da sublimação dos impulsos. No clímax, uma seqüência já clássica, não acontece nada de mais. O protagonista aproveita um capricho do destino e, finalmente, consegue pôr as mãos no tão ambicionado joelho. Uma cena incrível de tão ambígua. Do lado dela, não significou nada senão gesto de paternalismo e compaixão. Do dele, um gesto erótico porém assexuado — como num gozo estético: idealista e ideológico. Mas como nada é 100% exato na sensibilidade de Rohmer, fica a dúvida. É isso que Jerome queria mesmo ou ele se consolou com o que pôde? é um hipócrita ou um admirador? será mesmo que Claire não sentiu nada? sua expressão é somente de choro, ou há ali algum fiapo de tesão? Várias interpretações legitimam-se. Obra platônica de Éric Rohmer, não faz jus à vivacidade e à materialidade dos demais filmes-contos ou de seus personagens. Não pela distensão dramática — que é uma peça de estilo — e sim pela estetização. Perfeitinho demais." (Quadro dos Loucos)

29*1972 Globo

Les Films du Losange

Diretor: Eric Rohmer

4.366 users / 512 face

Check-Ins 256

Date 07/08/2013 Poster - ########

70. Assassin's Bullet (I) (2012)

R | 89 min | Action, Adventure, Comedy

20 Metascore

A woman is killing off int'l bad guys (and witnesses). An ex FBI new man at the American Embassy in Sofia, Bulgaria, is put in charge of investigating the vigilante's actions there.

Director: Isaac Florentine | Stars: Christian Slater, Donald Sutherland, Elika Portnoy, Timothy Spall

Votes: 3,481

[Mov 01 IMDB 3,6/10 {Video/@@} M/20

OPERAÇÃO SOFIA

(Sofia, 2012)


TAG ISAAC FLORENTINE

{esquecível}


Sinopse

''Após ser vítima de um ataque terrorista, Vicki Deneve sofre uma grande perda e nada mais é como antes. Ele tem vagas lembranças do que aconteceu e um forte desejo de vingança, o que faz dele o candidato principal para ser recrutado pelo governo como um assassino de terroristas. Vicki Deneve passa a ser manipulado por um controle de mente, sua personalidade é alterada, o que o torna um assassino implacável. Mas as coisas começam a dar errado quando passa a confrontar uma personalidade fantasiosa, fruto de sua mente.''
Mutressa Movies Sofia Productions

Diretor: Isaac Florentine

2.643 users / 618 face

Check-Ins 667 11 Metacritic Date 28/04/2014 Poster - ###

71. Hi, Mom! (1970)

R | 87 min | Comedy, Drama

A Vietnam vet moves into an apartment and peers through other people's windows across the street, meets one of the women, and discovers Black theater.

Director: Brian De Palma | Stars: Robert De Niro, Allen Garfield, Lara Parker, Charles Durning

Votes: 5,827

[Mov 06 IMDB 6,2/10] {Video}

OLÁ, MAMÃE!

(Hi, Mom!, 1970)


TAG BRIAN DE PALMA

{hilário}


Sinopse

''Um veterano do Vietname muda-se para um apartamento e começa a filmar as pessoas dos prédios à sua frente, numa obsessão voyeurista que acaba por levá.lo ao contacto com um grupo radical extremista.''
"O que pensar após ter visto “Olá, Mamãe!", um dos primeiros filmes de Brian De Palma?Eu chutaria que Brian de Palma era muito fã de Godard nesta época. Não do Godard do auge da Nouvelle Vague, mas do Godard caótico e comprometido com os ideais revolucionários que provocaram o rompimento com Truffaut e com o movimento que o consagrou. O filme tem todas as doses de experimentalismos caras ao diretor francês e aquela sátira política corrosiva, tão característica daquele final dos anos 60. O filme remete a Godard inclusive por usar aqueles escritos na tela, descrevendo o que ocorrerá na próxima parte do filme. O De Palma neste início de carreira passa longe do cinema de gênero pelo qual ficaria conhecido, e da herança hitchcockiana; uma quase obsessão do diretor, que fez referências diretas a obras do diretor de Psicose em vários de seus filmes. Tudo bem que já na primeira cena temos uma referência à sequencia inicial de “Janela Indiscreta(1954)” , com a câmera passeando pela janelas de um prédio, desvendando os hábitos de seus moradores.E o protagonista, interpretado por Robert De Niro, é um voyeur tal qual o personagem de James Stewart no clássico de 54.Mas o foco aqui é outro. O filme, produção de baixo orçamento , é muito ousado não só no conteúdo, mas também na forma, e só encontraria espaço mesmo dentro do circuito independente. Ainda que se leve em consideração o fato da indústria hollywoodiana ter se tornado muito mais aberta às ideias mirabolantes de diretores iniciantes a partir de 70, e que a Nova Hollywood, movimento em que Brian De Palma teria bastante destaque, tenha tido suas doses de loucura, podemos afirmar que, pelo menos esteticamente ,os filmes dos anos 70 ainda estavam mais voltados para o realismo do que para a vanguarda. É difícil descrever o roteiro de Hi, Mom ainda que o espírito revolucionário e as críticas à política e a sociedade americana presentes nele, sejam facilmente identificáveis. Jon Rubin é um personagem solitário, que tem como única diversão bisbilhotar a vida dos moradores do prédio à frente ao seu apartamento, com seu telescópio. Uma garota que, como ele, passa todas as noites sozinha, enquanto suas amigas saem com os namorados; uma família que se reúne na mesa de jantar, enquanto a mãe mostra ao marido o belo casaco de pele que acabou de comprar(crítica ao consumismo), e um cara revolucionário que faz parte de um grupo de teatro experimental. Temos na primeira parte do filme, uma sátira às comédias românticas água com açúcar, com Jon iniciando uma relação amorosa com a garota do prédio ao lado.Mas logo saberemos que isso é só parte do plano dele para filmar um filme caseiro pornô com ela, para vendê-lo a uma produtora especializada. Depois da comédia romântica fajuta da primeira parte, e do insucesso da empreitada do protagonista como diretor pornô, somos apresentados à parte política do filme. O cara revolucionário que Jon observava no prédio ao lado é membro de um movimento de negros (embora ele não seja negro), chamado Be Black Baby, mistura de ativismo social com teatro experimental. O diretor utiliza do gênero documental (eu não sei se as pessoas entrevistadas são também atores, mas me pareceu que não) com os membros do movimento convidando as pessoas a experimentarem se colocar na pele de um negro participando da peça do grupo. Jon entra no grupo para atuar como policial, e a cena em que ele faz uma demonstração, para provar que é apto ao papel é hilária; uma crítica à opressão e truculência do sistema policial americano. Depois de assistirmos, ainda em tom documental, à inusitada experiência teatral, que pinta os expectadores de preto e os humilha para mostra-los como é ser negro, os membros do grupo resolvem passar para ações mais práticas, encorajados por Jon. O personagem de De Niro lê em um livro sobre guerrilha urbana que diz que porque todos as organizações de movimentos revolucionários foram infiltrados completamente por agentes de governo, os atos de sabotagem bem sucedidos serão realizados por únicos indivíduos. O sabotador solitário deve primeiramente assimilar ele mesmo à comunidade urbana, assumindo um estilo de vida como membro da indistinguível burguesia, e resolve seguir a lição. Temos então um dos melhores momentos do filme: uma crítica certeira à mediocridade da vida social burguesa. O personagem vira um vendedor de apólice de seguros, sentado em seu sofá lendo jornal e fumando cachimbo enquanto a esposa, já grávida, (a garota com quem ele se relacionara anteriormente) pergunta o que ele deseja para o jantar(ou para o almoço) e exige que ele compre um lava louças, que não seja branco, mas amarelo para combinar com os móveis da cozinha. O papel de marido trabalhador, como previam os ensinamentos do livro, é apenas fachada para esconder os planos terroristas de Jon. Enquanto os seus amigos negros saem invadindo apartamentos com armas, ele coloca bombas em lavanderias para manifesta a sua revolta com o sistema. Após a explosão, que tem repercussão da imprensa, com um jornalista colhendo depoimentos de moradores da região (e obtendo respostas estapafúrdias) , Jon aparece para dar também sua contribuição ao debate, e aproveitar a ocasião, porque não é sempre que temos a chance de aparecer em rede nacional, para mandar um “Alô” para a mamãe. Não chega a ser um grande filme, mas tem lá seu momentos ,e capta bem o espírito da época. Brian De Palma, até então não havia se encontrado esteticamente , e por isso faz o que qualquer um que se metesse a fazer cinema naquele período faria: incorpora a contracultura, e opta pelo experimentalismo, mirando em vários alvos e acertando em alguns deles. Ainda que o discurso setentista seja um bocado mais pessimista e menos ilusório do que o dos anos 60, o diretor aprenderia com as experiências nesta fase independente, a usar uma postura crítica à sociedade americana (tal qual seus parceiros Scorsese, Coppola e Schrader) nos seus filmes seguintes, e a lapidar melhor suas influências. O filme permanece válido, portanto, como um alô do jovem De Palma, antes de se tornar um dos grandes de Hollywood.."(Luiz Antonio de Sá)

West End Productions

Diretor: Brian De Palma

3.082 users / 195 face

Check-Ins 669

Date 28/08/2014 Poster - ######

72. The Boy with Green Hair (1948)

Approved | 82 min | Comedy, Drama, Family

This parable looks at public reaction when the hair of an American war orphan mysteriously turns green.

Director: Joseph Losey | Stars: Pat O'Brien, Robert Ryan, Barbara Hale, Dean Stockwell

Votes: 3,261

[Mov 06 IMDB 6,7/10 {Video}

O MENINO DOS CABELOS VERDES

(The Boy with Green Hair, 1948)


"O Menino dos Cabelos Verdes" podia ser visto em outros tempos (não necessariamente apenas quando foi feito, em 1948) como uma defesa da diferença, pois tudo gira em torno de um garoto cujos cabelos, de repente, aparecem verdes. É possível que hoje o filme não tivesse o menor impacto. Primeiro, porque colorir cabelos, de verde inclusive, virou rotina no nosso universo fashion. Segundo, porque criou-se a idéia do politicamente correto, que quase força as pessoas, pela intimidação intelectual, a aceitar o outro. Aceitar, é verdade, mas não necessariamente compreender. E talvez por isso, por julgar a compreensão necessária, Joseph Losey, o seu autor, tenha precisado, tempos depois, viver na Inglaterra, para fugir de perseguições políticas em seu país. Ali, desenvolveu longa, bela, frutífera carreira. Morreu em Londres, em 84, aos 75 anos. No MacMahon, tradicional sala de Paris, havia uma foto sua, na "quadra de ases" dos cinéfilos que freqüentavam o cinema." (* Inácio Araujo *)

''Um menino careca está sendo interrogado numa delegacia de polícia. Ninguém sabe quem ele é, onde mora ou o que faz, a não ser que fugiu de casa. Para piorar, o garoto se recusa a falar com todo mundo. Até que o psicólogo Dr. Evans (Robert Ryan) aparece, com um sanduíche e um milk-shake, e o dobra. Uma vez que o garoto abre a boca, se põe a contar uma história aparentemente maluca, de como percebeu, certa manhã, que seu cabelo havia se tornado misteriosamente verde, e como esse acontecimento extraordinário acabou resultando na fuga. A intrigante abertura de “O Menino do Cabelo Verde” (The Boy With Green Hair, EUA, 1948) indica, de imediato, que o longa-metragem de estréia do diretor Joseph Losey é um filme singular. “O Menino do Cabelo Verde” é uma parábola sobre preconceito e uma obra visionária, que olha adiante de seu tempo, alertando o público norte-americano para o perigo de se julgar coisas ou pessoas pela aparência. A própria biografia do diretor confirma isso. Três anos depois de lançar o longa-metragem, o diretor foi convocado para depor na investigação do Congresso norte-americano conduzida pelo senador Joseph McCarthy, sob suspeita de atividades subversivas – leia-se, ser comunista. Losey não era, mas sabia que o tempo estava fechando para gente que, como ele, estimulava o pensamento livre e repudiava a camisa-de-força do preconceito. Assim, preferiu não retornar aos EUA e se radicar na Inglaterra, onde passou a assinar filmes sob o pseudônimo de Joseph Walton. Categorizar “O Menino do Cabelo Verde” como uma parábola é algo simples, que pode ser feito já a partir da primeira seqüência que se passa fora da delegacia de polícia. Quando o menino Peter Frye (Dean Stockwell) começa a falar, explica que os pais viajaram durante a II Guerra Mundial e, desde então, ele foi deixado sob os cuidados de parentes. Depois de perambular de casa em casa, acabou com o avô Grampa (Pat O’Brien), que Peter identifica como um ator. Entra em cena um flashback, quando o filme assume de vez o ponto de vista da criança e narra o suposto encontro do avô com um rei (os cenários teatrais e as interpretações exageradas dos atores deixam evidente que se trata de um devaneio do menino). Depois disso, quando Peter passa a narrar para o médico as aventuras que o levaram à delegacia, o filme retoma os cenários e interpretações realistas, mas já deixou a pista: a partir dali, o que veremos não é a realidade nua e crua, mas uma versão dela produzida pela mente fértil do rapaz. Ele vai descobrir que seus pais morreram e ele é, na verdade, um órfão. Na manhã seguinte à descoberta, Peter acorda com o cabelo verde. Ninguém sabe como nem por que isso ocorreu. O longa-metragem se concentra, então, nas reações controversas das pessoas que rodeiam o garoto ao fato exótico. A narrativa é simples e econômica, apoiando-se principalmente da boa interpretação de Dean Stockwell. Futuro ator de prestígio, premiado inclusive em Cannes (em 1962), Stockwell era uma entre várias crianças-prodígio que existiam em Hollywood nos anos 1940, e foi delas o que melhor rendeu quando adulto. Na época de “O Menino do Cabelo Verde”, o rapaz já tinha mais de dez longas-metragens no currículo, e a experiência fica evidente na segurança e no rosto expressivo que sua interpretação evidencia. Preste atenção especial na personagem da professora (Barbara Hale), espécie de alter-ego do diretor dentro do filme." (Rodrigo Carreiro)

"O preconceito e a exclusão social sendo analisados pelo ponto de vista de uma criança inocente, mais o estranho fato da cor do cabelo do menino ficar verde, criam um singelo ar de fábula neste sensível trabalho de estréia de Joseph Losey." (Heitor Romero)

{Tudo que existe no escuro, existe na claridade também} (ESKS)

"Talvez tenha envelhecido um pouco, mas ainda é um belo retrato sobre a aceitação daquele que é diferente e a compreensão entre os povos." (Regis Trigo)

RKO Radio Pictures

Diretor: Joseph Losey

1.617 users / 479 face

Check-Ins 257

Date 02/08/2013 Poster - #####

73. The Devil's Eye (1960)

Not Rated | 87 min | Comedy, Drama, Fantasy

Don Juan is sent from Hell to Earth with a mission - to seduce a virgin in order to spoil her pure wedding. The mission becomes crazy when Don Juan falls in love for the first time in centuries.

Director: Ingmar Bergman | Stars: Jarl Kulle, Bibi Andersson, Stig Järrel, Nils Poppe

Votes: 4,592

[Mov 10 Fav IMDB 7,1/10 {Video/@@@}

O OLHO DO DIABO

(Djävulens öga, 1960)


''É muito fácil cair no maniqueísmo num filme em que o bem e o mal se confrontam. Em ''O Olho do Diabo'', Bergman opta por um formato bem mais complexo e ousado. O mal absoluto, na figura do Satanás e do inferno, é colocado lado a lado com a força mediadora do conflito. Ou melhor, a massa de manobra. Pois é assim que o cineasta vê seus personagens, como marionetes manipuladas por forças supremas, como o Céu e o Inferno. Ao mostrar, de forma estilizada, um retrato íntimo deste último, ele ressalta os processos de sedução do homem e da mulher para o lado mau da vida. Mesmo assim, a ideia não é simplificada. Não é mostrado, por exemplo, que as pessoas são conduzidas pelas forças superiores sem possibilidade de resistência. Apesar da influência bem direta dos diabos, cada personagem tem uma visível tendência a ceder. Quando isso leva o roteiro a enfocar o passado de repressão e disciplina moral, ele perde parte da força. A expositiva conversa sobre a vida de Renata (Gertrud Fridh), nada pungente e um tanto supérflua, chama a atenção que deveria ir à ótima atriz, e soa simplória na relação entre causa e efeito. Por outro lado, o displicente retrato de Jonas tem muito a ver com sua função robótica na mensagem moral da narrativa. Sua esposa Britt-Marie (Bibi Andersson) demonstra que ser expositivo não é o problema, e sim a revelação do passado sentimental. Grande parte da obra é focada nas emoções instantâneas, no que cada personagem sente no exato momento da cena, e aí está um dos trunfos do diretor. Ele capta tudo com atenção intensa, congelando o enquadramento ou espremendo-o, sempre com a intenção de sugar e secar tudo que o ator oferece. Essa contemplação é ríspida e rigorosa, tanto que chega a fazer as vezes de crítica, na mesma medida em que reconhece as fraquezas humanas. Na ação periférica, por sua vez, ele permite música (singela e ironicamente macabra), digressões cênicas (o gato preto, as mudanças no clima) e até mesmo a intromissão de Gunnar Björnstrand, que comenta vários aspectos da comédia. A presença dessa figura metalinguística a anunciar cada ato não enfraquece o filme, mesmo ao explicar o que acontece ou acontecerá na trama. Essa divisão faz alusão direta às comédias gregas, e é uma sacada inteligente, pois a interação direta entre humanos e seres sobrenaturais é o mais visível de muitos pontos em comum. Ver Don Juan (Jarl Kulle) como um pupilo, ou até mesmo filho semi-imortal de Satã (Stig Järrel) é fácil, e as punições infernais são dolorosas e repetitivas, como as de Prometeu e de Sísifo – com um toque de Bergman. Tanto a condição absolutamente interna do sofrimento quanto a imagem do inferno como um saguão da alta sociedade são particulares da visão do sueco. O uso de um personagem clássico da literatura é uma bela apropriação, que utiliza um extremo para alcançar abrangência. O roteiro estipula Don Juan como o máximo da frieza humana, e sua lenta derrocada ao sentimento não é só sutil e inteligente: é amostra de que todos estão sujeitos às intempéries emocionais. A fragilidade é o tema principal da obra, pois, por mais que o Céu e o Inferno façam planos e influenciem os personagens, são fatores mundanos e intrínsecos que causam os desequilíbrios. A abstinência faz com que tanto Pablo quando Don Juan desobedeçam as ordens do Diabo, mostrando que nem ele é páreo para sentimentos e necessidades humanas. E isso não é apenas um erro de cálculo do Diabo, ou amostra de que o ser humano balança entre boas e más ações. É a constatação de que nós tendemos a ceder ao amor e a outras inconstâncias da alma, e que não existe força nenhuma capaz de prever em que resultará o caos emocional. O final é maravilhosamente ambíguo quanto a quem ganha, mas não deixa dúvida: a falha humana é uma ameaça constante. Tanto que até o Vicário sabe lidar com ela: após saber da traição da esposa, indaga calmamente o que será feito dali em diante. É a certeza de que nossos defeitos nunca serão corrigidos, e que devemos desenvolver expectativas a partir dos erros. Sim, até um Bergman esperançoso é pessimista." (TGNDES)

{Uma pequena vitoria no inferno pode serv muito mais profética do que um grande sucesso no céu} (ESKS)

{A castidade de uma jovem é um treçol no olho do diabo} (ESKS)

''Inspirado pelo provérbio irlandês acima, Ingman Bergman produziu a comédia “O Olho do Diabo”, em 1960. Quando Satã (Stig Järrel) acorda com um terçol no olho, o inferno todo fica em polvorosa, pois só havia duas explicações para o incômodo: o Diabo ficou exposto ao vento (coisa impossível de acontecer no inferno) ou uma jovem vai se casar virgem. Logo seus conselheiros são chamados para apresentar soluções para o problema. Decidem que a melhor opção seria convocar o galante Don Juan (Jarl Kulle), que estava de castigo no inferno, para seduzir a jovem, deflorá-la e restaurar a ordem na casa do capeta. Assim, Don Juan é enviado à Terra junto com seu lacaio, o demônio Pablo (Sture Lagerwall), para executar o plano. Lá, encontram o Pastor (Nils Poppe) na estrada e o ajudam a consertar seu carro. Como agradecimento, o Pastor convida os dois malandros para conhecer sua casa. Os enviados do inferno são apresentados a Renata (Gertrud Fridh), a esposa adoentada do Pastor, e sua bela e única filha, Britt-Marie (Bibi Andersson). Mais tarde, durante o jantar, a dupla conhece também Jonas (Axel Düberg), o noivo de Britt-Marie. Rapidamente fica claro que Britt-Marie, embora apaixonada por seu noivo, não era tão inocente assim. Ela se sente atraída pelo Don Juan e entra no jogo das provocações, mas sua consciência a lembra o tempo todo o que está em jogo. No entanto, o papel passivo de seu noivo pode ser decisivo para a garota. Renata, por outro lado, não parece querer resistir por muito tempo às tentações de Pablo e está prestes a colocar seu casamento em risco. O Pastor é o único que não se importa com o que se passa em sua casa. O típico cego que não quer ver que encontra consolo na ignorância. O bacana deste filme é que, apesar de contrapor O Bem e O Mal, em momento algum as pessoas parecem ter um destino traçado ou ser guiadas por um ser superior. O Diabo usa seus artifícios para tentar ludibriar os reles mortais, mas, no fundo, cada um é livre para tomar suas decisões. Sendo um filme de Bergman, é óbvio que há críticas à religião cristã. Isso é explicitado não só pelas ações do Pastor, mas também pelas falas do Apresentador (Gunnar Björnstrand) que faz a introdução de cada ato da peça. O diagrama dos níveis do inferno usado por ele é muito legal. Os cenários são bem simples e a trama é linear, sem grandes inovações. No entanto, a força da história reside nos diálogos e na atuação, principalmente de Britt-Marie, do Pastor e de Renata. O terçol do olho do diabo desaparece no fim da história, mas o que teria causado seu desaparecimento? Só assistindo para descobrir." (Resumo da Ópera)

Top Suécia #42

Svensk Filmindustri (SF)

Diretor: Ingmar Bergman

1.912 users / 133 face

Check-Ins 260

Date 05/08/2013 Poster - ########

74. The Innocents (1961)

Not Rated | 100 min | Horror

88 Metascore

A young governess for two children becomes convinced that the house and grounds are haunted.

Director: Jack Clayton | Stars: Deborah Kerr, Peter Wyngarde, Megs Jenkins, Michael Redgrave

Votes: 33,070 | Gross: $2.62M

[Mov 07 IMDB 7,8/10 {Video/@@@}

OS INOCENTES

(The Innocents, 1961)


''Se existisse algo como uma escola de freqüência obrigatória para diretores de filmes de horror, o conto gótico “Os Inocentes” (The Innocents, Inglaterra, 1961) deveria constar do currículo como disciplina básica. O filme de Jack Clayton ganhou fama como nome como um dos mais assustadores longas-metragens de todos os tempos, e ela é merecida. Sem usar efeitos especiais, música barulhenta ou sustos causados por truques de edição, “Os Inocentes” causa medo da maneira mais eficiente possível: construindo de modo lento e sólido uma atmosfera aterrorizante que permanece com o espectador mesmo depois que o filme termina. Trata-se de um daqueles filmes raros, que não pretendem pregar sustos no espectador, mas fazê-lo sentir medo. E consegue. O projeto do filme nasceu da adaptação de uma novela do autor norte-americano Henry James, um crítico feroz da hipócrita moral vitoriana, chamada A Volta do Parafuso. James havia escrito uma história de fantasmas como veículo improvável para bater pesado no moralismo que imperava na alta sociedade londrina do século XIX. Ao adaptar o conto para o cinema, Jack Clayton foi bastante fiel, inclusive mantendo a localização da história no tempo (século XIX) e no espaço (uma mansão nos arredores de Londres). Ele caprichou na ambientação gótica, a fim de aproveitar o clima soturno das mansões vitorianas da época. E acertou em cheio. A história também sofreu poucas modificações. O filme trata de uma jovem governanta (Deborah Kerr), contratada para cuidar de dois órfãos pelo tio ausente (Michael Redgrave) dos garotos. O lorde inglês, mais interessado em festejar a juventude, dá inteira liberdade à governante, pedindo apenas que ela evite importuná-lo em Londres. Miss Giddens inicialmente fica encantada com Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens), mas logo percebe que há algo errado com os pequenos. Suas investigações apontam para a ligação de ambos com fatos perturbadores do passado da magnífica residência vitoriana em que vivem. Jack Clayton desenvolve a trama de maneira sólida e firme. Ele apresenta os personagens sem pressa, e manda sinais quase imperceptíveis de que algo estranho se desenvolve nessa relação. É a aparição de uma carta, anunciando a chegada iminente de Miles, que deveria estar no colégio interno, que dispara as dúvidas de Miss Giddens. A partir do acontecimento, a rotina da governanta e das duas crianças começa a sofrer uma lenta mas firme mudança de rumo, e as perguntas começam a se acumular: de quem é o vulto masculino que aparece no alto de uma torre durante uma manhã ensolarada? Quem deu à pequena Flora a caixinha de música com a delicada (e assustadora) canção que a menina cantarola todos os dias? O que há no sótão, onde as crianças vão com freqüência? Visualmente, Jack Clayton fez um trabalho original e inventivo. Ao invés de criar uma fotografia expressionista, com fortes contrastes e uso abundante de sombras, ele prefere investir em um estilo mais clássico, com iluminação mais suave. A escolha das locações e do horário em que as cenas se passam é que realça visualmente o aumento gradual do horror que envolve Miss Giddens. No começo, quando as coisas parecem ir bem, o cineasta cria as cenas em ambientes externos e à luz do dia. Dessa forma, a mansão vitoriana parece encantadora, repleta de flores e natureza exuberante (apesar das estátuas com rostos monstruosos ou distorcidos). À medida que o elemento sobrenatural adentra o filme, as cenas passam a acontecer no interior e à noite, o que deixa o casarão amedrontador. É interessante notar, também, que o fotógrafo Freddie Francis utiliza os closes de forma econômica, preferindo utilizar tomadas mais longas e pondo a câmera a uma certa distância dos personagens. Dessa forma, além de valorizar o ambiente, ele cria na platéia a mesma sensação incômoda de tensão que Miss Giddens experimenta. De repente, o espectador se pega espreitando as janelas, as portas e corredores do lugar, e qualquer movimento que pareça mais brusco cria um pequeno sobressalto. Ao invés de dar sustos explícitos, Jack Clayton prefere investir nessa atmosfera. Aos poucos, sem perceber, a platéia vai entrando no clima e procurando rostos escondidos nas sombras. É quando os arrepios começam a ficar mais constantes, mesmo que nada esteja acontecendo na tela. Além das soluções técnicas inventivas, o diretor ainda conta com um elenco inspirado. Deborah Kerr faz a protagonista de forma inteligente, interpretando-a como uma pessoa pragmática e não simplesmente cética. Mesmo acreditando em fantasmas, a certa altura, ela jamais cogita abandonar a mansão, pois sente que as crianças estariam sozinhas caso o fizesse, e não contariam com ninguém para ajudá-la. Outro ponto positivo do elenco está na atriz Meg Jenkins, que faz a criada Mrs. Grose. A criada é um personagem inventado pelos roteiristas William Archibald e Truman Capote para conversar com a protagonista, de maneira a dar a ela a chance de expor seus pensamentos à platéia sem parecer uma louca que fala sozinha. Grose, contudo, vai além do que se espera do personagem, a partir do momento em que questiona as ações de Giddens, fazendo-a perceber que suas atitudes parecem, fora do contexto dos acontecimentos aterrorizantes da mansão vitoriana, deslocadas e histéricas. “Os Inocentes”, dessa forma, é um filme fechado dentro de seu próprio mundo, que se torna mais claustrofóbico e mais assustador à medida que a trama evolui e a platéia vai tomando conhecimento, aos poucos, dos detalhes mórbidos que envolvem as duas crianças. Os pequenos, aliás, merecem um parágrafo à parte para interpretação sensacional, especialmente o menino, Martin Stephens. Em certo momento, as crianças interpretam rei e rainha participando de um espetáculo teatral, e o monólogo macabro do menino, aliado ao olhar fixo e insolente que ele sustenta em direção à governante, acaba se tornando um dos momentos mais assustadores do cinema de horror. Se a seqüência não o convencer, não se preocupe muito – há pelo menos mais meia dúzia de cenas arrepiantes, incluindo um final capaz de fazer muita gente fechar os olhos e agarrar os braços de quem estiver sentado ao lado. Por tudo isso, aceite um conselho: se você é uma pessoa que filmes de horror impressionam com certa facilidade, não veja “Os Inocentes” sozinho em casa, não fique sentado em uma sala escura e programe-se para dormir de luz acesa durante algum tempo. Aliás, talvez seja mais inteligente você nem chegar perto de “Os Inocentes”." (Rodrigo Carreiro)

''Não são muitos os diretores que são capazes de construir uma atmosfera tensa e cheia de suspense como Jack Clayton fez em Os Inocentes. A ambientação ajuda bastante, já que a governanta Miss Giddens aceita um emprego em uma enorme e isolada mansão. Ela deve cuidar de um casal de crianças e evitar se comunicar com o tio, justamente quem a contratou para o serviço. Não demora muito e ela começa a notar coisas estranhas relacionadas ao local, como vultos, vozes e ruídos misteriosos. O suspense aumenta de maneira gradual, com algumas revelações importantes do passado da mansão e dos antigos empregados, culminando em um desfecho impactante. Filmes em que crianças se mostram mais inteligentes do que deveriam ser me assustam, como é o caso deste Os Inocentes. É interessante notar que nem tudo é devidamente explicado, o que abre uma brecha para mais de uma interpretação. É a casa realmente mal-assombrada ou tudo se passa na cabeça de Miss Giddens? Não importa qual das interpretações você defenda, o filme merece reconhecimento pelo o que ele é na sua essência: um terror psicológico de qualidade superior." (Bruno Knott)

"Um tipo de A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, para o cinema. Deborah Kerr está impecável e o clima de horror e suspense é primoroso. Grande filme." (Heitor Romero)

"A construção psicológica da personagem de Kerr é muito bem elaborada, embora não muito sutil." (Alexandre Koball)

"Toda a atmosfera e a construção do clima são excelentes, beneficiados pela história que dá espaço para a ambiguidade, deixando o espectador com a dúvida: o que, na verdade, era real? Com justiça, sempre lembrado entre os grandes filmes do gênero." (Silvio Pilau)

Top Inglaterra #14 Top Terror #48

1961 Palma de Cannes

Achilles Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Jack Clayton

15.005 users / 3.306 face

Check-Ins 263

Date 02/08/2013 Poster - #####

75. Lawless (2012)

R | 116 min | Biography, Crime, Drama

58 Metascore

Set in Depression-era Franklin County, Virginia, a trio of bootlegging brothers are threatened by a new special deputy and other authorities angling for a cut of their profits.

Director: John Hillcoat | Stars: Tom Hardy, Shia LaBeouf, Guy Pearce, Jason Clarke

Votes: 253,503 | Gross: $37.40M

Mov 07 IMDB 7,2/10 {Video/@@@} M/58

OS INFRATORES

(Lawless, 2012)


''Na época da Lei Seca nos Estados Unidos, na primeira metade do século passado, família produz uísque ilegal e o negócio prospera, mas a máfia de Chicago quer abortar a concorrência. Os tiroteios começam, ao som de uma bela trilha sonora original que revê vários estilos do cancioneiro norte-americano. Resumido dessa maneira, parece mais um filme dos irmãos Coen, mas quem assina a direção é John Hillcoat, com eficiência e doses certas de violência. No entanto, quem faz a diferença é o veterano roqueiro Nick Cave, que escreveu o roteiro (já tem alguns no currículo) e criou a inspirada trilha musical. De quebra, uma feliz escolha de atores: Tom Hardy, Gary Oldman, Shia LaBeouf (que conduz a narrativa), Mia Wasikowska e Jessica Chastain.'' (Thales De Menezes)

"Carece de desenvolvimento de personagens e o roteiro é quiçá repetitivo. A impressão é que o filme arma a preparação mas nunca entrega o ouro, há algo de incompleto e não contado. Há uma boa história por trás dos personagens, não apresentada aqui." (Alexandre Koball)

"A violência em forma de conto nos pega de surpresa em uma história como Hollywood pouco produz nos dias de hoje." (Rodrigo Cunha)

"Há excesso de personagens, alguns atores estão desperdiçados (Gary Oldman, em especial), e o roteiro, mesmo abordando o baixo clero do gangsterismo, não é exatamente original. O saldo final é positivo, mas John Hillcoat ainda nos deve um grande filme." (Régis Trigo)

"Se a história parece presa, sem escapar de uma estrutura óbvia, a direção de Hillcoat dá conta do recado, com cenas bem construídas e realismo transmitido pela violência. Hardy e Pearce estão ótimos - o último cria um dos vilões mais nojentos do ano." (Silvio Pilau)

Sem glamour, com violência, mas também com princípios.

"Os Infratores" (Lawless, 2012) traz de volta um assunto bastante explorado pelo cinema norte-americano: os gângsters que agiam na época da Lei Seca, entre 1920 e 1933. A única diferença é a abordagem mais real - do dinheiro via sangue - e muito menos glamourizada pela qual Hollywood construiu o imaginário sobre os fora-da-lei. A história é sobre os irmãos Bondurant, comandados por Forrest, o segundo em idade do trio, mas o cabeça do grupo. Ele era a ponte entre a paixão do caçula Jack e a virulência do mais velho.O grupo agia como contrabandista de bebida em uma pequena cidade da Virgínia. Naquela época, a fabricação, o transporte e o consomo de álcool estavam proibidos pela Constituição. Nos treze anos em que vigorou a restrição, o país assistiu à ascensão de gângsters, a exemplo de Al Capone. Os irmãos Bondurant, entretanto, levavam uma pacata vida, tendo a favor deles apenas a lenda urbana da imortalidade. Forrest já havia sobrevivido a situações improváveis e isso alimentava a crença popular. Os problemas para o bando começam com a nomeação para agente especial de Charlie Rakes, interpretado de maneira afetada, mas correta, por Guy Pearce. Antes da chegada do novo homem da lei, tudo era tranquilo para os contrabandistas. A polícia local dava suporte ao tráfico de álcool em troca do benefício de comprar uísque a baixo custo. Assim, a população também se servia do produto sem maiores problemas e os irmãos ganhavam a vida. Naquela época, a Lei Seca ia perdendo gradativo apoio da sociedade. Aliás, a proibição fora fruto de dois fatores: primeiro uma pressão moral de lideranças políticas e religiosas iniciada ainda no século XIX e depois pela necessidade de economizar alimentos como consequência do período da 1ª Guerra Mundial. Ingredientes usados para a fabricação de cerveja, por exemplo, deveriam ser destinados apenas à alimentação. Assim, o agente Rakes surge como inimigo geral. A polícia da cidade é obrigada a ajudá-lo, apesar de seus métodos controversos na caça aos criminosos. Os irmãos não aderem a um acordo feito pelos demais contraventores e se recusam a pagar mais taxa (propina) para continuar o comércio ilegal. Desse modo, a guerra está declarada. Em meio a isso, Jack investe em uma destilaria ilegal, escondida das autoridades, e passa a faturar alto também com a produção da bebida, além da distribuição que faziam anteriormente. Os irmãos e as pessoas à sua volta parecem sentir o risco da situação, a ponto de ele ser alertado de que não precisaria ser igual aos irmãos. Jack, sempre mais humano, era incapaz, ao contrário dos outros dois, de fazer mal até mesmo a um porco, como mostra a cena inicial. Enquanto os irmãos usavam o uísque como forma de sobrevivência, Jack encarava a bebida como oportunidade de viver o glamour de ícones da contravenção. No fundo, tudo parecia ter o objetivo de atender aos desejos de seu coração. Com o dinheiro do novo negócio, comprava os carros do momento, vestidos para presentear a mulher desejada e adotava um visual mais adulto e formal. Vivia as benesses da grana. Mas o dinheiro sujo cobrava um preço que ele não estava habituado a pagar. "Os Infratores" é, no todo, a antiglamourização dos gângsters. Neste contexto todo, os irmãos enfrentam um derramamento de sangue causado exclusivamente pelo dinheiro. A Lei, na realidade, em nenhum momento foi causa da briga com os homens do estado e com outros criminosos, apenas elemento para viabilizá-la. John Hillcoat, em geral, acerta na abordagem, no estilo da câmara que busca os detalhes, fundamental para construir as lendas, e na direção de atores, com Tom Hardy muito bem como Forrest Bondurant, o irmão-cabeça. O filme sugere punição aos que, independente do que fazem, deixam a ética de lado e reforça a mitificação da família principal mesmo que no fundo sejam pessoas comuns. As cenas finais ilustram bem." (Emilio Franco Jr.)

Entre o fato e a lenda, John Hillcoat primeiro imprime a lenda - para então nela procurar o fato.

"Para o diretor australiano John Hillcoat, a lei deixa de valer diante da brutalidade dos homens. É assim no suspense de cadeia Ghosts... of the Civil Dead (1988), no faroeste A Proposta (2005), no drama pós-apocalíptico A Estrada (2009) e agora no policial Os Infratores (Lawless). São filmes em que a ordem se restabelece no caos, quando a violência deixa de ser um ato automático coletivo e passa a ser um fenômeno individual de purgação. Nesse sentido, embora seja um outsider, Hillcoat se inscreve numa tradição do cinema hollywoodiano que tem em Howard Hawks, diretor de westerns clássicos e do primeiro Scarface (1932), sua mais completa expressão: contos morais em que homens violentos, sem poder contar com Deus, não têm outra saída que não seja assumir responsabilidade por seus próprios atos. Se Os Infratores representa um curto-circuito na obra de Hillcoat, é porque aqui a identificação com o cinema americano de gênero se transforma em um comentário sobre a fetichização desse próprio cinema. A trama baseada em fatos adapta o livro The Wettest County in the World, de Matt Bondurant, neto de Jack Bondurant. Em ''Os Infratores'', Jack (Shia LaBeouf) é o caçula de três irmãos que sobrevivem à Lei Seca destilando uísque e mantendo o comércio ilegal de bebidas funcionando no Sudoeste do Estado da Virginia, em 1931. Quando as autoridades passam a exigir uma fatia maior do negócio, os Bondurant - liderados pelo irmão do meio, Forrest (Tom Hardy) - entram em guerra contra deus-e-o-mundo. A ordem natural que os homens estabelecem em substituição à lei fica evidente logo na primeira cena, quando os irmãos, ainda pequenos, testam se Jack tem coragem para matar um porco. Obviamente, o caçula fraqueja, porque o teste de superação de verdade se dará mais adiante. No meio do caminho, no transcorrer da guerra, Jack se convence de que pode ser um gângster digno de cinema, bem vestido, com o carro da moda, que posa armado para fotografias - um mafioso como o astro James Cagney, que naquele ano de 1931 estrelou Inimigo Público. Historicamente, Hollywood raramente transformou tão rápido em ficção um momento social dos EUA quanto nos anos da Lei Seca. O Código Hays foi criado entre estúdios e o governo, em 1930, justamente para censurar as imoralidades dos filmes policiais, que glamourizavam os mesmos mafiosos que naqueles tempos dominavam cidades como Chicago e Nova York. O comportamento de Jack em Os Infratores, portanto, não é uma exceção - bandidos se imaginavam lendas no dia a dia porque é assim que se viam nas telas. O que John Hillcoat faz é inflar essa iconografia do gangsterismo que o cinema firmou - os figurinos, os carros, as Tommy Guns - para esvaziá-la em seguida, e ver o que resta de legítimo. Essa inflação acontece em dois níveis. O mais evidente: o exagero na caracterização dos personagens, não só a afetação do agente interpretado por Guy Pearce mas também a troglodice blasé de Tom Hardy, que rodou Os Infratores durante as preparações para O Cavaleiro das Trevas Ressurge no início de 2011 e visivelmente incorpora aqui traços de sua composição cheia de garbo do vilão Bane. O segundo nível de exagero é mais discreto: está na forma como Hillcoat filma planos-detalhes associados à violência, dos hematomas no corpo ao lenço com sangue na mão, passando pelo soco inglês de Hardy. Acho que eu mantive uma relação de atração e repulsa enquanto assistia ao filme porque, nessas horas, ele me lembrou demais A Paixão de Cristo de Mel Gibson, que também trabalha objetos em chave sádica. No caso de Os Infratores, porém, o ato de isolar esses objetos e coisificar as pessoas parece ter o efeito contrário - Gibson quer a eles atribuir um sentido outro, enquanto Hillcoat pretende expô-los para resgatar seu sentido original. O que sobra depois desse esgarçamento todo? Bem, basicamente, uma chacina motivada por um malentendido, já que o personagem de Guy Pearce surta porque, dândi daquele jeito, todo mundo pensava que ele era gay. Já para Jack Bondurant sobra, além de muitos tiros, alguma redenção. "Os Infratores" está cheio de tipos vaidosos que referem-se a si mesmos na terceira pessoa ou que chegam a acreditar nas suas próprias lendas. Então para Jack se diferenciar, para afirmar-se como homem e impor sua ordem, só resta a ele se anular enquanto ícone. É por isso que, depois que os duelistas saem de casa arrumando-se no espelho, o confronto final do filme acontece no escuro." (Marcelo Hessel)

"Acredite na lenda. O diretor John Hillcoat convida o público a conhecer e, acima de tudo, a acreditar na história dos irmãos Bondurant, três jovens do interior que ganham a vida vendendo bebidas durante a Lei Seca americana. Graças a alguns eventos mal explicados e ao folclore popular, uma lenda de imortalidade é criada em torno deles. A fantasia é o que mantém boa parte do filme, ajudando a esconder alguns buracos da história contada no livro Wettest County, assinado por Matt Bondurant, descendente direto do trio principal: Jack (Shia LaBeouf), Howard (Jason Clarke) e Forrest (Tom Hardy). A curiosidade fica por conta do responsável pela adaptação da trama: o músico australiano Nick Cave, um dos maiores nomes do rock alternativo dos anos 80. O roteiro não dá certeza alguma sobre quem é o principal protagonista da história. Isso não é necessariamente um problema, porém neste caso torna-se algo confuso. Na primeira metade do longa, fica claro que Forrest, um brutamontes de bom coração e fala mansa, será o foco da trama. Aliás, impossível não associar o personagem ao Bane de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, já que Hardy continua com o biotipo e as falas quase sempre murmuradas do vilão criando uma sensação de dejà vu durante bom tempo. Na segunda metade tudo muda e Jack, o mais jovem dos irmãos Bondurant, se torna o protagonista. Personagens secundários vêm e vão para justificar essa alteração, deixando clara apenas a dificuldade em escolher um caminho para a trama. O elenco de enorme potencial não consegue salvar o problemático roteiro. A participação de Gary Oldman, no papel do mafioso Floyd Banner, merece destaque, mesmo que sua relação com os Bondurant seja algo mal explicado. Shia LaBeouf também faz um bom trabalho no papel de Jack, apesar do imaturo aprendiz de gângster não evoluir o quanto deveria ao longo do filme. Nos primeiros minutos, somos apresentados a uma verdadeira carnificina ao melhor estilo Scarface, no entanto, pouco do que se vê a seguir realmente nos remete à máfia. ''Os Infratores'' não é um filme ruim, mas tem um resultado final bastante confuso, fruto da inexperiência do roteirista Nick Cave. O que vai à tela é um relacionamento familiar do interior americano ora tedioso, ora empolgante. O enredo deixa dúvidas sobre o quanto de fantasia podemos receber sem questionar uma obra. Afinal, um personagem sobreviver a diversos tiros no peito, durante a década de 30 e sem atendimento médico, não é nada fácil de aceitar. Você realmente vai ter de acreditar na lenda citada anteriormente. Destaque apenas para a ótima trilha sonora, o ponto alto da produção." (Paulo Cintra)

2012 Palma de Cannes

Benaroya Pictures FilmNation Entertainment Annapurna Pictures Blum Hanson Allen Films Pie Films Inc. Red Wagon Entertainment Yucaipa Films

Diretor: John Hillcoat

142.277 users / 31.341 face

Soundtrack Rock = Willie Nelson + The Bootleggers / Emmylou Harris + Nick Cave / Warren Ellis + The Bootleggers/ Nick Cave + The Bootleggers/ Mark Lanegan + The Bootleggers

Check-Ins 266

Date 08/08/2013 Poster - ####

76. The Baytown Outlaws (2012)

R | 98 min | Action, Comedy, Crime

33 Metascore

When three redneck brothers agree to help a woman save her godson from an abusive stepfather, they become targets on the run from an odd cast of characters.

Director: Barry Battles | Stars: Billy Bob Thornton, Eva Longoria, Thomas Brodie-Sangster, Clayne Crawford

Votes: 16,008

[Mov 05 IMDB 6,3/10] {Video/@@@@} M/33

OS FORA DA LEI

(The Baytown Outlaws, 2012)


TAG BARRY BATTLES

{esquecível}


Sinopse

''Após receber três tiros de seu ex-marido Carlos, Celeste resolve contratar três irmãos fora da lei para que tragam para ela seu afilhado Rob. Entretanto, nem tudo será tão simples assim. O que a princípio aparentava ser um mero resgate banal logo se torna uma grande batalha, já que os irmãos precisam enfrentar agentes federais, caçadores índios e belas assassinas.''
"Faroeste moderno de personagens fora do comum, mas já vimos isso tudo em inúmeras cópias tarantinescas de filmes de personagens que vivem transgredindo as leis e não estão nem um pouco aí para isso. Esta é mais uma dessas cópias, sem nada em especial." (Alexandre Koball)

{Na corda bamba dos infernos} (ESKS)

''Cinema em casa serve para rever favoritos e resgatar clássicos, mas também pode ser muito divertido na descoberta de filmes obscuros. "Os Fora da Lei" nunca vai deixar essa condição. Seus atores principais já tiverem alguma fama: Billy Bob Thorton (ex de Angelina Jolie) e Eva Longoria (de Desperate Housewives). Neste filme B, são um casal de bandidos que discute a relação. Violento, com personagens bizarros e atrizes em trajes sumários, é tão ruim que fica bom." (Thales de Menezes)

''Muito cineasta pensa enxergar no espelho Quentin Tarantino até a realidade vir e provar que o reflexo é somente o de Robert Rodriguez. É o caso do estreante Barry Battles deste Os Fora da Lei, que precisa mais do que arroz e feijão para ter o talento e insanidade do diretor e roteirista recentemente premiado com um segundo Oscar. Aqui, os tais fora da lei são os irmãos Oodie, o mais velho Brick e a camiseta surrada da Klu-Klux-Klan, o fortão e mudo Lincoln e o caçula McQueen, sigilosamente contratados pelo xerife Millard para exterminar bandidos e assim diminuir o índice de criminalidade da região. Certo dia, o trio é visitado pela misteriosa Celeste (Eva Longoria da série Desperate Housewives), que oferece certa quantia para resgatar o afilhado Rob das mãos de Carlos (Billy Bob Thornton). Parece fácil mas um deslize faz o caldo engrossar e um festim de sangue ser derramado no quente sul norte-americano. Nada muito explícito ou inovador como Tarantino costuma fazer, exceto durante uma cena envolvendo prostitutas assassinas em um bar e cuja trilha diegética pontua bem a atração provocada além de ironizar a conclusão violenta. Já que as citei, Barry Battles tem inclinação à estereotipagem, mas perde a oportunidade de explorar com criatividade cada nova gangue enviada por Carlos (uma de negros, outra de índios), limitando-se ao mais óbvio que é por índios disparando flechas e tirando o escalpo. Ele ainda peca na simploriedade dos diálogos, distanciando-se da costumeira casualidade e irreverência do texto de Tarantino, e no arco dramático batido de bandidos redescobrindo valores morais e uma causa honrada para combater. Para piorar, Barry Battles enxerta uma informação deslocada sobre a família dos Oodie somente para motivar durante um momento de hesitação e exagera na artificialidade e pieguice no desfecho, pecados que Tarantino jamais cometeria, mas Rodriguez sim, aos montes!" (Marcio Sallen)

Lleju Productions State Street Pictures

Diretor: Barry Battles

10.388 users / 4.477 face

Check-Ins 671 11 Metacritic 3.966 Down 480

Date 30/08/2014 Poster - ########

77. Gli sbandati (1955)

102 min | Drama

In the summer of 1943 Countess Luisa and her son Andrea left Milan to escape the bombings and retreated to their country villa, where they host two of Andrea's contemporaries, cousin Carlo,... See full summary »

Director: Francesco Maselli | Stars: Lucia Bosè, Isa Miranda, Jean-Pierre Mocky, Goliarda Sapienza

Votes: 257

[Mov 07 IMDB 7,2/10 {Video}

ABANDONADA

(Gli Sbandati, 1955)


''Devido aos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, duas famílias italianas de classes distintas acabam convivendo no mesmo ambiente, provisoriamente. Surge um romance entre uma jovem da família humilde e um rapaz de vida mais favorecida.'' (Filmow)

''Grande sucesso em diversos festivais internacionais, "Abandonada" é o filme de estréia do Francesco Maselli. Durante a Segunda Guerra, uma família nobre se refugia dos bombardeios em uma pequena cidade italizana. Andrea, o filho mais velho de uma condessa, apaixona-se por Lucia, uma operária. O amor faz com ele tome consciência das agruras da guerra e tente protegê-la, mas quando o perigo se aproxima, seus caminhos são cruelmente divididos. Belo e contundente." (Interfilmes)

1955 Lion Veneza

CVC

Diretor: Francesco Maselli

73 users / 2 face

Check-Ins 298

Date 03/09/2013 Poster - #####

78. The Bourne Legacy (2012)

PG-13 | 135 min | Action, Adventure, Thriller

61 Metascore

An expansion of the universe from Robert Ludlum's novels, centered on a new hero whose stakes have been triggered by the events of the previous three films.

Director: Tony Gilroy | Stars: Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Scott Glenn

Votes: 315,616 | Gross: $113.20M

[Mov 06 IMDB 6,7/10 {Video/@@@@} M/61

O LEGADO BOURNE

(The Bourne Legacy, 2012)


"A trilogia Bourne, com Matt Damon, assentava-se sobre dois princípios. O primeiro, de que vivemos em um mundo apenas aparente; o mundo verdadeiro, onde se passam as coisas realmente sérias, é um universo de forças secretas, fechado, dominado por uns poucos senhores. O segundo diz respeito a um tempo destituído de história. Não ter passado, não ter identidade (ou memória) é um atributo aceitável do protagonista. O futuro limita-se à luta pela sobrevivência. O primeiro postulado permanece de pé em "O Legado Bourne". Mudam os nomes. Agora é Aaron Cross o superdotado agente, especialista em sobrevivência. O segundo, e mais interessante, degrada-se de maneira considerável, embora não inesperada. Alguém disse que um quarto filme deveria se chamar Redundância Bourne. Faz sentido: O Legado não tem muito para onde ir. A ideia forte, de uma paranoia de segurança desenvolvida a tal ponto nos EUA que tende à autodestruição, foi virada e revirada nos filmes anteriores. Assim, depois que Jason Bourne escapou a mil e um atentados, não resta muito às agências dessa demência geral, cujo fim era criar uma raça de superagentes, a não ser destruir seus rebentos. Mal sabem que um dos superagentes restará vivo, Aaron Cross, justamente. E também uma supercientista, Marta Shearing. Os dois serão parceiros na fuga. Como se pode presumir, o início do filme é mais interessante do que os dois últimos terços, em grande medida porque ali os diversos serviços secretos americanos batem cabeça e olham feio uns para os outros. A julgar pelo Legado, a defesa do Ocidente está mais para chanchada do que para outra coisa. Depois, o Legado se mostra não apenas redundante como vazio: um filme de perseguição onde se corre muito, se luta muito, se foge muito, mas não se vai a parte alguma. Sobreviver ainda é a ideia. Só que seu sentido já chega em estado de diluição homeopática." (* Inácio Araujo *)

"A preocupação dos Gilroy em contextualizar o novo filme transforma o longo primeiro ato num epílogo da trilogia anterior, mas depois O Legado e Renner cumprem a árdua missão de serem relevantes e à altura de seus antecessores." (Rodrigo Torres de Souza)

"O "outro" Bourne é quase tão interessante quanto o de Damon, pena que o argumento seja tão fraquinho e haja poucas chances reais dele mostrar suas habilidades. Um filme menor da série." (Alexandre Koball)

O dispensável Bourne.

''Os três filmes da trilogia Bourne, estrelados por Matt Damon no papel do agente desmemoriado caçado por seus antigos superiores, foram, provavelmente, as produções que mais influência tiveram no recente cinema comercial norte-americano – especialmente no gênero ação. Sua abordagem realista e o estilo quase documental de Doug Liman e Paul Greengrass (no qual prevalecia o uso de câmera em constante movimento) foram copiados diversas vezes nos últimos anos, inclusive na reinvenção da franquia James Bond. Mais importante do que isso – ao menos aos olhos dos estúdios –, a trilogia arrecadou quase 1 bilhão de dólares em todo o mundo. Assim, quando Damon e Greengrass se recusaram a retornar à história de Bourne, a Universal se viu com um grande problema: como dar continuidade à série sem seus principais nomes? A solução, felizmente, não foi colocar outro ator para interpretar o personagem – afinal, Bourne é Damon da mesma forma que Indiana Jones é Harrison Ford –, mas criar outro protagonista para aquele mesmo universo, outro agente originado nos programas secretos do governo norte-americano. É uma ideia, digamos, aceitável, mas jamais necessária. Em outras palavras, este ''O Legado Bourne'' (The Bourne Legacy, 2012) não existe porque havia mais história a ser contada, mas sim pelo fato de que o estúdio queria sugar ao máximo os milhões que Bourne ainda poderia render e precisou inventar uma desculpa para estampar o nome do agente mais uma vez em um cartaz. E esta, convenhamos, nunca é a razão ideal para uma continuação. Assim, ''O Legado Bourne'' é um filme repleto de problemas, ainda que não totalmente ruim. Sim, o roteirista e diretor Tony Gilroy (também responsável pelo texto das produções anteriores) tenta de todas as formas amarrar a nova trama com a história da trilogia, o que resulta em uma narrativa muitas vezes desesperada e artificial, e Jeremy Renner não carrega uma superprodução com a mesma naturalidade de Matt Damon, mas a obra consegue funcionar como um eficiente filme de ação. Gilroy mantém o estilo de Liman e Greengrass, com a câmera sempre em movimento com o objetivo de realçar a tensão, porém – talvez compreendendo como o recurso vem cansando nos últimos anos – faz isso com mais economia e de forma menos epiléptica. Da mesma forma, o cineasta se mostra eficiente na condução das cenas de ação. Exceto por um ou outro momento no qual a mise-en-scène se torna confusa e é impossível entender o que está acontecendo, O Legado Bourne traz alguns bons momentos que prendem a atenção da plateia, como a longa perseguição em Manila. No entanto, ainda que eficazes, estas cenas jamais se destacam em relação ao que foi visto recentemente últimos anos – falta ao filme mais momentos inspirados como o excelente plano que acompanha o protagonista Aaron Cross escalando uma casa e entrando por uma janela para eliminar um inimigo. ''O Legado Bourne'' é aquele tipo de produção que chega às dezenas nos cinemas: entretém razoavelmente enquanto se assiste, mas esquecível logo após a sessão. Isso ocorre, principalmente, pela inconsistência da trama. As constantes referências aos filmes anteriores podem confundir quem não lembra dos detalhes ou nunca assistiu a trilogia original, mas o grande problema é que não há história para contar. É, basicamente, um novo agente sendo perseguido pelo governo, mas, se em A Identidade Bourne (The Bourne Identity, 2002), a busca do protagonista pela identidade servia como força motriz para a narrativa, aqui isso não existe. Ou melhor, existe, mas não faz muito sentido. Gilroy transforma como ponto principal de sua trama a ideia de que os agentes são quase super-homens modificados geneticamente e precisam de pílulas para continuar assim, fazendo essa a motivação principal de Cross. O roteiro não o transforma em uma pessoa tridimensional como Jason Bourne, mas simplesmente em um homem que faz de tudo para continuar forte e inteligente. Aliás, a prova de que este parece ser o equivocado foco da história de Gilroy é comprovado ao final da produção. ''O Legado Bourne'' encerra pouco após Aaron Cross se tornar independente dos remédios, sem jamais buscar qualquer espécie de conclusão para a trama de sua perseguição pelo governo. A conclusão poderia muito bem se passar no meio do filme, uma vez que ele apenas está fugindo novamente e os responsáveis pelas operações seguirão no seu encalço. Como se não bastasse, Gilroy parece não entender o que tornou a trilogia original tão fascinante: a inteligência do protagonista. Era sempre um prazer acompanhar o rápido raciocínio de Jason Bourne, fundamental para se manter um passo à frente de seus perseguidores. Aqui, são poucos os instantes em que Aaron Cross demonstra essa inteligência superior, tornando-se um herói mais genérico e, consequentemente, menos interessante. Desperdiçando ainda um ator do talento de Edward Norton em um papel unidimensional e trazendo a personagem de Pamela Landy apenas no fim para uma participação totalmente desnecessária, O Legado Bourne nada mais é do que uma desculpa para encher os cofres do estúdio. Não há qualquer motivação artística para o filme existir, nem em termos de história, nem de personagens. Ocasionalmente eficiente, sim, mas acima de tudo dispensável." (Silvio Pilau)

Quarto filme da série tem ação com menos emoção.

"Desde que Matt Damon é resgatado da água e não sabe sequer o seu nome, o público é fisgado pela curiosidade de descobrir o que aconteceu, de onde vêm suas habilidades e, principalmente, descobrir quem ele é. A ação desenfreada, o teor político e o desdobrar de suas andanças pelo mundo, escapando sempre por um triz da morte e chegando cada vez mais perto da verdade, levou o público três vezes ao cinema e transformou a série Bourne em uma franquia de 1 bilhão de dólares faturados, solidificando também o nome de Damon entre os grandes astros da Hollywood atual. Tudo isso que funcionou no passado foi colocado em xeque quando o ator e o diretor dos dois últimos filmes, Paul Greengrass, decidiram não fazer um quarto capítulo. E Damon ainda saiu atirando, falando que o roteiro de O Últimato Bourne escrito por Tony Gilroy era fim de carreira. Coube então a Gilroy a tarefa de provar seu valor, trazer novas ideias e ainda assumir a função de dirigir este quarto filme. A saída encontrada por ele foi dar um passo atrás - ou melhor, para o lado - e criar um universo paralelo ao que já havia sido visto nas telas. É assim que o público descobre a existência de outros programas de criação de super-espiões, que aperfeiçoaram o que estava sendo feito na Operação Treadstone. Um destes experimentos se chama Aaron Cross (Jeremy Renner), o novo protagonista. Quando o vemos pela primeira vez, ele está no Alasca brigando com lobos, tentando chegar até a cabana onde vive um de seus pares (Oscar Isaac). No bate-papo entre os dois agentes vão surgindo detalhes de como eles são forjados. Cross está ali atrás de pílulas, pois seu estoque está próximo do fim. Ele não sabe, mas as verdes ajudam a aumentar as habilidades físicas, diminuir a dor e o tempo de recuperação, enquanto as azuis servem para aumentar a inteligência, os sentidos e capacidade cognitiva. As tais drogas são obra de uma empresa farmacêutica ligada à alta cúpula da inteligência estadunidense. Com os desdobramentos do que estava acontecendo em O Últimato Bourne, toda esta nova operação tem de ser desativada pelo Coronel Eric Byer (Edward Norton) e assim vão tombando os agentes e todas as pessoas envolvidas, sobrando apenas Cross e a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz), uma das cientistas responsáveis pela criação dos tais medicamentos. E por uma questão de sobrevivência os dois se unem. A aventura dos dois pega um avião e vai até as Filipinas, seguindo a fórmula já conhecida da franquia de rodar o mundo. Mas enquanto a trama ganha novas camadas políticas e vai mostrando a influência cada vez maior de grandes corporações nos governos, a ação se limita a mimetizar o que já havia sido feito anteriormente. Cross corre por cima dos telhados, pula, corre e desarma seus adversários como Bourne. Ou quase isso. Na verdade, há um excesso de cortes na montagem de ''O Legado Bourne'', o que deixa o resultado final artificial e aquém do que faziam Greengrass, Damon e o diretor de fotografia Oliver Wood. Esta opção fica ainda mais visível na longa perseguição de moto que marca o clímax do filme. Cada carro ultrapassado, cada metro andado leva a um take diferente, não dando espaço a sequências mais complexas, que poderiam transportar o espectador para dentro do filme. Não que seja mal filmada ou mal montada, ela é apenas diferente e dá, no máximo, uma grande injeção de adrenalina no público, que pode sair do cinema olhando para todos os lados incessantemente, buscando por perigos ou saídas. Esta busca por ação acima da emoção deixa pouco espaço para Edward Norton e Rachel Weisz, ótimos atores que acabam com pouco espaço. A Renner - cuja carreira decolou depois de Guerra ao Terror - sobra mais um papel sólido, mas sem brilho próprio. Se em Os Vingadores, Atração Perigosa e Missão: Impossível - Protocolo Fantasma ele fica às sombras de Robert Downey Jr., Ben Affleck e Tom Cruise, a imagem de Matt Damon se mostra ainda forte demais na série Bourne. E Tony Gilroy parece não se preocupar com isso, tanto é que mostra uma foto de Damon na tela em uma cena e o cita em outras tantas, seja nos diálogos ou na telona. Não é à toa que ele próprio já ventila a possibilidade de trazer Bourne para um quinto filme, desta vez ao lado de Cross. A isca está lançada novamente. Resta saber se Damon vai esquecer o que disse e encarar mais uma aventura." (Marcelo Forlani)

"O mais importante dos filmes da (outrora) trilogia Bourne é, sem dúvidas, o primeiro longa, comandado por Doug Liman em 2002. Vejam, não estou dizendo que “A Identidade Bourne” é o melhor da série. Embora seja extremamente eficiente, empalidece em comparação com suas duas continuações diretas comandadas por Paul Greengrass. No entanto, o longa nos apresentou a Jason Bourne e sua companheira Marie de um modo que fora estabelecida uma ligação emocional forte do público com aqueles personagens, fazendo com que a audiência ficasse não só tão curiosa quanto o próprio amnésico Bourne para descobrir suas origens, como também preocupada com o destino do desmemoriado agente e de sua namorada. Sua falta de memória nos tornava tão íntimos dele quanto ele mesmo. Quando foi anunciado que “O Legado Bourne” nos mostraria uma história tangencial à da terceira produção da série, imediatamente levantou-se um sinal de alerta. Será que o escritor e diretor Tony Gilroy, roteirista dos dois primeiros longas e corroteirista do terceiro, repetiria a façanha de criar um herói de ação tão interessante quanto Jason Bourne e, ao mesmo tempo, nos apresentar uma trama que não comprometesse o ótimo desfecho apresentado na produção anterior? Gilroy, afinal, havia comandado o excelente Conduta de Risco, mas nunca dirigiu uma só cena de ação na vida. Apesar de seu ótimo elenco, capitaneado por Jeremy Renner, Rachel Weisz e Edward Norton, e de todo o gabarito envolvido na equipe técnica, uma palavra pode resumir Legado: decepcionante. Desde o começo da projeção, já fica claro que um recém-chegado teria muita dificuldade para acompanhar o desenrolar da história desta nova aventura. Mesmo com tantas inovações, é crucial o espectador ter assistido ao menos A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne para compreender o que se passa na tela. Isso porque um recurso utilizado no terceiro longa volta a ser empregado aqui, com a trama se desenrolando a partir do meio da fita anterior. Enquanto esta carta na manga foi usada de maneira surpreendentemente orgânica naquela produção, rumando para uma conclusão apoteótica (o epílogo do segundo filme foi uma cena que deu início ao último ato do terceiro), aqui é tudo muito forçado, com as informações por vezes parecendo jogadas na tela apenas para lembrar ao público da relação desta nova película com a série. Na nova trama, Aaron Cross (Renner) é um agente do Outcome, um programa da CIA similar ao Treadstone que deu origem a Bourne. Este novo programa utiliza aprimoramentos biológicos no lugar de condicionamento psicológico para melhorar seus operativos. Com toda a operação de Treadstone revelada por Pam Landy (Joan Allen) e Jason Bourne em Ultimato, o frio e pragmático líder por trás dessas operações, Eric Byer (Norton), resolve fechar os programas que possam vir à escrutínio público, dentre eles o Outcome. Claro que fechar significa “matar todos os subalternos”. Escapando dos seus antigos chefes, Cross se junta a outra pessoa na alça de mira da CIA, a Dra. Marta Shearing (Weisz) em uma fuga desesperada por suas vidas. O primeiro plano da produção tenta estabelecer uma rima visual com A Identidade Bourne, mas Aaron não chega nem perto do carisma de Jason. Afinal, enquanto Bourne lutava por sua vida e identidade (e, posteriormente, por redenção e retribuição), a busca principal de Aaron é pela medicação que o permitirá continuar a ser física e mentalmente aprimorado e não por redenção ou autodescoberta, algo que de cara já enfraquece a identificação do público para com o novo protagonista e quebra um pouco os parâmetros semi-realistas dos episódios anteriores, com este plot chegando até mesmo a lembrar o recente thriller Sem Limites. Além disso, pouco conhecemos sobre o operativo fugitivo no decorrer do longa, com o roteiro de Tony e Dan Gilroy dando pouco espaço para Jeremy Renner desenvolvê-lo. Fisicamente, Renner está ótimo no filme, mas o texto realmente não o ajuda. Até mesmo o agente sem nome vivido por Oscar Isaac, que surge rapidamente e interage um pouco com Cross, parece ser mais interessante e ter motivações mais profundas que Aaron. O relacionamento do agente com Marta também evolui aos solavancos, sem química. Por mais talentosos que Renner e Rachel Weisz sejam, fica difícil acreditar no casal formado pelos dois, quanto mais torcer para que eles acabem bem. Não ajuda o fato de que a atriz seja desperdiçada na tela com toneladas de diálogos expositivos. O resultado é uma personagem nada memorável e até relativamente genérica. Eric Byer, vivido por Edward Norton, se mostra mais uma figura de bastidores, coordenando a caça ao agente, bem nos moldes de David Strathairn e Joan Allen nos filmes passados, embora os seus objetivos e métodos remetam mais ao personagem de Chris Cooper no original. O núcleo político e nada glamouroso onde Byer está inserido é, de longe, o mais interessante da produção e o que mais nos lembra que estamos assistindo a um Bourne. É uma pena que Renner e Norton troquem palavras por pouquíssimos segundos e nunca em posição adversarial. Até mesmo o agente perseguidor que encara Aaron de frente não consegue criar uma presença mais ameaçadora, parecendo mais um T-800 dos pobres do que qualquer outra coisa, sendo uma nulidade em cena. As sequências de ação são poucas, curtas e espaçadas. São razoavelmente competentes, mas passam longe da urgência dos capítulos anteriores, um pouco porque nos importamos menos com os envolvidos e outro tanto porque o montador John Gilroy confunde agilidade com cortes rápidos quase incompreensíveis. O destaque vai para a perseguição de motos em Manila, que gera um dos melhores planos da fita. A pá de cal em “O Legado Bourne” é o fato de que sua trama acaba fazendo com que todos os esforços de Jason Bourne em Ultimato acabem sendo por nada, enfraquecendo aquilo que havia sido uma bela conclusão para a história. Em uma entrevista para a GQ, Matt Damon havia dito que o roteiro original de Tony Gilroy para aquele filme era terrível, algo difícil de acreditar dado o talento do escritor e roteirista comprovado por seus trabalhos anterirores. Após assistir este longa, a afirmação do ator parece até plausível." (Thiago Siqueira)

Production Companies Universal Pictures Relativity Media Kennedy/Marshall Company, The Captivate Entertainment Dentsu Bourne Film Productions Bourne Four Productions Bourne Four Productions

Diretor: Tony Gilroy

180.265 users / 31.485 face

Soundtrack Rock = Moby

Check-Ins 268

Date 08/08/2013 Poster - ####

79. The Hobbit: The Desolation of Smaug (2013)

PG-13 | 161 min | Adventure, Drama, Fantasy

66 Metascore

The dwarves, along with Bilbo Baggins and Gandalf the Grey, continue their quest to reclaim Erebor, their homeland, from Smaug. Bilbo Baggins is in possession of a mysterious and magical ring.

Director: Peter Jackson | Stars: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott

Votes: 705,380 | Gross: $258.37M

[Mov 03 IMDB 7,9/10] {Video/@@@} M/66

O HOBBIT - A DESOLAÇÃO DE SMAUG

(The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013)


TAG PETER JACKSON

{cansativo}


Sinopse

''Segunda parte da jornada de Bilbo Bolseiro,Gandalf e os treze anões em busca do tesouro mantido pelo dragão Smaug.Os aventureiros agora devem atravessar a Floresta das Trevas e a estranha cidade do Lago para enfim chegar a Montanha Solitária onde o rumo da Terra Média será decidido para todo o sempre.''
"Decepcionado aqui. Parece cachorro que corre atrás do próprio rabo, mas quando cansa deita de barriga pra cima e faz uma gracinha para agradar o público." (Rodrigo Cunha)

"A visão de Jackson segue fascinante, mas aqui as suas digressões incomodam como nunca, principalmente porque não chegam a lugar algum. Mais do que isso, ele deixa os personagens de lado e assume o lado infantil, parecendo videogame. O mais fraco de todos." (Silvio Pilau)

"Mais ágil e dinâmico que o primeiro filme, embora com menos humor. Os problemas de ritmo continuam, mas muita coisa é compensada na longa aparição de Smaug, que ficou realmente impressionante na tela." (Rafael W. Oliveira)

A Desolação de Smaug segue Bilbo e os anões em sua aventura inesquecível.

''Antes queridinho do público e da crítica quando lançou a trilogia do Anel em 2001, Peter Jackson virou alvo de desconfiança ao lançar O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012) em 2012 com resultados não tão espetaculares. Desta vez não houve premiações, participação em dezenas de listas e amor quase que incondicional. Ainda assim, o filme faturou mais de US$ 1 bilhão ao redor do mundo. O que, é claro, não é indicativo de boa ou má qualidade, em absoluto. O segundo capítulo, ''O Hobbit: A Desolação de Smaug'' (The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013), chega aos cinemas com expectativas bem mais moderadas, mas a choradeira dos críticos parece não parar... Alguns simplesmente não querem aceitar que O Hobbit foi dividido em três partes – duas eram suficientes, dizem. Ou então dizem que os filmes são muito carregados, com muita informação visual e personagens desnecessários. Ou então os filmes são muito infantis, não são tão épicos quando O Senhor dos Anéis. Ou então a nova tecnologia de 48 quadros por segundo é feia e estranha. Enfim, O Hobbit – as duas partes lançadas até o momento – é alvo dessas e outras críticas repetitivas e aborrecidas, algo que tirou completamente a chance desta nova trilogia alcançar os mesmos níveis de aceitação da trilogia original (e, acredite, haja o que houver em Lá e De Volta Outra Vez, o tom das críticas continuará esse). A Desolação de Smaug é uma sequência direta e natural de Uma Jornada Inesperada (é óbvio), e aqui não há espaço para introduções. A obra, portanto, é mais ágil e dinâmica. Porém, o clima do filme anterior é mantido; as histórias paralelas também continuam a existir, para o deleite dos fãs e a reclamação dos não-fãs; e o excesso de efeitos especiais e personagens é mantido. Ora, estas todas são características de O Senhor dos Anéis. Aqui, nota-se que Peter Jackson (como roteirista) tentou fugir um pouco da obra literária de O Hobbit para inserir novas cenas que vão além dele, e situam o filme como uma prévia muito bem desenvolvida de O Senhor dos Anéis. Bilbo, nosso hobbit do título, inclusive, perde a protagonização em certos momentos, o que de forma alguma é um ponto negativo. Não acredito que seja possível dizer que A Desolação de Smaug seja melhor ou pior do que o primeiro capítulo, pois um complementa o outro e vice-versa. Há, claro, Smaug, que ocupa todo o ato final d'A Desolação, e é uma adição carismática, ameaçadora e das mais interessantes do mundo de Tolkien até o momento nas telas do cinema. Neste caso, a antecipação foi justificada, e Smaug é um personagem deveras admirável, que faz valer o segundo capítulo. O filme, se de alguma forma se diferencia do primeiro capítulo, é no tom mais sombrio – talvez um pedido dos fãs atendido por Jackson. Não há piadinhas de anões ou sobre anões (inclusive, é o filme com menos humor de todos os cinco até aqui da hexalogia) e, embora esses personagens não sejam tão admiráveis quanto Aragorn de O Senhor dos Anéis (por exemplo), apresentam algumas facetas que os tornam razoavelmente complexos (pelo menos Thorin, que apresenta sempre um ar de dualidade que coloca em dúvida até a lealdade de Bilbo para com ele). Em tudo isso, é impossível deixar de comentar que há um tom mais promíscuo nesses novos filmes. Parecem ser mais apressados, com menos cuidados nos detalhes. Há mais computação gráfica e menos trabalho manual. Peter Jackson aparenta, de fato, estar mais cansado, e o que confirma isso é que já foi declarado que ele se dedicará a trabalhos menores, que o farão voltar ao início de sua carreira como diretor. E O Hobbit é um conto simplesmente menos imponente do que O Senhor dos Anéis – a obra máxima de Tolkien – o que faz com que, naturalmente, os filmes sejam menos épicos. Algo óbvio, que não deveria denotar pontos negativos e reclamações. O Hobbit, no final das contas, continua sendo uma aventura das mais bem produzidas, com pontos específicos de tirar o fôlego, alguns pares de cenas memoráveis e de beleza visual acima da média (porém, este ano, deve perder o espaço nas premiações para a inovação de Gravidade (Gravity, 2013) em quesitos técnicos). Se no capítulo anterior havia, ao final, a sensação de que o melhor ainda estava por vir, aqui certamente devemos lembrar que o melhor não é necessariamente o ponto de chegada, e sim a própria jornada. E já estamos nela. E esperar mais do que isso é querer algo que não é possível." (Alexandre Koball)

''Depois de decepcionar com o primeiro capítulo da trilogia "O Hobbit", uma espécie de prólogo de luxo de O Senhor dos Anéis, o diretor Peter Jackson injeta ação (e novos personagens) no segundo capítulo, "O Hobbit: A Desolação de Smaug". O filme é melhor e mais divertido que o primeiro, mas sofre com a síndrome de filho do meio: quer se rebelar, mas não tem coragem para tanto. Jackson, que é um cineasta esperto, usa seus melhores truques lapidados em anos trabalhando em longas de terror para construir sequências arrebatadoras já no início, como a da comitiva de Bilbo (Martin Freeman) e 13 anões enfrentando as aranhas gigantes da Floresta das Trevas. Outro acerto é na troca do tom cômico de Uma Jornada Inesperada pela adrenalina neste segundo capítulo. A fuga da comitiva do reino do elfo Thranduil (Lee Pace) em barris, por exemplo, equilibra os malabarismos élficos de um Legolas (Orlando Bloom) cheio de si e quase antipático e de Tauriel (Evangeline Lilly) com o jeito desengonçado dos anões. A química que transformou "O Senhor dos Anéis" funciona pela primeira vez na trilogia. No entanto, o grande momento da produção é a aparição do imponente dragão Smaug. Dragões falantes geralmente são um mau sinal no cinema (Eragon que o diga), mas a voz do inglês Benedict Cumberbatch (Star Trek) e os efeitos especiais da Weta transformam a criatura em um obstáculo (finalmente) mortal para o grupo. Infelizmente, o longa precisaria de muito mais para esconder que é uma trilogia inchada, repleta de momentos repetitivos. E, quando chega ao ponto de haver um triângulo amoroso entre elfos e um anão é porque o desespero para preencher 161 minutos de trama foi longe demais." (Rodrigo Salem)

Tom da trilogia fica mais sombrio na metade, mas compensa falta de humor com ação.

''O Hobbit - A Desolação de Smaug'' tem duas diferenças fundamentais em relação a seu antecessor. A primeira é o foco em um tema. A segunda é a ação extremamente bem contextualizada. O tema em questão é a ganância. Basicamente, todos os personagens de O Hobbit enfrentam o desejo pela obtenção de algo e precisam lidar com esse sentimento. Todos têm o potencial de se transformar nos grandes antagonistas do filme, o dragão Smaug (Benedict Cumberbatch), o Mestre da Cidade do Lago (Stephen Fry) ou o Necromante (também Cumberbatch). Bilbo começa a lidar com a nefasta influência do anel que obteve de Gollum, os anões - em especial Thorin (Richard Armitage) - enfrentam a ânsia pelo ouro e até Legolas (Orlando Bloom) cobiça a elfa que não pode ter. Dessa forma, este segundo O Hobbit é muito mais sombrio e adulto que o primeiro e divertido filme. Qualquer comparação com o Império Contra-Ataca não é exagero, já que o arco pelo qual passam os personagens é bastante parecido - e o final (ou a ausência dele) igualmente agonizante. Para quebrar o tom melancólico, Peter Jackson emprega empolgantes cenas de ação, sem muito espaço para o humor. As batalhas são de uma fluidez sem igual, com dezenas de coisas acontecendo em tela e tudo absolutamente bem isolado. É possível acompanhar os acontecimentos sem problemas. Os anões funcionam como uma unidade de combate cuja eficiência letal é mascarada pelas formas divertidas. Enquanto isso, os elfos parecem saídos de um anime, dada a sua elegância e velocidade. Contra todos, orcs destilam ferocidade. A sequência em que as três facções engalfinham-se na descida do rio é memorável. Para tanto, Peter Jackson e as roteiristas Fran Walsh e Philippa Boyens tomam mais uma grande dose de liberdade poética sobre a obra de J.R.R. Tolkien. A elfa criada especificamente para o filme, Tauriel (Evangeline Lilly) é uma Arwen mais selvagem, enquanto os humanos da Cidade do Lago ganham espaço e desenvolvimento que não existe no livro. O arqueiro Bard (Luke Evans) vira uma espécie de revolucionário contra a opressão do Mestre da Cidade e seus asseclas e até o orc Azog, apresentado no primeiro filme, ganha relevância nos segmentos que exploram os posfácios de O Senhor dos Anéis, com a missão de Gandalf (Ian McKellen) em busca da verdade sobre o Necromante. Se há algo negativo em O Hobbit - A Desolação de Smaug é o didatismo. Personagens diversos referem-se ao anel de Bilbo como o Precioso, para deixar claro sua possibilidade de derrocada ao lado negro. Os mesmos explicam inúmeras vezes que o ouro dos anões, hoje de posse do dragão, é capaz de transformar a índole de qualquer um. Ou seja, não cabe ao público apreciar as mudanças... todos os personagens as explicam o tempo todo. Nada disso é de grande relevância, porém, quando surge o mais belo dragão já criado nas telas. Smaug, o Magnífico, enche os olhos e move-se com peso e ameaça (sem falar no vozeirão de Cumberbatch), em um cenário absurdamente bem trabalhado. Todo o clímax em Erebor, a montanha dos anões, é espetacular - e seria perfeito não fosse a interrupção indesejada do filme, que continua apenas em 2014, com O Hobbit - Lá e de Volta Outra Vez. Se serve como prêmio de consolação, ao menos o último filme promete a maior batalha já vista no cinema. Até lá, só nos resta avaliar este segmento inacabado, apostando no desfecho à altura do que foi criado até aqui." (Erico Borgo)

''Se o primeiro filme da trilogia O Hobbit era como pouca manteiga espalhada em um pedaço grande de pão, esta segunda parte, A Desolação de Smaug, lembra a mistura de pavê e carne assada que apareceu em um episódio da sitcom Friends. Individualmente, os elementos que compõem o longa, especialmente suas setpieces, são interessantes, mas juntos nesse pacote apresentado por Peter Jackson se mostram um prato gorduroso e difícil de engolir. Neste capítulo do meio da trilogia, Bilbo (Martin Freeman), Gandalf (Ian McKellen) e a companhia liderada pelo candidato a rei Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) continuam sua jornada inesperada rumo a Erebor para enfrentarem o dragão Smaug (Benedict Cumberbatch) e recuperarem o reino e o tesouro dos anões. Logo, Gandalf parte para sua própria demanda paralela, buscando pistas sobre o retorno de um antigo mal na forma do Necromante (também Cumberbath), deixando seus pequenos amigos sozinhos. Caçados pelos orcs encabeçados pelo monstruoso Azog (Manu Bennett), eles encontram no caminho com o troca-peles Beorn (Mikael Persbrandt), com os elfos da Floresta das Trevas liderados pelo arrogante e obtuso Thranduil (Lee Pace) e com os homens da cidade do lago de Esgaroth, governados pelo corrupto Mestre da Cidade (Stephen Fry), tendo a ajuda – ou não – do príncipe élfico Legolas (Orlando Bloom), de sua capitã da guarda Tauriel (Evangeline Lily) e do arqueiro humano Bard (Luke Evans). Um dos erros de Jackson e de seus corroteiristas Fran Walsh, Phillipa Boyens e Guillermo Del Toro foi o de subestimar a inteligência de J.R.R. Tolkien. Ora, em seu âmago, a versão literária de O Hobbit é uma história infantil e que se assume como tal sem nenhuma reserva. Tolkien, em outros livros posteriores, apresentou um pano de fundo mais adulto para os eventos mostrados ali e essa separação não foi à toa. Esses subplots mais complexos foram colocados em outras obras, como nos apêndices de O Senhor dos Anéis, O Silmarillion e Contos Inacabados da Terra-média, justamente por destoarem do tom leve da trama principal. Ao mixar tudo, o texto se torna um Frankenstein que perde sua coerência interna, indo de anões em barris a decapitações explícitas abundantes em menos de cinco minutos. E o roteiro ganha ainda mais remendos com as alterações feitas no original, com acréscimos de personagens e de situações, que enchem ainda mais a proverbial linguiça e permitem a existência de uma trilogia que diminui a franquia e deixa a história com mais barriga e gordura que o rechonchudo anão Bombur (Stephen Hunter). Em sua auto indulgência, Jackson parece se recusar a cortar qualquer coisa do produto final. Além disso, os atores se veem obrigados a repetirem várias vezes o tema do filme, transformando o subtexto de ganância colocado por Tolkien em texto, que é martelado várias vezes durante a projeção de quase três horas, principalmente nas cenas de Esgaroth. Durante a narrativa, Jackson ainda tenta encaixar diversas referências à Trilogia do Anel. Algumas funcionam, como o retrato de Gimli. Outras, como o uso de Athelas contra o envenenamento sofrido por um dos heróis, são arrastadas e demoradas demais. Nisso, a produção se vê basicamente desprovida de ritmo, dependendo de elaboradas setpieces para manter o público interessado no que acontece na tela, justamente porque, à exceção de Bilbo e Gandalf, se torna quase impossível se importar com aquela multidão crescente de personagens sem muita personalidade. Mesmo aquelas figuras que são mais exploradas pelo longa, como Thorin, Kili (Aiden Turner), Legolas e Tauriel, acabam participando de arcos pouco efetivos. Thorin jamais ganha a simpatia do público durante o filme, sempre aborrecido e, por vezes, excessivamente irritadiço e nada nobre, ao contrário do carismático Aragorn de Viggo Mortensen em O Senhor dos Anéis. Já os outros três participam do triângulo amoroso mais insípido e estranho da história da Terra-média. Afinal, aparentemente é impossível para a indústria cinematográfica de Hollywood dos dias de hoje criar personagens femininas sem colocá-las entre dois interesses amorosos masculinos. Essa lista extensa de problemas não significa que “O Hobbit – A Desolação de Smaug” não tenha suas qualidades. Toda vez que Martin Freeman e Ian McKellen surgem em cena, a tela parece brilhar com o carisma dos dois atores e de seus personagens. Pena que os dois tenham uma participação reduzida aqui. Freeman, especialmente, se sai muito bem no longo diálogo entre Bilbo e Smaug, com seu nervoso senso de humor trazendo humanidade a uma sequência banhada em computação gráfica. O dragão, aliás, é deveras impressionante, com a voz profunda de Benedict Cumberbatch caindo como uma luva para a avarenta fera. Os valores de produção são esplendorosos, com a direção de arte diferenciando muito bem as culturas de homens, anões e elfos por meio dos diferentes cenários da aventura, facilmente identificáveis e igualmente impressionantes. A própria fotografia do longa, envolta em tons azulados e dourados conflitantes, enriquece esses detalhes visuais. Os efeitos especiais, com exceção de alguns dublês virtuais um tanto artificiais, também se mostram de primeiríssima linha, o que ajuda Jackson na criação de cenas de ação grandiosas. Algumas dessas, como a sequência nas forjas de Erebor, são exageradas demais, mas o diretor via de regra acerta a mão, especialmente na tensa sequência com as aranhas e na fantástica fuga de barris, em um combate empolgante envolvendo anões, elfos e orcs. O confronto entre Gandalf e o Necromante também impressiona, especialmente na composição visual do quadro que revela a verdadeira natureza do vilão. O 3D funciona mais como adorno visual do que como ferramenta narrativa, e é dolorosamente mal-empregado em alguns momentos, como durante um diálogo entre Gandalf e Radagast (Sylvester McCoy) nos arredores de Dol Guldur, no qual este último, em segundo plano, é colocado fora de foco por motivos que só Peter Jackson entende. Enquanto a trilogia O Senhor dos Anéis se apoiava em elementos humanos para se destacar dos demais blockbusters, chega a ser melancólico que a ganância dos produtores em esticar demasiadamente O Hobbit tenha, ao menos até agora, diminuído tanto essas qualidades das prequências, que sobrevivem mais por apuro técnico que por qualquer outro motivo. A fita se encerra em um anticlímax deveras frustrante e é triste constatar que o público voltará para a conclusão da história, mas no piloto automático e sem a empolgação de outrora." (Thiago Siqueira)

86*2014 Oscar

Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) New Line Cinema WingNut Films

Diretor: Peter Jackson

449.005 users / 83.648 face

Check-Ins 674 44 Metacritic 305 Up 181

Date 31/08/2014 Poster - ####

80. The Hurricane (1937)

Approved | 104 min | Action, Adventure, Drama

A Polynesian sailor unjustly imprisoned after defending himself against a colonial bully is relentlessly persecuted by his island's martinet French governor.

Director: John Ford | Stars: Dorothy Lamour, Jon Hall, Mary Astor, C. Aubrey Smith

Votes: 3,042

[Mov 06 IMDB 7,2/10 {Video/@@@}

O FURACÃO

(The Hurricane, 1937)


''A ação se passa no Tahiti na primeira metade do século XX. Um jovem marinheiro é explorado por seu patrão ligado ao governo colonial. Ele rebela-se e fica em casa,com a esposa, numa outra ilha. O cenário muda radicalmente quando chega um furacão, destruindo tudo. Importância Histórica : Dorothy Lamour revelou um tipo em A Princesa das Selvas(The Jungle Princess) em 1932. A morena que usava sarong,veste típica de nativos das ilhas do sul do Pacifico , marcou presença em diversos filmes ambientados nessa região,incluindo comédias da série Road to com Bob Hope e Bing Crosby .Ela apareceu também no premiado O Maior Espetáculo da Terra de Cecil B.De Mille. O ator Jon Hall era o galã das aventuras das mil e uma noites ao lado de Maria Montez. Os dois eram muito populares e o produtor Samuel Goldwyn colocou-os neste furacão muito realista para o tempo anterior à técnica CGI, chamando o mestre John Ford para assumir a direção. Rodado em preto e branco o filme impressionou uma geração e ficou como um titulo diferente na obra de Ford." (Fimow)

"Com uma força considerável decorrente de suas imagens, o roteiro é puro pretexto para o tufão do final, que ainda hoje impressiona com o seu trabalho artesanal mais eficaz que o de qualquer CGI do cinema contemporâneo." (Vlademir Lazo)

10*1938 Oscar

Samuel Goldwyn Company, The

Diretor: John Ford

1.485 users / 173 face

Check-Ins 271

Date 07/08/2013 Poster - ###

81. The Hairdresser's Husband (1990)

R | 82 min | Comedy, Drama, Romance

Antoine has always been fascinated by a hairdresser's delicate touch, the beguiling perfume and the enticing figure of a woman with an opulent bosom. After all, he always knew he would marry one, completing his idealised love fantasy.

Director: Patrice Leconte | Stars: Jean Rochefort, Anna Galiena, Roland Bertin, Maurice Chevit

Votes: 10,363 | Gross: $1.16M

[Mov 10 Fav IMDB 7,1/10 {Video/@@@@@}

O MARIDO DA CABELEIREIRA

(Le mari de la coiffeuse, 1990)


{Nada é mais rápido que a morte. Tome umas pilulas, pensa estar bem e morre. A morte é dormir sem sonhar. Mistura consciência de nada com inconsciência} (ESKS)

"Dentre tantas predileções já confessadas neste espaço, mais uma merece destaque: filmes de pequena duração – tal como os curtas-metragens – ganham meu total apreço quando capazes de apresentar um denso desenvolvimento e uma eficiente conclusão apesar do econômico tempo de projeção. Neste sentido, "O Marido da Cabeleireira" (França, 1990) reúne tais qualidades ao se valer de uma inegável objetividade que, por outro lado, não dispensa nem se choca com o viés poético acrescentado pelo diretor Patrice Leconte. Assim, de maneira extremamente delicada e, ao mesmo tempo, imbuída de certa estranheza, a obra disseca a história de um amor marcado pela irrestrita veneração de um homem por uma mulher e dela por ele. Dentro deste contexto, Leconte lança mão de uma montagem que, sem dificuldades, transita entre passado e presente, para, ato contínuo, apresentar-nos o personagem masculino que, desde a infância, nutrira o fetiche de um dia casar-se com uma cabeleireira. Quando, já maduro, atinge sua meta, o protagonista, junto com o espectador, é arrebatado pela sedutora beleza da mulher pela qual se contentará, a partir de então, em não fazer nada mais além de adorá-la. Ela, em razão de encontrar uma doação tão verdadeira e profunda, passa a manter semelhante senso de exclusividade, o que, contudo, acaba lhe gerando o incontornável receio de um dia vir a perder a companhia do ser amado. Por conta da presença de sentimentos tão extremados, ambos não se furtam a trocar carícias com total desinibição e entrega – ocasiões em que o filme flerta com o erotismo sem, entretanto, esquecer o bom gosto – aumentando, por conseguinte, a necessidade, a dependência de um pelo outro, bem como o temor perante a hipótese de que um dia aquele amor se esvaia. Belo e sensível, "O Marido da Cabeleireira" logra o êxito de ser singelo mas também abrupto, deixando-nos, desta feita, a mesma impressão suportada após o término de determinados relacionamentos: a experiência pode ter sido ligeira, mas, em compensação, fora extremamente significativa e marcante." (Dario Façanha)

1991 César

Lambart Productions TF1 Films Production Centre National de la Cinématographie (CNC) Investimage 2 Investimage 3

Diretor: Patrice Leconte

5.544 users / 667 face

Check-Ins 272

Darte 08/08/2013 Poster - ########

82. A Scanner Darkly (2006)

R | 100 min | Animation, Comedy, Crime

73 Metascore

An undercover cop in a not-too-distant future becomes involved with a dangerous new drug and begins to lose his own identity as a result.

Director: Richard Linklater | Stars: Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr., Rory Cochrane

Votes: 117,145 | Gross: $5.50M

[Mov 09 IMDB 7,1/10] {Video/@@@@@} M/73

O HOMEM DUPLO

(A Scanner Darkly, 2006)


TAG RICHARD LINKLATER

{onírico}


Sinopse

''Num futuro próximo, a guerra do governo norte-americano contra as drogas se juntou à guerra ao terror. Numa sociedade cada vez mais policiada, foi desenvolvido um novo sistema de disfarce, sob o qual trabalha o policial Bob Arctor. Enquanto investiga seus amigos mais próximos, ele acaba recebendo ordens para investigar sua própria vida e embarca num estranho pesadelo, no qual identidades e lealdade não parecem mais ter um sentido claro. Baseado em um conto de Philip K. Dick, o filme utiliza a mesma técnica de animação sobre cenas filmadas (rotoscopia digital) que o diretor Richard Linklater havia usado em Waking Life (2001).''
''Em "O Homem Duplo", Richard Linklater recorre pela segunda vez à técnica da rotoscopia. Nela, o filme é rodado com atores e montado normalmente. Depois, a imagem é levada ao computador e retrabalhada por técnicos de animação, que a cobrem com novos traços e cores. O resultado ganha ares psicodélicos, como uma graphic novel em movimento. Linklater havia usado a técnica em 2002, com Waking Life. Não deu muito certo. O visual parecia adequado à proposta onírica, mas não encobria os defeitos de um roteiro confuso e perdido. Em "O Homem Duplo", as questões narrativas estão mais trabalhadas e resolvidas. Mas, aí, é a utilização da técnica que parece inadequada ao universo futurista-paranóico de Phillip K. Dick. Conceitualmente, tudo parece se encaixar: fazer um filme em dupla camada, sobre um homem de vida dupla. A ação se passa em um futuro próximo, em que o mundo é vigiado por câmeras e a guerra ao terror foi substituída pela guerra contra as drogas (algo, aliás, absolutamente plausível). Nesse cenário, Bob Arctor (Keanu Reeves) é um policial infiltrado que investiga o tráfico de drogas. Ele acaba se viciando na substância D, que em longo prazo causa danos terríveis ao cérebro humano. Bob tem sua verdadeira identidade protegida por um traje que encobre todo seu corpo - rosto inclusive-, tornando impossível sua identificação por seus próprios colegas de trabalho. Aos poucos, porém, vamos compreendendo que quase todos ao seu redor, inclusive sua namorada, Donna (Winona Ryder), têm vida dupla. O estranhamento maior está na palheta de cores escolhida para recriar a imagem do filmes, predominantemente de tons claros e muito semelhante à de Waking Life. Mas onírico não é a mesma coisa que psicodélico. E a questão da paranóia e da vigilância, proeminentes na trama, ficam visualmente relegadas a um segundo plano. Linklater é um dos cineastas jovens americanos mais interessantes. Trabalha tanto em projetos convencionais (como Escola de Rock) quanto em outros bem mais pessoais (como Antes do Pôr-do-Sol). Waking Life e "O Homem Duplo" são como experimentos em uma obra que está sendo construída de forma bastante interessante, e que, um dia, ainda podem resultar em um ótimo filme." Pedro Butcher)

{O inimigo jamais será perdoado. O erro deles foi brincar com o inimigo, que eles possam brincar de novo, de outra maneira e ser felizes} (ESKS)

''A extensa obra do escritor Philip K. Dick (1928-1982) gerou adaptações memoráveis no cinema, como Blade runner - O caçador de andróides, e outras nem tanto, como O Pagamento e Minority report. A scanner darkly, versão para as telas do romance O homem duplo, fica no meio do caminho. Não tem o potencial pop cult dos replicantes de Ridley Scott, mas encontra-se bem acima da média, passando longe da calculada ação hollywoodiana dos filmes de John Woo ou Spielberg. O responsável pelo longa é o versátil Richard Linklater (Escola de rock, Antes do pôr-do-Sol), que optou em desenvolvê-lo com técnica semelhante - menos alucinada, porém - ao aclamado Waking Life: a rotoscopia digital, animação que pinta os atores e cenários reais, incluindo novas cores e texturas na película. A estilosa técnica funciona tão bem quanto no seu antecessor. Se no primeiro o foco era no existencialismo, aqui está nas drogas. A história baseia-se nas experiências pessoais de K. Dick e seus amigos (aos quais a obra é dedicada) com entorpecentes. Na trama, sete anos no futuro, um policial sob profundo disfarce, Fred (Keanu Reeves), recebe a missão de espionar seu próprio alter-ego, o traficante Bob. Porém, com o consumo crescente da letal Substância D, a personalidade de Fred (ou seria Bob?) começa a dividir-se. A paranóia cresce, afetando também seus amigos viciados: Jim Barris (Robert Downey Jr.), Ernie Luckman (Woody Harrelson) e Donna Hawthorne (Wynona Ryder). Apesar de alguns dos elementos do filme não existirem - como a roupa-camaleão que torna o policial Fred impossível de ser identificado no departamento de polícia -, a história é bastante ancorada na realidade dos usuários de drogas, algo que a opção pela rotoscopia potencializa, dando à trama contornos oníricos. O amor do autor pelos personagens também é óbvio (os diálogos entre os protagonistas são de uma inocência cativante) e Linklater, excelente diretor de atores, o manteve intacto com a ajuda do ótimo elenco. Ao final, fica a certeza de que, além de um ensaio sobre excessos, K. Dick buscou com A Scanner Darkly uma certa redenção, uma dolorosa tentativa de curar feridas e de rever amigos ausentes. Linklater entende isso e honra tal desejo com um filme digno do autor visionário." (Erico Borgo)

{E assim morremos todos, sabendo muito pouco e o pouco que soubemos, soubemos entender é errado também} (ESKS)

''A literatura de Phillip K. Dick é famosa por construir dúvidas e dissensos sobre o que é realidade. Em geral, há uma oposição entre a perspectiva do indivíduo e o seu mundo externo criada pela fusão de realidades que recursos técnicos modernos proporcionam. Depois de anos se debruçando sobre distopias, K. Dick percebe que tais dissensos estavam presentes em seu próprio tempo, ao perceber a dependência química promovendo processos de desidentificação do indivíduo com a realidade exterior e com ele mesmo. ''O Homem Duplo'' é a sua obra mais sombria, e, como parte disso, ele não a localiza num futuro muito distante. Foi utilizando tal material que Richard Linklater compôs o seu poético filme O Homem Duplo (Scanner Darkly), de 2006, utilizando-se da rotoscopia interpolada. Ele já havia experimentado a técnica em Waking Life (2001). Mas em O Homem… encontrou o seu encaixe perfeito, produzindo uma belíssima rima com o roteiro: tinta sobre película para contar a história de um policial viciado, Bob Arctor (Keanu Reeves), infiltrado em meio à (também) viciados para conduzir investigações, na qual todos os personagens têm atividades duplas (triplas, até, com a montagem de Sandra Adair criando um engenhoso quebra cabeça); E há uma droga chamada substância D, que causa uma disfunção entre os dois hemisférios cerebrais levando-os a agir conflitantemente, duplicando personalidades. E o que dizer da escolha de uma palheta de cores claras e vivas para contar uma história em que os indivíduos são sobrepujados por sua sombra ? A todo momento o duplo ou o dicotômico é abordado em seu script. Nos diálogos, razão e delírio se misturam caoticamente. Como espectador, senti a mesma falta de um rumo que habitava a casa em que viviam os personagens. Suas personalidades são bem delineadas pelo roteiro e atuações impecáveis, fazendo com que percebamos sintonias muito distintas, além do mais apresentam diferentes graus de adesão ao vício. O resultado disso é a incongruência: os personagens não conseguem diferenciar o que é realidade ou absurdos no que falam e no que ouvem. Não demora muito e o cineasta faz com também o seu espectador comece a duvidar de sua própria capacidade de compreensão. Senti toda a riqueza dessa experiência quando me deixei levar pela confusão, compreendê-la só era possível utilizando o fio de Ariadne. A cada esquina da narrativa há um beco sem saída e não há lógica nas escolhas que garantirão inteligibilidade. Ao deixar a história fluir diante dos olhos, me restou a certeza de que, para Linklater, no ponto em que o sujeito se fragmenta só a sombra permanece, e o corpo não é mais do que uma soma de funções biológicas. No projeto há, além de Linklater, outros nomes brilhantes: Winona Ryder, Keanu Reeves, Robert Downey Jr., e Woody Harrelson. Alguma coisa em comum entre eles? É o tipo do trabalho que sabemos ser feito com envolvimento pessoal, algo de cunho autoral. Os atores receberam o cachê mínimo e o estúdio responsável foi a Warner Independent, que parece ser um ótimo espaço de produções de qualidade que ficam sem lugar no grande mercado. K. Dick dedicou à sua obra citando nominalmente os amigos que perdeu ou tiveram sua personalidade destruída pela dependência. E apresentar essa dedicatória ao final soou como se os envolvidos se dessem ao direito de somar-se a essa lista. E, de fato, ganharam esse direito." (Anderson Botelho)

Warner Independent Pictures (WIP) Thousand Words Section Eight Detour Filmproduction 3 Arts Entertainment

Diretor: Richard Linklater

86.075 users / 7.104 face


Soundtrack Rock

Radiohead
Check-Ins 675 33 Metacritic 2.402 Up 157

Date 01/09/2014 Poster - ########

83. The Pawnbroker (1964)

Approved | 116 min | Drama

69 Metascore

A Jewish pawnbroker, victim of Nazi persecution, loses all faith in his fellow man until he realizes too late the tragedy of his actions.

Director: Sidney Lumet | Stars: Rod Steiger, Geraldine Fitzgerald, Brock Peters, Jaime Sánchez

Votes: 10,715

[Mov 08 IMDB 7,7/10 {Video/@@@@}

O HOMEM DO PERGO

(The Pawnbroker, 1964)


"Os rápidos flash-backs mostrando a trágica passagem do protagonista pelos campos de concentração nazistas, confirmam o quanto Alain Resnais influenciou a geração dos cineastas norte-americanos nos anos 1960, Sidney Lumet entre eles." (Regis Trigo)

"Um denso e impactante estudo de personagem, analisando psicologicamente as feridas causadas pelo passado enquanto aborda uma série de outras questões, fazendo da loja um microcosmo da sociedade da época. Steiger está perfeito. Grande filme de Lumet." (Silvio Pilau)

"Faz tanto tempo que "O Homem do Prego) saiu de circulação que parece até que o filme só existiu na imaginação. Se voltou a circular foi bem discretamente. Certas coisas ali são inesquecíveis, como a imagem de Rod Steiger, o velho judeu sobrevivente de campo de concentração, no pequeno escritório sórdido em que pratica agiotagem e cultiva uma incrível insensibilidade pelo mundo. Como quase ninguém sabe hoje em dia quem é Rod Steiger, vale a pena vê-lo - seriao Sergio Hingst americano se não tivesse os tiques do Actors Studio, dizia Ruben biáfora. Neste filme Sidney Lumet trabalha magnificamente a atmosfera com aajuda do fotógrafo Boris Kaufkman, irmão de Dziga Vertov, que chega aqui a um P&B prodigioso." (* Inácio Araujo *)

''Sol Nazerman, sobrevivente do Holocausto, vive como operador de uma casa de penhores em Nova York. Ele perdeu sua família em um campo de concentração, não tem fé no ser humano, tornando-se amargo e insensível. Um clássico moderno da MGM, que merecidamente deu indicação ao Oscar para Rod Steiger (1925-02). Este estranhamente perdeu para Lee Marvin por Cat Ballou, mas levaria o prêmio mais tarde por No Calor da Noite. Ele era um ator saído do Actor's Studio, que tinha um estilo cheio de tiques e maneirismos, mas que mesmo assim conseguia ser tocante. No filme, ele compõe um tipo muito marcante, um velho judeu que trata mal seus clientes também porque é perturbado pelas lembranças do passado, principalmente da família. A excelência do trabalho é do diretor Sidney Lumet, ainda vivo, que cometeu duas ousadias que deram certo: 1º - este foi o primeiro filme norte-americano a mostrar uma mulher com os seios nus, no caso a negra Thelma Oliver, e mesmo assim foi liberado pela censura; 2º - a montagem do subestimado Ralph Rosenblum utiliza flashes muito rápidos para a entrada das lembranças do passado, o que era inédito na época. Também a fotografia estourada e até granulada do russo Boris Kaufman (irmão de Dziga Vertov) era revolucionária. Tudo isso impressiona até hoje e deu ao filme o prêmio da crítica e o Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Berlim, o BAFTA e ainda o prêmio de Melhor Roteiro Original do Sindicato dos Roteiristas. A trilha musical é de Quincy Jones." (Rubens Ewald Filho)

"O Homem do Prego" (The Pawnbroker), disparado o melhor ensaio de Sidney Lumet como emprego de uma linguagem cinematográfica lúcida e excitada, também se destaca da produção corrente por ignorar pressões e compromissos normalmente acatados, sobretudo se os problemas em foco dizem respeito a grupos minoritários. O filme é angustiante, terrível. Nas palavras de Lumet, a linha básica é a de que, não importando quanto possa a vida ser brutal, devemos enfrentá-la. Precisamente essa é a idéia repelida pelo protagonista até os lances finais de sua imóvel, anestesiada odisséia. E só então, no ponto onde a alegoria já se superpôs ao realismo asfixiante da história, o triste herói é despertado de sua letargia emocional por outro sacrifício cruel – e começa a andar. Se ainda não tem destino – ou se este será o do judeu errante, uma penosa trajetória -, já fez a descoberta essencial, a de que um homem, por coincidência de nome Jesus, morreu para salvá-lo. É com desespero e horror a si próprio que ele percebe como a rejeição da vida e da humanidade o havia conduzido ao vácuo. Esse herói, ou anti-herói – interpretado por um irrepreensível e por isso surpreendente Rod Steiger -, chama-se Sol Nazerman, é um judeu-alemão, dono de uma casa de penhores numa das zonas mais degradadas de Nova York, o Spanish Harlem. Assiste impassível, invulnerável à emoção mais leve, ao desfile miserável e sem fim expresso dos mais diversos, alguns dramaticamente prosaicos, objetos levados ao prego. Um dólar, dois dólares. É raro oferecer mais, porque raros os que ainda têm um anel ou um relógio para empenhar. Ao escolher essa profissão, Nazerman foi movido pela deliberação de viver entre o que considera a forma mais baixa de vida, desprezando tudo em volta. Acentua ainda Lumet, mostrando-se satisfeito por haver rompido com a idéia convencional do herói, que o homem é um completo bastardo, as pessoas em torno são totalmente desagradáveis, não há qualquer sentimentalismo acerca de judeus ou negros; os negros são apresentados como são, não importa que sejam vigaristas ou prostitutas, assim a câmera os mostra. Judeus, negros, porto-riquenhos, todos se confundem, uns contra os outros, se está em jogo algum mesquinho ou criminoso interesse. A vida, nesse segmento da civilização moderna, reverte-se de todas as características mais abjetas. Não foi sempre assim a vida de Sol Nazerman. No prólogo: o campo, a mulher bonita e saudável, os dois filhos brincando no colo do pai ou à vista da tranqüila velhice dos avós. As imagens são claras, porque são de dias felizes – de uma claridade que não mais voltará. Também são apresentadas em câmera semilenta, como se a felicidade as fizesse flutuar, quase um balé. De repente, um estrondo, talvez um trovão, ou uma ameaça motorizada. Num corte, a ação já se transferiu para Nova York, Sol Nazerman é um homem envelhecido, prostrado, só. A cunhada, a seu lado na varanda suburbana, tenta obter um aumento de mesada – recusado. Quando ela se refere à irmã, volta à memória de Sol a imagem da mulher, num flash muito rápido, como se ele logo a repelisse. As imagens do prólogo voltarão outras, muitas vezes, sempre assim, porque Sol não quer recordar o que perdeu, não deseja que nenhuma lembrança de vida ilumine a sua trajetória opaca de morto-vivo, de zumbi por autodeterminação, sadomasoquismo ou uma inércia moral que o impede de cometer suicídio, no plano físico – exatamente o suicídio que lhe evitaria a condição absurda de estar mais morto do que a família exterminada em Auschwitz tempos atrás. Além das imagens do prólogo, também outras voltarão, como um filme sinistramente exumado quando algum fator atual diminui a resistência de Sol. Uma delas mostra sua mulher, nua como tantas outras, esperando o oficial da SS ao qual foi destinada. A recordação é provocada pela nudez da negra que precisa de quarenta dólares (e vale só vinte seu anel) – e nessa ocasião também é que Sol vem a saber da origem do dinheiro que ele recebe de Rodriguez (Brock Peters), o racketeer negro, o pequeno führer do bairro. Os dólares que ele obtém em troca de recibos de sua loja provêm da exploração de mulheres. No livro, a narrativa atravessa a Páscoa e a intenção é desenhar a história moderna de uma ressurreição. Foi esse aspecto, admite Sidney Lumet, o único deliberadamente modificado no script de Morton S. Fine e David Friedkin, diretores em dupla de alguns filmes, um dos quais Hot summer night [Noite candente], modesto mas não desinteressante. Receava Lumet que a alegoria, se conduzida até a final conseqüência, pudesse adquirir na tela uma pretensão que não tem no romance. A fidelidade excessiva pode resultar em involuntária traição – assim deve ter pensado o diretor, movido pelo respeito que lhe inspira Edward Lewis Wallant, morto em 1962 com apenas 36 anos. Um brilhante talento – e acrescenta Lumet: Alguma coisa de muito grande estava para ser concebida por ele. A publicação de The pawnbroker justificava, sem dúvida, as maiores esperanças. O filme retém as virtudes essenciais do livro, às quais soma outras. Acima de tudo, a revelação definitiva de seu realizador, que voltara a fazer-se notar notar em Fail-safe [Limite de segurança], a despeito do rumo inadmissível tomado pela história atômica (a consentida destruição de Nova York), a despeito também da semelhança temática com Dr. Strangelove [Dr. Fantástico], obra em que explodiu na tela, com o mundo, o gênio satírico-apocalíptico de Kubrick. O atraso do lançamento de The pawnbroker permitiu a verificação de que já está mais bem orientada a carreira de Lumet: The Hill [A colina dos homens perdidos] apresentou-se em bom nível, acima de Fail-safe e, se muito abaixo do de The pawnbroker, é porque são raros os filmes como este na obra de qualquer diretor. A narrativa, menos as imagens que se voltam à lembrança do protagonista que imediatamente as reprime, permanece no Spanish Harlem, a maior parte do tempo na loja de penhores – e é então, e sem que o ritmo dramático sofra a menor e indesejável interferência, um documento impressionante. Sol Nazerman veio de muito longe, quase de outros tempos. O nazismo, que lhe destruiu a família, já é só um capítulo na história, provocando agora menos horror do que espanto. Sol perdeu tudo, nada mais o comove ou interessa: o amor, para ele, está reduzido às proporções de um ato sexual executado compulsivamente. À mulher de um amigo, morto no campo de concentração, não concede sequer a condição de amante: paga-lhe a comida e o quarto sombrio, deita-se com ela no sofá a poucos metros da cortina que protege o canto onde ainda respira outro sobrevivente de Auschwitz (Baruch Lumet, o intérprete, é o pai do diretor), indiferente à vergonha que o velho sente ante o comportamento da nora, uma adúltera ou uma prostituta. Essas cenas são montadas em paralelismo, ou contraste?, com as que mostram o jovem Ortiz (Jaime Sánchez), empregado de Sol, e sua amante negra (Thelma Oliver) juntos na cama. Para estes um prazer, o ato sexual é para Sol um suplício ofegante e para Tessie (Marketa Kimbrell), uma humilhante submissão. Menos do que um zumbi, Sol Nazerman é quase um monstro. Mas não o único: só o mais insensível a todas as coisas. Parece nem ver a miséria que escorre em torno, da qual é cúmplice, tendo se ajustado deliberadamente àquele mundo onde continuam em vigor processos não muito diversos dos que caracterizaram o nazismo. Sol é judeu, o “dono da rua” é um preto (Brock Peters) e, entre os outros promotores ou vítimas da miséria moral e de qualquer grau de violência, estão os que, como Ortiz, são porto-riquenhos. Vivem todos misturados – uns na posição de carrascos ou carcereiros, outros incapazes de qualquer reação nesse submundo que é, sem ter o nome, um campo de concentração. O nazismo, tal como o conduzia Hitler, acabou; mas os mesmos métodos, que Hitler não inventou, não foram extintos pelas diversas ideologias vigentes (desde que o fenômeno geral descrito em The pawnbroker não é específico de determinado país ou civilização), nem sua extinção é problema que preocupe os donos da era tecnológica ou seus subdesenvolvidos imitadores. Um grande filme também na técnica narrativa, The pawnbroker desperta a atenção da crítica pela utilização do chamado two frames cut. Desrespeitando a idéia de que o olho humano não podia reter uma imagem com menos de três fotogramas, Sidney Lumet usou dois e até um fotograma, dando a esses flashes de memória uma claridade adequada e imprescindível. E, vitorioso, observou: Sempre me divertem os críticos de vanguarda que costumam sentar-se e afirmar: Bem, esse two frames cut provém de L’année dernière à Marienbad [O ano passado em Marienbad] e esse outro de… É uma tolice. Só existe uma premissa geral: quase todas as coisas que qualquer um de nós realizou pode ser encontrada num filme de John Ford. (Antonio Muniz Vianna)

38*1966 Oscar / 1964 Urso de Ouro

Landau Company

Diretor: Sidney Lumet

4.979 usera / 486 face

Check-Ins 274

Date 09/08/2013 Poster - ####

84. The Ninth Day (2004)

Not Rated | 98 min | Drama, Thriller, War

67 Metascore

A drama loosely based on Jean Bernard's Nazi-era prison diary.

Director: Volker Schlöndorff | Stars: Ulrich Matthes, August Diehl, Hilmar Thate, Bibiana Beglau

Votes: 1,948 | Gross: $0.07M

[Mov 04 IMDB 6,9/10 {Video/@@} M/67

9* DIA

(Der neunte Tag, 2004)


''Durante o Regime Nazista um padre é preso e enviado para um campo de concentração. Para sair de lá com vida ele recebe uma condição: negociar com a Igreja Católica uma aliança com Hitler. Em nove dias a sua consciência e sua paz são atormentadas por causa do objetivo nazista e pela lembrança do inferno onde ficou preso. Em nove dias ele decidirá: se permanece vivo, se foge para outro país e principalmente, o futuro de sua nação." (Filmow)

Provobis Film Videopress S.A. Bayerischer Rundfunk (BR) BeltFilm ARTE

Diretor: Volker Schlöndorff

1.347 users / 113 face

Check-Ins 303

Date 05/09/2013 Poster - ###

85. Staircase (1969)

R | 96 min | Comedy, Drama, Romance

Charles Dyer (Sir Rex Harrison) and Harry Leeds (Richard Burton) are a couple that have been living together for nearly twenty years. Both earn a living as hairdressers in the West End of ... See full summary »

Director: Stanley Donen | Stars: Rex Harrison, Richard Burton, Cathleen Nesbitt, Beatrix Lehmann

Votes: 962

[Mov 05 IMDB 5,5/10] {Video}

OS DELICADOS

(Staircase, 1969)


TAG STANLEY DONEN

{interessante}


Sinopse

''Um casal de homossexuais convive há vinte anos numa espécie de união estável. Eles sustentam-se com um salão de cabeleireiros de propriedade de um deles. Quando são envolvidos num atentado à moral, a situação degenera-se em drama. O filme começa quando um deles está preparando-se para depor num caso de assédio sexual e o outro tem que cuidar da mãe doente. Baseado numa peça teatral de Charles Dyer, consegue emocionar ao propor a questão do casamento gay, com muita amargura e frieza mas com fartas doses de afeto. ''
Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Stanley Donen

504 users / 73 face

Check-Ins 684 Date 08/09/2014 Poster -

86. Brigham Young (1940)

Approved | 114 min | Adventure, Biography, Drama

In 1844, after the assassination of Mormon leader Joseph Smith by an angry mob in Illinois, the Mormons choose Brigham Young as their new leader and follow him to a new promised land in Utah.

Director: Henry Hathaway | Stars: Tyrone Power, Linda Darnell, Dean Jagger, Brian Donlevy

Votes: 1,140

[Mov 04 IMDB 6,4/10] {Video}

O FILHO DOS DEUSES

(Brigham Young, 1940)


TAG HENRY HATHAWAY

{esquecível}


Sinopse

''Depois do brutal assassinato do líder mórmon Joseph Smith (Vincent Price), Brigham (Dean Jagger) assume a liderança de seu povo rumo à Utah, a terra prometida, onde estariam livres da perseguição religiosa. Mas os perigos da longa viagem são maiores que a relação entre o homem e o Oeste bravio. O filme retrata ainda a paixão de Jonathan Kent (Tyrone Power) por uma garota que não é mórmon (Linda Darnell). Grande saga de fé contra a opressão que conta a história dos pioneiros mórmons de Salt Lake City.''
Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Henry Hathaway

693 users / 113 face

Check-Ins 696

Date 16/04/2014 Poster - ####

87. Breakheart Pass (1975)

PG | 95 min | Drama, Mystery, Western

John Deakin is being transported, as a prisoner, on a train with supplies and medicine to Fort Humboldt, Nevada.

Director: Tom Gries | Stars: Charles Bronson, Ben Johnson, Richard Crenna, Jill Ireland

Votes: 8,812

[Mov 06 IMDB 6,7/10] {Video/@@@}

O TREM DO INFERNO

(Breakheart Pass, 1975)


TAG TOM GRIES

{esquecível}


Sinopse

''No alto da era das fronteiras, uma locomotiva corre pelas montanhas rochosas em uma missão secreta, se dirigindo a um remoto posto do exército. Mas, um por um, os passageiros estão sendo assassinados. A sua única esperança é John Deakin (Bronson), um misterioso prisioneiro que tem que lutar por sua vida - e as vidas de todos no trem - a medida que descobre um segredo mortal que culmina em uma torrente de revelações chocantes, explosivas lutas, e incríveis duelos com armas.''
Jerry Gershwin Productions Elliott Kastner Productions

Diretor: Tom Gries

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Date 12/09/2014 Poster - ####

88. From Noon Till Three (1976)

PG | 99 min | Drama, Romance, Western

After spending 3 unforgettable hours with an outlaw, a beautiful young widow turns her story into a worldwide famous book.

Director: Frank D. Gilroy | Stars: Charles Bronson, Jill Ireland, Douglas Fowley, Stan Haze

Votes: 3,191

[Mov 07 IMDB 6,8/10] {Video/@@@@}

O GRANDE ASSALTO

(From Noon Till Three, 1976)


TAG FRANK D GILROY

{divertido}


Sinopse

"Graham Dorsey pertence a uma gangue de assaltantes de banco, a caminho do roubo que tanto planejaram. Mas no dia anterior, Dorsey tem um pesadelo e resolve não participar. Após ficar sem cavalo, param na isolada mansão da Srta. Amanda, uma amedrontada viúva, para conseguirem uma montaria. Como não encontram, o grupo parte sem ele. Sozinhos no casarão, entre Graham e Amanda surgirá muito mais que uma simples relação de cárcere."
{Não é a duração da primavera, não é a imensidão do céu, é apenas enquanto é bom o tempo entre o olá e o adeus} (ESKS)

34*1977 Globo

Frankovich Productions William Self Productions

Diretor: Frank D. Gilroy

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Date 19/09/2014 Poster - ########

89. Jealousy (2013)

77 min | Drama

67 Metascore

As a man leaves his wife and daughter, a series of brief conversations, observed gestures, chance encounters and impulsive acts, tell the story of the relationships that flounder and thrive in the wake of this decision.

Director: Philippe Garrel | Stars: Louis Garrel, Anna Mouglalis, Rebecca Convenant, Olga Milshtein

Votes: 1,971 | Gross: $0.06M

[Mov 10 Favorito IMDB 6,4/10] {Video/@@@@@} M/66

O CIÚME

(La Jalousie, 2013)


TAG PHILIPPE GARREL

{inesquecível}


Sinopse

''Um homem vive com uma mulher em um apartamento, onde seus dias decorrem de forma atribulada. Ela já foi uma estrela em ascensão, só que agora todas as ofertas de trabalho secaram. Mas apesar de todos os esforços de Louis por papéis adequados para Claudia, nada funciona. E em meio a suas falhas, ainda precisa lidar com sua filha Charlotte, cuja mãe ele abandonou.''
"A câmera na mão que invade o cotidiano para registrar fragmentos e, tal qual o olhar pela fechadura que abre o filme, nos deixar mais com duras impressões que com certezas. Sobre o que há no entorno do amor, sobre relacionamentos e o que resta deles." (Daniel Dalpizzolo)

"Excepcional conto de Garrel, que não reserva o amor para a vida de seus personagens, mas os oferece escolhas e momentos de significados incertos." (Guilherme Bakunin)

"Garrel constroi a elegia dos relacionamentos com notável concisão, ainda que tente usar a violência com casualidade, seja verbal e física, de uma forma que esvazia a gravidade das situações." (Gabriel Papaléo)

{O homem sábio vive o quanto pode. Não o quanto deveria. E o que a vida tem de melhor, é que ela não obriga ninguém a suporta-la} (ESKS)

{Como nada dura só um instante, suponha que não, que não existimos} (ESKS)

''As relações humanas são complicadas. Não é novidade, nem Philippe Garrel pretende passar essa situação como tal. Prefere antes desarmar-nos com o quotidiano de Louis e Claudia. Louis é um actor de teatro na casa dos trinta anos de idade cujo salário está longe de satisfazer as suas necessidades, enquanto Claudia tarda em conseguir recuperar o êxito como actriz. Garrel exibe-nos momentos da intimidade destes dois no apartamento barato que dividem, onde ambos mostram alguma cumplicidade e reverência para com a sua arte. As imagens deleitam-nos (magnífica cinematografia de Willy Kurant, um director de fotografia que já trabalhou com Godard em Masculin féminin), filmadas a preto e branco, belíssimas e prontas a incrementar toda a nostalgia que rodeia o enredo, mas também os sentimentos díspares que vão sendo expostos ao longo do filme. Louis conseguiu um trabalho numa peça, onde acaba por brevemente trair Claudia com uma colega de trabalho. Este espera que a amada consiga regressar ao estrelato, embora essa pareça ser uma tarefa deveras complicada. Entretanto, Claudia conhece Henri, um indivíduo que lhe propõe trabalho como arquivista, acabando por se interessar por este, algo que coloca em causa a relação com Louis. Este tem uma filha de Clothilde, procurando cuidar da jovem Charlotte e partilhando com esta alguns saudáveis momentos entre pai e filha. O abandono de Claudia parece estar prestes a destruir Louis, o próprio sabe disso quando pega numa arma. Philippe Garrel filma a arma na mesa e a mão de Louis a pegar na mesma, focando esta parte do corpo num plano a fazer recordar a atenção dada por Robert Bresson às partes corporais específicas dos seus personagens e ao simbolismo dos seus gestos. Louis não é um assaltante de carteiras como Michel em Pickpocket, mas quem é tomado de assalto é o seu orgulho e a sua aparente cara-metade, enquanto a sua alma se inquieta perante a possível perda. Este é interpretado por Louis Garrel, filho de Philippe e colaborador habitual do mesmo, um actor capaz de exibir no seu rosto o desassossego de sentimentos pelo qual vive o seu personagem depois de ser abandonado. Ama a filha, parece amar Claudia embora esta não esteja disposta a manter a relação. Não é novidade que Philipe Garrel integre elementos da sua vida pessoal nas suas obras cinematográficas, pelo que não é de surpreender que La Jalousie tenha sido baseado num caso extra-conjugal do seu pai, com a jovem Charlotte a funcionar como um duplo do realizador durante a sua infância. Diga-se que a ligação familiar de Garrel e La Jalousie encontra-se ainda na presença de Esther, interpretada por Esther Garrel, filha do cineasta e irmã de Louis no filme e na vida real. Esther e Louis perderam o pai relativamente cedo, apresentando alguma cumplicidade entre si, com este último a ter num antigo professor uma figura quase paternal. O antigo professor de Louis faz questão de salientar que o protagonista percebe mais da ficção do que da realidade, um comentário que traduz bem este protagonista. Sente ciúme por Claudia estar envolvida com outra pessoa, embora anteriormente até tivesse abandonado a sua companheira e cometido um acto semelhante, exibido logo no início do filme, onde a jovem Charlotte espia o pai a abandonar a mãe, perante a tristeza desta última. Perdoem mais uma vez a comparação com Robert Bresson (com as devidas diferenças, visto que Bresson é um cineasta de um nível ao alcance de poucos), que Garrel assumiu ser uma das suas referências, mas o momento em que Louis e Clothilde se separam e a jovem Charlotte espia por uma fresta do seu quarto faz recordar momentos semelhantes em que os guardas espreitam Jeanne d'Arc em Procès de Jeanne d'Arc e a protagonista de Au Hasard Balthazar espia através de um espaço diminuto, onde ficamos perante algum voyeurismo. De Robert Bresson, Philippe Garrel também parece tirar o exímio jogo entre as imagens e o som, em particular a banda sonora, capaz de incrementar a nostalgia inerente a alguns episódios que rodeiam a narrativa. Veja-se quando Louis vai atrás de Claudia durante a noite, com ambos já a mostrarem alguns problemas, enquanto a música contribui para transformar este momento em algo de sublime, mas também a cena em que a personagem interpretada por Anna Mouglalis corre desenfreadamente para casa para tentar descobrir o que o protagonista se encontra a fazer (num ataque de ciúmes latente). Louis continua a amar Claudia, mas esta nem por isso parece disponível em manter a relação. Diga-se que Louis também a trai com a co-protagonista da peça que protagoniza, para além de segurar a mão da mãe de uma amiga da filha durante uma sessão no cinema, algo revelador de algum interesse e que expõe a complexidade destes relacionamentos que têm como pano de fundo a cidade de Paris. Ficamos perante relações humanas complexas, onde Garrel mostra que, ao contrário do seu protagonista, sabe lidar com o mundo real, ou pelo menos consegue transpor para o grande ecrã as complicações típicas que acompanham o quotidiano dos seres humanos. Aparentemente, o enredo de "Ciúme" parece simples, mas Garrel eleva a obra com a sua realização magnífica, pronta a problematizar as temáticas e a seguir por caminhos nem sempre esperados, marcada por diálogos com alguma profundidade e qualidade, que até acabam por ajustar-se que nem uma luva ao título filho da Nouvelle Vague que acompanha o press kit do filme. "Ciúme" beneficia ainda de um magnífico trabalho de câmara, onde o cameraman Jean-Paul Meurisse dá uma lição de como utilizar a câmara na mão, seguindo os personagens atentamente, acompanhando os seus movimentos, os elementos para onde olham, transformando-nos em cúmplices de Louis, Claudia e todos os elementos que rodeiam a obra. Através de Louis e Claudia, Garrel explora as complicadas relações entre homens e mulheres, incluindo todo o turbilhão de sentimentos que uma relação pode ter. Não falta algum amor, cumplicidade, ciúme, dor, traição, ressentimento, segredos por revelar e verdades incómodas a serem ditas, embora no caso de Louis a sua relação esteja destinada a um final pouco aprazível. Claudia é uma mulher algo independente, incapaz de não mostrar algum ciúme em relação à actriz que vai interpretar a irmã de Louis num trabalho. Esta mantém uma relação de enorme admiração, respeito e fraternidade com um escritor de idade avançada, de quem admira os seus trabalhos, com Garrel a deixar-nos perante alguns momentos de leitura a fazer recordar os personagens leitores de Godard. O escritor surge como uma figura quase paternal para Claudia, tal como o professor para Louis, com estas duas figuras adultas a continuarem a ter os seus confidentes e conselheiros, um pouco como a jovem Charlotte tem no personagem interpretado por Louis Garrel e Clothilde. Charlotte permite a La jalousie abordar a temática dos filhos de pais separados, enquanto ficamos em alguns momentos perante esta jovem cheia de vivacidade que gosta da presença do pai e vive com a mãe. Partilha uma saída com Claudia e Louis, mas também com este último e a irmã do mesmo, para além de alguns momentos de ternura com o pai e a mãe, com o filme a não descurar a presença desta jovem personagem, interpretada por uma surpreendente Olga Milshtein. Vale ainda a pena realçar o desempenho de Anna Mouglalis, capaz de atribuir maior dimensão e fazer-nos acreditar em relação aos sentimentos de Claudia, uma personagem feminina relativamente forte, exposta de forma nem sempre positiva, embora esteja longe de ser condenada pelo realizador. Temos ainda Clothilde, a antiga mulher de Louis, também ela a lidar com a dor do abandono e o ciúme de ver o protagonista com outra mulher, algo adensado pelas histórias contadas pela filha sobre o passeio entre ambos. Os laços mais fortes e duradouros parecem ser entre Louis e Charlotte, mas também entre o primeiro e a irmã, enquanto as relações amorosas do protagonista gradualmente se vão desfazendo com o desenrolar do tempo. La Jalousie coloca-nos perante estes relacionamentos que nascem e terminam, através de pequenos grandes episódios das vidas destes personagens, enquanto Philippe Garrel observa as suas almas (o chamado voyeurismo da alma). Os personagens lutam pelo amor ou por alcançá-lo, embora essa tarefa seja aparentemente impossível, enquanto a câmara segue os mesmos e estes vão sendo expostos junto de nós, revelando traços das suas personalidades e inquietações. O título do filme remete para um sentimento comum a quase todos os seres humanos, que causa lastro pelos personagens e ameaça muitas das vezes as suas relações. Não é só deste sentimento que vive La Jalousie, mas também de amor, ressentimento, dor, amizade, com Philippe Garrel a ser capaz de nos deixar perante um filme belíssimo, onde somos confrontados com as complexidades das relações humanas através desta obra de arte marcada por grande humanismo, onde as palavras podem expor sentimentos mas nem por isso revelam-nos por completo.'' (Aníbal Santiago)

“O Ciúme”, novo filme do diretor francês Philippe Garrel, não poderia ser um programa mais familiar, embora o que vemos na tela seja justamente o desmantelamento dessa instituição social. Se, por um lado, o filme mostra as tentativas e falhas em se manter um relacionamento (amoroso ou em família), os seus bastidores mostram os acertos: o diretor coloca em cena seus próprios filhos, os atores Louis e Esther Garrel, para contar uma história inspirada em seu pai, o ator Maurice Garrel, com sua segunda esposa, Caroline Deruas-Garrel, como co-autora do roteiro. O filme conta a história de Louis, um jovem ator que abandona a esposa, Clothilde (Rebecca Convenant), e a filha, Charlotte (Olga Milshtein). Ele passa a viver com Claudia (Anna Mouglalis) uma relação amorosa, porém instável, marcada pela insatisfação da moça com o ostracismo no campo profissional. A aproximação de Louis com a filha e as complicações financeiras do casal vão tornando a vida do casal cada vez mais difícil. Não raro, o foco de “O Ciúme” recai no que fica nas entrelinhas, uma vez que a relação entre os personagens é marcada pelas falhas de comunicação que fazem com que um não entenda o outro. Coincidentemente, Claudia surge como a personagem mais ativa, procurando trabalho, chorando, sendo também quem expressa mais claramente suas insatisfações a Louis. Este, por outro lado, vai levando a vida com mais tranqüilidade, embora também viva dilemas, tal como ceder ou não às tentações amorosas que surgem pelo caminho e como lidar melhor com a filha. A câmera de Philippe Garrel se aproxima com naturalidade de seus personagens, deixando um espaço de respiro apenas para esses não-ditos e trabalhando com sutileza o ciúme que dá título ao filme: Louis não gosta nada do admirador que dá à Cláudia um novo apartamento para o casal, Cláudia teme que Louis a abandone, Clothilde não procurou outro parceiro após a separação com Louis, e mesmo a pequena Charlotte fala sempre menos que o necessário para mostrar ao pai como o ama. O equilíbrio entre silêncio e proximidade é o que faz com que o filme não resulte numa obra fria, com a qual o espectador não conseguiria se identificar. A partir desses pequenos ciúmes e pequenos detalhes que o destino dos personagens se delineia de forma que o público pode sentir empatia, embora nada esteja dado de bandeja ao espectador, resultado de um roteiro que, por ser simples, é mais inteligente do que parece à primeira vista. Aliado a isso, “O Ciúme” é um filme visualmente belo. Filmado em preto-e-branco, cortesia do diretor de fotografia Willy Kurant (de Masculino, Feminino), o contraste e, em especial, a dominância do branco marcam também no plano visual a simplicidade já citada no roteiro. Os planos são tradicionais, trabalhados com poucos movimentos de câmera, fazendo o espectador se focar totalmente na trama, e não em algum aspecto particular da utilização da linguagem cinematográfica. Novamente, é uma decisão esperta, além de uma característica da filmografia de Garrel, um diretor que nunca teve um grande orçamento para seus filmes e que sempre teve que buscar soluções inteligentes para a imersão do público em suas tramas. Para um filme que traz em seu cerne questões tão delicadas, Garrel mostra um domínio impressionante de como conduzir a trama sem dar a sua obra um gosto amargo. Se levarmos em consideração também que ele dedica o filme ao pai, “O Ciúme” mostra-se como uma terapia bem menos traumática que se esperaria." (Susy Freitas)

''O cinema de exceção praticado pelo diretor francês Philippe Garrel não raro costuma exasperar o público em busca de ação trepidante ou temas edificantes. Em "O Ciúme", ele persegue o idealismo de uma obra rigorosa, que há cinco décadas sonda os mistérios das relações amorosas sem se confundir com as facilidades do sentimentalismo. Apesar de fascinado pelos meandros do amor, Garrel recusa-se a objetivá-lo numa trama tradicional ou a usá-lo para chantagear emocionalmente o espectador. Em vez de uma história convencional, ele prefere filmar fragmentos. "O Ciúme" abre com um plano em que uma mulher chora e se encerra com o olhar melancólico de Louis Garrel, filho do diretor e seu ator-fetiche há uma década. Entre as duas imagens, vemos situações de um casal desfeito e momentos entre amantes que se juntam, mas cuja união logo se revela instável demais para durar. Além dos pares, Garrel filma os afetos que circulam e expõem cada um às oscilações emocionais dos outros. Uma criança alterna a companhia dos pais separados, um senhor idoso recebe os cuidados de uma jovem, colegas de trabalho trocam experiências e uma garota ganha a atenção de seu irmão mais velho. No lugar da linearidade, "O Ciúme" segue as intermitências dos personagens e se detêm nas dubiedades. Mostra, com exigência realista, que os sentimentos não são regidos pela lógica ou obedecem a progressão dramática tradicional. Se tais escolhas podem irritar o espectador em busca apenas de passatempo romântico, elas libertam o filme da necessidade de demonstrar uma lição. Ao final, em vez de um quadro com figuras e ações definidas, ficamos diante de um desenho abstrato no qual o despojamento é a condição para se alcançar o essencial." (Cassio Starling Carlos)

2013 Lion Veneza

SBS Productions Centre National de la Cinématographie (CNC) Région Ile-de-France Procirep Soficinéma 9 Indéfilms Wild Bunch

Diretor: Philippe Garrel

987 users / 194 face

Check-Ins 698 17 Metacritic

Date 19/09/2014 Poster - ##########

90. The Trial of the Incredible Hulk (1989 TV Movie)

Not Rated | 100 min | Action, Adventure, Drama

When Banner is held as a witness to a violent crime linked to the Kingpin, the fugitive is helped by lawyer Matt Murdock who is also the superhero, Daredevil.

Director: Bill Bixby | Stars: Bill Bixby, Lou Ferrigno, Marta DuBois, Nancy Everhard

Votes: 3,033

[Mov 08 IMDB 5,3/10] {Video}

O JULGAMENTO DO INCRIVEL HULK

(The Trial of the Incredible Hulk, 1989)


TAG BILL BIXBY

{nostálgico}


Sinopse

''Ao tentar impedir um assalto no metrô, David Banner é preso e indiciado por assalto e defendido pelo advogado cego Matt Murdock. Mas quando o Hulk enlouquece e escapa da cadeia, Murdock revela seu próprio segredo a Banner. Estes dois homens com poderes fora do comum poderão unir esforços para derrotar um sindicato internacional do crime liderado pelo maligno Rei do Crime.''
Bixby-Brandon Productions New World International

Diretor: Bill Bixby

1.687 users / 274 face

Check-Ins 700 3.597 Up 92

Date 20/09/2014 Poster -#####

91. L'Argent (1983)

Not Rated | 85 min | Crime, Drama

95 Metascore

A counterfeit bill that starts off as a schoolboy prank leads to incarceration and violence.

Director: Robert Bresson | Stars: Christian Patey, Sylvie Van den Elsen, Michel Briguet, Vincent Risterucci

Votes: 11,845

[Mov 09 IMDB 7,5/10 {Video/@@@@@}

O DINHEIRO

(L' Argent, 1983)


TAG ROBERT BRESSON

{inteligente}


Sinopse

''Uma nota falsa de 500 francos é fabricada, e cai nas mãos de um jovem cuja mesada foi cortada. Como num efeito caótico, a nota vai passando de mão em mão, e sua importância vai aumentando, até que explode nas mãos de um empregado de uma petrolífera, que é detido e perde o emprego. Mas a espiral não pára, e esse acontecimento vai crescendo, lenvando-o ao endividamento, vida do crime e assassinato.''
''A medida que envelhecia Bresson se tornava o mais jovem e materialista dos cineastas, depurando a sua arte que por fim alcança um ponto limítrofe com esse seu derradeiro trabalho." (Vlademir Lazo)

**** "Desdramatização e despojamento, pobreza de estilo arduamente construída, ascetismo e austeridade: não faltam palavras para definir o estilo inimitável de Robert Bresson. Nenhuma delas, porém, consegue dar conta de sua aventura pessoal, que talvez tenha consistido em procurar a verdade dos sentidos por meio dos sentidos e descrever um mundo habitado por seres a quem Deus abandonou a própria sorte. Bresson foi, ao mesmo tempo, o cineasta do sublime e da fragilidade do homem.'' (* Inácio Araujo *)

''Uma produção franco-suíça de 1983, do mestre Robert Bresson, considerado um dos maiores cineastas franceses do século XX. O mediador convidado da noite é Lucian Chaussard, formado em Cinema pela UFSC, com experiência em projetos como o cineclube Rogério Sganzerla e a revista eletrônica de cinema Punctum. Consagrado com o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 1983, L’Argent aborda a influência do dinheiro na vida das pessoas. Quando o pai de Norbert se recusa a lhe emprestar 500 francos, o rapaz, com a ajuda de um amigo, decide fazer uma nota falsa, pondo em marcha, por pura ganância, e sem medir as consequências dos seus atos, uma sequência de acontecimentos cujo desenlace será trágico. E é assim que Yvon, um homem inocente, vai se ver envolvido numa espiral que o conduzirá a uma queda vertiginosa, esvaziando-lhe a alma e destruindo-lhe os escrúpulos. Implicado ingenuamente em um inquérito, acusado de passar notas falsas, ele é preso, e não tenta sequer se defender. Crime, culpa, ambição e castigo são discutidos brilhantemente por Robert Bresson. Uma obra-prima! Escrito a partir de um conto intitulado A Nota Falsa, de Tolstói, o grande escritor russo do século XIX, O Dinheiro é o último de 13 filmes assinados pelo diretor Robert Bresson. Aos 82 anos, o cineasta realiza esta obra-prima dotada de uma crueza absoluta, na sua denúncia do cinismo de uma sociedade regida pelo dinheiro e conduzida pelos falsos valores. Além do prêmio especial do Júri, em Cannes, ''O Dinheiro'' ganhou ainda o prêmio de melhor direção e foi indicado à Palma de Ouro. Em 1985 ganhou o prêmio da associação dos críticos estadunidenses de melhor diretor.'' (Blog)

1984 César / 1983 Palma de Cannes

Top Suíça #14

Eôs Films France 3 Cinéma Marion's Films

Diretor: Robert Bresson

5.099 users / 304 face

Check-Ins 702

Date 21/09/2014 Poster - ####

92. Pickpocket (1959)

Not Rated | 76 min | Crime, Drama

Michel passes the time by picking pockets, careful to never be caught despite being watched by the police. His friend Jacques may suspect, while both men may have their eyes on Jeanne, the pretty neighbor of Michel's ailing mother.

Director: Robert Bresson | Stars: Martin LaSalle, Marika Green, Jean Pélégri, Dolly Scal

Votes: 25,359

[Mov 08 IMDB 7,9/10] {Video/@@@@@}

O BATEDOR DE CARTEIRAS

(Pickpocket, 1959)


TAG ROBERT BRESSON

{inteligente}


Sinopse

''Michel é um jovem que começa a bater carteiras por prazer e pela emoção do roubo, e isso vira uma compulsão. Ele é preso, percebe o choque que isso causa em sua mãe e em seus amigos e reflete sobre seus atos. Porém, depois de solto, ele se junta a um ladrão veterano e volta ao crime. Sua consciência pesa, bem como a memória de sua mãe. Também a presença de Jeanne, uma jovem por quem se apaixona, lhe faz pensar em deixar o crime, o que acontece de forma irônica.''
"Crime e Castigo aos olhos de Bresson e todo seu rigor na direção. Atores quase inexpressivos, planos fechados, muitos cortes - tudo ali se une para compor um trabalho que pode parecer frio, mas que extrai o que há de mais humano dos personagens. Lindo." (Heitor Romero)

''O francês Robert Bresson é um caso clássico de cineasta essencial, adorado por críticos e colegas de ofício, mas absolutamente ignorado pelo público comum. “O Batedor de Carteiras” (França, 1959) é, junto com o polêmico “Diário de um Padre”, o filme mais conhecido e importante da carreira dele. Trata-se de uma obra desconcertante, que busca inspiração em Dostoievski e Camus para narrar uma história clássica de redenção, filmada de maneira gélida e completamente singular. Em Bresson, a abordagem é tudo. O diretor era um homem profundamente católico, que seguia os ensinamentos de uma corrente religiosa chamada jansenismo. A doutrina prega a disciplina rígida de corpo e espírito para alcançar a iluminação, tendo semelhanças com o budismo. A partir de meados dos anos 1950, com a carreira já consolidada, Bresson se dedicou a transportar essa doutrina para o cinema. A operação revestiu os filmes dele de um rigor formal que poucos autores, antes ou depois, lograram conseguir. Uma vez que se conhece o estilo seco e objetivo de Bresson, é possível reconhecer um filme assinado por ele assistindo-se a apenas alguns minutos de projeção. Algumas das regras de Bresson são semelhantes aos trabalhos do realismo italiano. O diretor francês não usava atores profissionais, e orientava todos os intérpretes a evitar expressões faciais, deixando o rosto sempre neutro, de forma que o espectador tivesse que prestar atenção aos sons e à composição visual para compreender a história. Os movimentos de câmera são raros, mas o diretor não era purista; se os italianos preferiam longas tomadas sem cortes, filmadas à distância, Bresson preferia uma narrativa mais ágil, com muitos planos fechados em partes do corpo e objetos. A soma de tudo isso gerou um estilo único. A habilidade do autor para contar a história fica evidente, mas há uma recusa muito nítida de atribuir significados emocionais – raiva, dor, ciúme, paixão – a ações dos personagens. Por isso, os filmes de Bresson passam à platéia uma sensação de distanciamento. A narrativa é sempre gélida, impessoal, contida ao máximo. Como era exatamente este o efeito pretendido pelo cineasta, é fácil afirmar que Bresson dominava perfeitamente a gramática do cinema. Ele podia não usá-la do mesmo modo que outros diretores – de certa forma, Bresson é o oposto de Samuel Fuller, para quem tudo o que importa no cinema é “emoção” – mas entendia-a perfeitamente. Pickpocket tem a trama livremente baseada no romance Crime e Castigo, de Dostoievski. Bresson era fã do escritor russo, tendo inclusive filmado dois livros dele. No entanto, é também possível perceber influência de Albert Camus – Michel (Martin LaSalle), o protagonista, poderia ser o personagem principal do romance O Estrangeiro. Ele é um rapaz inteligente e culto, que não gosta de trabalhar e bate carteiras para sobreviver. Michel abandonou a mãe enferma, não quer ter mais nenhum contato com ela e mora num apartamento apertado cuja porta não fecha. Ele desenvolveu um sentimento quase patológico de superioridade, que lhe impulsiona a ações cada vez mais ousadas contra outras pessoas. Não se importa com ninguém. Bresson narra os fatos da vida de Michel com frieza cirúrgica: ele se apaixona por uma garota (Marika Green), é perseguido por um detetive desconfiado (Jean Pélégri) e aprende novas técnicas de furto com outros batedores de carteira, sempre com o rosto impassível. É um personagem adequado para Bresson, pois um batedor de carteiras tem que ser um homem disciplinado e metódico. O diretor francês jamais poderia filmar a vida de um vendedor de shopping center. Curto e impactante, o filme ficou famoso pela longa seqüência que flagra Michel e mais dois parceiros batendo carteiras dentro de um trem. Coreografada e editada com precisão milimétrica por Bresson, a cena é uma verdadeira aula de como filmar de modo claro e objetivo, sem usar palavras, ações de difícil compreensão pelo espectador. Se filmada de modo errado, a técnica refinada de Michel poderia parecer forçada e artificial, e deixaria a platéia perdida, sem saber direito o que está vendo. Não é o caso: a seqüência é tão limpa que o espectador compreende de imediato como o protagonista está raciocinando, e o quanto sua técnica é brilhante. É um balé cinematográfico de tirar o fôlego, e tão naturalista que a polícia francesa proibiu o filme durante dois anos, por medo que ladrões de verdade aprendessem a roubar apenas vendo a cena. Mesmo se Pickpocket não fosse maravilhoso, esta seqüência, sozinha, teria potencial suficiente para seduzir qualquer cinéfilo. Além de tudo, o final redentor, mesmo filmado com a habitual frieza de Bresson, é capaz de emocionar até uma pedra." (Rodrigo Carreiro)

Um filme que mostra a genialidade do diretor Bresson, onde a direção se sobressai muito às atuações.

''Michel é um homem amargurado e depressivo que tenta sua sorte nas ruas de Paris, roubando bolsas e carteiras. A estória começa logo com Michel nas corridas de cavalo, se remoendo de dúvidas sobre roubar ou não a mulher à sua frente. Ele sabe que não é um grande ladrão, faz isto por pura necessidade e, se for pego, não há caminho de volta; ele está arriscando sua liberdade em troca do que tiver dentro da bolsa da mulher. Com tantas pessoas à sua volta, ele receia ser visto e, após alguns momentos de exitação, enfia a mão trêmula dentro da bolsa e tira um chumaço de dinheiro. Cria-se um nó na garganta quando a mulher de repente se vira mas, para a tranquilidade de Michel, era apenas a corrida que havia acabado. Filmada de uma forma inteiramente impessoal e controlada, como um teatro de marionetes, toda a tensão da cena não está no que ocorre, mas no que não ocorre, e é assim pelos outros 73 minutos do filme. Uma das características mais marcantes do cinema de Bresson é a total passividade dos atores e da câmera que, à primeira vista, pode espantar os espectadores desacostumados com o estilo. Se na superfície o filme parece emocionalmente morto, são nas pequenas nuances e detalhes que ele revela toda sua força. Encarnando um personagem camuseano de uma complexidade invejável, Michel é um sujeito que, ao mesmo tempo se corrói por uma culpa passada, mas não faz nada para mudar seu estilo de vida. Desempregado e pobre, ele é um fiel seguidor de sua vontade, e considera-se de valor indispensável para a sociedade. Em um dado momento, ele conta ao inspetor de polícia sua filosofia de que alguém que faça tão bem para os outros não mereceria ser condenado por eventuais pequenos crimes que comete, mas, seria Michel uma dessas pessoas? Provavelmente não, e no fundo ele sabe disso, e recusa a ajuda de emprego de seu amigo Jacques por temer provar-se um inútil; a vida do crime é mais fácil. Ele tem como livro de cabeceira o Prince of the Pickpockets, de George Barrington, que conta a história de um lendário batedor de carteiras da Londres vitoriana, mas, mesmo com esse "guia" , ele não é um grande ladrão, e suas ações desajeitadas e muitas vezes frustradas chamam a atenção de um ladrão profissional, que o toma como pupilo e o ensina toda a arte de bater carteiras. Sim, é uma arte, e um dos aspectos fascinantes do filme é mostrar isso; Michel passa o dia inteiro treinando suas recém-adquiridas habilidades, seja jogando pinball para exercitar os reflexos ou aperfeiçoando a mão leve na técnica de de roubar um relógio do pulso de alguém, e se sente muito bem com isso. Finalmente ele é bom no que faz. Mas toda sua atenção para o ofício faz com que se descuide da vida, e outras pessoas passem a suspeitar dele, incluindo Jacques e o inspetor de polícia. A única que nada percebe é Jeanne, vizinha de sua mãe e agora namorada de Jacques. À medida em que o tempo passa, as ações de Michel vão ficando mais ousadas, culminando numa incrivelmente coreografada sequência na estação de trem, onde ele e outros comparsas vão roubando diversos passageiros à medida que andam, sem jamais levantarem suspeitas. Com o inspetor cada vez mais perto, Michel usa sua pequena fortuna para viajar, mas retorna a Paris dois anos depois, falido, onde a vida do crime o esperava. Desta vez, entretando, ele tem a oportunidade de fazer uma boa ação, roubando de um senhor que ele julga ter conseguido o dinheiro ilegalmente. Mas desta vez era uma cilada, e ele é preso. Na prisão, Jeanne (agora mãe solteira) vai visitá-lo, e disso começa a nascer um romance que o faz se arrepender de sua vida passada. É um final talvez abrupto, mas ao meu ver encerra brilhantemente o filme. Não é um simples romance, a última cena mostra que era algo que Michel desejava há tempos, o que nos leva a perceber que, na verdade, há outro filme sendo rodado por trás deste. Não só em muitos casos a ação principal é omitida por fade-outs inesperados, como a própria estória está presente em fragmentos. Michel não é apenas o personagem principal, ele está presente em todas as cenas, e o nosso conhecimento está diretamente ligado ao dele. Vemos o que ele vê, ouvimos o que ele ouve, e por aí vai... mas todo o filme é um relato escrito por ele na cadeia, e nisso, detalhes importantes de sua vida são completamente esquecidos, como, por exemplo, seu amor secreto por Jeanne. Michel sempre foi egocêntrico, e esse novo relacionamento é uma chance de construir uma vida compartilhada com outra pessoa; também é a possibilidade de consertar aquilo que mais o corroía, não os crimes, e sim sua solidão. Ele sempre viveu isolado de todos, mesmo de seu amigo ou de sua mãe, e seu apartamento se transformou ao mesmo tempo em seu refúgio e sua prisão. Mas ao menos lá, ele tinha total controle sobre o espaço, e se sente extremamente orgulhoso quando a polícia investiga seu quarto atrás de provas e não consegue achá-las. Ao contrário do personagem de Crime e Castigo, Michel não se sente bem na prisão, e busca refúgio em seus pensamentos, onde ele transcende as barras e paredes, mas aumenta assim sua isolação do mundo, e é aí que entra Jeanne. Tecnicamente o filme também impressiona, com uma edição ao mesmo tempo ágil mas quase invisível, alternando a imobilidade e o movimento com grande destreza. A fotografia é belíssima e bastante nítida, trabalhando minimamente com variações de luz nos interiores. As atuações estão praticamente omissas, uma vez que Bresson não permite que ninguém atue em seus filmes, e o fato de transporem tamanha simpatia e cumplicidade ao espectador apenas com o olhar e as falas prova não só a genialidade do diretor, mas dos próprios atores (cuja atenção principal é Martin Lasalle como Michel, já que ele é quem tem mais tempo de tela). Mas, se por um lado as expressões e ações são tão contidas, um elemento se desprende do resto e parece assumir vida própria, que são as mãos. Tão presentes quanto os rostos, senão mais, as mãos estão sempre a fazer algo, por mais detalhado que seja, com destaque (é claro) para as cenas de furto. A já citada sequência na estação de trem nos proporciona com um verdadeiro balé de mãos, que estão sempre a roubar alguém e passar o produto para o cúmplice de trás, numa perfeita e incessante coreografia, que mostra toda a audácia e organização do grupo (em especial uma cena onde um deles rouba a carteira de um homem na sua frente, tira o dinheiro e a devolve no mesmo lugar). Toda a sequência é filmada mostrando apenas as mãos, em vários cortes desconexos que nos dão a sensação do espaço como um todo (Eisenstein teria se orgulhado se estivesse vivo). Minimalista ao extremo, este filme consolida o estilo tão característico do diretor, e é talvez a melhor introdução a este, uma vez que esse estilo bressoniano de filmar não está tão presente em obras anteriores, e é muito forte a partir de A Grande Testemunha, culminando no insuportavelmente inerte Lancelot. Filmado na mesma época do nascimento da Nouvelle Vague, esse filme prova que Bresson estava anos a frente de seus conterrâneos, e era bastante admirado por estes, em especial Truffaut e Godard (este homenageou Pickpocket ao dar o nome ao personagem de Acossado de Michel). Aliás, faço das palavras de Jean-Luc as minhas: Bresson é o cinema francês, assim como Dostoiévsky é a literatura russa e Mozart é a música alemã". (Roberto Ribeiro)

''Bresson tem uma visão aguda sobre o ser humano e adota um registro desdramatizado para observar seus personagens, que podem tanto agir pela pureza como pela pior crueldade. É o caso de Michel (Martin LaSalle), protagonista de "O Batedor de Carteiras", ladrão que encontra uma luz quando se interessa pela pura Jeanne (Marika Green), que cuida de sua mãe enferma. Após a morte de Jeanne, Michel é preso, mas o cárcere será o lugar onde ele poderá ter uma nova chance. Além de inspirado no romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, o filme também ilustra as principais premissas da encenação bressoniana, na qual os personagens são mostrados estritamente dentro da esfera do visível, quase como se observados em um documentário. Suas interioridades não aparecem na fala nem em ações, mas nas nuances de gestos e expressões. É a tal pureza que Bresson tanto defendeu para o cinema. No livro Notas sobre o Cinematógrafo, publicado pelo cineasta em 1975, ele renomeia as definições e chama de cinematógrafo a arte que se expressa pela decupagem, enquanto cinema seria a contaminação deste pela lógica teatral. A herança de Bresson é tão forte, nos filmes e nos escritos, que deixa devotos -como o também moralista Paul Schrader. O final de "Gigolô Americano" (1980), com Richard Gere, é uma referência direta ao final de "O Batedor de Carteiras"." (FSP)

1960 Urso de Ouro

Compagnie Cinématographique de France

Diretor: Robert Bresson

12.940 users / 870 face

Check-Ins 701

Date 21/09/2014 Poster - ########

93. The Good German (2006)

R | 105 min | Drama, Mystery, Romance

49 Metascore

While in post-war Berlin to cover the Potsdam Conference, an American military journalist is drawn into a murder investigation that involves his former mistress and his driver.

Director: Steven Soderbergh | Stars: George Clooney, Cate Blanchett, Tobey Maguire, Beau Bridges

Votes: 26,077 | Gross: $1.31M

[Mov 04 IMDB 6,1/10] {Video/@@@} M/49

O SEGREDO DE BERLIM

(The Good German, 2006)


TAG STEVEN SODERBERGH

{intrigante}


Sinopse

''Quem sabe o que o jornalista americano Jake Geisner (George Clooney) esperava encontrar em uma Berlim pós-guerra? Paz, talvez. Ou, ao menos, uma estória. Mas certamente não a bela Lena (Cate Blanchett), seu ex-amor. E também não uma trilha de segredo e decepção que une Lena a um jovem cabo (tobey Maguire), agora seu novo amante... E um assassinato que ninguém demostra interesse em resolver. A não ser Jake.''
Visualmente atraente, retorno à estética noir peca no roteiro extremamente desinteressante.

'' Steven Soderbergh, explodiu em notoriedade ao concorrer contra ele mesmo no Oscar de 2001, por Traffic e por Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento, nas duas principais caDiretor competentetegorias – filme e direção -, e sair vencedor (melhor diretor por Traffic). Circunstâncias e acasos a parte, o fato é que Soderbergh firmou-se como um diretor ativo e eclético ao manter uma linha de trabalho anterior ao tal boom. Trabalhando em mutualismo com os estúdios, Soderbergh vêm intercalando filmes politizados ou de viés mais artesanal com filmes pipoca – que nem são tão pipoca assim, resultado de um crescente auto-indulgência que levou ao declínio a seqüência iniciada por Onze Homens e Um Segredo. Constam em sua recente filmografia a excelente refilmagem científico-filosófica Solaris, o ultra experimental Bubble (que estreou nos EUA simultaneamente no cinema, na TV e em DVD) e esse novo ''O Segredo de Berlim''. Como já era de se esperar, O Segredo de Berlim tem uma proposta totalmente díspar dos demais filmes de Soderbergh. Aqui, o diretor adota por inteiro a estética noir, incluindo o preto e branco, para retratar um caso de investigação na Berlim do imediato pós-guerra. Da temática à técnica, da música aos diálogos, tudo é credenciado ao cinema noir das décadas de 40 e 50. George Clooney encabeça o elenco interpretando o capitão-jornalista americano Jake Geismer que vai à Berlim por ocasião da reunião dos líderes aliados a fim de deliberar sobre a situação do mundo depois da guerra. Seu motorista, o oficial bad-boy Patrick Tully (Tobey Maguire) é assassinado em Potsdamer (região de Berlim fechada pelo exército americano para a realização do evento) pouco depois que Geismer descobre que este mantinha relacionamento com um antigo caso seu, a judia alemã Lena Brandt (Cate Blanchett). A partir daí, deflagra-se a ação do filme, pontuando elementos como corrupção, adultério, mentiras, horrores de guerra, SS... Fazer cinema, na sua essência mais genérica, é contar uma história. As opções estéticas e artísticas relativas à sua execução devem pois, em tese, estar subordinadas a como contar bem esta história. A questão que se lança é se essa proposta radical de Soderbergh tem paridade com o material do roteiro. A resposta inicial é sim. A história de investigação, personagens nublados, a atmosfera funesta de Berlim quase inteiramente bombardeada se casa bem com o noir. Soderbergh, como idealizador, viu nesse projeto um modo de resgatar um gênero hoje quase esquecido. É uma proposta interessante e audaciosa. Interessante porque amarra o filme de maneira coesa e direta em tempos onde pipocam filmes titubeantes, difíceis de definir. Audacioso porque exige boa vontade e interesse por parte do público que, em geral, prefere o filme como algo fechado dentro de seus minutos de projeção, sem a necessidade de informações preliminares – no caso, saber o que foi o noir é essencial para se compreender a proposta. Entendendo-se essa apropriação como não-gratuita, verifica-se um filme conceitual notável, porém de execução falha, prendendo-se mais em estilo do que em substância. Colocando de lado qualquer estranheza inicial em se ver uma execução atual que busca reproduzir um modo de fazer antigo, o roteiro de Paul Attanasio (Donnie Brasco) perde-se na dinâmica criada pela investigação da morte de Tully que, só ao final, revela assuntos mais interessantes. Durante um bom tempo, toda a ação é centrada no relacionamento insosso de Clooney e Blanchett, com um desfile confuso de generais corruptos pela tela, deixando o cenário histórico como adereço. A temática revelada no final, que engloba interesses ocultos das potências aliadas que buscavam bem mais do que paz e já sinaliza para o cenário mundial da Guerra Fria, é tardiamente colocada no filme, servindo mais para o recurso do final surpreendente que para efetivamente proporcionar substância à história. Não era pra ser um filme histórico – até porque isso não teria relação com o noir, mais voltado mesmo para os conflitos de suas personagens –, mas sim ter uma trama com mais motivações que as que remetem a um jornalista tentando desvendar um crime ou resgatar um caso do passado. O mal de O Segredo de Berlim, portanto, é o roteiro. Os atores estão bem, à exceção de Tobey Maguire que soa estridente e forçado ao tentar a todo custo se livrar de Peter Parker nos seus poucos minutos em cena, revelando-se uma escolha equivocada para um papel chave do filme. Clooney está correto, mas o grande destaque é Cate Blanchett. Chamá-la de camaleônica não é exagero. Mesmo fazendo inúmeros filmes nos últimos anos, Blanchett vai além da caracterização física (que por si só já é notável) e compõe tipos complexos e distintos em cada filme. Sua Lena Brandt, por ter a história mais densa é a única que realmente gera algum interesse maior por parte de quem assiste. A atuação carregada da atriz revela em todos os momentos a amargura e a infelicidade acumuladas e ainda mantém sempre uma dubiedade, deixando a sensação constante de que Lena está escondendo algo – algo ruim. E como Cate Blanchett fotografa bem o noir! Os quadros com seu rosto em meia sombra são os melhores de todo o filme. A produção é excelente e, ao menos visualmente, o noir está ali. Há belas seqüências o reproduzindo e uma das melhores é a que remete imediatamente ao filme Casablanca. Como exercício estético, a proposta de Steven Soderbergh valeu a pena. O roteiro do jeito que está, desinteressante na maior parte do tempo, é apenas um dos motivos que levaram o filme a passar praticamente despercebido tanto no Brasil (onde foi lançado diretamente em DVD) quanto nos EUA. Na verdade, é difícil mesmo embarcar na proposta. A audácia de Soderbergh criou um filme de nicho, direcionado, mas o diretor não deve estar dando a mínima para isso – o que ele quer é experimentar. (Wander Cabral)

''Steven Soderbergh é, além de cineasta de talento, um estudioso de filmes antigos. Além disso, tem usado o poder adquirido em Hollywood por causa da bem-sucedida franquia iniciada com Onze Homens e Um Segredo para comandar projetos diferentes, ousados, com um pé no filão do filme de arte. “O Segredo de Berlim” une as duas facetas de Soderbergh – o estudioso e o artista engajado – em uma impecável emulação de noir pós-guerra. É um filme imperfeito, de narrativa truncada e técnica excessiva, mas também um prato cheio para os amantes (como ele e eu) dos filmes B produzidos na década de 1940. Embora filmado inteiramente em estúdio, em Los Angeles (EUA), o complicado enredo, pinçado de um romance escrito por Joseph Kanon, ambienta uma trama de espionagem clássica nos escombros da Berlim de 1945, arrasada pelos bombardeios da II Guerra Mundial. Os três personagens principais formam um triângulo amoroso. O pano de fundo é a lendária Conferência de Potsdam (cidade vizinha a Berlim), quando os presidentes dos EUA, URSS e Inglaterra se reuniram para desenhar o mapa do pós-guerra na Europa. O capitão-jornalista Jake Geismer (George Clooney, competente) chega à Alemanha para cobrir o encontro, mas com a intenção real de reencontrar uma antiga paixão, a alemã Lena Brandt (Cate Blanchett, misteriosa, mas deficiente no sotaque alemão). Não se passam dois dias e ele descobre que a ex-amante é agora namorada do soldado Patrick Tully (Tobey Maguire, ótimo), designado para servi-lo como motorista. Coincidência? A abordagem de Soderbergh para filmar os intrincados (e inesperados) desdobramentos deste triângulo foi radical. Ele dispensou o uso de tecnologia moderna para filmar com réplicas dos equipamentos utilizado na Hollywood dos anos 1940. Microfones e lentes, por exemplo, são antigos. A excentricidade forçou todos os envolvidos na produção a redimensionar suas atividades. O uso destes equipamentos, afinal, implicava em limitações para todo mundo. A câmera, por exemplo, não podia ficar muito longe da ação a ser filmada, pois o zoom funcionava de forma precária naquela época. Os atores também foram obrigados a falar mais alto, de forma pausada e clara, para que as palavras pudessem driblar a captação deficiente de áudio. Na impossibilidade de filmar em locação (porque, obviamente, a Berlim de 1945 não tem nada a ver com a atual), Soderbergh construiu todos os sets em estúdio, recusando-se a usar trucagens digitais, o que poderia baratear os custos. Parece obsessivo em excesso? Pois o cineasta foi ainda mais longe, decidindo filmar no formato 1.66:1, que gera uma imagem mais quadrada do que o normal, ligeiramente mais larga do que o formato das TVs (1.33:1). A decisão provocou um problema aparentemente insolúvel, pois os cinemas do século XXI não estão equipados com projetores capazes de transmitir uma imagem no formato 1.66:1 (hoje em dia, o formato mais estreito utilizado pelos diretores em todo o mundo é o 1.85:1). O que fez Soderbergh? Filmou em 1.85:1 e, na fase de pós-produção, mandou colocar barras negras nas laterais da imagem, de forma que a projeção atingisse exatamente a proporção desejada. Resumindo, Soderbergh é o tipo de diretor que os produtores têm verdadeiro pavor de encontrar. Por sorte, em “O Segredo de Berlim” o produtor era o próprio cineasta, que bancou a película através da produtora Section Eight, que mantinha com Clooney na época das filmagens. A teimosia obsessiva gerou um filme tecnicamente impecável, que emula com perfeição absurda um filme B dos anos 1940. O cineasta copia os cacoetes do estilo noir nos mínimos detalhes, e isto inclui uma edição que usa takes mais longos do que o habitual. A trilha sonora, composta por Thomas Newman, também parece retirada diretamente de um filme barato daqueles dias. A música, que percorre todo o filme praticamente sem pausas, dispensa metais e percussão (um luxo que só grandes produções tinham na época) e ganha arranjos exclusivamente de instrumentos de corda – vale observar que o diretor recusou uma trilha completa, feita por David Holmes, porque a música não se parecia o suficiente com a produzida na década de 1940. Como se não bastasse, a fotografia assinada pelo próprio Soderbergh privilegia ângulos oblíquos e capricha na iluminação expressionista, de fortes contrastes e muitas sombras. Insistentemente comparada pela crítica internacional com o suspense pós-guerra O Terceiro Homem, por ser ambientada nos escombros de uma capital européia, a produção de Soderbergh também traz ecos de outros dois grandes filmes do período: Casablanca, por causa dos detalhes íntimos relacionados ao triângulo amoroso, e principalmente Ilusão Perdida. Este último, filmado nos escombros reais do pós-guerra em Berlim, oferece não apenas um panorama completo da situação caótica da cidade – o mercado negro, a prostituição, a divisão da cidade em quatro áreas – como também tem um soldado, interpretado pelo astro Montgomery Clift, que claramente inspirou o personagem de Tobey Maguire. O resultado é ótimo para interessados no cenário do pós-guerra e no gênero noir. Pode não ser um bom programa, contudo, para aqueles que desconhecem as idiossincrasias da Alemanha na época da guerra. Saber como as coisas funcionavam n época é fundamental para compreender o quadro geral. Apesar do brilhantismo técnico e do esmero na montagem do pano de fundo político, Soderbergh não fez um filme perfeito, e o principal ponto falho é o roteiro de Paul Attanasio. Um dos maiores problemas vem da tripla narração em off, já que cada parte da história (abertura, desenvolvimento e clímax) é contada por um dos três personagens principais, com abundante narração em off. A troca sucessiva de ponto de vista acaba se mostrando um recurso não muito eficiente para clarear, aos poucos, as sombras que pairam sobre cada vértice do triângulo. Assim, “O Segredo de Berlim” revela os detalhes da história de modo oblíquo, irregular, e a trama termina por deixar muitas pontas soltas. É o típico caso de filme que a técnica se sobrepõe excessivamente ao conteúdo, embora a ousadia de Soderbergh tenha que ser admirada." (Rodrigo Carreiro)

77*2007 Oscar / 2007 Urso de Ouro

Sunset Gower Studios Warner Bros. Section Eight Virtual Studios

Diretor: Steven Soderbergh

21.317 users / 552 face

Check-Ins 707 34 Metacritic 4.225 Up 3.11

Date 25/09/2014 Poster - ###

94. The Man from Planet X (1951)

Approved | 71 min | Horror, Romance, Sci-Fi

As a mysterious planet hurls itself toward Earth, an enigmatic extraterrestrial scout arrives on a remote Scottish island with unknown intentions.

Director: Edgar G. Ulmer | Stars: Robert Clarke, Margaret Field, Raymond Bond, William Schallert

Votes: 3,092

[Mov 03 IMDB 5,7/10 {Video/@@}

O HOMEM DO PLANETA X

(The Man from Planet X, 1951)


''Durante uma pesquisa à um pequeno planeta em rota de colisão com a Terra, cientista e sua filha encontram uma espaçonave e um extraterrestre amigável. No entanto, a maldade humana poderá despertar incríveis poderes na criatura.'' (Filmow)

"O Homem do Planeta X" é um cúmulo do trash, e dessa vez eu tenho que admitir que se trate de um filme ruim até para o período em que foi lançado. As atuações são bem fracas, os efeitos são realmente toscos, o roteiro é hiper básico e simplificado, e digo isso tanto para o gênero terror quando para o ficção científica. Mesmo havendo várias inspirações posteriores a partir desse título, lamento em dizer que a qualidade dele é péssima, mas não chega a ser um exemplar totalmente dispensável, possivelmente assistível, mesmo sendo rídiculo. Há discussões sobre esse filme ser ou não de terror, e pelo que vi nada o impede de anexá-lo ao grupo. A proposta peculiar não é o problema, muito menos o diretor, mas sim da própria indústria cinematográfica da época, disponibilizando baixos investimentos e interesse na produção. O que eles não contavam era o sucesso que acarretou o filme, pois o tema estava bem na moda nessa década. Mas mesmo assim, "O Homem do Planeta X" não chega a ser o melhor exemplar dessa safra, apenas oportunista ou conveniente. Não há muito que argumentar sobre o filme porque a história é tão má explorada que o risco é enorme de cometer spoilers acidentais. A mensagem final da obra é claramente otimista apesar de tentar se disfarçar com um leve mistério sobre as reais intenções do visitante extraterrestre. Vários clichês são utilizados exageradamente, tornando o filme previsível e um pouco cansativo, e sei que deve haver algum mérito para esse título, porém, não creio que sejam cabíveis como filme terror. Até certo ponto é interessante assistir, mas vai exigir uma paciência que muitas pessoas não têm para filmes antigos, e dessa vez a culpa é realmente do filme. A quantidade de defeitos especiais o impede de atingir limite aceitável para o gênero trash ou série B, cabe a você decidir se realmente está disposto a enfrentar tal experiência. Falei bem mal de "O Homem do Planeta X", entretanto ele não é um lixo total espacial, é ruim, mas não é totalmente um desperdício como ficção científica." (DiMarte)

Mid Century Film Productions Ltd.

Diretor: Edgar G. Ulmer

1.358 users / 195 face

Check-Ins 324

Date 15/09/2013 Poster - ####

95. The Three Stooges (2012)

PG | 92 min | Comedy, Family

56 Metascore

While trying to save their childhood orphanage, Moe, Larry, and Curly inadvertently stumble into a murder plot and wind up starring in a reality television show.

Directors: Bobby Farrelly, Peter Farrelly | Stars: Sean Hayes, Chris Diamantopoulos, Will Sasso, Jane Lynch

Votes: 33,197 | Gross: $44.34M

[Mov 03 IMDB 5,1/10 {Video/@} M/56

OS TRÊS PATETAS

(The Three Stooges, 2012)


"Um filme fora de sua época, literal e figurativamente. Talvez funcione para os saudosistas extremos." (Alexandre Koball)

"Mais que uma obra anacrônica, um choque entre tempos. Longe do fetichismo de filmes como O Artista, os elementos resgatados pelos Farrellys são colocados em atrito com a cultura e as mídias modernas, numa apropriação de personagens instigante e engraçada." (Daniel Dalpizzolo)

"A série original já era bem pueril, com um conceito que se esgotava fácil numa meia hora (um dos motivos porque os personagens nunca emplacaram no cinema), nao teria como dar muito certo assistir 90 minutos das mesmas e repetitivas gags de sempre." (Vlademir Lazo)

"No dia 13/04/2012 estreou nas salas estadunidenses o filme ''Os Três Patetas'', película baseada na famosa série do trio de comediantes do teatro vaudeville e posteriormente na TV dos anos de 1930, cujas formações já compreenderam Moe Howard, Larry Fine, Curly Howard, Shemp Howard, Joe Besser e Curly-Joe DeRitta. No Brasil, estreará em 17/04/2012. Aos que não se lembram ou não têm TCM, Os Três Patetas era uma franquia de seriados de TV e filmes estrelando um trio muito curioso formado essencialmente pelo mal-humorado Moe, o cabeludo desengonçado Larry e um terceiro atrapalhado e geralmente infantilizado que se alternou em 4 momentos: Curly, Shemp (retomando na TV a época do teatro), Joe e Curly-Joe. Basicamente as histórias tinham um mesmo fio condutor: o trio leva suas vidas tranquilas e se metem em confusões que criaram ou em que se meteram por ingenuidade/burrice mesmo e das quais precisam se livrar. A característica principal de seu humor é o texto direto e levemente inocente somado a um humor físico típico do vaudeville, regado a agressões físicas, tais como marteladas, colisão de cabeças, dedos fura-olhos, pontapés, bofetões e outros. "Os Três Patetas", com 27 filmes e inúmeros episódios, estiveram TV e cinema de 1934 a 1970, quando Larry sofreu um ataque cardíaco e a última formação do trio interrompeu de vez sua carreira. Seu estilo único foi inspiração para muitos comediantes posteriores e até hoje são uma referência na comédia mundial. E justamente por isso Bradley Thomas empenhou-se na produção de um projeto de filme para homenagear esses grandes comediantes. Em 2000 negociou com a Columbia, detentora original dos direitos d’Os Três Patetas, quando em março/2001 a Warner Bros. os adquiriu, envolvendo-se no texto Peter e Bobby Farrelly. Juntamente com Mike Cerrone encerraram nos fins de 2002 um roteiro e começaram a tentar negociá-lo. Em 2004 o contrato de cessão dos direitos atingiu seu termo e nenhum avanço conseguiu-se na produção do filme d’Os Três Patetas. Assim, estes foram adquiridos pela C3 Entertainment e First Look Studios. A MGM, em 2008, adquiriu os direitos d"Os Três Patetas" e o roteiro do filme, disponibilizando orçamento de U$ 40 milhões para sua produção. Embora estipulado o lançamento em 20/11/2009, ainda em março daquele ano sequer o elenco fora escolhido. Com a falência da MGM decretada em novembro/2010, o projeto foi retomado pela 20th Century Fox, cumprindo-se o projeto: o filme estreou em 13/04/2012. Os irmãos Farrelly, desde o início declararam que não fariam um filme biográfico, apesar das bonitas histórias envolvendo os comediantes, seus altos e baixos, tramas, dentre outros (só para constar, Moe, Shemp e Curly eram irmãos e cunhados de Larry). Sua intenção era homenagear sua carreira. Em março/2009 começaram-se as tratativas para formação do elenco. Benicio del Toro, Johnny Knoxville e Hank Azaria foram cotados para viver Moe Howard, mas desisitiram, sendo substituídos por Chris Diamantopoulos. Sean Penn, convidado para viver Larry, abandonou o projeto para dedicar-se à caridade no Haiti. Cogitou-se Andy Samberg, mas o papel coube ao grande Sean Hayes. Jim Carrey faria Curly e chegou a começar a ganhar peso, mas desistiu no início do processo com medo de prejudicar sua saúde em nome de um papel. Em seu lugar ficou Will Sasso. Fechando o elenco, as filmagens iniciaram-se em 09/03/2011 em Atlanta, concluídas em 22/07/2011. O roteiro é estruturado como nos filmes e seriado antigos, como se uma nova trupe de Três Patetas fosse formada para estrelar um novo filme. Neste, Moe, Larry e Curly foram 3 crianças abandonadas e criadas no Orfanato das Irmãs da Piedade e desde sempre tocaram o terror, razão pela qual nunca foram adotadas. 25 anos depois, o trio continua a viver no orfanato, agora como funcionários e babás. Levam suas vidas de forma pacata até que uma intimação muda tudo: se em 30 dias o orfanato não pagar sua dívida de U$ 830 mil, este será fechado. Só há 3 homens no mundo que podem resolver o problema, e são justamente Moe, Larry e Curly, que correm o mundo atrás da salvação de seu lar desde tenra idade. Muitas trapalhadas, muita gente mal intencionada e toda sorte de obstáculos se interpõem no caminho d’Os Três Patetas em sua epopéia de socos, pontapés, tabefes e uma participação no reality show Jersey Shore da MTV. A recepção da crítica estadunidense foi bastante variada, mas com tendências à positiva. O Hollywood Reporter classificou como ressurreição engraçada e bem intencionada dos amados patetas de Hollywood. O New York Times ficou encantado com a interpretação similar nos clássicos movimentos, principalmente o fura-olho e as formas de bloqueio. No fim de semana de estréia The Three Stooges arrecadou U$ 17 milhões. Aqui no Brasil só estréia em 17/08/2012, então ainda não dá para opinar, mas eu sou um apaixonado pelos filmes e seriado d’Os Três Patetas. Mesmo com toda a carga de violência, machismo, racismo e estereótipos clássicos do humor da década de 1930, os caras conseguiram uma legião de fãs fazendo repetidamente a mesma base textual, com orçamento baixo, as mesmas roupas e cenários que se alternavam e, mesmo assim, nenhum episódio ou filme era igual ao outro! Foram 40 anos quase ininterruptos de carreira, sendo lembrados e referenciados até hoje!! Não é para qualquer Zorra Total achar que faz humor. O elenco principal é ótimo e eles conseguem reproduzir muito bem o humor físico característico d"Os Três Patetas", com tiques e pancadas coreografadas, sem falar na caracterização fantástica dos atores." (Marcelo Moreira)

Twentieth Century Fox Film Corporation Conundrum Entertainment Wessler Entertainment C3 Entertainment Inc. Dune Entertainment Dune Entertainment III

Diretor: Bobby Farrelly, Peter Farrelly

22.487 users / 13.863 face

Soundtrack Rock = The Modern Lovers + Steriogram + David Byrne + Grouplove + New York Dolls + The Allman Brothers Band + Foster the People + LMFAO + The Stooges + Bob Dylan

Check-Ins 329

Date 18/09/2013 Poster - #

96. Lay the Favorite (2012)

R | 94 min | Comedy, Drama, Romance

38 Metascore

Ex-private dancer Beth aspires to be a Las Vegas cocktail waitress, when she falls in with Dink, a sports gambler. Sparks fly as she proves to be something of a gambling prodigy--much to the ire of Dink's wife, Tulip.

Director: Stephen Frears | Stars: Rebecca Hall, Bruce Willis, Vince Vaughn, Catherine Zeta-Jones

Votes: 12,065 | Gross: $0.02M

[Mov 08 IMDB 4,7/10 {Video/@@@} M/38

O DOBRO OU NADA

(Lay the Favorite, 2012)


''É verdade que "O Dobro ou Nada" não é um dos pilares da carreira de Stephen Frears. Mas a reação crítica a essa comédia talvez tenha sido um tanto radical. E basicamente porque nós, jornalistas, damos excessivo valor ao verossímil. Assim, não se deixou de notar que a Las Vegas em que vivem o apostador e bookmaker Bruce Willis e a stripper Rebecca Hall - além da mulher de Bruce, Catherina Zeta-Jones - é falsa. Esse mundo falso (Zeta-Jones, falsa entre as falsas, se enche de plásticas) Frears tratou como tal. Não buscou compor personagens, nem situações verdadeiras. Deu certo? Não de todo. É possível que essa tenha sido a reação a um trabalho alimentar: com todos os poréns, Frears é homem de respeito." (* Inácio Araujo *)

Quanto maior a aposta, maior é o tombo.

''Colorir fatos para tornar a ficção mais atraente do que a realidade é prática comum no cinema. O mistério surge quando uma fantástica história real, protagonizada por uma improvável heroína – uma ex-stripper que vai para Las Vegas em busca de uma vaga de garçonete e acaba como apostadora profissional de sucesso –, se torna uma comédia sem graça e inverossímil. ''O Dobro ou Nada'' parecia uma aposta garantida. Direção de Stephen Frears (A Rainha), retomando a parceria com D.V. DeVincentis (roteirista de Alta Fidelidade), um elenco respeitável – Rebecca Hall, Bruce Willis, Vince Vaughn, Catherine Zeta-Jones e Joshua Jackson – e as memórias insólitas da hoje escritora Beth Raymer. Porém, seja no cinema, na vida real ou no mundo dos jogos de azar, quanto maior a expectativa, maior pode ser a decepção. Da atuação caricata de Rebecca Hall (que tenta em vão encarnar uma nova Erin Brockovich) ao roteiro raso de DeVincentis, ''O Dobro o Nada'' vende mera comédia desajeitada quando poderia mostrar, sem perder o humor, a história de uma mulher que criou seu espaço em uma área dominada por homens. Beth vai de home stripper a apostadora em poucos minutos e tem seu novo talento justificado com frases soltas como Sou boa com números. Sem estabelecer a personagem como mais do que uma avoada de corpo bonito, DeVincentis perde a oportunidade de criar uma protagonista tão complexa e intrigante como a mulher em que ela é inspirada. Já a tensão do ganhar ou perder que rege Las Vegas é resumida a um Bruce Willis que, vestindo camisetas de bandas como New York Dolls, grita, demite funcionários aleatoriamente e atira coisas nas paredes. O filme chega a esboçar um universo onde tudo é apostável, tomado pela ânsia da jogada certa, mas pretere o drama em função de reviravoltas românticas. Beth Raymer, a verdadeira, superou um currículo de trabalhos ordinários e ilegais para se tornar escritora (e boxeadora amadora finalista do torneiro Golden Gloves). Sua personalidade e capacidade intelectual foram além da sua aparência sexualizada – uma personagem complicada demais para ser verdade. Acabou desbotada pela ficção." (Natalia Bridi)

{Sabe quando você não precisa mais de cuidado? É quando você começa a cuidar de alguém} (ESKS)

"A filmografia de Stephen Frears tem altos - Minha Adorável Lavanderia (1985), Ligações Perigosas (1988) - e baixos - O Segredo de Mary Reilly (1996) -, mas o diretor inglês nunca tinha atingido um nível tão baixo antes deste "O Dobro ou Nada". Ambientado em Las Vegas, a comédia trata do mundo das apostas esportivas. O tema pode ser interessante, mas foi desperdiçado pela abordagem superficial de Frears, que deixou de lado duas características marcantes de sua obra: a sátira e a crítica social. O roteiro se baseia nas memórias da escritora e jornalista Beth Raymer, que narra suas experiências na indústria do sexo, no boxe amador e nas apostas esportivas. Catherine Zeta-Jones e Rebecca Hall em cena do filme "O Dobro ou Nada" Cansada de tirar a roupa diante de tipos esquisitões na obscura Tallahassee, na Flórida, Beth (Rebecca Hall, de Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen) decide tentar a sorte em Las Vegas. Na meca do vício, ela vai trabalhar com Dink (Bruce Willis), um bookmaker neurótico que aposta em corridas de cavalos e automóveis, lutas de boxe, partidas de basquete e de futebol americano. Supersticioso, Dink não demora a concluir que a jovem lhe traz sorte nas apostas. Com um sorriso permanente no rosto, vestindo mini-shorts e botas, Rebecca Hall compõe uma falsa ingênua. Afetada e irritante, ela grita, salta e gesticula como se estivesse tomada por uma excitação constante que resulta por demais artificial. Neste festival de inconsistências, não surpreende que a história romântica entre Beth e o almofadinha Jeremy (Joshua Jackson), na segunda parte, soe postiça. Outro exemplo de personagem pouco convincente é Tulip (Catherine Zeta-Jones), a mulher de Dink, uma showgirl aposentada. Frívola e carrancuda, Tulip não vai além do ciúme que nutre por Beth. Já Bruce Willis contribui como habitual canastrão. Insípido e sem ritmo, o roteiro está cheio de diálogos insossos e tem passagens confusas para os não iniciados no mundo das apostas. Pior do que a mediocridade do roteiro é a passividade de Frears ao filmá-lo." (Alexandre Agabiti Fernandez)

''Apesar de ser uma comédia, ''O Dobro Ou Nada'' é cheio de mistérios. O maior deles é: como um roteiro tão desastroso e entediante, aliado a personagens tão pobres, atraíram atores tão bons? Baseado na vida da stripper-escritora-jornalista Beth Raymer, o filme dirigido por Stephen Frears é prova de que algumas histórias podem ser interessantes no mundo real, mas desastrosas no cinema. Rebecca Hall interpreta a irritante Beth, dançarina sensual que ri de tudo e resolve largar a profissão, pois tem o extremamente ambicioso sonho de ser garçonete de coquetéis em Las Vegas. Lá conhece Dink (Bruce Willis), apostador profissional que, mesmo sem motivos, a contrata e por quem ela, sem qualquer explicação, se apaixona. Mas entre eles está Tulip, esposa ciumenta e esticada pelo botox interpretada por Catherine Zeta-Jones. Tudo isso culminará em um dos finais mais desinteressantes já vistos em Hollywood e que envolve, obviamente, uma aposta. O autor de thrillers políticos Tom Clancy certa vez afirmou que a diferença entre ficção e realidade é que a ficção precisa fazer sentido. Nenhuma frase resume melhor o maior problema de O Dobro Ou Nada. Não há qualquer tipo de personalidade que justifique as ações dos personagens. Ninguém tem motivação; as atitudes são baseadas simplesmente na vontade do roteirista D.V. DeVincentis que, ao lado de mais três escritores, foi responsável pela boa adaptação de Alta Fidelidade, também assinada por Frears. Aqui, repetindo a parceria com o diretor, mas sozinho pela primeira vez como roteirista, apenas cria perguntas não respondidas que transformam o longa em um emaranhado de cenas sem sentido e nada engraçadas. As suposições que o espectador formula em sua mente durante o desenrolar da trama provam-se milhões de vezes mais interessantes do que as promessas não cumpridas na tela. Quando parece que a história terá uma virada, uma surpresa, o filme trata logo de provar que imaginação não fez parte do projeto. Para exemplificar melhor, só com spoiler: em momento crítico, um dos funcionários de Dink some e seu colega revela que ele foi ao show da Celine Dion. Será que foi mesmo? Talvez esteja envolvido com outro apostador... Não, por incrível que pareça, ele gosta mesmo da cantora canadense. Brochante. Justiça seja feita: Catherine Zeta-Jones está ótima como Tulip, cujos surtos de ciúme te fazem (quase) esquecer a falta de enredo. Uma atuação sólida, mas insuficiente para livrar o espectador dos chiliques alegres de Beth que, como protagonista, dá pulinhos e gritinhos gratuitos a cada três minutos. Se você quiser ver uma boa história de alguém que se aventurou nos cassinos de Las Vegas, assista a Quebrando a Banca. E se estiver com vontade de dar risadas com Bruce Willis, continue com Os Mercenários 2. ''O Dobro Ou Nada'' já tem seu lugar garantido na prateleira de comédias descartáveis." (Felipe Minozzi)

Emmett/Furla Films Wild Bunch Random House Films Likely Story Lipsync Productions Ruby Films

Diretor: Stephen Frears

7.142 users / 1.300 face

Soundtrack Rock = Poison

Check-Ins 331

Date 21/09/2013 Poster - #####

97. Passion Play (2010)

R | 94 min | Drama, Fantasy, Horror

22 Metascore

An angel under the thumb of a ruthless gangster is saved by a trumpet player down on his luck.

Director: Mitch Glazer | Stars: Mickey Rourke, Megan Fox, Bill Murray, Kelly Lynch

Votes: 8,657 | Gross: $0.00M

[Mov 04 IMDB 5,1/10] {Video/@@} M/22

O ANJO DO DESEJO

(Passion Play, 2010)


TAG MITCH GLAZER

{esquecível}


Sinopse

''Ambientado na Los Angeles dos anos 50, conta a história de Lily, uma jovem mutante que tem asas e trabalha em um circo onde todos têm algum tipo de mutação. Ela vive isolada e não gosta de se relacionar com outras pessoas, até que conhece Nate, um trompetista que tem uma vida um tanto bagunçada e instável. Nate tem que livrar Lily das mãos do mafioso Shannon.''
''Megan Fox não namora comigo por que tem um péssimo gosto pra homens. E pra filmes. Ficou com o baixinho enjoado do Shia LaBeoulf no péssimo Transformers e com o feioso Josh Brolin maquiado pra ficar mais feio ainda em Johan Hex. Agora ela fica com um ator que nem precisa de maquiagem pra ficar horrível, Mickey Rourke de Imortais. Ele é Nate, um saxofonista vigarista que escapa de ser assassinado no meio do deserto e encontra um circo onde conhece uma aberração chamada Lily, a qual é uma mulher com asas como um anjo. Ok, Megan Fox na sua mais bela forma ser chamada de aberração é muita má vontade do circo, mas tudo bem. Além de Nate se encantar com a moça (quem não faria?) ele pretende oferecê-la ao mafioso que tentou matá-lo (Bill Murray de Segredos de um Funeral) em troca de sua vida e de uns trocados. Mas a medida que vão se tornando íntimos, ele muda de ideia, porém possivelmente tarde demais. A produção tentar ter seu diferencial ao usar simbolismo como narrativa, porém de uma forma desorientada que facilmente será confundida com meros absurdos ou buracos na trama. Ou seria verdade que um mafioso seria morto no meio do deserto por uma tribo de índios-ninja, além do próprio voo no desenlace final? Seja como for, o vagaroso ritmo da narrativa deve espantar o público, a não ser aqueles que se deliciem em ver a apaixonante Fox. Se bem que ela parece fazer o mesmo papel sempre (o dela) e a mesma coisa pode se dizer de Rourke. Assim, é lógico que o destaque vai para Bill Murray, o único ator que parece fazer um personagem tridimensional, uma vez que mesmo sendo o vilão declarado, procura mostrar traços de humanidade numa tentativa de explicar o contexto em que vive. Contudo até ele sofreu um golpe do roteiro que, à sua conveniência, resolveu fazer uma mudança drástica de personalidade, ficando muito difícil de o espectador engolir a tal reviravolta. Com efeitos especiais questionáveis, “Anjo do Desejo”, se levado ao pé da letra parece mais uma história sem graça, burocrática e com uma direção frouxa. Até mesmo se adicionarmos os elementos lúdicos, deixa a desejar. Em suma: não dá asas à imaginação… com o perdão do trocadilho.'' (Cine Críticas)

Annapurna Productions Rebecca Wang Entertainment

Diretor: Mitch Glazer

7.265 users / 1.210 face


Soundtrack Rock

Solomon Burke
Check-Ins 716 11 Metacritic

Date 03/10/2014 Poster -#

98. The Brute (1953)

Not Rated | 81 min | Drama

A tough young man, who helps to kick poor people out of their houses, falls in love with a girl. She lives with her father in the building about to be demolished.

Director: Luis Buñuel | Stars: Pedro Armendáriz, Katy Jurado, Rosita Arenas, Andrés Soler

Votes: 2,253

[Mov 02 IMDB 7,2/10 {Video}

O BRUTO

(Bruto, El, 1953)


''Os habitantes de um bairro miserável que está prestes a ser demolido se revoltam contra a situação. O proprietário dos terrenos locais envia um homem de sua confiança, Pedro, para acabar com o problema. Pedro, acidentalmente mata um dos moradores e acaba por se refugiar, ironicamente, na casa da filha da vítima. Conversando ele descobre que o grande vilão da história é seu próprio chefe e resolve que vai matá-lo. Pedro, El Bruto, está apaixonado pela moça pobre, do lugar onde se escondera, e agora nada poderá detê-lo. Mais uma bela obra-prima de mestre do surrealismo, Buñuel." (Filmow)

''Se alguém fizer um levantamento dos filmes significativos, sejam eles novos ou antigos, que nunca chegam à televisão paga (ou não), vai ter um susto: o número infame de repetições por filme vai parecer um problema menor. Há exceções, como a TV Brasil (que na semana passada apresentou interessante ciclo de filmes africanos), como já foi a TV Cultura. E como é, de modo até mais duradouro, o canal Futura. Para hoje ele programou "O Bruto", de Luis Buñuel. Filme de 1953, portanto da fase mexicana do cineasta. O bruto em questão é o rapaz que trabalha para desalojar as pessoas de terras que um poderoso deseja comprar. O conflito não ficará por aí: há uma trama que faz o melodrama social encontrar o drama romântico. Mas, essencialmente, o Buñuel mexicano que se vê aqui é um libertário. Um libertário genial, bem entendido.'' (* Inácio Araujo *)

"Depois do realismo cru de Os Esquecidos e das pinceladas realistas (múltiplas de outros subgêneros) trabalhadas em Subida ao Céu, Buñuel realizou ''O Bruto'', uma obra pequena e da qual o diretor pouco se lembraria ou comentaria nos anos seguintes, mas que consta entre as melhores películas encomendadas que ele entregou para os estúdios mexicanos. O ponto de partida da história é bastante simples. O dono de um terreno deseja derrubar as casas de uma vila inteira para ali poder construir uma mansão. Para que as obras comecem, ele precisa fazer com que os inquilinos aceitem a ordem de despejo e partam de suas casas o quanto antes possível. Por encontrar forte resistência, o proprietário usa de um valentão, ''O Bruto'', para amedrontar a população local e dar um jeito nos líderes das manifestações. Extremamente objetivo, o roteiro de Buñuel e Alcoriza trabalha com a apresentação e em seguida enfrentamento dos personagens, mas de um modo muito particular. Ao invés de expor de maneira taxativa o comportamento bom e mau de uma pessoa – ou de um grupo – os roteiristas exploraram a relativização desse comportamento, desafiando a sensibilidade do espectador, que em dado momento da obra se sente um tanto culpado por torcer para o bandido. Mesmo a colocação dos papeis representados na sociedade é suspensa porque questões subjetivas e muito particulares como a pequena inteligência do Bruto e as mentiras do patrão Andrés Cabrera funcionam praticamente como circunstâncias atenuantes de alguns eventos. É evidente o rancor de Buñuel para com a exploração dos mais pobres, e principalmente, para o exercício da justiça do Estado em relação a essa classe. Comparado aos favores e facilidades dos endinheirados, até o modo dos menos favorecidos contestarem os abusos cometidos contra eles parece sem valor. Já numa esfera completamente diferente, temos as relações amorosas. É claro que há espaço para a convivência comunitária, o senso de responsabilidade social dos moradores da vila e a amável relação entre pai e filha, logo nas primeiras cenas – uma forma de nos prepararmos emocionalmente para o choque da morte do pai –, mas o que ganha maior destaque é mesmo o desejo sexual e a paixão que envolve o triângulo Pedro Bruto, Meche e Paloma. Assim como em Susana, Buñuel cria dois modelos femininos, mas não volta à discussão da prisão do desejo e fingimento do recato. A religião aqui é posta de lado e as duas mulheres não estão presas a preceitos de casamento ou sexo por obediência ao marido (leia-se procriação), como pode-se comprovar na observação do casal Paloma e Andrés. A mulher só se deixa acariciar e demonstra algum desejo após o seu primeiro encontro com o Bruto, e, evidentemente, está fantasiando com ele enquanto é tocada pelo marido. Não há uma condenação sequer social para o adultério (exceto a questão da honra masculina), de modo que Paloma é vilanizada por sua paixão sufocante em relação a Bruto – a ponto de querer vê-lo morto a estar com outra mulher – e em relação às outras pessoas, vide a frieza com que alerta Andrés sobre os inquilinos revoltosos na vila a ser desocupada. Em contrapartida, Meche assume o papel da mulher mãe e esposa, não necessariamente pura ou recatada, mas com uma postura amável e doce. O senso de responsabilidade que parecia artificial em Paloma (as flores secas é um exemplo) se torna perfeitamente natural em Meche, e isso desde o início, quando assume a agenda diária do pai e organiza tudo o que é necessário para a sua jornada de trabalho. De alguma forma isso tem uma forma ainda maior do que parece, porque a idade entre as mulheres é diferente, e sendo Meche mais nova e com um senso de responsabilidade maior, acabamos por tomar-lhe partido e ver nela um misto de sofrimento e amabilidade que jamais associaríamos à vamp Paloma. Todavia, mais que o bom roteiro do filme, temos o excelente apuro estético, onde se superam Buñuel, na direção de um filme que é menor mas não tratado como tal, e em especial, Agustín Jiménez, o diretor de fotografia. A iluminação praticamente noir nas cenas noturnas e muitíssimo suaves nas diurnas já seriam elementos a serem elogiados, uma vez que o fotógrafo realiza esses exercício o filme inteiro, gerando um contraste estético onde também existe um contrate dramático. A exploração das sombras do Bruto ou dos homens do vilarejo que o procuram, o uso da luz difusa para os momentos de peixão proibida, a composição dos planos em ambientes escuros, tudo isso mostra o excelente trabalho de Jiménez, que ainda se superaria dois anos depois, em Ensaio de um Crime. Mesmo que não conste na galeria das grandes obras de Buñuel, ''O Bruto'' é um ótimo filme, e tem uma visão muito interessante, mesmo dentro da filmografia do diretor, sobre o modo como os indivíduos são rotulados ou percebidos de maneira distinta dependendo de um determinado contexto (lembram-se de Geni e o Zepelim?). A obviedade da afirmação não impede que até hoje, por exemplo, o tipo de comportamento pré-conceitual exista, mesmo que se saiba de cor e salteado todos os problemas morais e éticos que isso envolve. Mesmo que se trate de um bruto à primeira vista, é possível que haja uma outra pessoa por trás da aparência. E é sempre bom lembrar que nunca se sabe que eventos podem transformar um crápula em um herói." (Luiz Santiago)

Internacional Cinematográfica

Diretor: Luis Buñuel

990 users / 43 face

Check-Ins 335

Date 25/09/2013 Poster - #

99. Dorian Gray (2009)

R | 112 min | Drama, Fantasy, Mystery

A corrupt young man somehow keeps his youthful beauty eternally, but a special painting gradually reveals his inner ugliness to all.

Director: Oliver Parker | Stars: Ben Barnes, Colin Firth, Rebecca Hall, John Hollingworth

Votes: 68,118

[Mov 07 IMDB 6,3/10] {Video/@@@}

O RETRATO DE DORIAN GRAY

(Dorian Gray, 2009)


TAG OILIVER PARKER

{simpático / interessante}


Sinopse

''Dorian (Ben Barnes) é um belo jovem privilegiado que deseja que sua imagem em uma pintura envelheça em seu lugar. O que ele considerava uma vantagem, se torna uma maldição, e quanto mais velho e corrupto Dorian fica, o retrato guardado no porão se torna um monstro.''
''O jovem Dorian Gray, ao chegar à Londres vitoriana, é apresentado à alta sociedade pelo hedonista Henry Wotton, que mostra a ele a beleza dos prazeres da cidade. Enquanto isso, Basil Hallward, amigo de Henry, pinta um retrato buscando eternizar a beleza e juventude do rapaz. Ao ver o retrato e sobre influência de Henry, Dorian se dá conta do poder da sua juventude e faz um juramento, no qual daria sua alma para ficar com a aparência exatamente como em sua pintura. Enquanto o quadro, agora trancado no sótão, começa a envelhecer, Dorian permanece o mesmo. O jovem então goza cada vez mais dos prazeres, já que nenhuma cicatriz, doença ou nem mesmo o tempo o marcará. Basil insiste inúmeras vezes em ver o quadro, e então é assassinado por Dorian para que seu segredo seja guardado. Para não ser descoberto, ele foge da cidade e retorna apenas 25 anos depois. Ao retornar a Londres, Dorian é atormentado por seu passado e por sua consciência, além de levar uma vida sem amor. Ele precisa enfrentar os boatos da cidade sobre seu suposto pacto com o diabo, já que não envelheceu um único dia. Além de afrontar os desejos de seu velho amigo Henry, devido ao seu interesse por sua filha, Emily (Rebecca Hall). É possível notar no filme uma porção de fidelidade ao livro, um clássico de Oscar Wilde, seguida por outra com a forte presença da versão do diretor e dos roteiristas. O filme é recheado de um clima de terror, principalmente pela figura horrível do quadro que guarda a alma de Dorian, e esse clima é reforçado pela trilha sonora. A questão sobre o poder da beleza e da perfeição é o tema central do livro, e sensivelmente representado no filme. O tema é extremamente atual, já que vivemos em uma sociedade que vive em torno da preocupação com a imagem. A era da cirurgia plástica nos traz de volta à questão que Oscar Wilde já tratava no século XIX. O longa conta com um excelente elenco, contando com a atuação impecável de Colin Firth. O jovem Ben Barnes também se destaca, levando o personagem da ingenuidade ao crime, com louvor. ''O Retrato de Dorian Gray'' só estreará esse mês no Brasil, apesar de já ter estreiado há aproximadamente dois anos na Europa. Portanto, já está mais do que na hora de assistir a este ótimo filme." (Maria Andrade)

{Garanto que o prazer e felicidade são muito diferentes. Algumas coisas são preciosas porque não duram} (ESKS)

''Vem polêmica por aí. Afinal, o romance ''O Retrato de Dorian Gray'', de Oscar Wilde, que vem conquistando corações e mentes desde 1890, ano de sua primeira publicação, já rendeu mais de uma dezena de adaptações para o cinema e para a TV. E esta nova versão tem tudo para ser uma das mais combatidas. Motivo: o filme dirigido por Oliver Parker (o mesmo de O Marido Ideal) não se importa muito em ser fiel ao original, e adapta livremente o antigo texto para as novas plateias ávidas por boas doses de terror e suspense. Nesta produção inglesa de 2009 que chega agora aos cinemas do Brasil, o personagem título (vivido por Ben Barnes, o Príncipe Caspian da saga As Crônicas de Nárnia) é um belo, ingênuo e simplório rapaz que vem do interior da Inglaterra para assumir seu posto de herdeiro solitário numa riquíssima mansão londrina. Ao chegar à capital, Dorian logo percebe que, junto com a mansão e a herança, vem também um apêndice atrativo, mas nem sempre fácil de lidar: a alta sociedade local. Com todas as suas pompas, circunstâncias, melindres, convenções, ironias e jogos de aparência que o ferino Oscar Wilde adorava ridicularizar. Dorian se vê então dividido – e atraído – por dois interessantes representantes desta sociedade: o artista plástico Basil (Ben Chaplin, sem parentesco com Charles) e o cínico Lord Wotton (Colin Firth, de O Discurso do Rei). Enquanto Basil se encanta com a beleza de Dorian e se propõe a pintar o famoso retrato que desencadeará toda a história, Wotton preocupa-se somente em destilar sobre o rapaz toda a sua acidez crítica e sarcástica contra o mundo. A partir deste triângulo, o roteirista estreante Tob Finley desenvolve praticamente um novo Dorian Gray que, certamente em busca de um público jovem, dialoga mais de perto com filmes de vampiros que propriamente com a sutileza da obra de Wilde. Com direito a sons fantasmagóricos, efeitos especiais e até uma transformação monstruosa que nada fica a dever ao gênero horror. Isso sem falar numa refinadíssima direção de arte iluminada pela requintada fotografia de Roger Pratt, fotógrafo de dois episódios de Harry Potter e do irretocável Chocolate. Novos personagens – inexistentes no livro – são criados para dar maior dramaticidade ao filme. Entre eles, a bela e prematura esposa de Dorian e a enigmática filha de Lord Wotton, Emily (Rebecca Hall, de Vicky Cristina Barcelona, ótima). Os mais puristas vão pular da cadeira. Não de susto, mas de ódio. Mas a boa notícia é que boa parte da ironia de Wilde permanece no filme, garantido deliciosos momentos de pura sagacidade verbal. Como, por exemplo, Não se deve dar a uma mulher nada que ela não possa usar à noite. Ou Os homens querem ser felizes, mas a sociedade exige que eles sejam bons, Nenhum homem civilizado se arrepende do prazer e As pessoas morrem a toda hora por causa do bom senso. Na boca do sempre ótimo Colin Firth, estas preciosidades tipicamente britânicas ganham tempero especial. Assim, o artifício de repaginar ''O Retrato de Dorian Gray'' na tentativa de apresentá-lo a um público diferente não deve ser visto necessariamente com maus olhos. Nem com o coração fechado. Se apenas um punhado desta nova plateia se interessar o suficiente pela história a ponto de buscar e descobrir os textos originais, a empreitada já terá valido. Mesmo porque o tema da beleza e da juventude a qualquer custo, e a crítica à ditadura da aparência parecem estar mais em pauta do que nunca, mesmo depois de mais de um século da morte do famoso escritor irlandês.'' (Celso Sabadin)

Ealing Studios Alliance Films Fragile Films UK Film Council Aramid Entertainment Fund Prescience Moving Picture Company (MPC)

Diretor: Olivier Parker

51.418 users / 10.123 face

Check-Ins 717 2.882 Up 46

Date 04/10/2014 Poster - ###

100. The Unforgiven (1960)

Approved | 125 min | Drama, Romance, Western

The neighbors of a frontier family turn on them when it is suspected that their adopted daughter was stolen from the local Kiowa tribe.

Director: John Huston | Stars: Burt Lancaster, Audrey Hepburn, Audie Murphy, John Saxon

Votes: 9,735

[Mov 06 IMDB 6,7/10 {Video/@@}

O PASSADO NÃO PERDOA

(The Unforgiven, 1960)


''Conta a história de Rachel Zachary, garota adotada por uma família de brancos e com sangue indígena. Quando sua origem é revelada, ela acaba sofrendo uma reação violenta e sua tribo tenta raptá-la.'' (Filmow)

{Audie Murphy quase morre afogado durante as filmagens, enquanto aproveitava as horas vagas para caçar patos e perdeu o bebê depois de cair de um cavalo durante as filmagens. Durante o período em que esteve fora, foi usada uma dublê} (ESKS)

"Não a toa Huston considerava este como o seu pior filme (e o único que não conseguia rever quando o encontrava em algum canal de TV): Audrey no auge da beleza como uma india num western definitivamente não cola." (Vlademir Lazo)

James Productions

Diretor: John Huston

4.561 users / 261 face

Check-Ins 349

Date 02/10/2013 Poster - ####



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